Netflix - Boxer (Bokser)

9/12/2024 12:16:00 AM |

Costumo dizer que o cinema polonês gosta de brincar com umas facetas diferentes, passando por vezes alguns tipos de filmes que já vimos em outros países, mas que colocado sob um olhar mais fechado costuma permear algumas ideias que ainda não tinham sido bem exploradas, e com o lançamento mundial da Netflix de hoje (sim, o filme está estreando tanto na Polônia quanto aqui no Brasil hoje), "Boxer", vemos praticamente um filme que já vimos muitas outras vezes de mulheres fortes que acabam vivendo a vida do marido para que busquem um sonho maior dele, no caso aqui ser campeão mundial de boxe, porém a sacada por trás da trama não foi apenas mostrar isso, o que já é bem trabalhado na tela, mas sim mostrar um pouco da vida de um entre milhões de pessoas que fugiram da Polônia comunista dos anos 1980, entre eles muitos atletas que vimos brilhar por outras nações em campeonatos mundiais, olimpíadas e muitos outros, e essa intensidade acaba sendo bem colocada nos atos finais quando tudo foi mais representativo nesse sentido. Ou seja, o longa não é a história real de uma pessoa, mas a síntese da vida de vários que viram que ali não tinham futuro, comida, nem brilho, e fugiram para Europa e conseguiram ir além, ou então também caíram para os problemas mundanos, como também é bem representado no filme, e assim sendo vale a experiência de um filme bem produzido que talvez seja longo demais, mas que funciona sem cansar ao menos.

A sinopse nos conta que com medo de repetir os erros do pai, um jovem boxeador promissor, foge da Polônia comunista para perseguir seu sonho de se tornar o maior lutador da história. Com apenas sua esposa ao seu lado, o homem rapidamente percebe que a luta por seu sonho será mais complicada do que ele pensava. Depois de meses lutando com as dificuldades de ser um imigrante, o boxeador polonês concorda em participar de uma luta combinada que mudará sua vida para sempre.

Diria que mesmo entregando uma trama de 150 minutos, o diretor e roteirista Mitja Okorn foi bem sucinto com tudo o que desejava entregar na tela, pois ele praticamente contou os devidos atos importantes da vida dos dois protagonistas determinando cada pedaço com dinâmicas imponentes sem precisar capitular nada, nem também deixar jogado para que o público imaginasse, sendo coerente com cada momento, com cada pessoa que passou pela vida deles, e criando algo que o público se conecte com a ideia toda. Claro que alguns vão achar longo demais e vão até pular o play no filme, mas pensando como um editor, se remover qualquer parte da trama, o filme se perde, e se colocasse qualquer outro detalhe ou cena, acabaria arrastado, ou seja, souberam enumerar provavelmente já nas filmagens tudo e o filme acabou ficando redondinho e gostoso de ver, e olha que tem coisa na trama que facilmente qualquer diretor americano eliminaria sem nem pensar duas vezes, mas como disse no começo, o cinema polonês sabe fluir nesse sentido.

Quanto das atuações, Eryk Kulm conseguiu trazer alguns trejeitos bem marcantes para seu Jedrzej, de modo que demonstrou um pouco afoito em alguns atos, mas como bem sabemos a vida de boxeadores são cheias de turbulências, e com isso seus traquejos acabam sendo aceitáveis dentro da trama, claro que poderia ter oscilado menos no temperamento do personagem, mas isso sabemos que não é o ator que escolhe, então conseguiu chamar a responsabilidade para si e não ficar em segundo plano. Agora quem quase rouba todos os planos do protagonista foi Adrianna Chlebicka com sua Kasia, pois a jovem além de bonita soube segurar todo o processo do marido que era sonhador demais, trouxe as dinâmicas para si e com trejeitos sutis demais desenvolveu boas emoções na tela. Eryk Lubos já colocou seu Czesiek como um beberrão nato de altíssimo gabarito, botando olhares, movimentações e situações com graça e intensidade até o seu ato final bem marcante. Ainda tivemos Adam Woronowicz entregando o tradicional empresário escravocrata de primeira linha com seu Nicky, de modo que a cena do caderninho foi básica e incisiva demais, tivemos a sedutora jornalista Eva que Waleria Gorobets soube fazer de um modo imponente, e outro estranho, mas bem colocado foi Will Huse como o excêntrico Jackie Boss.

Visualmente a trama teve alguns atos bem trabalhados nas lutas, com muita perspectiva quase que em primeiro plano para tomarmos socos dos lutadores, voando sangue na câmera e contando com uma maquiagem bem imponente para que o protagonista ficasse com marcas pós-lutas, tivemos ringues e academias bem simples e outras mais elaboradas, tivemos uma grandiosa mansão e também um centro de imigração quase que como algo abandonado, e até um campeonato bem representado para mostrar a fuga, isso tudo além de mostrar um pouco da vida comunista na Polônia dos anos 80, ou seja, um filme representativo bem colocado na tela.

Enfim, é um longa com uma proposta bem trabalhada na tela, que agrada pela dinâmica toda e pela história contada como não sendo de uma única pessoa, tanto que durante os créditos vemos outros atletas poloneses que brilharam mundo afora (poderiam ter colocado os nomes embaixo que agradaria um pouco mais, mas não era essa a ideia do longa), fora as boas músicas de Scorpions em alguns momentos, ou seja, vale a recomendação de play. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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