Amazon Prime Video - Maníaco do Parque

10/21/2024 12:43:00 AM |

Optei pelo segundo pôster do longa da Amazon Prime Video, "Maníaco do Parque", pelo simples motivo de que a trama foca muito mais na jornalista do que no assassino, e isso é algo muito bom, pois o diretor Maurício Eça já vem mostrando há algum tempo que gosta de trabalhar o gênero criminalístico baseado em assassinos reais do país, mas não focando apenas no olhar do personagem principal, mas sim em diversas outras possibilidades inusitadas que acabam fluindo por vértices até mais densos do que o tradicional. E aqui vemos uma versão que mostra não só um olhar feminino em cima de um assassino de mulheres, que estuprou e matou 10 mulheres e outras 13 que conseguiram fugir e sobreviver, mas também desenvolve uma retratação sob o pensamento de como as famílias sentiram o caso, como toda a mídia trabalhou a história com tantos vértices e chamarizes, ao ponto de que jornais e noticiários quase nem falavam de mais nada, e ao ouvir outras mulheres a trama trouxe uma pegada densa policial, mas com uma ambientação crua e muito íntegra, que acaba surpreendendo pela escolha na tela. Claro que muitos estavam esperando ver algo mais violento e impactante com os crimes, mas souberam dosar isso na personificação do assassino e o rumo acaba chamando atenção também pela escolha.

O longa mergulha na história do maior serial killer brasileiro, o motoboy Francisco, que foi acusado de atacar 21 mulheres, assassinando dez delas e escondendo seus corpos no Parque do Estado, em São Paulo. A história do assassino e os detalhes da sua psicopatia são revelados por Elena, uma repórter iniciante que enxerga na investigação dos crimes cometidos pelo maníaco a grande chance de alavancar sua carreira. Enquanto Francisco segue vivendo livre e atacando mulheres, sua fama na mídia sensacionalista cresce vertiginosamente, gerando terror na capital paulista.

É muito interessante ver como o diretor Mauricio Eça foi mudando seu estilo ao longo dos anos e ganhando cada vez mais personalidade na forma de trabalhar as histórias que pega para dirigir, pois se antes ele tinha dinâmicas mais aceleradas, e até mesmo desesperadas, a cada dia que passa ele tenta segurar o espectador grudado no protagonista, ao ponto que você acaba tendo a mesma ótica que sua câmera, sem ter espaços para pensar fora da caixa, e isso é bacana de acontecer principalmente por ele não seguir o rumo tradicional das histórias, pois aqui facilmente ele poderia ter usado os diversos documentários, reportagens e tudo mais que vimos e ouvimos falar do assassino em série dos anos 90, mas optou em trabalhar uma jornalista jovem que acaba vendo possibilidade de crescer no jornal que trabalha pegando vertentes diferentes das que todos estavam seguindo, meio como se fosse o próprio diretor querendo alçar voos diferenciados, e essa sacada foi muito bem construída pela protagonista na tela, e também ao mesmo tempo vamos conferindo os traquejos e desenvolturas do assassino como um homem "normal" com sua psicopatia nata e tranquila, vivendo como se nada fosse acontecer consigo. Ou seja, o diretor pegou um belo roteiro escrito por L.G. Bayão em cima de uma pesquisa minuciosa de Thais Nunes (que inclusive terá um documentário mostrando seu trabalho a partir do dia 01/11 na própria Amazon Prime Video) e fez tudo fluir de forma muito fácil na tela, fazendo com que o público ficasse tão aficionado pelo caso quanto a jornalista, e vendo aonde estava ficando presa por motivos claros bem machistas das redações jornalísticas, indo para rumos mais densos e trabalhados da história.

Quanto das atuações, outra que vem crescendo bem no estilo entregue é Giovanna Grigio, pois se antes tinha uma oscilação bem grande de trejeitos, agora vem sendo bem mais intensa e dramática em suas dinâmicas, ao ponto que sua Elena tem personalidade, tem força e principalmente se impõe do começo ao fim para que a personagem também cresça na tela, de tal forma que não a vemos insegura em momento algum da trama, e isso mostra tanto uma boa direção de atores, quanto uma atriz disposta a segurar a responsabilidade na tela. Agora um ator que se joga por completo em qualquer personagem que lhe deem é Silvero Pereira, de tal forma que fica irreconhecível, mudando seus trejeitos naturais de acordo com o que o papel pede sem se amarrar em nada na tela, e aqui seu Francisco passa com uma facilidade ares normais de um motoboy, traquejos comuns de um jovem patinador acelerado, e também olhares bem fortes e intensos nos atos de sua matança, ao ponto que não vemos ali na tela em momento algum o Silvero, mas sim outro homem dando um show com sua psicopatia, ou seja, foi perfeito no que fez. Ainda tivemos outras boas atuações com Marco Pigossi como o diretor do jornal, Vicente, tivemos Bruno Garcia bem cheio de trejeitos e estilo com seu Zico, principal jornalista do tabloide, mas quem conseguiu se destacar com poucas cenas bem colocadas foram Xamã como o patrão de Francisco achando ele um bom homem e exemplo de trabalhador ao ponto de até levar ele para sua casa, e Mel Lisboa como a irmã da protagonista que sendo uma psicóloga conseguiu passar tanto para a jornalista quanto para o público como funciona a mente de um psicopata.

Visualmente a trama segurou bem os atos em ambientes mais fechados para não ter problemas de época, afinal a trama se passa nos anos 90 e qualquer detalhe de carros, figurinos ou até mesmo de equipamentos jornalísticos acabaria dando um belo de um furo na tela, e assim vemos uma redação de jornal abarrotada de homens, muitos fumantes no ambiente que era permitido, tivemos bons atos de patinação pelas ruas e no Ibirapuera, uma empresa de motoboys simples aonde o protagonista morava num cantinho, tivemos o apartamento do pai da jornalista que ela acaba transformando num grande painel investigativo, além de um parque denso aonde são achados as jovens mortas e algumas ossadas, e até um leve passeio por São José do Rio Preto para mostrar aonde vivia a família do assassino. Ou seja, a equipe de arte foi bem representativa com câmeras antigas, gravadores e até jornais mais presentes, dando uma boa nuance na tela com tudo o que foi mostrado.

Enfim, é um filme que talvez pudesse ter sido um pouco mais forte na tela, mas que representou bem os atos violentos, e não deu tanta voz ao assassino, deixando ele como um participante de seu filme, e brincando com as nuances de jovens jornalistas que fazem de tudo se arriscando para conseguir crescer na profissão. E sendo vale com certeza a conferida, para vermos que no país também já tivemos assassinos imponentes que quando sabem fazer bons filmes conseguem transformá-los em monstros ainda maiores como acontece no cinema mundial, e também para darmos vozes femininas na tela, ouvindo as vítimas sob um outro olhar. Então fica a dica, e eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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