quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Amazon Prime Video - Um Mau Ator (Falcão) (Un Actor Malo) (Bad Actor)

Sei que todas as vezes que critico os diretores de não colocarem suas opiniões nos filmes, mas hoje vou evitar colocar a minha opinião aqui, senão a chance de eu terminar igual ao que ocorre no final do longa que conferi hoje, pois fazia tempo que um filme não me deixava com tanta raiva. Claro que o longa tem erros de todas as partes no contexto de vida real, então é melhor não entrar nessa briga e apenas analisar a trama cinematograficamente. Dito isso, o longa mexicano da Amazon Prime Video, "Um Mau Ator", é daqueles que muitos vão reclamar de ser fechado demais, mas a pauta em si é que é válida para a discussão de foi ou não estupro, quem está mais errado o cara que cometeu o ato ou alguém que joga a merda no ventilador ou a população que quer resolver sozinha ao invés de deixar a pessoa ser julgada criminalmente. Ou seja, é daquelas tramas que você fica se perguntando várias coisas, que o roteiro permite essa reflexão, e que os personagens agem como a maioria agiria realmente, então a formatação sem tantas coisas acontecendo pode até cansar alguns, mas o não imaginar a bagunça completa do final é algo que vai irritar a muitos, e assim sendo, um grande feito do diretor foi o de não deixar que o filme virasse uma peça teatral, o que acaba agradando bastante nesse sentido.

O longa se passa em um set de filmagem, no qual dois atores em busca de crescimento, Sandra Navarro e Daniel Zavala estão se preparando para uma grande oportunidade para que a carreira deles floresça ainda mais: estrelar um filme de um cineasta muito prestigiado e conhecido no meio. Tudo está fluindo como o esperado, a equipe envolta por conversas casuais e amigáveis, e os dois atores no mesmo barco, preparados para encarar uma cena de sexo difícil de se encarar. Até que algo terrível acontece: Sandra acusa Daniel de abusá-la durante essa cena. Ela está com sangue nos olhos para fazer justiça e move uma ação judicial ao mesmo tempo em que a produção do longa se esforça para conter os ânimos e impedir que isso caia aos ouvidos do público para não se transformar em um escândalo.

Diria que o diretor e roteirista Jorge Cuchi foi muito preciso na escolha da temática e claro na forma que escolheu para desenvolver sua trama, pois dava para ousar trabalhar o tema com muito mais sutileza que ainda assim funcionaria, mas ele optou pelo cerne mais imponente e direto, e principalmente colocando em discussão o mundo das cenas de sexo dentro dos filmes, de tal forma que seu filme ficou denso e marcante, aonde muitos claro que ficarão irritados pelo estilo do diretor de segurar muito o momento, mas era necessário para que ficasse algo duplo, e o resultado chamasse atenção. Claro que sabemos que o mundo do cinema tem muita coisa podre, mas ele ousou e acabou acertando na escolha.

Quanto das atuações, Alfonso Dosal segurou bem o estilo de seu Daniel, tendo um início mais dinâmico, boa praça e cheio de conexões com todos, mas quando a bomba explode, surta e trabalha trejeitos mais fortes, o que mostrou sinceridade na expressividade e claro mostrando uma atuação na medida. Da mesma forma Fiona Palomo inicialmente pareceu bem disposta a entregar atos marcantes, se jogou por completo e até pareceu uma atriz bem conectada com todos, mas após o ato caótico ela entra numa introspecção que chega a ser irritante, pois poderia ter feito a denúncia de várias formas, mas se jogou numa onda que mais incomodou do que mostrou atitude, e assim sendo falhou um pouco. Quanto as demais garotas presentes no ato, Karla Coronado deu boas nuances para sua assistente de direção, e Patricia Soto fez de sua Ximena, a figurinista, alguém que me irritou ao máximo, da famosa pessoa que pega a merda e taca no ventilador com propósitos pensados, e fez trejeitos claros de mulheres que não valem o emprego que tem, ou seja, fizeram bem seus papeis, mas me irritaram com isso. Quanto aos advogados, Juan Pablo de Santiago e Ana Karina Guevara trabalharam bem, mas sem muitas imposições, então dava para ter ido mais forte nas atitudes.

Visualmente a trama mostrou no começo como são filmados algumas cenas dentro de carros, mostrou os ensaios de textos nos trailers de maquiagem, colocou bons elementos cênicos para representar bem os ambientes desde os trailers dos artistas até o ambiente aonde todos ficam bem juntos em reuniões, até chegarmos no ambiente do quarto do motel, aonde todos da equipe ficam escondidos no banheiro e apenas o câmera junto dos atores, tudo bem figurativo na tela, funcionando e mostrando simplicidade técnica. Então chegamos aos atos finais de linchamento, que aí meus amigos, o caos toma forma, e tudo que você pensar que já viu em filmes do estilo não será nem um terço do que é mostrado, então prepare seu estômago, pois é forte, e a equipe de arte não economizou.

Enfim, é um filme que facilmente tinha tudo para ser apenas uma peça cênica na tela, mas que com muita ousadia e inversões acabou trabalhando um tema denso de uma forma precisa que vai irritar muitos que conferirem, e como já disse isso outras vezes isso é fazer cinema, então mesmo irritado que a trama atingiu alguns gatilhos que não batem com meus ideais tanto do errado masculino quanto dos dois errados femininos da trama, eu tenho de aplaudir, afinal fizeram o que tinha de fazer. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


quarta-feira, 30 de outubro de 2024

A Última Invocação (禁じられた遊び) (Kinjirareta asobi) (The Forbidden Play)

Costumo dizer que o terror japonês é daqueles que você precisa acreditar demais nas ideologias e misticismos deles, senão a chance de achar tudo bizarro demais é altíssima, ao ponto que acaba nem assustando ou causando como deveria, e embora o longa "A Última Invocação" tenha uma tensão bem trabalhada, o resultado na tela acaba sendo mais estranho do que interessante, sendo daqueles filmes que você fica esperando um algo a mais do que tudo o que vê. Ou seja, o longa que estreia na próxima quinta como opção do Halloween em vários cinemas traz uma pegada meio mística e espiritual de alguém com poderes de reencarnação, de reviver os mortos, e que sabendo das possíveis intenções de paixão futura do marido acaba assombrando quem quer que venha ter contato com ele (algo que muitas mulheres fazem sem ter poderes também!). Claro que se a pegada ficasse mais densa e macabra talvez a trama iria para rumos mais fortes, mas da forma entregue diria que ficou mais como um terror para crianças do que para adultos realmente.

A sinopse nos conta que Naoto Ihara vive feliz com a esposa Miyuki e o filho Haruto. Porém, quando Miyuki morre em um acidente, Naoto fica inconsolável. Haruto, em negação, decide enterrar um dedo da mãe no jardim na esperança de que, rezando todos os dias, ela volte à vida. Um dia, pai e filho são visitados por Hiroko Kurasawa, ex-colega de trabalho de Naoto. Mas o que era para ser uma simples visita a um amigo assolado pelo luto, toma um rumo macabro quando ela testemunha Haruto gritando palavras estranhas no quintal, e uma série de acontecimentos sombrios começam a perturbá-la.

O diretor Hideo Nakata ficou bem conhecido pela saga de filmes "O Chamado", porém lá a pegada densa funciona e chama atenção, causa bons sustos e impacta do começo ao fim pela história, aqui ele quis brincar com idas e vindas tentando justificar o ciúme doentio da mulher, o espírito obsessor ciumento também, e até mesmo o garotinho ciumento, ou seja, a base do filme é o ciúme, só que não aproveitou isso para impactar na tela, de modo que a trama fica parecendo falhar no conceito. Claro que quando o bichão fica meio revoltado nos atos finais poderia ser algo mais marcante, mas quem curte a pegada vai entender o estilo do diretor, e como disse no começo, se entrar na onda do estilo oriental, o resultado até que flui.

Agora algo que não deu muito certo na tela foram as atuações, pois Daiki Shigeoka entrega um Naoto meio indeciso da vida, sem grandes atos para impactar, e até mesmo nos momentos que precisa expressar dor e tristeza pela morte do filho ou da esposa, fez algo morno demais, ou seja, faltou trabalhar melhor na tela. Já Kanna Hashimoto fez uma Hiroko intrometida, bem clássica de uma diretora que é seu papel, fazendo alguns trejeitos meio que duvidosos do que desejava passar na tela, mas ao menos não desapontou tanto, só faltando talvez um pouco mais de presença e explosão para que fluísse melhor na tela. Quanto aos demais, a maioria apenas foi jogado na tela, valendo leves destaques para o garotinho Minato Shogaki e para a mulher morta que ainda assombrou muito na tela que Uika First Summer trabalhou bons trejeitos.

Visualmente faltou mostrar o motivo que o protagonista colocou uns panos na casa, como ele fez tudo aquilo, mas mostraram bem toda a louça abandonada na pia, uma casa inteira bagunçada e um jardim que praticamente virou um cemitério com a cova se levantando. Ainda tivemos o apartamento minúsculo da jovem diretora, uma empresa com vários computadores, e um prédio aonde o exorcista faz seus trabalhos bem decorado, que até dava para ter ido mais além com uma cena tensa, explosiva e cheia de nuances.

Enfim, é um filme que tem um estilo bem colocado dentro da proposta, mas que faltou impactar mais como um bom terror pede, ao ponto que você assiste achando tudo muito estranho, e esse é o problema da maioria dos terrores japoneses, que como disse no começo, ou você entra no clima ou não vai muito além. Mas ainda assim vale como um passatempo simples para quem curte o estilo de terror japonês, e assim acaba sendo a dica. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da SATO Company e da Sinny Assessoria pela cabine de imprensa, e volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


terça-feira, 29 de outubro de 2024

Caindo Na Real

Quando um roteiro sabe trabalhar bem as sacadas para fluir de forma fácil e soar engraçada na tela sem precisar forçar a barra, vemos direto o resultado que é a risada sair sozinha, e ultimamente os diretores/roteiristas perderam bem o timing com tudo o que anda acontecendo no mundo, afinal é tanta coisa improvável que fazer graça é um ato que você praticamente precisa ser um mestre, fora que existem os politicamente corretos, e também os que se acham reis do humor, mas na verdade são fracos também na maioria das coisas que fazem, ou seja, como costumo dizer: a comédia é um dos gêneros mais difíceis de se fazer, e a chance de tudo dar errado é bem alta no gênero. Dito tudo isso, o longa "Caindo Na Real" até tem uma pegada muito bem colocada, usando da base de um belo golpe de alguns deputados do Partido da Monarquia, que prontos para ganhar alguns bons mimos arrumam um jeito do Brasil voltar ao período monárquico, trazendo um príncipe herdeiro da linhagem de Dom Pedro, só que aparecendo alguém que também está na linha genealógica tudo pode mudar, e essa ideia era algo que dava para ir muito além, brincar com muitas coisas, mas usando de um traquejo que a sacada permite, é que deveriam cortar a cabeça do editor e/ou do roteirista, pois certamente filmaram muitas cenas importantes para dar contexto e fluidez para a trama, mas o resultado final acabou sendo completamente sem nexo algum, com atos que acontecem e depois se pula, e olha que fui assistir descansado para não correr o risco de falar que dormi e perdi algo, ou seja, uma bagunça completa na tela de algo que poderia agradar e divertir demais.

O longa se passa em um Brasil futurista, dentro de uma crise econômica e institucional sem precedentes, a vida de Tina é tão agitada pois vive atrás da chapa de uma lanchonete. Enquanto enfrenta o caos diário da cozinha, não consegue pensar em tempo para namoros, o constante desespero de um romântico Barão apaixonado que não desiste de suas serenatas. No entanto, Tina não imagina que seu destino está prestes a mudar de forma inesperada. A mudança da sua vida acontece quando um golpe político restaura a Monarquia no país e genealogistas revelam uma surpreendente conexão: Tina, uma chapeira comum do subúrbio do Rio de Janeiro, é a herdeira legítima da família Real, fruto de uma antiga "pulada de cerca" imperial. De repente, Tina se vê trocando sua vida simples e suas preocupações com aumento e vale-transporte pelo comando de uma nação inteira. Agora, como a recém-nomeada Rainha do Brasil, enfrenta desafios inéditos e uma nova realidade política, tudo enquanto tenta equilibrar suas novas responsabilidades com sua vida pessoal e sua relação não assumida com Barão, um taxista que, apesar de seu nome nobre, é bem mais simples do que parece.

O diretor André Pellenz ganhou muita fama após estourar com "Minha Mãe é Uma Peça - O Filme", de forma que explodiu, mostrando que tinha muito potencial, mas acabou mudando muito seu rumo para o estilo infantil ao assumir todo o projeto do seriado "Detetives do Prédio Azul", e consequentemente o primeiro filme baseado no sucesso, e daí pra frente não conseguiu acertar mais nada que chamasse realmente atenção, ao ponto que aqui ele mirou em algo que poderia ter funcionado bastante, afinal sacanear a política nacional é algo que costuma funcionar bem, porém aqui já falei e volto a frisar foi na edição, pois não temos uma abertura convincente, de modo que a repórter e todos já aparecem do nada na lanchonete aonde a protagonista trabalha, depois na cena do fondue, do nada já estão organizando o baile e já com tudo acontecendo. Ou seja, certamente muita coisa foi filmada, mas depois para que ficasse um longa menor acabaram cortando aleatoriamente as cenas, e o resultado acabou virando uma bagunça.

Quanto das atuações Evelyn Castro soube trabalhar sua Tina com boa presença cênica, desenvolveu boas conexões com todos, e tentou fazer graça sem forçar tanto a barra, usando bons traquejos, porém seus atos pediam sempre um algo a mais e ela não tinha esse algo para ir mais além, segurando claro o protagonismo para si, mas faltando talvez um parceiro cênico que a fizesse deslanchar melhor, ou seja, fez o que o papel pedia, porém segura demais para uma personagem que precisava de uma explosão maior. Maria Clara Gueiros trabalhou sua Marlene inicialmente com um ar mais malvado, porém do nada muda completamente, e isso acabou ficando um pouco estranho, de modo que pode ser algo a mais cortado na edição, mas como a atriz sempre faz papeis engraçados e seguros, não se impôs como poderia na tela. Victor Lamoglia já fez também personagens bem engraçados no cinema, mas aqui seu Maurício não conseguiu dar a deixa para que as piadas funcionassem, ficando apenas meio como um vilão que deseja o poder e a riqueza da monarquia, mas meio que perdido no meio de tudo. Maurício Manfrini ainda está pensando o que seu Alaor tinha no olho com o tique que lhe deram, sendo um tradicional político corrupto, mas que ficou mais esquisito do que interessante na tela. Já a sacada de Carlos Moreno como um mordomo que serviu o Drácula poderia ter ido mais além, pois o ator deu boas nuances na tela, mas não rolou. E Belo, prefiro dizer que a música que cantou com a protagonista foi muito melhor do que o que tentou fazer atuando com seu Barão.

Visualmente o longa teve um começo em uma lanchonete simples, depois focou em alguns atos espalhados por salas que lembram um pouco o Palácio da Alvorada, mas sem grandes ambientes para não mostrar que não gravaram quase nada por lá, usando bem a sacada de trabalharem adereços desde ornamentos de escola de samba a novelas, já que o país não tem mais quase nada guardado em museus da época da monarquia para representar bem o país, tiveram muitas cenas em locais bem fechados como um quarto, uma sala de jantar simples e até mesmo o ato do baile foi em algo pouco maior que uma sala, ou seja, economizaram bem nos ambientes, e usaram muitas imagens em chromakey para complementar discursos ou cenas fora dos locais mais controlados. 

Enfim, é um filme simples que tinha uma boa proposta divertida e sarcástica, mas que faltou atitude na direção, e principalmente um controle da edição, pois é impossível não terem visto que alguns cortes eliminaram a fluidez e o sentido de tudo por completo, e assim sendo não tenho como indicar o longa para ninguém. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.

PS: Volto a dizer que a proposta foi interessante de sacanear com a política nacional, e a nota só não foi menor por isso, mas conheço muitos que pagariam para não assistir ao longa.


segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Amazon Prime Video - Canário Negro (Canary Black )

Costumo dizer que se tem um estilo de filme que é difícil vermos qualquer tipo de mudança é o tal de espionagem, pois sempre é alguém tentando destruir o mundo, ou então roubar bilhões em dinheiro extorquindo alguém, ou até mesmo sequestrando algo que vá fazer algum grupo de espiões aparecerem para todos os inimigos, porém essa base sempre consegue entreter, e isso quando bem feito funciona e agrada. Comecei dessa forma o texto do lançamento da Amazon Prime Video, "Canário Negro", pois é basicamente o que nos é apresentado, ou melhor entregue na tela, já que temos pouquíssimas apresentações acontecendo, já botando tudo e todos para correr, lutar, explodir, chantagear e tudo mais, logo nos primeiros minutos, e o resultado consegue prender, vemos claro uma atriz que quando mais nova já botava tudo e todos para o chão, mostrando que ainda tem desenvoltura, e ao final somos surpreendidos com uma pegada possível de ser apenas um início de franquia, ou seja, talvez veremos ainda mais da personagem na tela, o que não será ruim, basta talvez dar uma inovada em algum tipo de situação que certamente todos irão conferir.

No longa vemos que a agente da CIA, Avery Graves (Kate Beckinsale), vive entre a vida e a morte todos os dias, mas uma missão especialmente perigosa a coloca de frente para um impasse: deve seguir as instruções dos terroristas internacionais que raptaram seu marido, roubando informações sigilosas e traindo seu país, ou deixar o amor da sua vida morrer? A espiã recorre, então, a seus contatos do submundo e seu treinamento de ponta para encontrar o material secreto e salvar seu marido. Ao mesmo tempo, deve sobreviver às ameaças dos sequestradores e aos obstáculos de seus superiores da CIA – interpretados por Ben Miles e Ray Stevenson em seu último papel. Nessa corrida contra o tempo, Avery Graves deve agir o quanto antes e confiar em suas habilidades para evitar uma crise global.

Antes de mais nada, está sendo bem engraçado que muitos estão dando play no longa esperando ver algo da Canário Negro dos quadrinhos, e o nome que o diretor Pierre Morel e o roteirista Matthew Kennedy desenvolveram é apenas algo referente ao vírus/programa que os personagens estão em busca, ou seja, vão enganar muitos fãs de HQ. Dito essa sacada bem boa dos idealizadores, Pierre Morel já brincou muito com esse estilo e sabe aonde pode entrar para detalhar sempre mais, e aqui demorou um pouco para que o filme tivesse uma fluidez fora da caixinha e entregasse um algo a mais, de modo que o roteiro de Matthew Kennedy tem personalidade, porém faltou uma segurança maior para os personagens serem mais convincentes, e também uma apresentação mesmo que rápida deles, pois venho dizendo isso já há algum tempo, que se o público não embarcar na onda do personagem, o filme pode até ser imponente, mas não entrega e não faz a famosa "torcida", que aí com um controle na mão como é o caso do streaming, uma breve pausa pode fazer que o longa nem seja terminado.

Quanto das atuações, fazia um bom tempo que não via Kate Beckinsale em "ação" realmente, pois estava acostumado com suas lutas contra vampiros na saudosa saga "Anjos da Noite", depois deu uma esfriada, e já nem imaginava que ela já tinha passado dos 50, ou seja, ainda está bem disposta, claro para que sua dublê brigasse bastante, pulasse, lutasse e se envolvesse em muitas confusões cênicas, além de olhares e imposições bem alocadas, de modo que a personagem tem estilo, e quem sabe vire uma famosa espiã que veremos ainda muito na tela enfrentando possíveis malucos para dizimar o mundo atual. Ray Stevenson gravou o longa, e infelizmente não viu o resultado final, já que morreu no ano passado, mas tendo ainda mais um filme seu em pós-produção ainda o veremos uma última vez na tela, pois aqui seu Hedlund teve olhares bem marcantes, e infelizmente poderia ser até mais marcante como um chefão da CIA, mas não foi muito além, e souberam finalizar bem seu personagem na tela. Goran Kostic ficou naquele famoso meio caminho que se não tem uma boa apresentação acaba sendo jogado, pois não conseguimos entender se ele é pró-EUA ou contra, se é russo ou o que, já que acaba parecendo mais duplo do que um vilão realmente, mas ao menos seu Breznov teve atos finais bem empolgantes com a protagonista. Ainda tivemos Rupert Friend bem cheio de sacadas com seu David, que muda completamente de personalidade nos atos finais, Jaz Hutchins como um Maxfield bem nervoso e querendo vingança a qualquer custo, Ben Miles como um Evans durão, mas que não se impõe, e Romina Tonkovic sendo bem usada com sua Sorina hacker e com dispositivos bem criativos para que a protagonista pudesse usar, mas também tendo algum passado que ninguém nunca saberá.

Visualmente o longa tem uma boa entrega de ambientes, iniciando com uma luta imponente no Japão com um apartamento cheio de escadas e ambientes, muitos tiros e objetos sendo usados na luta, depois temos uma invasão marcante na casa da protagonista, uma reunião no quartel general da CIA com uma sala se camuflando para exibir uma reunião sigilosa, toda uma caçada em prédios com drones e muita computação gráfica, além de um esconderijo embaixo de um restaurante também com muitas coisas quebrando, além de uma perseguição imponente com explosões e batidas, bem ao estilo que estamos acostumados a ver em filmes de espionagem, além de várias reuniões de líderes de países em dois ambientes separados, ou seja, a equipe de arte e de fotografia sofreu, mas entregou um belo trabalho nesse contexto.

Enfim, é um filme que segura o espectador, que tem uma boa entrega na tela, mas que poderia ter ido mais além com poucos detalhes, principalmente com um começo melhor de apresentação, pois ficou parecendo ser a continuação de algo que o público deveria saber o que era, mas que ainda assim servirá como um bom entretenimento no final de semana para quem curte esse estilo, então fica a dica. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


domingo, 27 de outubro de 2024

Netflix - Não Se Mexa (Don't Move)

O gênero de suspense permite muitas coisas malucas, mas uma que vira e mexe aparece nas telinhas e telonas é de alguém fugindo desesperadamente de um maluco, e claro que precisam inventar possibilidades mais adversas possíveis para que tudo não fique jogado ou levado para o lado mais sobrenatural, e com o lançamento da semana da Netflix, "Não Se Mexa", a brincadeira foi de uma mulher completamente disposta a se matar, pulando de um penhasco, quando um homem bonito conversa com ela e acaba a convencendo de não saltar, para logo em seguida lhe drogar com algo que vai lhe deixar sem movimento algum, e aí como se foge? Não dando spoilers, mas a moça consegue ir até bem longe, e depois todo o caos instaura, com boas cenas de fogo, violência e muitas conversas, que acabam entregando uma boa densidade para a trama, porém faltou o principal, causar tensão realmente e fazer com que o público se conectasse com a protagonista, pois acabamos meio que vendo algo sem expressividade (ok, que a droga fez isso com ela, dando uma certa apatia), mas tudo foi linear demais na tela. Ou seja, funciona como um bom passatempo para o público em geral, mas quem gosta de um suspense mais tenso é capaz de dormir ou desistir da protagonista rápido demais, acontecendo o famoso "torcer para o assassino dar fim nela logo".

O longa nos mostra uma mulher em luto que tenta recuperar sua sanidade e encontrar paz no silêncio da floresta. O repouso de Iris, entretanto, torna-se um pesadelo quando, numa trilha, ela esbarra com um homem que a injeta um paralisante. De repente, Iris precisa lutar para sobreviver nas mãos de um serial killer, e tem apenas 20 minutos para fugir antes da injeção fazer efeito.

Um fator engraçado é ver um filme quase que sem movimentos ser dirigido por dois diretores e três roteiristas, algo mais comum de se ver em tramas de ação, de forma que Brian Netto e Adam Schindler souberam usar de elementos simples, e de uma ambientação mais fechada como uma floresta de fundo, dois carros, uma cabana e um barco, ou seja, não precisaram ampliar nada, um roteiro com pouquíssimos diálogos, porém claro, muita expressividade no olhar tanto da protagonista quanto do assassino, mostrando um elo que qualquer mínimo detalhe poderia mudar tudo na tela. Ou seja, com esse fechamento todo, era bem possível criar muito mais tensão, mas ao optar por criar algo mais simples, e até mesmo por vermos logo no começo que a vontade da protagonista era de morrer, os diretores não lhe deram uma gana maior para que o público torcesse para ela, e com isso, o resultado ficou morno, não mostrando uma personalidade mais expressiva.

E falando em expressão, já de cara o filme ficou quase que 100% dependente dos olhares de Kelsey Asbille com sua Iris, de modo que ela usou a famosa linguagem do sim e não com o piscar dos olhos, se segurou bastante para não ter movimentos falsos com os braços e pernas, mas faltou usar do sufocamento expressivo, algo que em filmes de muita correria e tensão funcionam bem (o famoso arfar dos cachorros que muitos falam), e assim sendo não torcemos muito pela sua sobrevivência na tela. Já Finn Wittrock, fez com que seu Andrew (ao menos é o nome do documento que o policial lê, e não o qual ele se apresenta para a protagonista como Richard) inicialmente passou um galanteio bem charmoso, falou muito bem, mas lá para a metade da trama se mostrou completamente sem controle, passando bem um ar meio que psicótico e explosivo, que acabou chamando bem o filme para si. Quanto aos demais, vale um leve destaque para o senhorzinho que Moray Treadwell fez, lutando muito bem com o assassino, enquanto o policial vivido por Daniel Francis não teve nem chance de falar muito com o que acabou acontecendo com ele.

Visualmente como já falei no começo tivemos poucos ambientes cênicos, contando com uma floresta bem bonita, cheia de pedras, uma correnteza bem marcante, muitas cenas dentro dos carros, uma cabana simples do senhorzinho que quase atropelou a jovem com o cortador de grama, um posto e nada mais, tendo como elementos a injeção e as amarras lacres. Ou seja, a equipe de arte foi bem econômica na tela.

Enfim, é um filme simples, que tem uma proposta bem colocada, e que segue bem o manual do estilo, conseguindo funcionar do começo ao fim sem cansar pelo menos, mas que com bem pouco poderia ter ido mais além, então vale a indicação como um passatempo sem esperar muito dele. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


sábado, 26 de outubro de 2024

A Vilã das Nove

Quem conhece meus textos sabe o pavor que tenho quando um filme acaba virando novela, e desde quando vi o título do longa "A Vilã das Nove" fiquei com muito receio de que seria uma novelona transformada em filme, mas não, a trama até que é bem desenvolvida no mistério da mulher que vê traços de sua vida acontecendo em uma novela, e ao investigar mais vai descobrindo o motivo de tantas conexões, e como será o final da novela para saber o final de sua vida ou não. Ou seja, é daquelas boas sacadas de misturas de estilos e referências que acaba tendo uma boa pegada, que talvez poderia até ir mais além, mas que acaba funcionando dentro da proposta, e o melhor é que consegue segurar bem o espectador que gosta desse estilo, e também chama o público noveleiro para as salas do cinema.

O longa nos apresenta Roberta, uma mulher que vive a melhor fase da sua vida, até perceber que a trama da nova novela das nove é baseada na sua própria história. No passado, Roberta deixou seu marido Bento e a filha Debora para trás em busca de sua felicidade. Marcada pelo abandono da mãe, Debora expõe sua história para um autor de novelas que está procurando pelo seu novo sucesso.

Diria que o diretor Teodoro Poppovic trabalhou bem a composição cênica para mostrar ao público como é o desenvolvimento de uma novela, e como as coisas que vão acontecendo na vida dos escritores influenciam no que eles acabam colocando em suas histórias, ao ponto que mesmo dando situações conflitivas dentro da trama, o resultado impacta nas pessoas e vice-versa. Ou seja, o diretor mostrou segurança com o que tinha para entregar e brincou com as várias facetas usando a boa personificação das protagonistas, de modo que em determinado momento vemos a novela usando a base da vida real e na outra a vida real tomando os rumos da novela. Claro que dava para alguns momentos serem mais expressivos, mas ainda assim o resultado convence bem.

Quanto das atuações, Karine Teles soube segurar bem o estilo de sua Roberta, fez bons olhares e trejeitos, ao ponto que num primeiro momento nem parece em nada com a Eugênia antiga, mas que ao desenvolver melhor o papel consegue chamar muito para si e amarrar bem o filme. Agora a versão novelesca de Eugênia/Paloma ficou muito bem alocada na tela por Camila Márdila, de modo que vemos um estilo natural da atriz na tela, não forçando olhares nem traquejos, e sabendo desenvolver a sua personalidade na novela até melhor do que dentro do filme, e isso ficou bem bacana de ver ela fazendo praticamente três papeis em cena. Ainda tivemos bons atos de Alice Wegmann como uma Debora em busca de sua mãe, usando seus dons de escrita para botar na mente do roteirista da novela os atos mais marcantes para que tudo fluí fácil com o que faz na tela. Quanto aos demais, foram usados mais como conexões, então não tivemos grandes atos para que cada um chamasse tudo para si, valendo dar um leve destaque para Antonio Pitanga como o escritor Modesto e Laura Pessoa com sua Nara, mas sem grandes chamarizes.

Visualmente a trama é bem cheia de facetas, mostrando algumas casas/apartamentos simples, aonde a protagonista faz trabalhos vocais com atores e cantores, e vemos também todo o lado da novela com várias cenas acontecendo, ou seja, a equipe de arte precisou trabalhar por 3, afinal também tiveram cenas antigas com a verdadeira Eugênia, além disso uma festança no apartamento de uma das atrizes da novela e outra na casa do escritor aonde vemos também toda a escaleta na parede com a formatação da vida dos personagens da novela, ou seja, tudo bem simples, porém muito bem feito.

Enfim, é um filme com uma proposta simples que podia ter dado muito errado, mas que funciona tanto como um bom drama "investigativo", quanto uma sacada novelesca inusitada, aonde há muitas inversões na tela que acaba agradando, desde claro não se espere muito de cada momento. Então fica a dica para quem curte o estilo conferir a partir da próxima quinta 31/10 nos cinemas, principalmente para quem estiver fugindo dos vários filmes de terror que chegarão na data. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje agradecendo os amigos da Disney e da Bcbiz pela cabine de imprensa, e volto em breve com mais dicas, então abraços e até logo mais.


Venom: A Última Rodada em Imax 3D (Venom: The Last Dance)

Desde que falaram que o terceiro filme do simbionte não seria bem uma continuação direta que ligaria tudo como deixou intencionado no final do segundo já dei uma brochada com tudo o que poderia esperar, e depois de ver alguns trailers meio que forçados demais fui conferir hoje "Venom - A Última Rodada" apenas esperando como dariam um final decente para mais um dos personagens da famosa briga Sony x Marvel, que quem perde é o público e os fãs por não terem a possibilidade de ver personagens imponentes ficarem ainda maiores nas mãos da companhia de filmes de heróis. Ou seja, não diria que é um filme ruim, pois tem a mesma base que os outros dois filmes, tendo um pouco de história para ser desenvolvida até começar toda a pancadaria e ação sem limites, que diverte quem gostou dos outros, mas que dava para ter ido mais além com um vilão realmente mais imponente, e claro com mais piadas como vimos nos outros filmes, pois aqui o personagem acabou ficando mais centrado, o que não fez tanto sentido.

O longa nos mostra que Eddie Brock e Venom estão em uma frenética fuga. Caçados por forças tanto do seu planeta natal quanto da Terra, a dupla se encontra em um aperto crescente, com a rede se fechando rapidamente ao seu redor. À medida que a pressão aumenta, Eddie e Venom são forçados a tomar uma decisão devastadora que marcará o fim de sua última dança juntos.

Já disse isso diversas vezes, porém sempre é muito válido, pois em continuações de personagens não se muda diretor, pois a chance de que tudo o que você já viu e conhece mudar para algo sem muita base é total, e mais do que isso, não se estreia na função de diretor em um longa de ação, ainda mais baseado em algo que os fãs já conhecem aos montes. E infelizmente aqui acontece as duas coisas, pois Kelly Marcel foi roteirista dos três filmes, mas como ninguém quis assumir a bronca de fechar a saga da Sony, eis que resolveu estrear na função de comandante do navio para se afundasse não abandonaria o barco, e assim sendo a trama ficou faltando um algo a mais para explodir como deveria, com tantas cenas que já haviam aparecido nos trailers que só quem realmente for muito fã do personagem vai acabar gostando do que a diretora fez.

Quanto das atuações, Tom Hardy entregou um Eddie Brock cansado demais, parecendo estar embriagado desde as primeiras cenas no bar até os penúltimos momentos antes da cena final, mas ainda assim usando bastante o simbionte para lutar e tentar grandes defesas, ao ponto que não entregou muita personalidade para o humano, mas sendo funcional ao menos. Chiwetel Ejiofor trouxe um Strickland meio que surgindo do nada, sendo um policial imponente, mas que apenas está ali desativando a Área 51, mas como já vimos ele em outros filmes da Marvel até esperava que fosse dar algum tipo de conexão, o que acaba não ocorrendo, porém fez bons trejeitos, lutou bravamente e fez o que tinha de fazer na tela. Outra que surgiu do nada foi Juno Temple com sua Dra. Paine, que até vemos um pouco do seu passado com o irmão em busca de poderes, e depois suas pesquisas com os simbiontes, mas ficou meio que perdida na tela, fazendo alguns atos interessantes de pesquisa, e o sonho de regenerar seu braço, tendo para isso um bom final ao menos, porém a atriz que sempre dá show em dramas acabou ficando artificial. Então sobrou carisma ao menos para a família que dá carona para Eddie, com destaque claro para Rhys Irfan com seu Martin desesperado para ver alienígenas e o garotinho Dash McCloud com seu Folha bem emocional, e claro para os rápidos atos com Peggy Lu fazendo sua Chen. Nem vou falar de gastarem um bom quinhão do orçamento para pagar o Andy Serkis, pois seu Knull é um mero enfeite cênico aqui, e sendo um dos vilões mais fortes do Universo Marvel dos quadrinhos, a Sony quis apenas usar ele para ter de vender mais caro para a Marvel.

Visualmente a trama entrega bons momentos com a desativação da Área 51 com ácido (que ao final foi bem sacado para o desfecho da trama), tivemos boas lutas entre o simbionte que conhecemos e vários outros nos atos finais, e também vemos uns bichões feios chamados xenófagas que trituram tudo que comem, além de termos cenas num cassino de Las Vegas, alguns atos no começo no México com uma briga contra donos de rinhas, um cavalo simbionte, peixe, sapo e tudo mais que o parasita se instala, formando atos de ação bem trabalhados, mas numa bagunça que não vai muito além. E quanto do 3D, usaram apenas para vender ingressos mais caros, tendo algumas perspectivas com a conversão feita, mas nada que impactasse realmente.

Enfim, é um filme meio que bagunçado demais que usaram para dar um bom desfecho para o personagem, deixando uma leve fagulha para se quiserem continuar, mas que de um modo geral fecha o ciclo ao final, que claro quem gosta do personagem vai acabar curtindo, mas sem sair vibrando com o resultado ou com as cenas pós-créditos (que não levam nada muito além), valendo esperar apenas pela boa trilha sonora que toca durante a subida das letrinhas. Sendo assim, fui esperando ver algo fraco e vi algo ainda mais fraco, que não me empolgou em momento algum, mesmo nos atos finais cheios de explosões e lutas, então não diria que recomendo ele. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


quinta-feira, 24 de outubro de 2024

O Quarto Ao Lado (The Room Next Door)

Costumo dizer que para conferir um filme de Almodóvar tem de estar disposto a entrar no clima verborrágico de nível máximo e ser adepto à discussões que muitas vezes são importantes para reflexões, mas que muitos não gostam de conversar, e isso é algo que por vezes acaba sendo extremamente cansativo ou então quando o diretor está inspirado acaba fluindo de uma forma tão fácil na tela que você nem vê a hora passar, apenas esperando o desfecho. E felizmente o novo longa do diretor, "O Quarto ao Lado", que ganhou o Festival de Veneza desse ano é um exemplar dessa segunda opção, pois discutindo ao mesmo tempo a possibilidade da eutanásia, o conflituoso mundo da dor de tratamentos de algumas doenças, o caos climático atual e ainda permitindo colocar em pauta as diferentes guerras que uma pessoa pode enfrentar e vivenciar, acabamos ficando quase que íntimos das duas amigas para sentir seus problemas e viver alguns dias de boas conversas num hospital e numa casa de campo. Ou seja, é um dos filmes mais simples do diretor, mas que trabalha temas polêmicos e entrega atos bem diretos na tela, ao ponto que até achei que iria me cansar lá pelo miolo, mas como é dinâmico, o funcionamento das conversas agrada e faz pensar como seria se um amigo pedisse para você fazer a mesma coisa.

O longa apresenta as jornalistas Ingrid e Martha, que foram muito amigas na juventude, quando trabalharam juntas na mesma revista, mas que passaram longos anos sem manter contato. Ingrid se tornou escritora de auto ficção, já Martha virou correspondente de guerra, e ambas trilharam carreiras muito bem sucedidas. As circunstâncias da vida e o trabalho desafiador de Martha, acabaram causando um afastamento natural entre as duas. Assim como gerou ressentimentos entre Martha e sua filha: ela nunca perdoou a ausência da mãe, que sempre preferiu se dedicar mais ao trabalho. Até que a descoberta de uma doença terminal, muda completamente a vida da jornalista de guerra, e aproxima novamente as amigas. E em meio a uma situação extrema, de vida e morte, Ingrid e Martha também se veem diante de um dilema moral.

Muitos estavam apreensivos por esse ser o primeiro longa do diretor e roteirista Pedro Almodóvar inteiro em inglês, mas com duas talentosíssimas atrizes dialogando sobre a morte, sobre o passado e tudo mais, ele conseguiu fazer com que os temas fortes ficassem leves e bem colocados, ao ponto que facilmente seu filme poderia virar uma peça teatral daqui alguns anos sem perder uma gota da qualidade que fosse, pois o ambiente em si é bonito, o barulho dos pássaros, mas a base mesmo é o diálogo e o roteiro bem encaixado dentro da ideia completa, afinal uma correspondente de guerra perdendo para a principal guerra da vida, e uma romancista que tem medo da morte acompanhando a amiga em algo que vai causar uma morte tinha tudo para dar conflito, mas brilha demais pelo estilo bem colocado na tela.

Sem dúvida alguma a escolha das protagonistas definiu o acerto do longa, pois Tilda Swinton tem toda a personificação visual de uma mulher que está brigando com o câncer, e seus trejeitos amplos chamaram completamente a discussão de sua Martha para cada ato entregue na tela, de tal forma que o filme funciona totalmente ao seu favor, e a atriz acaba dando show com suas ideologias e entregas, fora que aparece ao final com sua versão mais rejuvenescida como a filha. Não por menos Julianne Moore se jogou para uma Ingrid cheia de nuances, totalmente interessada na amiga, disposta a ir fazer o seu maior medo que é a morte e trabalhando bem os trejeitos emocionais e dinâmicas bem de amigas mesmo conseguiu segurar seus atos com uma precisão incrível na tela. Ainda tivemos alguns momentos com John Turturro com seu Damian, ex-namorado de ambas as mulheres no passado, e Alessandro Nivolla como um policial religioso e reclamão, mas sem grandes atos, afinal o longa é das mulheres.

Visualmente como já disse o longa poderia se passar em um teatro bem facilmente, pois o valor da trama está nas protagonistas e nos diálogos, mas vemos um quarto de hospital bem arrumado, um apartamento simples e um outro apartamento bem bagunçado que a escritora ainda está arrumando, mas depois quando as duas vão para a casa que alugou no campo, aí o luxo visual é algo muito bonito, em meio a natureza, com pássaros e diversos momentos numa espreguiçadeira, além de vários filmes antigos na TV, com destaque usado para o fechamento do longa como uma reinvenção da famosa frase de neve do ganhador do Nobel Jon Fosse.

Enfim, é um filme de Almodóvar, então não tinha como dar errado, sendo daqueles que quem gosta vai amar, e quem não gosta é até capaz de curtir toda a essência reflexiva, então acaba valendo a dica para ir conferir nos cinemas (ou quando sair para locação!). E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


Netflix - Lobisomens (Loups-Garous) (Family Pack)

Tem dias que chego em casa e olho para as listas de estreias e fico pensando se arrisco o play em algo novo ou algo que já está preso na lista há meses, e em quase todos os casos dou mais chance para os lançamentos, e pela sinopse do filme "Lobisomens", que estreou hoje na Netflix, parecia ser algo meio que dinâmico e criativo, porém logo após a primeira cena já vemos um "Jumanji" francês, aonde a família toda é transportada para a Idade Média através de um jogo antigo que encontram, e lá ganham os poderes de seus personagens do jogo de modo que só ganhando e sobrevivendo conseguirão voltar para sua época verdadeira. Ou seja, tudo bem básico, bem lúdico e singelo que consegue funcionar como um passatempo para quem não liga para tramas mais bobinhas, mas que mostra que os franceses também gostam de sair dos dramas cômicos tradicionais e as vezes patinam um pouco com o que tentam fazer, pois aqui o figurino dos lobos ficou bem bizarro como uma fantasia de festa mesmo.

Inspirado no aclamado jogo de tabuleiro The Werewolves of Miller’s Hollow, o filme gira em torno de uma família, que depois de descobrir um misterioso jogo de cartas é enviada de volta no tempo para uma vila medieval onde eles devem se defender de perigosos lobisomens todas as noites.

Diria que o diretor e roteirista François Uzan que ficou muito conhecido por ter adaptado a série "Lupin" para a TV quis mostrar um pouco do ar lúdico medieval através de um jogo simples, e não ligou para que tudo ficasse bobinho demais, mas ainda assim o estilo francês tem uma pegada bem colocada, afinal os poderes que os personagens ganharam ao ir para a Idade Média ficaram bacanas e divertidos dentro da entrega completa, de modo que mesmo tendo muitas falhas técnicas (principalmente nos efeitos e fantasias), o resultado acaba tendo uma pegada interessante de ser vista, que funciona e agrada, mostrando que um estilo meio de RPG, meio de conto de fadas, e claro, usando um pouco de coisas já usadas em outros longas do estilo acabaram sendo bem representadas pelo diretor.

Quanto das atuações, a trama fica bem focada em Franck Dubosc com seu Jérôme que até acaba gostando de seu poder de ler as mentes, mas dava para ter utilizado mais isso com outros personagens sem ser da própria família, e claro o ator ter se jogado mais no personagem, de modo que parecia estar inseguro com a entrega na tela. Jean Reno sempre brinca bem com seus personagens, e aqui seu Gilbert inicialmente no mundo atual trabalhou com um ar apático afinal está doente e esquecendo tudo, enquanto na Idade Média teve o poder da força, cheio de vitalidade e usou muito disso para dar estilo ao personagem. Suzanne Clément não fluiu tanto quanto poderia com sua Marie, de modo que teve algumas boas sacadas com o marido, fez algumas frases que a fez ser considerada uma bruxa, e teve uma boa explosão final, mas ficou muito atrás de todos. Já os mais jovens até se divertiram com a entrega na tela, com o Raphaël Romand tendo mais destaque não pelo que faz aparecendo na tela, mas sim seu Theo se transmutando pelas personalidades dos donos do objeto que pega, então tivemos vários outros atores fazendo o papel, e isso acabou sendo bem bacana, enquanto a jovem Lisa do Couto Teixeira acabou ficando meio escondida com sua invisibilidade e muitas cenas sem voz, enquanto a menorzinha Alizée Caugnies ficou engraçadinha de lobo.

Visualmente a trama ficou bem representada de época, com casas tradicionais da Idade Média, figurinos bem colocados e as tradicionais execuções públicas, além de muitos objetos cênicos bem colocados para que tudo ficasse bem colocado na tela. Diria que a vila ficou bem charmosa também e a essência dentro da casa escolhida, além da casa do inventor ficou bem sacada, porém os efeitos especiais e as roupas dos lobos abusaram um pouco da nossa inteligência, pois ficou extremamente artificial, e com isso muitos irão rir de tristeza com o que verão na tela.

Enfim, é um longa simples de entrega que tinha também uma proposta simples, mas que dava para ter um cuidado melhor na tela para chamar mais atenção, de forma que vale como um passatempo e um filme "de Halloween" que dá para passar para as crianças, mas como tem muitas falhas técnicas, o resultado acaba não empolgando como poderia. E assim sendo, fica a dica apenas para ver um longa francês que saiu bem longe da perfeição, afinal muitos acham que eu defendo demais os filmes do país, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até amanhã com mais dicas.


terça-feira, 22 de outubro de 2024

Segredos (Secrets)

Em um primeiro momento jurei que o longa "Segredos", que estreia na próxima quinta 24/10 nos cinemas nacionais, fosse uma trama estrangeira aonde Danni Suzuki estivesse fazendo sua estreia internacional, mas fui enganado com muito sucesso, pois é apenas um filme brasileiro, dirigido e atuado por um brasileiro, porém inteiro (ou uns 95%) falado em inglês!! Ou seja, até posso dizer que é um drama com uma pegada bem densa aonde vemos uma DR de quase duas horas, aonde os segredos do passado de um casal de ricos acabam saindo do controle durante as revelações em um dia turbulento, porém com um pouco mais de cortes (chegando em algo próximo de uns 90 minutos ao invés dos 125) entregaria algo com uma proposta mais sucinta e direta que certamente chamaria mais atenção, pois a densidade do texto é bem próxima a de uma peça teatral, mas como se alonga em alguns detalhes, em determinados momentos acaba irritando o espectador, mas felizmente não recaiu aos traquejos novelescos, e sendo assim funciona mesmo que de uma maneira esquisita, principalmente depois que você fica sabendo que é algo 100% nacional, filmado no Brasil, mas com poucos diálogos em português, e ainda com sotaque!

O longa nos revela detalhes sobre a vida do casal Naomi (Danni Suzuki) e Noah (Emiliano Ruschel). Noah é um diplomata suíço, que cresceu na Europa e estudou nos Estados Unidos. Naomi é uma brasileira, filha única e de uma família rica e influente. Eles se conheceram enquanto estavam na faculdade, a renomada instituição americana, Yale University. Casados há sete anos, para quem vê de fora, eles são o casal perfeito. Porém, em meio a uma dinâmica abusiva, ambos tentam salvar o casamento e se deparam com uma situação em que são colocados frente a frente com os segredos um do outro. A pergunta que não quer calar é: será que seus segredos serão grandes demais para serem ignorados?

Diria que o diretor e roteirista Emiliano Ruschel quis fazer algo com um estilo diferenciado dentro do cinema nacional, e para isso brincou com um roteiro praticamente todo falado em inglês, com uma pegada de personagens ricos tendo suas discussões de vida em cima de segredos do passado após um período mais frio do relacionamento, e trabalhando com algo quase possível de virar uma peça teatral, soube desenvolver a história de modo que o espectador ficasse interessado em saber que rumos tudo iria tomar, ou seja, o básico de um bom drama, porém formatado para convencer o público que talvez um diálogo maior poderia resolver um relacionamento, e também se algo do passado que deveria ser levado para o túmulo pode destruir por completo a relação. Como disse no começo, o diretor poderia ter limpado mais o filme para que com uma duração menor fosse mais direto ao ponto e também optado por menos cenas com a câmera na mão, pois em diversos atos tudo tremeu demais, mas isso é uma opção técnica.

Quanto das atuações, o casal até que teve uma boa entrega na tela, mas não passou o sentimento de uma química interessante no relacionamento, o que por ser algo que estão em conflito até funciona, mas ficou artificial demais o casamento deles, ao ponto que poderiam ter se entregue mais. Mas sendo um longa falado em uma língua diferente da nativa dos protagonistas, diria que souberam segurar bem o tom, e conseguiram convencer nesse sentido, pois como falei antes de saber que Emiliano Ruschel é brasileiro, tinha toda a certeza de ser suíço ou algo do tipo, pois seu Noah tem uma pegada misteriosa, tem dinâmicas meio reflexivas demais e algumas explosões aparentemente sem sentido, mas que no final de tudo acaba funcionando. Danni Suzuki também entregou uma personalidade seca demais para sua Naomi, ao ponto que suas dinâmicas para com o marido acabam sendo até incômodas, porém o resultado final mostrou segurança e estilo, para que não ficasse tão jogada dentro do roteiro. Quanto aos demais, tivemos algumas aparições mais colocadas, mas sem grandes destaques interpretativos.

Visualmente a trama trouxe um início numa sala de arte com um evento para ricaços doadores do projeto, tudo bem luxuoso e chamativo, e depois todo o restante se passa na mansão dos protagonistas com atos rolando nos quartos separados do casal, na cozinha e na piscina, além do escritório bem simples aonde o personagem principal guarda algo do seu passado em uma caixinha que se em 7 anos a esposa nunca teve curiosidade de abrir, algo errado entre eles já ocorre há tempos. Toda a casa também teve muitas fotos do casal, e ainda tiveram alguns momentos em um iate e em carrões com cenas meio que picadas que depois acaba sendo mais explicativa.

Enfim, é um filme até que bem interessante que poderia ter ido mais além na dinâmica toda, e também poderia ser mais enxuto, pois ninguém gosta nem de participar de discussões de relacionamento, muito menos ver algo que acaba se enrolando demais, porém ainda vale a conferida pelo resultado completo. E é isso meus amigos fico por aqui hoje agradecendo os amigos da A2 Filmes pela cabine de imprensa que assinam também a produção do longa e não apenas a distribuição, e volto amanhã com mais dicas, então abraços e até breve.


Netflix - Abraço de Mãe

Olha, hoje vou fazer uma análise bem técnica do filme "Abraço de Mãe", que estreou na Netflix, pois não tenho vergonha nenhuma em dizer isso, mas após conferir a cabine de imprensa posso falar que não entendi foi é nada, de tal forma que o longa prende, tem alguns atos interessantes, alguns momentos de sustos repentinos, e alguns elos no miolo que me deixaram bem curioso, ao ponto que estava crente que nos atos finais iriam explicar um pouco mais, iriam desenvolver algo mais chamativo, mas não, simplesmente acontece um ritual meio maluco com vários personagens dentro de um líquido, conectados com algo semelhante a um cordão umbilical, mas a protagonista que é bem imponente consegue fugir, e pronto, fim! Ou seja, quem conferir a trama e depois entender melhor pode falar nos comentários que não irei ficar bravo com spoilers abertos, mas até pedi pro pessoal da distribuição se tem algum material extra para tentar entender o que o diretor desejava mostrar, pois tecnicamente a trama é bem densa, tem muita chuva, um casarão caindo aos pedaços e tudo que um bom longa de terror chamativo do estilo pede, mas se tem algo que me irrita demais é um longa terminar sem que eu tenha entendido algo, e isso aconteceu de uma forma bem forte aqui, que não consegui nem imaginar nada.

A sinopse nos conta que em fevereiro de 1996, durante um dos temporais mais impiedosos que atingiu a cidade do Rio de Janeiro, uma equipe dos bombeiros recebe um chamado para evacuar um asilo com risco de desabamento. Ana, uma jovem bombeira afastada após sofrer um ataque de pânico em uma operação, se vê retornando à sua antiga equipe de resgate. Ao chegarem ao local, os bombeiros descobrem que os misteriosos moradores do asilo têm outros planos com a chegada da chuva. Ana terá que enfrentar seu próprio passado para sobreviver e salvar os outros antes que seja tarde demais.

Não conhecia os trabalhos do diretor e roteirista argentino Cristian Ponce, mas posso dizer que estilo ao menos ele tem, pois embora eu pessoalmente não tenha entendido nada da história, o resultado visual impressiona, temos cenas de impacto bem colocadas e muita chuva para entregar algo bem representativo, ao ponto que ele fez a direção de arte trabalhar e muito para que seu filme tivesse uma essência densa marcante e chamasse atenção, porém como já disse outras vezes se o diretor não entrega em sua ideia algo que seja ao menos possível de captar a ideia do roteiro, o resultado acaba estranho demais, pois não digo que tenha de entregar algo bobinho que até um bebê entenda, com mil explicações e tudo mais, apenas que seja dado um desfecho crível aonde o público se convença com a opinião do diretor, e aqui acredito que só com uma introdução textual bem pautada para que o público capte a ideia. Ou seja, podem esperar mil vídeos na internet com o famoso bordão: "entenda o final de Abraço de Mãe", pois só assim pra funcionar, e claro que nenhuma das explicações será a do diretor, ao menos que tenha algum vídeo dele próprio falando o que imaginava.

Quanto das atuações, Marjorie Estiano tem muita presença em suas personagens, e aqui sua Ana consegue segurar bem seus atos, ser direta na representação que faz, só exagerando um pouco no português muito certinho, afinal sabemos o tanto de gírias que o carioca fala, e ela entrega algo quase que sem falhas para que a legendagem para outros países não erre uma vírgula, além disso talvez até tenha algo duplo na personagem que se pararmos para refletir mais dá para ir além nisso, mas faltou o roteiro entregar melhor para ela, pois facilmente nos convenceria do que fez. As garotinhas Mel Nunes e Maria Volpe foram bem expressivas como Ana jovem e Lia respectivamente, de modo que tiveram boas entregas cênicas e conseguiram causar com olhares e bons trejeitos, mas sem ir muito além também. Já os demais bombeiros parceiros da protagonista praticamente foram apenas enfeites, sem terem cenas que fossem mais além, valendo um rápido destaque para Val Perré como o tenente Dias bem seguro do que faz em cena, e do momento mais intenso com Roque e a protagonista que Reynaldo Machado fez bons atos. E talvez valesse ter trabalhado um pouco mais com Angela Rabello em seu último filme antes de morrer em 2023, pois sua Drika tinha um mistério no olhar, e quem sabe traria mais conexões para o longa.

Como já disse, o diretor deu muito trabalho para a equipe de arte, de modo que conseguiram um casarão praticamente caindo aos pedaços (ou maquiaram bem ele para parecer bem destruído), muita chuva cenográfica caindo enfurecidamente do começo ao fim do longa, algumas maquiagens estranhas para algum tipo de culto, e algumas cenas numa piscina meio que gosmenta para representar talvez a ideia de um útero com os diversos filhos ali dentro, mas apenas servindo como algo interessante de ver, já que a representatividade cênica não ajudou ao roteiro ficar mais explícito na tela. Além claro do começo bem trabalhado com um parque e o fogo na casa da protagonista, em algo que talvez represente o abandono de uma forma mais simbólica.

Enfim, é um filme que facilmente poderia ir muito mais além, pois ele tem um estilo que segura o espectador na tela, mas tenho muita certeza que verei reclamações aos montes a partir de quarta quando o longa se lança comercialmente na Netflix, pois duvido que a maioria entenda algo do que é mostrado na tela por completo. E sendo assim, não diria que recomendo muito ele, mas se alguém der uma explicação melhor, com toda certeza volto aqui para falar nos comentários, e é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje agradecendo os amigos da Lupa Filmes e da M2 Assessoria pela cabine de imprensa, e volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Amazon Prime Video - Maníaco do Parque

Optei pelo segundo pôster do longa da Amazon Prime Video, "Maníaco do Parque", pelo simples motivo de que a trama foca muito mais na jornalista do que no assassino, e isso é algo muito bom, pois o diretor Maurício Eça já vem mostrando há algum tempo que gosta de trabalhar o gênero criminalístico baseado em assassinos reais do país, mas não focando apenas no olhar do personagem principal, mas sim em diversas outras possibilidades inusitadas que acabam fluindo por vértices até mais densos do que o tradicional. E aqui vemos uma versão que mostra não só um olhar feminino em cima de um assassino de mulheres, que estuprou e matou 10 mulheres e outras 13 que conseguiram fugir e sobreviver, mas também desenvolve uma retratação sob o pensamento de como as famílias sentiram o caso, como toda a mídia trabalhou a história com tantos vértices e chamarizes, ao ponto de que jornais e noticiários quase nem falavam de mais nada, e ao ouvir outras mulheres a trama trouxe uma pegada densa policial, mas com uma ambientação crua e muito íntegra, que acaba surpreendendo pela escolha na tela. Claro que muitos estavam esperando ver algo mais violento e impactante com os crimes, mas souberam dosar isso na personificação do assassino e o rumo acaba chamando atenção também pela escolha.

O longa mergulha na história do maior serial killer brasileiro, o motoboy Francisco, que foi acusado de atacar 21 mulheres, assassinando dez delas e escondendo seus corpos no Parque do Estado, em São Paulo. A história do assassino e os detalhes da sua psicopatia são revelados por Elena, uma repórter iniciante que enxerga na investigação dos crimes cometidos pelo maníaco a grande chance de alavancar sua carreira. Enquanto Francisco segue vivendo livre e atacando mulheres, sua fama na mídia sensacionalista cresce vertiginosamente, gerando terror na capital paulista.

É muito interessante ver como o diretor Mauricio Eça foi mudando seu estilo ao longo dos anos e ganhando cada vez mais personalidade na forma de trabalhar as histórias que pega para dirigir, pois se antes ele tinha dinâmicas mais aceleradas, e até mesmo desesperadas, a cada dia que passa ele tenta segurar o espectador grudado no protagonista, ao ponto que você acaba tendo a mesma ótica que sua câmera, sem ter espaços para pensar fora da caixa, e isso é bacana de acontecer principalmente por ele não seguir o rumo tradicional das histórias, pois aqui facilmente ele poderia ter usado os diversos documentários, reportagens e tudo mais que vimos e ouvimos falar do assassino em série dos anos 90, mas optou em trabalhar uma jornalista jovem que acaba vendo possibilidade de crescer no jornal que trabalha pegando vertentes diferentes das que todos estavam seguindo, meio como se fosse o próprio diretor querendo alçar voos diferenciados, e essa sacada foi muito bem construída pela protagonista na tela, e também ao mesmo tempo vamos conferindo os traquejos e desenvolturas do assassino como um homem "normal" com sua psicopatia nata e tranquila, vivendo como se nada fosse acontecer consigo. Ou seja, o diretor pegou um belo roteiro escrito por L.G. Bayão em cima de uma pesquisa minuciosa de Thais Nunes (que inclusive terá um documentário mostrando seu trabalho a partir do dia 01/11 na própria Amazon Prime Video) e fez tudo fluir de forma muito fácil na tela, fazendo com que o público ficasse tão aficionado pelo caso quanto a jornalista, e vendo aonde estava ficando presa por motivos claros bem machistas das redações jornalísticas, indo para rumos mais densos e trabalhados da história.

Quanto das atuações, outra que vem crescendo bem no estilo entregue é Giovanna Grigio, pois se antes tinha uma oscilação bem grande de trejeitos, agora vem sendo bem mais intensa e dramática em suas dinâmicas, ao ponto que sua Elena tem personalidade, tem força e principalmente se impõe do começo ao fim para que a personagem também cresça na tela, de tal forma que não a vemos insegura em momento algum da trama, e isso mostra tanto uma boa direção de atores, quanto uma atriz disposta a segurar a responsabilidade na tela. Agora um ator que se joga por completo em qualquer personagem que lhe deem é Silvero Pereira, de tal forma que fica irreconhecível, mudando seus trejeitos naturais de acordo com o que o papel pede sem se amarrar em nada na tela, e aqui seu Francisco passa com uma facilidade ares normais de um motoboy, traquejos comuns de um jovem patinador acelerado, e também olhares bem fortes e intensos nos atos de sua matança, ao ponto que não vemos ali na tela em momento algum o Silvero, mas sim outro homem dando um show com sua psicopatia, ou seja, foi perfeito no que fez. Ainda tivemos outras boas atuações com Marco Pigossi como o diretor do jornal, Vicente, tivemos Bruno Garcia bem cheio de trejeitos e estilo com seu Zico, principal jornalista do tabloide, mas quem conseguiu se destacar com poucas cenas bem colocadas foram Xamã como o patrão de Francisco achando ele um bom homem e exemplo de trabalhador ao ponto de até levar ele para sua casa, e Mel Lisboa como a irmã da protagonista que sendo uma psicóloga conseguiu passar tanto para a jornalista quanto para o público como funciona a mente de um psicopata.

Visualmente a trama segurou bem os atos em ambientes mais fechados para não ter problemas de época, afinal a trama se passa nos anos 90 e qualquer detalhe de carros, figurinos ou até mesmo de equipamentos jornalísticos acabaria dando um belo de um furo na tela, e assim vemos uma redação de jornal abarrotada de homens, muitos fumantes no ambiente que era permitido, tivemos bons atos de patinação pelas ruas e no Ibirapuera, uma empresa de motoboys simples aonde o protagonista morava num cantinho, tivemos o apartamento do pai da jornalista que ela acaba transformando num grande painel investigativo, além de um parque denso aonde são achados as jovens mortas e algumas ossadas, e até um leve passeio por São José do Rio Preto para mostrar aonde vivia a família do assassino. Ou seja, a equipe de arte foi bem representativa com câmeras antigas, gravadores e até jornais mais presentes, dando uma boa nuance na tela com tudo o que foi mostrado.

Enfim, é um filme que talvez pudesse ter sido um pouco mais forte na tela, mas que representou bem os atos violentos, e não deu tanta voz ao assassino, deixando ele como um participante de seu filme, e brincando com as nuances de jovens jornalistas que fazem de tudo se arriscando para conseguir crescer na profissão. E sendo vale com certeza a conferida, para vermos que no país também já tivemos assassinos imponentes que quando sabem fazer bons filmes conseguem transformá-los em monstros ainda maiores como acontece no cinema mundial, e também para darmos vozes femininas na tela, ouvindo as vítimas sob um outro olhar. Então fica a dica, e eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


domingo, 20 de outubro de 2024

O Voo do Anjo

Costumo dizer que é fácil fazer um longa introspectivo, porém passar todo o sentimento presente na tela para o espectador é algo que pouquíssimos conseguem fazer, pois se a pessoa que está conferindo não se conectar com toda a essência da trama, acaba vendo apenas mais um filme reflexivo, aonde personagens falam o tempo todo, aonde vemos um ou outro elo com tudo o que está ocorrendo na tela, e ao final apenas falamos 'ok, filme bonito, mas o que ele me passou?'. E comecei dessa forma o texto do longa "O Voo do Anjo", que estreia na próxima quinta 24/10 nos cinemas do país, pelo simples fato de que essa frase me representou bastante, pois vi um filme bem bonito, poético, cheio de reflexões sobre o suicídio, o perder alguém, os culpados de uma tragédia, a amizade mútua bem encontrada em atos extremos, porém não me conectou como deveria, parecendo faltar esse pensamento ou experiência em minha vida (e espero jamais querer ou acontecer algo do tipo), ao ponto que o diretor fez uma bela obra, mas não expressou a sua assinatura na tela, meio como se fosse um grande encontro filosófico para troca de ideias, aonde talvez um algo a mais dentro da história mudasse tudo, mas que acaba não ocorrendo, o que é uma pena, pois dava para ir mais além, porém como disse, em pessoas que já vivenciaram essa ideia, acredito que o longa vai tocar até como um gatilho, e aí a discussão irá para outros rumos.

A sinopse é bem simples e nos conta que a vida do professor aposentado Vítor Falcão estava dentro da normalidade até o dia em que abriu a porta para o surpreendente Arthur, vítima de um terrível trauma familiar.

O último longa do diretor e roteirista Alberto Araujo foi há mais de 10 anos, e provavelmente tenha passado por algo do que representa na tela nesse período, afinal sabemos bem como alguém que se fecha por situações trágicas precisam de um bom tempo de maturação da ideia para expor para outros tudo o que viveu, e assim como o protagonista mais velho diz para o mais novo, ao invés de pular de um parapeito para resolver uma dor trágica de uma forma que nada vai se resolver, é sempre bom passar para um papel, escrever um livro, um diário, ou até mesmo um filme para refletir sobre tudo. E é bem essa a sensação que senti ao ver o longa, de alguém querendo passar seus sentimentos e que um amigo lhe ouvisse e passasse conselhos e carinhos para que essa tragédia virasse algo melhor para outras pessoas, e claro para ela também. Ou seja, é um filme íntimo e bonito de se ver, que pessoas com uma mente mais reflexiva que estiverem sentimentais ao conferir, até entrarão na mesma onda do diretor, mas que como um cinema comercial, talvez tenha faltado um algo a mais para ir além para aqueles outros que forem conferir sem estar nessa mesma onda,

Quanto das atuações, a escolha de Othon Bastos como um conselheiro foi a melhor sacada possível da equipe, pois ele tem bem essa personalidade fechada, mas que sabe passar bons ensinamentos, e seu Vitor entrega muita sensibilidade na tela sem passar a mão na cabeça, criando um bom vínculo com seu parceiro cênico, e desenvolvendo bons atos para se refletir também como um grande amigo que escuta, e fala o que se deve falar. Do outro lado Emílio Orciollo Netto não tão denso quanto seu Arthur precisaria ser, ao ponto que sentimos a sua dor mental, mas não sofremos por ele, e esse talvez tenha sido um pouco a falha do longa, pois ele é a pessoa para qual o filme precisava chamar o público, e isso não ocorre, e não digo que a falha tenha sido do ator, mas sim do personagem precisar ir mais além para que emocionasse realmente e fizesse o público grudar nele. Quanto aos demais, diria que acabaram ficando meio que jogados demais na tela, com Cida Mendes sendo a descontração cômica da trama como a empregada Dora, e Dani Marques muito explosiva sem desenvolver a personagem Karina como ela precisava, de tal forma que não valem destacar muitos pontos ficando realmente como secundários mesmos.

Visualmente a trama se prende bastante no apartamento do protagonista, sendo bem decorado, e com saídas para um passeio pela serra goiana, mostrando uma vinícola, e tendo também algumas festas de aniversários bem comemoradas, além de um hospital, um restaurante e um laboratório, mas tudo usado meio como formas de venda de patrocínios do longa, não tendo muito um uso dramático para a trama, o que mostra que a equipe de arte trabalhou pouco.

Enfim, é um filme como disse bonito de se ver, com bons diálogos, poemas e filosofias, que alguns até acabarão se aprofundando mais se conseguirem se conectar com algo que ocorreu de forma semelhante, do contrário sairá da sessão apenas contente de ver uma trama bonita que não vai lhe agregar muito espiritualmente. Sendo assim, deixo a recomendação de conferida mais para os amigos que estiverem bem introspectivos na próxima semana, e fico por aqui agradecendo os amigos da Sinny Assessoria e da Califórnia Filmes pela cabine de imprensa, então abraços e até logo mais com outros textos.


sábado, 19 de outubro de 2024

Sorria 2 (Smile 2)

Confesso que esperava que saísse logo a continuação do filme "Sorria", mas não tão rápido com praticamente 2 anos só de distância, e isso é um fator que costuma dar muito errado, pois filmes de terror geralmente levam mais tempo para uma boa maturação, mas como já estava até cansado de ver o trailer de "Sorria 2", quase sabendo a coreografia da protagonista de cor, e não estava imaginando que rumos poderia rolar com uma versão "musical" do longa, mas os produtores e o diretor sim, e a mudança de estilo, com um foco muito maior em uma personagem só, e com uma atuação de nível tão icônico que Naomi Scott deu para sua protagonista acabou fazendo com que uma continuação ficasse muito melhor que o longa original, dando muito mais nuances marcantes, aumentando os jumpscares (sustos gratuitos), e levando a trama para um outro patamar. Ou seja, com algo violentíssimo, e uma pegada que você fica a todo momento pensando o que é real e o que é obra do vírus/entidade maligna na cabeça da protagonista, acaba transpondo para o lado de fora da tela, de forma que nem nós sabemos o que estamos vendo acontecer, e assim tivemos vários atos que surpreendem e derrubam o queixo no chão, em um resultado final que saberá o que vão fazer numa continuação, pois agora tudo foi por água abaixo da forma escolhida e muito bem pensada de fechar de maneira explosiva.

O longa nos conta que a estrela pop Skye Riley vive a vida dos sonhos, repleta de fama, dinheiro e admiração. Prestes a embarcar em uma turnê mundial, a estrela presencia a morte de um colega do ensino médio, Lewis Fregoli. A partir daí, começa a ser perseguida por um sorriso sombrio. Ela o vê em seus fãs, em seus parceiros de trabalho e em desconhecidos na rua. Na trama vemos as tentativas de Riley de exterminar esse mal que a aterroriza e retomar o controle de sua vida, porém a pressão da fama e o horror dessas experiências inexplicáveis obrigam Skye a confrontar seu passado antes que seja tarde demais.

Se a estreia do diretor Parker Finn já havia sido boa em 2022 com o original, agora com um orçamento bem mais recheado acabou conseguindo ir bem mais além nas desenvolturas de tela, nas sacadas de sustos e principalmente, na violência cênica, pois se no primeiro as mortes já eram bem fortes, aqui ele amplificou para um nível que chega a dar vontade de tampar os olhos em vários momentos fortes, ou seja, tudo acaba sendo bem amplo e cheio de dinâmicas marcantes que não precisaram tanto das explicações e simbologias do original, deixando que a obra fluísse de uma maneira mais fácil, e assim sendo o diretor e roteirista certamente mostrou sua opinião da confusão mental que o sorriso mortal causa, e talvez que rumos ele pode ainda brincar, afinal teve presença cênica e mostrou do que ele gosta realmente de entregar, que são os sustos e o impacto violento.

Quanto das atuações, o filme é de Naomi Scott com sua Skye, de tal forma que a atriz trouxe presença cênica, bons trejeitos de desespero e de imposição, dançou, cantou, gritou, explodiu e fez de tudo um pouco para que sua personagem dominasse cada ato de uma maneira tão grandiosa que acredito que jamais vimos em outra atriz no estilo terror, ou seja, se o diretor for esperto vai usar ela na continuação de alguma forma, mesmo o final não dando margem para isso, mas que a atriz deu show, literalmente ela deu! Ainda tivemos alguns atos bem desesperados e fortes de Lukas Gage com seu Lewis, e uma mãe/empresária tão rígida que Rosemarie Dewitt entregou que certamente a jovem protagonista nem precisava de inimigos, e falando em inimigos tivemos também bons atos com a melhor amiga dela vivida por Dylan Gelula, e um pouco uso de Peter Jacobson com seu Morris, pois talvez ele pudesse ter sido melhor trabalhado para explicar mais do que seria o vírus/entidade.

Visualmente tivemos bons shows na tela, apresentações marcantes, ensaios, e um apartamento escuro demais para o meu gosto, que mesmo sendo riquíssimo e cheio de água chique para a jovem beber, o sorriso lhe perseguiu com muitos rostos, pessoas, fãs e tudo mais, ainda nos foi entregue um evento de caridade trágico e muitos outros ambientes menores que funcionaram bem com o sorriso forçado na cara de todos. E claro o destaque ficou para a equipe de maquiagem/próteses que usaram muito sangue, cortes, pedaços e tudo mais na tela para impactar bastante.

Enfim, como a trama tem uma base musical, já que a protagonista é uma cantora pop, e que felizmente colocaram uma atriz que é cantora também, o longa contou com muitas boas canções, mas sem virar um filme musical, e assim sendo quem for fã de um bom terror cheio de sustos pode se preparar para pular muito na poltrona e conferir na telona, pois vale a pena. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.