O diretor e roteirista Nikolaj Arcel soube pegar o texto da escritora Ida Jessen e transformar nas telas com tanta riqueza de detalhes que acredito que nem quem leu o livro imaginou toda a ambientação desenvolvida na tela, pois o ritmo calmo da trama foi completamente expressivo para mostrar personalidades e dinâmicas, mas também para que tudo ao redor fosse apreciado, de forma a mostrar como deveria ser o prato do protagonista, o galho com a fita para integrar o clã da garotinha segundo os costumes ciganos, como eram os acordos entre os conselheiros do rei e os nobres, como era o requinte de crueldade de alguns donos de terra, e muito mais, de modo que praticamente vamos convivendo com os personagens na dinâmica entregue do diretor. Ou seja, ele não apenas monta os elementos na tela como fala para o espectador: "olhe aqui, você verá algo a mais!", e costumo dizer que são raros os diretores que conseguem esse feitio sem que seu filme acabe ficando exageradamente chato e monótono, pois é de um risco enorme segurar tempo de tela, mas aqui os 127 minutos de projeção funcionam bem para tudo o que precisava contar, e você sai da sessão conhecendo História como disse no começo, e isso é cinema, e não à toa o diretor ganhou tantos prêmios com seu filme.
Quanto das atuações falar de Mads Mikkelsen é a coisa mais fácil do mundo, pois é bem difícil o ator errar mesmo em filmes ruins, quanto mais em filmes que lhe dão a oportunidade de mostrar personalidade, e aqui seu Ludvig Kahlen é daqueles que não detém o título de nobreza, mas apenas o título, pois tem a nobreza no traquejo de armas, na forma como lida com a terra, e até no tratamento para com os demais, de modo que o ator acabou trabalhando trejeitos fortes e emoções na medida certa para cada momento, conseguindo chamar atenção e envolver com a história do personagem. Já do outro lado Simon Bennebjerg entregou para seu Frederik De Schinkel a crueldade e a insanidade em pessoa, colocando arrogância e prepotência em níveis gigantescos, fazendo tudo o que um bom vilão ou antagonista deve trabalhar para ficar memorável, o que lhe deu um nome para quem sabe muitos outros filmes e diretores lhe olhe. A garotinha Melina Hagberg foi muito expressiva e cheia de traquejos para que sua Anmai Mus fosse chamativa, tivesse carisma e personalidade e emocionasse nas cenas mais duras da trama, de modo que seus atos foram precisos para quebrar o ar mais frio do protagonista, e a versão jovem da personagem vivida por Laura Bilgrau Eskild-Jensen participou pouco, mas teve uma bela cena de encerramento. Ainda tivemos claro as duas mulheres imponentes da trama, vividas por Amanda Collin com sua Ann Barbara e Kristine Kujath Thorp com sua Edel, aonde a primeira mostrou força na dinâmica com traquejos mais duros e chamativos, enquanto a segunda teve uma densidade mais de donzela, porém ambas trabalhando olhares e desenvolturas bem encaixadas para que a trama funcionasse. E dentre os demais ainda vale o destaque para o padre cheio de vigor que Gustav Lindh entregou e o jovem fazendeiro marido de Ann que Morten Hee Anderrsen conseguiu fazer atos bem sofridos na tela.
Visualmente a trama tem um ar denso, mostrando um lugar cheio dessa vegetação chamada urze, aonde vemos o protagonista testando os diversos lugares para começar sua plantação, mostrando sua casa que construiu ali simples, porém cheia de detalhes, vemos a mansão gigantesca com jardins do rico nobre vizinho, e também a floresta aonde vivem os ciganos com suas famílias, claro tudo bem dominado pelo clima, pela pouca comida de um lado e das bebidas e farras abastadas do outro lado, também tivemos atos fortes de violência com a maquiagem entregando coisas bem impactantes na tela, e muitos elementos cênicos para rechear cada ambiente em detalhes, ou seja, a equipe de arte trabalhou minuciosamente para que tudo funcionasse bem demais no longa.
Enfim, costumo dizer que não sou muito fã de filmes de época lentos demais, mas a cadência aqui ficou no limiar emocional gostoso de acompanhar que não chega a dar sono, ou seja, é daqueles que funcionam bem para dar a riqueza exata de detalhes e comover o público com toda a essência passada, mas que a qualquer momento pode dar errado, então se você estiver muito cansado é melhor ver o filme outro dia, mas veja, pois é daqueles que ampliam conhecimento além de ser uma história bonita na tela. Então fica a dica para conferir ele a partir do dia 12/09 nos cinemas, e eu fico por aqui agora agradecendo o pessoal da Sinny Assessoria e da Pandora Filmes pela excelente cabine.
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