Receba!

10/16/2024 12:46:00 AM |

O mais bacana do cinema nacional é que ele se reinventa sempre, e que por mais parecido que alguns longas sejam, conseguem entregar situações inusitadas bem encaixadas em algumas tramas para que algo seja visto com outros olhares. E a pegada do longa "Receba!", que estreia no próximo dia 24/10 nos cinemas, traz uma pegada simples, bem direta que facilmente seria algo rápido dentro de uma novela ou longa maior, com um estilo interessante aonde cada personagem tem sua dinâmica desenvolvida rápida, e que talvez num filme gringo até fosse capitulado com os nomes dos personagens para que ao final tudo se conectasse, já que as mesmas cenas são executadas sob diferentes olhares, para depois tudo se resolver melhor. Ou seja, na história vemos um ator de filmes adultos que junto da namorada estão devendo para um traficante, e quando ele vê a oportunidade de ganhar dinheiro com um ocorrido na produtora dá seu jeito só não contando com o azar de ser atropelado, e com isso toda a desenvoltura fica para que os demais descubram aonde ficou todo a grana e a droga. Claro que a pegada tem muito do cinema-favela tradicional, mas com personagens mais corriqueiros e um estilo bem trabalhado acaba sendo divertido de ver sem esperar muito.

A sinopse nos conta que Amadeu precisa de dinheiro, pois ele e Gina, sua namorada, estão numa enrascada. O destino lhe sorri quando encontra uma bolsa recheada com um conteúdo tão valioso quanto ilegal. Acontece que Amadeu escondeu essa bolsa, colocando Gina em uma grande caça ao tesouro. O problema? Ela não é a única nesse jogo! A caçada à procura da bolsa – e da fortuna contida nela – envolve uma ex atriz endividada, um policial corrupto com medo de sangue e sua parceira que está parando de fumar, o perigoso chefe do crime local, além de um rapaz que, no lugar errado e na hora errada, acaba no olho do furacão.

Diria que talvez os diretores Rodrigo Luna e Pedro Perazzo foram um pouco afobados demais em seu primeiro longa, de modo que o filme parece acelerado na maior parte do tempo, e como já disse no começo, repetido demais nos momentos, tanto que na primeira vez que ocorreu sem ter uma quebra tradicional, pareceu ter algo errado, mas depois que você se situa na ideia o resultado funciona. Claro que não é um filme memorável, porém para um primeiro trabalho conseguiram mostrar estilo e dinâmica, que com o tempo será aprimorada, só talvez faltou ter personagens mais fortes, pois em momento algum você acaba sentindo carisma por nenhum deles, ou melhor, até sente um carisma pelo jovem no ato final, mas aí não resolveram não deixar de um modo tradicional.

Como já disse, ficou faltando dar carisma para os personagens, e isso não é algo que no roteiro ou na direção pudesse ser arrumado, mas sim, faltando para que os atores convencessem mais o público com o papel que tinham em mãos, e isso acabou sendo um problema para o resultado do longa ir além, de modo que Daniel Farias começou seu Amadeu com imponência, todo cheio de marra, conseguiu ir bem, mas deu uma mancada que realmente acontece quando se está com a cabeça nas nuvens (ainda mais com a bolada que tinha nas mãos). Edvana Carvalho então assumiu o protagonismo com sua Gina, tentando segurar os caminhos, mas no meio de um treino de luta, sem muita cabeça resolve ganhar um dinheiro voltando ao trabalho antigo, e fazendo poucos trejeitos mais fortes, não segura seus atos, deixando sempre tudo muito aberto, o que ficou um pouco estranho de ver. A dupla de policiais corruptos (aliás já falei tanto isso nos últimos dias no site que já virou praxe o estilo nos filmes mundo afora) vivida por Jackson Costa e Evelin Buchegguer nem parecem policiais realmente, mais semelhantes a milícias do que qualquer tipo de polícia do país, e com isso não convenceram tanto em seus atos. Sobrando todo o carisma, embora que em quase terceiro plano para Leandro Villa com seu Horácio, mas sem grandes chamarizes, apenas fazendo bem o que foi deixado para resolver.

Visualmente a trama tem uma entrega simples, mas com escolhas bem colocadas, tendo inicialmente uma produtora de filmes adultos com pôsteres com nomes bem engraçados, depois tivemos um apartamento simples do rapaz aonde acaba alugando um de seus quartos de frente para um prédio abandonado que a dona tem a coragem de alugar um quarto (se pensarmos no que acontece depois, ela mereceu o seu fim!), tivemos a academia de luta, e a casa do dono do tráfico aonde faz suas festinhas particulares para amigos, mas sem mostrar muita coisa, apenas a fachada realmente, ou seja, tirando o fato da bolsa com as drogas, o restante quase nem é usado como elemento cênico na trama.

Enfim, é um filme que talvez pudesse ter ido mais além, mas que dentro da proposta entrega algo simples e até bem feito, meio quase como um primeiro trabalho pós formação na área, mas que poderia ter sido melhor aprimorado para impactar mais, sendo assim recomendo ele sem esperar muito, pois ele não vai lhe entregar algo além. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje agradecendo o pessoal Genco Assessoria e da Olhar Filmes pela cabine, e volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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