O longa reconstrói o crime passional cometido pela renomada escritora María Carolina Geel em 1955 no Chile. Baseado numa história real retratada no livro “Las Homicidas” da autora Alia Trabucco Zerán, o caso tomou conta dos jornais e da opinião pública do país. Na trama, o episódio trágico desperta a atenção de uma tímida secretária chamada Mercedes, uma funcionária do tribunal designada pela equipe judicial para investigar o cotidiano de María Carolina. Ao ser confrontada com a vida da ré, Mercedes começa a questionar a realidade opressiva à sua volta, seu casamento e sua identidade, discutindo o papel feminino numa sociedade gerida pelo patriarcado e apresenta uma mulher em confronto com as submissões que sofre no lar e no trabalho.
São poucos diretores fora de Hollywood que já tiveram a oportunidade de ser indicado duas vezes ao Oscar, sendo mulher ainda por cima a lista deve reduzir a menos que os dedos de uma mão, e uma delas é Maite Alberdi que já teve dois de seus documentários presentes na premiação, e que aqui não seria diferente se ganhasse a terceira oportunidade, pois ao trabalhar um crime com um clima noir dos anos 50, desenvolvendo toda a essência do feminismo moderno, e ainda trabalhando tudo com muita classe, muita segurança dentro do roteiro, e sabendo aonde fazer com que a protagonista brilhasse, pois num primeiro momento e até mesmo na sinopse valorizam a escritora que cometeu o crime, mas se olhar bem a fundo verão que a ideia da diretora é que todos focassem completamente na secretária que vai mudando e se moldando ao estilo da escritora, ou seja, a paz de espírito deixa uma mulher livre muito melhor, e a diretora sabe muito bem disso, acertando bastante na formatação de seu longa.
Claro que o acerto não é apenas da diretora, e se deve muito à personificação que Elisa Zulueta deu para sua Mercedes, que inicialmente parecia ingênua demais, cansada demais dos afazeres domésticos, e praticamente sem uma vida próspera para si, e ao migrar seu mundo para o da escritora, ela muda olhares, muda seus traquejos, roupas, maquiagem, perfumes e vira praticamente outra mulher, e o acerto do desenvolvimento da trama em cima de sua personagem ficou perfeito. Francisca Lewin também deu uma boa personalidade para sua María Carolina Geel, mas não foi tão usada, apenas aparecendo nos julgamentos e depois no presídio das freiras, mas tendo toda uma dimensão visual para que a protagonista se espelhasse. Ainda tivemos bons atos com Marcial Tagle fazendo o juiz do caso e Pablo Macaya como o marido da protagonista, Efraín, que facilmente poderia imaginar uma traição com o sumiço da esposa em vários momentos, e assim trabalhou com olhares e dinâmicas que marcassem essa colocação.
Visualmente a trama tem muitos atos de um julgamento simples, sem grandes ambientes, aonde apenas o juiz, a escrivã e os dois advogados ficaram numa pequena sala, tivemos muitos jornalistas sempre rodeando tudo para conseguir suas matérias dos jornais, o presídio feminino cuidado pelas freiras bem simbólico com as mulheres todas vestidas simples, mas com um certo luxo para o quarto da escritora, aonde escreveu um de seus mais famosos livros, e claro toda a dimensão do apartamento da escritora, cheio de bebidas, perfumes, roupas chiques, banheira e tudo mais que a jovem secretária passa a utilizar enquanto a dona está presa, cada dia se transformando em uma outra mulher, principalmente se comparado ao pequeno cubículo que ela vive com seu marido e dois filhos. Ou seja, a equipe de arte trabalhou bem de uma forma representativa, com uma boa pesquisa para retratar a época e ainda desenvolver algo mais denso para o estilo noir funcionar.
Enfim, é um filme com uma pegada simples, porém muito gostosa de ver, e que trabalha bem conceitos feministas em uma trama não forçada, e assim acaba funcionando demais na tela, sendo um bom candidato a aparecer nas premiações, então fica a dica para a conferida. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.
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