Saudade Fez Morada Aqui Dentro

9/15/2024 02:20:00 AM |

O mais bacana do longa "Saudade Fez Morada Aqui Dentro" é que não é um filme que dá para enxergar apenas uma perspectiva, mas sim abrir os olhos diante de uma cegueira maior que é a da cabeça, dos preconceitos, de ficar atrasado no tempo, de modo que a trama acaba brincando desde a ideia real de uma cegueira visual, mas também coloca em pauta ritmos, homossexualidade, preconceitos com deficiência e muito mais sob a ótica de jovens alunos do sertão brasileiro, ou seja, um filme que viaja um pouco em cima de símbolos com um ar leve, mas que também pode ecoar nas mentes de quem for conferir ele e compreender toda a ideia e a síntese da cegueira do garoto.

A trama apresenta o jovem Bruno de 15 anos, que mora em um bairro humilde e deve superar as adversidades de uma doença degenerativa que, um dia, o fará ficar cego. Com todas as incertezas da adolescência, amplificadas pela cegueira iminente, o filme converte o destino trágico do seu protagonista em um relato de aprendizagem coletiva. Agora, Bruno tem que aprender com as diferenças a enxergar a vida com outros olhos. 

O diretor e roteirista Haroldo Borges foi bem coeso no desenvolvimento de seu filme, de modo que a trama é simples e direta no que desejava mostrar, e brinca bem com a ideia da cegueira em suas várias nuances, mas mais do que isso ele soube escolher bem os jovens atores na seleção para que tivessem carisma, personalidade e conseguissem segurar o filme dentro de sua proposta, porém ao deixar os jovens estreantes bem soltos, o filme acabou se enrolando demais no começo, de forma que parece não fluir tanto quanto acontece nos momentos finais. Ou seja, se fossem atores profissionais talvez a trama teria uma pegada estranha, mas ao escolher garotos novos para protagonizarem o diretor precisaria ser mais enfático para que o ritmo tivesse uma cadência melhor, pois não estou reclamando que o resultado final tenha ficado ruim, muito pelo contrário, é incrível o nível crítico da trama, mas ele segurou demais o filme no começo para depois precisar acelerar no final, e isso é um peso muito grande para jovens atores.

E falando dos jovens, Bruno Jeferson se desejar seguir no ramo da atuação já mostrou muita personalidade, assumiu o protagonismo do longa e teve uma sensibilidade no olhar que demonstra trejeitos profissionais, ou seja, tem futuro na área, e olha que em filmes de pessoas cegas o que mais fazemos é ficar olhando para o movimento do olhar, e ele soube ser preciso no que tinha para fazer. O jovem Ronnaldy Gomes deu muita segurança como um irmão parceiro para todas as horas, apoiando quando precisou, e seguindo para todos os rumos e brincadeiras, e o ato do jogo de futebol após o irmão ficar cego é belíssimo de ver. As jovens Angela Maria e Terena França deram boas dinâmicas na tela, mas embora a trama desenvolva a síntese delas, acabaram não florescendo o tanto que precisavam para pontuar mais na tela, de modo que a amizade de Angela com o protagonista ficou mais bem encaixada e poderia ter tido até mais cenas nesse sentido. Ainda tivemos bons momentos com a mãe vivida por Wilma Macêdo e com o professor de braile que Vinicius Bustani fez bem na tela, mas sem grandes atos.

Visualmente o ambiente simples do sertão com alguns atos na escola, muitas festas em casas e bares, e também muitas brincadeiras entre os jovens deu um ar para a trama sem grandes chamarizes, de modo que a beleza das rochas no poço figuraram muito bem para mostrar que o jovem conhecia ali até de olhos fechados, e com isso a representatividade do ambiente acabou agradando mais do que o normal em uma cena tensa, mas muito bem feita, além disso a beleza cênica da mãe fazendo os lápis de cores de acordo com materiais e sentimentos foi brilhante.

Enfim, é um filme que representa bem a ideia, passa a mensagem e agrada pelo contexto completo, porém a sensação de ritmo lento demais no começo e corrido demais no fim não permite que a trama desenvolva algo a mais no público, então quem for conferir sem saber o que o diretor queria realmente mostrar talvez saia da sessão meio perdido, mas pra quem pegar a essência o resultado vai acabar sendo bem inteligente, então fica a dica para conferida nos cinemas a partir do dia 19 de setembro, lembrando que o longa está entre os 12 selecionados pelo Brasil para ser o indicado do país no Oscar, então é claro que vale a conferida. E é isso meus amigos, fico por aqui agradecendo a M2 Comunicação e a Cajuina Audiovisual pela cabine de imprensa, e volto amanhã com mais dicas, então abraços e até breve.


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