Caindo Na Real

10/29/2024 12:23:00 AM |

Quando um roteiro sabe trabalhar bem as sacadas para fluir de forma fácil e soar engraçada na tela sem precisar forçar a barra, vemos direto o resultado que é a risada sair sozinha, e ultimamente os diretores/roteiristas perderam bem o timing com tudo o que anda acontecendo no mundo, afinal é tanta coisa improvável que fazer graça é um ato que você praticamente precisa ser um mestre, fora que existem os politicamente corretos, e também os que se acham reis do humor, mas na verdade são fracos também na maioria das coisas que fazem, ou seja, como costumo dizer: a comédia é um dos gêneros mais difíceis de se fazer, e a chance de tudo dar errado é bem alta no gênero. Dito tudo isso, o longa "Caindo Na Real" até tem uma pegada muito bem colocada, usando da base de um belo golpe de alguns deputados do Partido da Monarquia, que prontos para ganhar alguns bons mimos arrumam um jeito do Brasil voltar ao período monárquico, trazendo um príncipe herdeiro da linhagem de Dom Pedro, só que aparecendo alguém que também está na linha genealógica tudo pode mudar, e essa ideia era algo que dava para ir muito além, brincar com muitas coisas, mas usando de um traquejo que a sacada permite, é que deveriam cortar a cabeça do editor e/ou do roteirista, pois certamente filmaram muitas cenas importantes para dar contexto e fluidez para a trama, mas o resultado final acabou sendo completamente sem nexo algum, com atos que acontecem e depois se pula, e olha que fui assistir descansado para não correr o risco de falar que dormi e perdi algo, ou seja, uma bagunça completa na tela de algo que poderia agradar e divertir demais.

O longa se passa em um Brasil futurista, dentro de uma crise econômica e institucional sem precedentes, a vida de Tina é tão agitada pois vive atrás da chapa de uma lanchonete. Enquanto enfrenta o caos diário da cozinha, não consegue pensar em tempo para namoros, o constante desespero de um romântico Barão apaixonado que não desiste de suas serenatas. No entanto, Tina não imagina que seu destino está prestes a mudar de forma inesperada. A mudança da sua vida acontece quando um golpe político restaura a Monarquia no país e genealogistas revelam uma surpreendente conexão: Tina, uma chapeira comum do subúrbio do Rio de Janeiro, é a herdeira legítima da família Real, fruto de uma antiga "pulada de cerca" imperial. De repente, Tina se vê trocando sua vida simples e suas preocupações com aumento e vale-transporte pelo comando de uma nação inteira. Agora, como a recém-nomeada Rainha do Brasil, enfrenta desafios inéditos e uma nova realidade política, tudo enquanto tenta equilibrar suas novas responsabilidades com sua vida pessoal e sua relação não assumida com Barão, um taxista que, apesar de seu nome nobre, é bem mais simples do que parece.

O diretor André Pellenz ganhou muita fama após estourar com "Minha Mãe é Uma Peça - O Filme", de forma que explodiu, mostrando que tinha muito potencial, mas acabou mudando muito seu rumo para o estilo infantil ao assumir todo o projeto do seriado "Detetives do Prédio Azul", e consequentemente o primeiro filme baseado no sucesso, e daí pra frente não conseguiu acertar mais nada que chamasse realmente atenção, ao ponto que aqui ele mirou em algo que poderia ter funcionado bastante, afinal sacanear a política nacional é algo que costuma funcionar bem, porém aqui já falei e volto a frisar foi na edição, pois não temos uma abertura convincente, de modo que a repórter e todos já aparecem do nada na lanchonete aonde a protagonista trabalha, depois na cena do fondue, do nada já estão organizando o baile e já com tudo acontecendo. Ou seja, certamente muita coisa foi filmada, mas depois para que ficasse um longa menor acabaram cortando aleatoriamente as cenas, e o resultado acabou virando uma bagunça.

Quanto das atuações Evelyn Castro soube trabalhar sua Tina com boa presença cênica, desenvolveu boas conexões com todos, e tentou fazer graça sem forçar tanto a barra, usando bons traquejos, porém seus atos pediam sempre um algo a mais e ela não tinha esse algo para ir mais além, segurando claro o protagonismo para si, mas faltando talvez um parceiro cênico que a fizesse deslanchar melhor, ou seja, fez o que o papel pedia, porém segura demais para uma personagem que precisava de uma explosão maior. Maria Clara Gueiros trabalhou sua Marlene inicialmente com um ar mais malvado, porém do nada muda completamente, e isso acabou ficando um pouco estranho, de modo que pode ser algo a mais cortado na edição, mas como a atriz sempre faz papeis engraçados e seguros, não se impôs como poderia na tela. Victor Lamoglia já fez também personagens bem engraçados no cinema, mas aqui seu Maurício não conseguiu dar a deixa para que as piadas funcionassem, ficando apenas meio como um vilão que deseja o poder e a riqueza da monarquia, mas meio que perdido no meio de tudo. Maurício Manfrini ainda está pensando o que seu Alaor tinha no olho com o tique que lhe deram, sendo um tradicional político corrupto, mas que ficou mais esquisito do que interessante na tela. Já a sacada de Carlos Moreno como um mordomo que serviu o Drácula poderia ter ido mais além, pois o ator deu boas nuances na tela, mas não rolou. E Belo, prefiro dizer que a música que cantou com a protagonista foi muito melhor do que o que tentou fazer atuando com seu Barão.

Visualmente o longa teve um começo em uma lanchonete simples, depois focou em alguns atos espalhados por salas que lembram um pouco o Palácio da Alvorada, mas sem grandes ambientes para não mostrar que não gravaram quase nada por lá, usando bem a sacada de trabalharem adereços desde ornamentos de escola de samba a novelas, já que o país não tem mais quase nada guardado em museus da época da monarquia para representar bem o país, tiveram muitas cenas em locais bem fechados como um quarto, uma sala de jantar simples e até mesmo o ato do baile foi em algo pouco maior que uma sala, ou seja, economizaram bem nos ambientes, e usaram muitas imagens em chromakey para complementar discursos ou cenas fora dos locais mais controlados. 

Enfim, é um filme simples que tinha uma boa proposta divertida e sarcástica, mas que faltou atitude na direção, e principalmente um controle da edição, pois é impossível não terem visto que alguns cortes eliminaram a fluidez e o sentido de tudo por completo, e assim sendo não tenho como indicar o longa para ninguém. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.

PS: Volto a dizer que a proposta foi interessante de sacanear com a política nacional, e a nota só não foi menor por isso, mas conheço muitos que pagariam para não assistir ao longa.


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