O Bastardo (Bastarden) (The Promised Land)

9/07/2024 04:28:00 PM |

Costumo dizer que não conhecemos nada praticamente da História mundial, e felizmente o cinema nos leva a experimentarmos um pouco da História de lugares mais afastados de nós, que claro muitas vezes são pequenos elementos dentro de um livro ficcional, mas que quando bem amarrados acabam passando sentimentos e também conhecimento. Digo isso, pois antes de conferir a cabine do longa de hoje sequer tinha ouvido falar em urzal na Dinamarca, que lá pros anos 1700 uma parte do terreno era dominada por uma espécie de vegetação chamada urze em um solo arenoso e cheio de rochas, e o longa "O Bastardo" nos coloca com um homem que resolve por conta própria tentar colonizar essas terras plantando algo desconhecido do país até o momento, desafiando a todos da monarquia (exceto o rei que tinha o sonho de colonizar essas terras, mas jamais chegaria perto de um plebeu) e de um rico nobre que já achava que aquelas terras lhe pertenciam. Ou seja, é o famoso épico cheio de conflitos, sonhos, histórias e envolvimentos, que consegue de uma forma intensa e marcante mostrar um pouco dessa época no país frio e de pessoas frias da época que não pensavam duas vezes nas consequências dos atos. 

A sinopse nos conta que no século XVIII, na Dinamarca, o Capitão Ludvig Kahlen – um herói de guerra orgulhoso, ambicioso, mas empobrecido – embarca em uma missão para domar uma vasta terra inóspita na qual aparentemente nada pode crescer. Ele busca cultivar colheitas, construir uma colônia em nome do Rei e conquistar um título nobre para si mesmo. Essa área bela, porém hostil, também está sob o domínio do impiedoso Frederik De Schinkel, um nobre vaidoso que percebe a ameaça que Kahlen representa para seu poder. Lutando contra os elementos e bandidos locais, Kahlen é acompanhado por um casal que fugiu das garras do predatório De Schinkel. À medida que esse grupo de desajustados começa a construir uma pequena comunidade neste lugar inóspito, De Schinkel jura vingança, e o confronto entre ele e Kahlen promete ser tão violento e intenso quanto esses dois homens.

O diretor e roteirista Nikolaj Arcel soube pegar o texto da escritora Ida Jessen e transformar nas telas com tanta riqueza de detalhes que acredito que nem quem leu o livro imaginou toda a ambientação desenvolvida na tela, pois o ritmo calmo da trama foi completamente expressivo para mostrar personalidades e dinâmicas, mas também para que tudo ao redor fosse apreciado, de forma a mostrar como deveria ser o prato do protagonista, o galho com a fita para integrar o clã da garotinha segundo os costumes ciganos, como eram os acordos entre os conselheiros do rei e os nobres, como era o requinte de crueldade de alguns donos de terra, e muito mais, de modo que praticamente vamos convivendo com os personagens na dinâmica entregue do diretor. Ou seja, ele não apenas monta os elementos na tela como fala para o espectador: "olhe aqui, você verá algo a mais!", e costumo dizer que são raros os diretores que conseguem esse feitio sem que seu filme acabe ficando exageradamente chato e monótono, pois é de um risco enorme segurar tempo de tela, mas aqui os 127 minutos de projeção funcionam bem para tudo o que precisava contar, e você sai da sessão conhecendo História como disse no começo, e isso é cinema, e não à toa o diretor ganhou tantos prêmios com seu filme.

Quanto das atuações falar de Mads Mikkelsen é a coisa mais fácil do mundo, pois é bem difícil o ator errar mesmo em filmes ruins, quanto mais em filmes que lhe dão a oportunidade de mostrar personalidade, e aqui seu Ludvig Kahlen é daqueles que não detém o título de nobreza, mas apenas o título, pois tem a nobreza no traquejo de armas, na forma como lida com a terra, e até no tratamento para com os demais, de modo que o ator acabou trabalhando trejeitos fortes e emoções na medida certa para cada momento, conseguindo chamar atenção e envolver com a história do personagem. Já do outro lado Simon Bennebjerg entregou para seu Frederik De Schinkel a crueldade e a insanidade em pessoa, colocando arrogância e prepotência em níveis gigantescos, fazendo tudo o que um bom vilão ou antagonista deve trabalhar para ficar memorável, o que lhe deu um nome para quem sabe muitos outros filmes e diretores lhe olhe. A garotinha Melina Hagberg foi muito expressiva e cheia de traquejos para que sua Anmai Mus fosse chamativa, tivesse carisma e personalidade e emocionasse nas cenas mais duras da trama, de modo que seus atos foram precisos para quebrar o ar mais frio do protagonista, e a versão jovem da personagem vivida por Laura Bilgrau Eskild-Jensen participou pouco, mas teve uma bela cena de encerramento. Ainda tivemos claro as duas mulheres imponentes da trama, vividas por Amanda Collin com sua Ann Barbara e Kristine Kujath Thorp com sua Edel, aonde a primeira mostrou força na dinâmica com traquejos mais duros e chamativos, enquanto a segunda teve uma densidade mais de donzela, porém ambas trabalhando olhares e desenvolturas bem encaixadas para que a trama funcionasse. E dentre os demais ainda vale o destaque para o padre cheio de vigor que Gustav Lindh entregou e o jovem fazendeiro marido de Ann que Morten Hee Anderrsen conseguiu fazer atos bem sofridos na tela.

Visualmente a trama tem um ar denso, mostrando um lugar cheio dessa vegetação chamada urze, aonde vemos o protagonista testando os diversos lugares para começar sua plantação, mostrando sua casa que construiu ali simples, porém cheia de detalhes, vemos a mansão gigantesca com jardins do rico nobre vizinho, e também a floresta aonde vivem os ciganos com suas famílias, claro tudo bem dominado pelo clima, pela pouca comida de um lado e das bebidas e farras abastadas do outro lado, também tivemos atos fortes de violência com a maquiagem entregando coisas bem impactantes na tela, e muitos elementos cênicos para rechear cada ambiente em detalhes, ou seja, a equipe de arte trabalhou minuciosamente para que tudo funcionasse bem demais no longa.

Enfim, costumo dizer que não sou muito fã de filmes de época lentos demais, mas a cadência aqui ficou no limiar emocional gostoso de acompanhar que não chega a dar sono, ou seja, é daqueles que funcionam bem para dar a riqueza exata de detalhes e comover o público com toda a essência passada, mas que a qualquer momento pode dar errado, então se você estiver muito cansado é melhor ver o filme outro dia, mas veja, pois é daqueles que ampliam conhecimento além de ser uma história bonita na tela. Então fica a dica para conferir ele a partir do dia 12/09 nos cinemas, e eu fico por aqui agora agradecendo o pessoal da Sinny Assessoria e da Pandora Filmes pela excelente cabine.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...