terça-feira, 12 de novembro de 2024

O Último Judeu (Le Dernier Des Juifs) (A Nice Jewish Boy)

Costumo ver que atualmente temos três tendências no mercado de filmes em festivais, os que procuram ser fortes e densos demais, aonde o conflito impera, choca ou causa algo no espectador; ou então recai para algo simples e bonitinho que tenta por vezes fazer com que as lágrimas escorram pelo rosto do espectador; ou então é daqueles que são apenas jogados, não se importando com o que o público ache, e seja feliz. Claro que existem exceções, porém tem acontecido isso demais, e quando o longa fica dentro do segundo estilo, muitas vezes andam segurando demais a densidade dramática, o que acaba ficando por vezes um filme bobinho demais, como é o caso do longa do Varilux de hoje, "O Último Judeu", que você fica esperando ir para algum rumo, sair da base simples, ou talvez ter algum ponto de quebra maior, mas não ocorre, de tal forma que cheguei a pensar até que ele acabaria bem antes da cena de fechamento que é o que salva o filme, mas ficou algo narrado demais, mostrando um jovem sem grandes desenvolturas, e que acaba ficando tudo muito sem rumo, valendo apenas mesmo a cena dele vendendo pro senhorzinho (que é divertida e bem colocada) e o ato de liberação da mãe.

A sinopse nos conta que aos 27 anos, Bellisha leva uma vida tranquila como se fosse um pequeno aposentado: frequenta cafés, vai ao mercado e passeia pela cidade. Ele mora com a mãe, Giselle, que raramente sai e acredita que ele está firmemente integrado na vida profissional. Tudo muda quando Giselle percebe que são os últimos judeus do bairro. Ela está convencida de que chegou a hora de partirem também. Bellisha prefere ficar e, para tranquilizar sua mãe, finge que está planejando a partida deles.

Claro que o motivo principal do longa não decolar realmente fica em ser a estreia do diretor e roteirista Noé Debré em longas, pois com uma maturidade maior certamente ele conseguiria fazer não só as duas cenas que falei terem uma participação maior na trama, como saberia tirar proveito de muitos outros momentos que acabam sendo quase que jogados na tela (principalmente as de tentativa de conexão com os demais jovens e garotos do bairro, meio que em uma tentativa de colocar a idade mental do rapaz para baixo), e assim sendo o filme não flui devidamente, ficando básico demais. Não digo que o mesmo roteiro nas mãos de um diretor mais experiente funcionaria melhor, mas ao menos não necessitaria de tanta narração, nem de sínteses rápidas para atos que poderiam ser mais desenvolvidos. 

Quanto das atuações, o jovem Michael Zindel soube se jogar por completo com seu Ruben Bellisha, de modo que se divertiu, fez boas entregas, praticamente um garotão mimado solto pela vida, sem grandes anseios ou algum sonho, mas com trejeitos carismáticos ao ponto de não incomodar o público, pois facilmente é o tipo de personagem que ou você ama ou odeia, e o seu jeitinho casual acabou sendo dos bem colocados. Agnès Jaoui trabalhou bem sua Giselle, fazendo aquela mãe fechada na dela, bem simples, tradicionalmente judia, cuidando do seu bebê de 26 anos, de forma que talvez pudesse ter uma presença maior, mas os atos que apareceu teve bom contato visual e chamou atenção. Quanto aos demais, vale dar leves destaques para o primo do protagonista que Solal Bouloudnine entregou bem ligado no 220, cheio de personalidade e colocando atos cômicos bem encaixados, e Eva Huault com sua Mira, que num primeiro momento não entrega, mas depois descobrimos ser casada e ter filhos, como um envolvimento até que meio infantil com o protagonista, mas que funciona para a proposta do longa.

Visualmente o longa trabalhou bem um bairro bem gentrificado, aonde antigamente era mais populoso de judeus, e agora está com tudo mais misturado com praticamente todos saindo dali e sobrando somente o jovem e sua mãe, um apartamento simples, porém bem bagunçado, principalmente depois que a mãe resolve querer mudar, e começa a juntar tudo suas coisas, e claro depois do assalto, algumas vendas na rua, compras em feiras e mercadinhos, e algumas idas na central de judeus, mas sem grandes atos para representar bem toda a religião, ou seja, a equipe de arte economizou bastante.

Enfim, é um filme simples demais para um tema que talvez pudesse render mais, mas que não é ruim de assistir, e mesmo tendo muita narração não cansa o espectador, então quem gostar de filmes mais tranquilos sem grandes desenvolturas é capaz de curtir a ideia da trama. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até breve.


Mouse Trap: A Diversão Agora é Outra (Mickey's Mouse Trap)

Cada dia que passa estamos vendo mais filmes malucos com os personagens fofinhos e famosos que conhecíamos desde a nossa infância já que as companhias andam perdendo seus direitos de anos, e isso pode ser algo bem ruim, afinal o resultado nem sempre dá muito certo. Dito isso, já vimos alguns outros personagens da nossa infância virando serial killers nos últimos anos, e agora chegou a vez do famoso Mickey Mouse em preto e branco da abertura dos filmes mais antigos da Walt Disney com o longa "Mouse Trap: A Diversão Agora é Outra", que estreia na próxima quinta 14/11 nos cinemas do país, trazendo um ser incorporando no dono de uma casa de diversões, que coloca a máscara do personagem e sai matando alguns jovens bobos que estão comemorando um aniversário no ambiente. Claro que filmes slasher não possuem muito sentido, e raramente tentam explicar alguma coisa sem explicação para o público, mas aqui nem se deram o trabalho disso acontecer, tendo uma jovem presa descrevendo para os investigadores o que aconteceu no local aonde ela foi encontrada como única sobrevivente, porém até aí vai, tudo acontece como uma matança bem boba com personagens que nem tentam correr do bicho estranho, mas o que quebrou esse que vos digita é o fator "acabou o rolo de filmagem, desliga a câmera e vamos embora" ou como muitos chamam, vamos desligar tudo e quem sabe na continuação explicamos, pois o filme simplesmente para em determinada cena, não mostrando nem se os outros três que estavam enquadrados sobreviveram (e por que não estão sendo interrogados se estão em choque como falam em determinado momento do interrogatório da garota), ou então fizesse algo a mais como é dado a jogada na cena pós-crédito, mas isso só ocorrerá quando fizerem o segundo filme, que está previsto para o ano que vem!

A sinopse nos conta que é o aniversário de 21 anos de Alex, mas ela está presa no fliperama em que trabalha, no turno da noite. Então, seus amigos decidem surpreendê-la, mas um assassino mascarado vestido como um personagem de desenhos animados decide jogar com eles um jogo que ela deve participar para sobreviver. Assim, um a um, os jovens ficam frente a frente com o seu destino, até que é a vez de Alex. Quem sobreviverá?

O diretor Jamie Bailey tem um estilo gore em sua formatação, tendo alguns longas bem pesados, e outros mais jogados na tela, e aqui com o roteiro de Simon Phillips, que faz também o papel de Mickey, ele acabou brincando na tela com a ideia de um personagem sair das telas e incorporar alguém para sair matando, até que é algo possível de se imaginar nesses tipos de rituais ou coisas do tipo, mas apenas pela imagem de um projetor acabou ficando meio bizarro de se pensar, mas isso não vem ao caso, afinal não vamos discutir de onde proveio o mal, porém a discussão ficou a cargo do editor do longa que também é o diretor por um acaso, que resolveu picar sua história em duas partes para tentar lucrar mais, e dessa forma deixou tudo jogado com o fechamento desse longa, e isso pesou forte para quem estava até curtindo a matança, afinal essa nova geração é tão boba e preguiçosa que as conversas numa festa acabam ficando chatas demais, então estava satisfatório ver cada um sendo pego. Ou seja, sem um ar de psicopatia ou qualquer outra coisa, o filme era algo bacana até parar, mas fazer o que, são coisas do ofício, e por incrível que pareça, nem os diálogos jogados me incomodaram tanto quanto isso, então bola pra frente, e vamos ver o que vai rolar no ano que vem.

Quanto das atuações, minha vontade é falar que todos são tão chatos e previsíveis, que até torcemos para o Mickey dar fim em todos o mais rápido possível, de modo que Simon Phillips começou de uma maneira bem artificial como o dono do fliperama, mas depois que botou a máscara do personagem saiu bem melhor com os traquejos com a faca do bolo na mão. A jovem Mackenzie Mills fez uma gótica meio que estranha com sua Rebecca, estando presa dando o depoimento sem muita vontade, trabalhando um ar meio que macabro, que quem sabe se sairá melhor na continuação, mas faltou para ela motivação e não foi muito além. Teoricamente a aniversariante é a protagonista, mas Sophie McIntosh não fez muito para que sua Alex não fosse "menos" chatinha na tela, tendo vários jovens apaixonados por ela tentando aparecer, e a atriz nem foi além para dar alguma nuance a mais. Quanto aos demais é melhor nem falar muito, pois todos que estão dentro da festa são fracos demais, e os dois investigadores fizeram algo tão artificial que chega a ser irritante, então que o Mickey pegue eles logo também.

Visualmente a trama teve até uma pegada meio que oitentista interessante com muitos jogos bacanas no ambiente de festa, sendo até bem grandioso, com jogos de realidade virtual, pistas de escalada, jogos eletrônicos e tudo mais, além de muita bebida num lugar onde tradicionalmente não teria bebidas. A sacada do bicho ser algo meio que projetável que se teletransporta de um lugar para o outro não ficou muito explicativa, mas serviu para que o personagem estivesse cada hora em um lugar, porém acho que a equipe comprou pouco sangue falso para utilizar, de modo que dava para ter cenas mais chocantes como tradicionalmente ocorre, ou seja, alugaram um bom espaço, mas não foram muito além. Já a delegacia parecia mais uma masmorra abandonada do que algo policial mesmo, então o baixíssimo orçamento fez o serviço.

Enfim, é um filme que entrega bem a base desse estilo de tramas de matança sem muito sentido, mas que faltou um pouco mais de explicação de como o personagem saiu da tela, faltou um pouco mais de personagens menos idiotas para termos algo mais intenso, faltou sangue para realmente cair para o lado mais gore de terror, e principalmente faltou darem um final funcional, pois da forma que acabou jogado ficou mais irritante do que tudo. Sendo assim, diria que recomendo ele apenas para esperar a continuação e ver no que vai dar, sendo mediano demais no sentido de trama quebrada, então fica a dica para quem quiser ver o Mickey de assassino conferir ele nos cinemas do país a partir do dia 14/11. E é isso meus amigos, fico por aqui agora agradecendo o pessoal da A2 Filmes pela cabine de imprensa, e volto mais tarde com outras dicas de filmes, então abraços e até lá.


O Bom Professor (Pas De Vagues) (The Good Teacher)

Já está virando moda o famoso filme de linchamento por falas ou situações erradas, e infelizmente uma das profissões que o pessoal anda tendo que tomar o maior cuidado com o que faz na sala são os pobres professores, pois hoje qualquer detalhe o aluno já pode levar para outro lado, e aí o caos reina, pois depois que entrou no limbo acusatório não tem mais volta, e não tenho nada nesse sentido, mas é um dos estilos de filmes que anda me dando certos gatilhos de raiva com os personagens, mas isso é um detalhe pessoal. Ou seja, a base do longa "O Bom Professor" é a padrão que um pobre professor fez um comentário simples e tão bobo, mas os coleguinhas meteram na azucrinação, e pronto, a garota joga na coordenação que foi assediada, a família é do crime, e tudo que o pobre professor tenta resolver na base da pedagogia da errado, ao ponto que você fica na espera de um dos três vértices de alguém vai morrer, se matar ou surtar, e o resto é história para contar. Claro que por ser um filme francês o final e o miolo acabam sendo bem diferenciados, mas ainda assim segue bem o estilo.

A sinopse nos conta que Julien é professor em um colégio. Jovem e dedicado, ele tenta criar um vínculo com sua turma, dando atenção especial a alguns alunos, incluindo a tímida Leslie. Esse tratamento diferenciado é mal interpretado por alguns alunos, que começam a suspeitar das intenções do professor. Julien é então acusado de assédio. O boato se espalha rapidamente, e tanto o professor quanto a aluna se veem presos em uma situação delicada. Mas diante de uma escola que corre o risco de pegar fogo, só há uma palavra de ordem: sem tumulto...

O diretor Teddy Lussi-Modeste soube trabalhar muito bem sua base, ao ponto que criou diversas possibilidades para que tudo desse errado para o protagonista, que ninguém pudesse ajudar fazendo algo útil realmente, e a cada conflito passado, ele apenas ia incrementando todas as situações, ou seja, usou o texto de uma história real que aconteceu e acontece quase todo santo dia em algum lugar desse planeta, ainda mais no mundo pós-pandemia aonde qualquer coisa é motivo para um conflito, e amarrou todas as pontas possíveis que seriam satisfatórias em algum ato para ajudar, e as reduziu, enquanto todos os demais vértices que poderiam dar muito errado, foi lá e amplificou, para claro deixar o espectador irritado, o que acaba funcionando bem. Claro, se o filme fosse de outra nacionalidade, ou veríamos algo muito bonitinho ou algo explosivo para pior, mas como é francês, brincaram bem com toda a base e funcionou para o que desejavam.

Quanto das atuações, o filme é inteiro de François Civil que já a algum tempo vem sendo um grande nome do cinema francês, tendo seus altos e baixos, mas sempre conseguindo se destacar por fazer personagens bem variados e interessantes de acompanhar, e aqui seu Julien tem uma personalidade meio que frouxa demais, sendo muito bom moço, sem ter grandes explosões, tentando levar tudo na base da pedagogia, o que nem sempre é a melhor forma, mas segurou a barra, fez trejeitos intensos, e fechou com uma forma explosiva, porém digna dentro de tudo o que poderia acontecer, e sendo assim funcionou demais. Quanto aos demais, vale leves destaques para o namorado do protagonista que Shaïn Boumedine entregou com traquejos emocionais bem colocados, e também para a garotinha que Toscane Duquesne fez com sua Leslie vendo que errou, mas não tinha mais como fugir, fazendo a tradicional cara de decepção gigante com ela e com tudo, mas que também não foi muito longe.

Visualmente a trama não foi muito além, afinal nem tinha motivos para isso, ficando bem mais na sala de aulas tradicional, na sala de professores aonde algumas discussões acontecem, na coordenação e no apartamento do protagonista, tendo uma ou outra cena no pátio da escola e na saída, mas tudo bem básico funcionando mais dentro da densidade escolar mesmo.

Enfim, é um bom filme, que entregou o que precisava para impactar, passar sua mensagem e causar, sem grandes firulas, nem opções de rumos (seja para o lado básico ou para o pior), ficando no meio do caminho e não sendo ruim por isso, então recomendo ver sem estar no seu dia revoltado, e para os amigos professores verem com cautela para não estourar gatilhos, apenas como dica para pensar em como falar qualquer coisa nesse mundão de hoje. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais longas do Festival Varilux, então abraços e até logo mais.


segunda-feira, 11 de novembro de 2024

1874 - O Nascimento do Impressionismo (1874: La Naissance de L'Impressionnisme)

Hoje vou falar bem pouco do filme "1874 - O Nascimento do Impressionismo", pois ele é daqueles que funciona muito mais em uma aula de História da Arte, do que como cinema, sendo algo que vai mostrar como foi a primeira exposição coletiva dos pintores impressionistas, como eram seus trabalhos e concursos que não passavam, suas opções e por aí vai, em algo narrativo e bem cansativo, aonde tentaram colocar alguns atores como os pintores para dar algumas de suas falas mais marcantes, mas sem ir para lugar algum, ou seja, fiquei no final esperando receber a prova para falar alguns nomes de quadros e citar pintores famosos da época como se fosse um vestibular realmente, então para quem for professor de arte, esse é o filme que tem de ter debaixo do braço para mostrar para seus alunos, mas os demais, não é aqui que você irá se interessar pelo tema.

A sinopse nos conta que em 1874, Monet, Renoir, Degas e seus colegas organizaram sua primeira exposição coletiva de forma independente. Este documentário de ficção revive a história desses jovens pintores que se rebelaram contra o academismo de sua época, traçando o surgimento da revolução impressionista.

Diria que os diretores Julien Johan, Hugues Nancy fizeram um bom trabalho de pesquisa, conseguiram deixar os artistas bem parecidos com os verdadeiros pintores, e montaram uma aula completa de História da Arte sobre o Impressionismo, mas esqueceram de dar o conteúdo cinematográfico, pois o público que vai ao cinema não quer ouvir por 90 minutos a falação e "slides de PowerPoint" com os quadros, e assim sendo a trama pecou bastante nesse sentido.

Claro, que dentro da proposta ele cumpriu o papel que desejava mostrar, mostrando que pesquisaram bastante, conseguiram imagens em altíssimas qualidades para o projeto, e brincaram com a representação dos pintores fazendo suas artes no campo e nos seus estúdios, tudo de uma forma bucólica e bem cheia de palavreados bonitos de ouvir, mas precisavam lembrar que cinema não é apenas isso, e assim sendo faltou aquele algo a mais que prendesse o espectador, e não o fizesse dormir, pois me senti como se estive nas minhas aulas de educação artística aonde a professora não parava de falar mostrando quadros e mais quadros, pintores e mais pintores, e ao sair da aula já nem lembrava mais o que tinha visto, e sendo assim é um formato errado de se fazer.

Enfim, é um projeto que teve sua entrega, que muitos talvez vão gostar, mas que como disse no começo recomendo para os professores de arte usarem em suas aulas, e nada mais, pois passa longe de ser um filme como deveria para ser chamado assim. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas ainda verei mais um longa hoje do Festival Varilux, então abraços e até logo mais.

PS: A nota é pelo projeto em si, pelos quadros bonitos e pela tentativa em si de fazer ficção com os atores vestidos de pintores da época, mas só.


A Favorita do Rei (Jeanne du Barry)

Filmes envolvendo a realeza são quase sempre muito semelhantes entre si, tendo todo um figurino rebuscado, as diversas regras e condutas frente aos monarcas, muitas amantes e condecorações que nunca entendemos bem como são concedidas, mas geralmente não nos cansam e acabam sendo interessantes de ver. Ou seja, o que torna mais chamativo o longa "A Favorita do Rei" é que ele sendo biográfico de uma das principais amantes do rei Luís XV acaba mostrando uma mulher que tinha casa própria do rei, tinha seu quarto, que se casou com seu cafetão para ter um título a mando do rei, mas que era extremamente rechaçada pelas filhas dele, ao ponto que fizeram a cabeça até de Maria Antonieta que seria a noiva do filho do rei para que nem falasse com a mulher, e assim a entrega na tela foi bem marcante, só tendo algumas falhas de idades, pois a protagonista muda de jovem para o rosto até o final quase que de imediato, e isso ficou um pouco estranho de ver, mas de resto é tudo luxuosíssimo e muito bem trabalhado na tela.

A sinopse nos conta que Jeanne Vaubernier, uma jovem de origem humilde, está determinada a sair da sua condição, usando seus encantos. Seu amante, o conde Du Barry, que se beneficia muito dos relacionamentos lucrativos de Jeanne, decide apresentá-la ao Rei. Com a ajuda do influente duque de Richelieu, ele organiza o encontro. Contra todas as expectativas, Luís XV e Jeanne se apaixonam intensamente. Com a companhia da cortesã, o Rei redescobre o prazer de viver, a tal ponto que não consegue mais ficar sem ela e decide torná-la sua favorita oficial. Isso causa um escândalo, pois ninguém quer uma garota “da rua” na Corte.

A diretora e roteirista Maïwenn é outra que sempre está com algum filme no Festival Varilux, e seu estilo é interessante por ser sempre bem direto, não ficar de muitos enfeites, e aqui no longa que foi o filme de abertura de Cannes ela permeou bons traços da vida da protagonista, e todos os escândalos que causou no palácio ao não seguir muitas regras da monarquia, só tendo um erro crucial que ao menos me incomoda demais que é o excesso de narrações, pois acaba fazendo com que o filme fique amarrado demais, e isso não traz muita desenvoltura. Porém tirando isso, a trama tem toda uma riqueza visual, figurinos de primeira linha, e atuações bem marcantes e divertidas de ver (os passinhos para trás de toda a corte é algo bizarro de ver!). Ou seja, a diretora trouxe o básico bem feito em longas do estilo, que talvez até pudesse ter ido mais além, mas para isso precisaria aumentar a duração do filme, então antes ficarmos com narrações, do que virar uma mini-série.

Quanto das atuações, a diretora tem esse "defeito" de sempre querer se colocar como a protagonista em seus filmes, e dessa forma como falei no começo, a passagem da juventude para digamos a meia idade da personagem principal acabou sendo um pulo grande demais (com Emma Kaboré Dufour fazendo a personagem criança e Marianne Basler como ela adolescente), mas ao menos vemos uma Maïwenn bem empossada e disposta para com sua Jeanne du Barry, de modo que convence pelos olhares e dinâmicas, o que é interessante de se ver. Não entendi muito o convite da diretora para que Johnny Depp fizesse Luís XV, pois não é um personagem com muito seu estilo, mas ao menos soube segurar bem os trejeitos estranhos que costuma fazer, e o resultado final acabou sendo bacana de ver. Quanto aos demais, vale um ótimo destaque para Benjamin Lavernhe com seu La Borde simpático, envolvente e que tratou a personagem principal com tudo o que ela merecia, também tivemos bons atos de Melvil Poupaud como o Conde de Du Barry, mas quem acaba sendo irritante pela entrega da personagem foi India Hair com sua Adélaïde, de modo que se destaque muito e isso foi quase um risco para o resultado do longa.

Visualmente a equipe soube trabalhar bem o palácio de Versalhes, mostrando vários atos com muitos personagens e figurinos pomposos, num luxo grandioso e chamativo do começo ao fim, mostrando muitas comidas, festas, e claro algumas orgias e situações estranhas pela qual as mulheres do rei tinham de passar para deitar com ele, ou seja, tudo foi muito simbólico e chamativo, mostrando que a diretora teve um orçamento até que bem recheado para mostrar o que desejava na tela, e assim funcionou bem o trabalho da equipe de arte que ainda teve atos de caça e tudo mais para representar.

Enfim, é um longa que funciona dentro da proposta, mas que dá uma leve cansadinha no miolo com o excesso narrativo que já falei até demais, mas que mostrou que a diretora pode ir bem além se lhe derem orçamentos, saindo de filmes mais simples e voando alto sem ter medo de errar, e isso é algo que poucos conseguem, então fica sendo uma boa indicação de conferida. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos do Festival Varilux, então abraços e até logo mais.


domingo, 10 de novembro de 2024

Operação Natal (Red One)

É interessante que quando chega essa época brotam longas natalinos, seja no streaming ou nos cinemas, e quando acho que já vi de tudo dentro desse estilo, eis que surge uma agência especial que cuida dos trâmites para a entrega de presentes e tudo mais, além de uma bruxa que deseja castigar todos os malcriados do mundo com sua eliminação, precisando da energia do Noel. Ou seja, "Operação Natal" é um filme bem diferente de tudo o que já vimos nesse estilo, unindo ação, aventura, lutas e personagens bem diferentes que acabam entregando um bom entretenimento para quem curte filmes natalinos não ficar só no básico romancinho emocional de todo ano, e assim mesmo sendo algo fora do normal, diverte com uma boa entrega.

A sinopse nos conta que depois de um sequestro chocante que abalou o Polo Norte, o Comandante da Força Tarefa (ELF), Callum Drift, deverá fazer uma parceria com o mais famoso caçador de recompensas do mundo, Jack O'Malley, para salvar o Natal de diversas crianças e adultos ao redor do mundo. Isso porque a vítima do sequestro foi ninguém mais e ninguém menos que o Papai Noel e essa dupla dinâmica não o recuperar a tempo, o Natal estará perdido. 

Diria que não tinha outro diretor para esse filme que não fosse Jake Kasdan dos últimos  "Jumanji", pois ao pegar o texto dos roteiristas Chris Morgan ("Velozes e Furiosos") e Hiram Garcia, ele já colocou na cabeça que trabalharia com Dwayne Johnson e criou uma trama de ação fora do padrão natalino que conhecemos, e brincou com agências especiais, tecnologias de investigação de duplicação, portais inter-lojas de brinquedos de uma cidade ou pais para o outro, e deu uma dinâmica bem precisa para que o filme não soasse cansativo dentro do estilo, mas que também não fosse só um quebra pau de brucutu, e assim o acerto foi bem encontrado na tela. Claro que a trama tem alguns excessos, mas como o estilo pede e permite isso, o resultado foi bem trabalhado ao ponto de quem sabe fazerem uma continuação no ano que vem.

Quanto das atuações, Dwayne Johnson sempre entrega muita personalidade com seu jeitão brucutu, porém amistoso, e aqui seu Callum Drift tem pegada e trabalha bem os elementos que o filme pedia, de modo que até saiu muitas confusões que causou nos bastidores, mas como não estamos interessados no que rolou nas gravações e sim no resultado do filme, diria que funcionou e agradou bastante. Chris Evans também entregou um Jack O'Malley bem colocado, com pitadas cômicas bem encaixadas, e claro boas cenas de luta e ação, de modo que talvez pudessem ser um pouco mais caricato que o papel pedia alguém meio com pegada de ladrão, mas fez bem o que precisava fazer na tela com seu jeitinho de bom moço. Lucy Liu caiu bem na personalidade da comandante da MORA, Zoe, fazendo trejeitos durões bem colocados e trabalhando suas dinâmicas de uma forma seca, porém chamativa. Agora uma pessoa que ninguém imaginava era um Papai Noel bombado no estilo que J.K. Simmons fez com seu Nick, mas na cena final mostrou bem o motivo de ser tão atlético e agradou nos atos que se entregou. Quanto aos demais, Kristopher Hivju ficou bem imponente como o irmão do Noel, Krampus, sendo bem forte e chamativo mas suas cenas, mas o destaque claro fica para Kiernan Shipka como a bruxa do Natal, Gryla, trabalhando trejeitos marcantes e uma boa sintonia nos atos dela, para que a maldade funcionasse e criasse vínculos fortes dentro de seu objetivo.

Visualmente é uma produção gigantesca, cheia de efeitos, aparatos tecnológicos, e tudo mais que uma boa produção de ação necessita, com uma cidade cheia de elementos chamativos aonde fica o QG do Papai Noel com sua produção de brinquedos, laços e tudo mais, tendo bons elementos cênicos, transformando carrinhos de brinquedos em carrões turbinados, e ainda dando boas sacadas de personagens misturando animais e seres mitológicos, ou seja, podem ainda inventar mais coisas futuramente usando a mesma base.

Enfim, é um filme que não esperava nada dele, mas que acabou me entregando uma boa diversão, principalmente por não ser muito fã de tramas natalinas, então fica a dica para quem gosta ficar mais feliz com toda a entrega na tela, valendo a recomendação. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas ainda tenho um do Festival Varilux para hoje, então volto logo mais com outros textos.


O Conde de Monte Cristo (Le Comte de Monte-Cristo) (El Conde de Montecristo)

Todos que me acompanham sabem o tanto que reclamo de filmes com estilo novelesco, que contam uma história interminável, cheio de alegorias e detalhes que fazem o público quase que conhecer a vida de tudo e de todos ao redor, porém quando a novela é boa, aí a conversa muda, pois bem antigamente era daqueles que gostava de acompanhar algumas boas tramas das nove, só que tudo piorou e hoje não dá nem para ver as que passam na TV, quanto mais séries e filmes com ares de novela ruim. E claro que comecei dessa forma o texto da versão francesa de "O Conde De Monte Cristo" por termos aqui uma novelona completa de quase 3 horas, aonde tudo acontece não ficando nada sem mostrar, nem nada para ser mostrado futuramente, só que é algo muito bom de acompanhar, que não cansa em momento algum, e que cheio de desenvolturas imponentes e uma cenografia de época tão primorosa acabamos espantados com técnicas e tudo mais que nos é entregue, ao ponto de nem lembrar quase nada da versão americana de lá dos saudosos 2002, ou seja, é um filmaço que vale a conferida, que só não diria que foi mais perfeito por alguns exageros que davam facilmente para mudar na tela, como alguns atos desnecessários como máscaras tão perfeitas para a época e alguns diálogos meio que artificiais demais, mas que se relevar dá para seguir bem com tudo.

O filme acompanha Edmond Dantès, um jovem marinheiro que sofre uma trágica injustiça no dia de seu casamento: ele é preso devido a uma enorme conspiração contra ele organizada pelos seus supostos amigos. Se passam 14 anos desde esse fatídico dia, Edmond recebe a ajuda de um outro prisioneiro para fugir do sinistro Château d'If após o mesmo dizer a localização exata de um tesouro perdido. Edmond, então, consegue achar esse tesouro que o torna enriquecido, mas desiludido. Dantès reaparece na sociedade parisiense como o misterioso e magnífico Conde de Monte Cristo com um único objetivo: vingar-se daqueles que destruíram a sua vida.

Diria que os diretores e roteiristas Alexandre De La Patellière e Matthieu Delaporte que roteirizaram os últimos "Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan" e "Os Três Mosqueteiros: Milady" já mostraram que podem virar os novos reis da França ao refazer todos os filmes de época que continham histórias francesas, mas que foram feitos em outros países, pois andam conseguindo orçamentos multimilionários e bons atores para os papeis, sendo que a maioria já trabalharam com eles, então já sabem o ritmo. E aqui conseguiram locações incríveis, uma produção com apenas 50 milhões de euros, e botaram tudo para jogo em algo que garanto que faltou uma vírgula no roteiro para não inventarem de fazer dois filmes em cima da história de Alexandre Dumas, pois ao deixar com quase 3 horas de duração, puderam contar tudo na tela com boas dinâmicas, envolveram toda a  história do protagonista com muita técnica e direção, porém aceleraram um pouquinho nos atos da vingança, de modo que no contexto geral o resultado acabou agradando, porém ao cometerem alguns excessos de liberdade criativa, acabaram incomodando um pouco, mas na opinião desse que vos digita, dá para relevar e ignorar de forma fácil, pois a dinâmica em si tem pegada, e cria uma história completa com começo, meio e fim, que muitas vezes não nos é entregue, e assim vemos um bom fechamento na tela, mostrando que os diretores tem potencial para ir ainda mais além, então veremos .

Quanto das atuações, já estamos tão acostumados com Pierre Niney no Festival Varilux, que praticamente já sabemos os estilos de trejeitos que vai fazer com seus personagens, e aqui seu Edmond Dantès tem estilo, tem boas sacadas, dinâmicas com presença e ainda botou o corpo para jogo ficando mais magro do que já era para o papel, de tal forma que segurou o filme nas mãos como um bom protagonista deve fazer, e conseguiu chamar para si quase todos os atos, ou seja, não errou em momento algum no que precisava fazer e agradou bastante. Anaïs Demoustier trabalhou sua Mercédès Herrera com um carisma marcante, e transpareceu bem nos atos que o protagonista volta que já reconheceu ele, e isso foi bacana de ter segurado para a presença cênica ser marcante, mas como não era o alvo da vingança, acabou ficando em segundo plano na maior parte do filme. Já Bastien Bouillonm trabalhou bem seu Fernand de Morcef, sendo inicialmente um bom amigo, mas que muda de lado fácil demais, e na segunda parte da trama ficou meio que travado demais, para que a luta final tivesse uma imponência como entregou. Anamaria Vartolomei trouxe uma graciosidade bem colocada para sua Haydée, de forma que sua voz doce e serena encantaria qualquer um, como acabou acontecendo com o Albert de Vassili Schneider bem portado na tela também. Laurent Lafitte fez um Gérard de Villefort bem seco como todo bom procurador deve ser, mas se borrou nas calças quando o rapaz Julien de Saint Jean botou a voz para falar do que aconteceu com seu André. Ainda tivemos bons atos com Patrick Mille com seu Danglars cheio de jogadas de traição, bem mudado da fase um para a fase dois do longa, e Pierfrancesco Favino com seu Abade Faria também bem sutil nos atos da prisão.

Visualmente como já disse no começo a equipe contou com um orçamento gigantesco (o maior da França nesse ano!) e pode criar ambientes de época marcantes como prisões, festas, casarões, lutas de espada, e grandes navios, tudo bem ambientado com velas e tudo mais, caçadas com cavalos e cachorros, fora figurinos riquíssimos e bem elaborados, tendo apenas errado no conceito de máscaras que para a época não existiriam com tanta tecnologia para que não ficasse artificial, mas como disse, preferi relevar isso, pois senão acabaria não entrando na onda do longa, e tirando isso a equipe de arte trabalhou com o que tinha de mais luxuoso para que o filme ficasse imponente e marcante na telona.

Enfim, é literalmente um filmão, com uma história completa de traição e vingança, com uma pegada de aventura e visual de época, que funciona dentro do que se propõe, não cansa mesmo sendo longo, e que quem gosta do estilo e relevar alguns momentos acabará bem feliz com o resultado completo na tela, então fica a dica de recomendação para quem quiser ver no Festival Varilux (nas cidades que ainda tiver exibição dele, já que aqui em Ribeirão Preto foi apenas a sessão de hoje), mas por ser de uma distribuidora famosa, a Paris Filmes deve com certeza lançar ele comercialmente no dia 05/12. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com muitos outros filmes, então abraços e até breve.


sábado, 9 de novembro de 2024

Não Solte! (Never Let Go)

Costumo dizer que o terror que mais costuma desapontar é o abstrato ou com pegadas religiosas dentro da essência, pois acaba ficando tão artificial e estranho que não empolga, assusta ou causa tensão nos espectadores, e infelizmente o longa "Não Solte!" é desse estilo, pois tenta passar a famosa mensagem de que nosso lar é o ambiente de proteção máxima, de focar na família e que ao sair do seu laço você pode ser dominado pelo mal, porém usando boas metáforas para essa essência, de modo que a trama até causa um certo desconforto na tela. Porém faltou um pouco mais de impacto para causar sensações no público, de modo que vemos tudo acontecer, vemos os garotinhos enfrentando seus medos e mudando de trejeitos, mas acaba não indo muito além, o que é uma pena, pois tinha potencial para causar mais.

O longa conta sobre uma ameaça sobrenatural desconhecida que domina o mundo exterior, deixando a segurança de uma mãe, June, e seus filhos gêmeos restrita à proteção de sua casa e ao vínculo inquebrantável da família. A mãe e seus filhos se mantêm ligados por cordas dentro de sua residência para protegerem-se do mal que assola o mundo lá fora. No entanto, quando um dos meninos começa a questionar a realidade do mal que os cercam, a frágil segurança da família começa a se desintegrar. A dúvida e o ceticismo provocam uma ruptura nos laços que mantêm a unidade familiar e desencadeiam uma luta desesperada pela sobrevivência. 

É interessante ver que o diretor Alexandre Aja costuma trabalhar ótimos filmes de tensão, por exemplo o seu último "Oxigênio", e aqui ele tentou brincar com o desconhecido, com o abstrato mais densos, e até mesmo com a pegada de crenças, de modo que a trama até tem uma boa fluidez e consegue causar um certo estranhamento no miolo, porém conforme tudo vai se desenvolvendo, acaba faltando a explosão realmente, ao ponto que quando tudo está prestes a ruir, faltou o diretor botar a banca e causar realmente na tela, ao invés de optar por um fechamento duplo com possibilidade de continuação. Ou seja, ele acabou não entregando tudo o que poderia na tela, nem fez com que saíssemos da sessão pensando em mil possibilidades filosóficas, e assim sendo o resultado não foi muito além.

Um ponto bacana que venho gostando ao menos desse diretor, é que ele trabalha sempre com poucos atores, e aqui ele deu para Halle Berry com sua June, a responsabilidade de ficar estranha, porém com uma pegada que beirasse a loucura e a crença exagerada, ao ponto que ela consegue explodir e trazer muita segurança ao mesmo tempo que flui na tela, ou seja, talvez um pouco mais de cenas dela antes de ficar na casa, e um pouco mais de tensão em seus atos faria uma diferença imensa no resultado. Quanto aos dois garotinhos, Percy Daggs IV com seu Nolan e Anthony B. Jenkins com seu Samuel, ambos trabalharam bem e criaram desenvolturas chamativas para envolver e fazer com que o público não tirasse os olhos deles, de modo que tendo o segundo ato quase que inteiro para se expressarem, fizeram cenas marcantes, com Anthony tendo alguns trejeitos bem maldosos, principalmente na cena com a câmera que fecha o longa, enquanto vê o irmão no telhado da casa, ou seja, foram bem no que fizeram. Quanto aos demais, vale claro o destaque para Kathryn Kirkpatrick que faz uma senhora estranha de língua dupla que dá para ficar com medo, e se os parques quiserem usar ela como atração de terror vale a pena.

Visualmente a trama fica bem dentro da floresta, com muitos atos de correria entre as árvores, com os personagens amarrados por cordas imensas, vemos eles comendo de tudo desde cascas de árvores com mel até sapos crus, além de terem uma horta externa da casa, mas fechada num mini galpão que o inverno destruiu, e dentro da casa vemos algumas armas como facões e arcos, dentro de toda uma rusticidade bem interessante.

Enfim, é um filme que dava para ter ido mais além, mas que funciona dentro da proposta entregue, que como disse não faz muito o meu estilo de terror, porém sei que para muitos o resultado vai ser diferente, então acaba valendo a dica para conferirem. E é isso meus amigos, eu fico por aqui agora, mas ainda vou conferir mais um longa nesse sábado, então abraços e até mais tarde.


Arca de Noé

Já faz um bom tempo que o Brasil tem entregue animações bem encontradas de história, mas faltava uma produção gigante para mostrar serviço, agora não falta mais, pois "Arca de Noé" traz para a telona um elenco gigantesco de estrelas do país, em algo que une os poemas de Vinícius de Moraes de uma maneira musical imponente e divertida, que mesmo sendo bem infantil acaba agradando e chamando muita atenção, ao ponto até de pensarmos em ver a produção competindo nas grandes premiações. Ou seja, é daqueles simples bem feitos que acabam agradando pelo contexto e que acaba envolvendo com músicas boas e personagens bem desenhados.

A animação nos conta que Vini é um ratinho poeta muito carismático, mas ao mesmo tempo bastante envergonhado. Seu melhor amigo, Tom, também um roedor talentoso, toca violão como ninguém. Quando a grande inundação é anunciada, os dois precisam entrar na Arca de Noé sem que sejam percebidos, já que apenas um macho e uma fêmea de cada espécie são permitidos. Com muita alegria, música e cantoria, Vini e Tom embarcam nessa aventura arriscada, mas bem acompanhados. Ao longo da jornada, eles encontram outros animais que também buscam abrigo e formam novas amizades, enfrentando desafios juntos. Com a ajuda de seus talentos artísticos, Vini e Tom não apenas tentam garantir seu lugar na arca, mas também inspiram todos ao redor a manter a esperança e a criatividade em tempos difíceis. 

Diria que o diretor e roteirista Sérgio Machado soube pegar bem os poemas e canções de Vinicius de Moraes, que juntamente da adaptação desenvolvida pelas atrizes e agora roteiristas Heloisa Périssé e Ingrid Guimarães transportaram para bons personagens num ambiente conflitivo aonde juntaram animais de todos os tipos e cadeias alimentares, aonde os alimentos estão acabando e precisam todos sobreviver até encontrar terra, e enquanto isso não ocorre vemos um concurso musical para decidir quem será o líder da arca, aonde os ratinhos protagonistas compuseram boas canções para todos os bichos. Ou seja, é uma história simples, mas que foi bem desenhada, e que com canções que nos remetem a infância, acaba sendo bem desenvolvido na tela e agrada a todos, mostrando o potencial brasileiro na telona.

Nem vou tentar falar de todos os personagens e dublagens senão ficarei aqui por pelo menos um ano, afinal é um elenco tão grandioso que vou apenas citar a maioria aqui com seus papéis, valendo claro destacar os protagonistas Rodrigo Santoro com seu Vini bem descolado e com uma boa musicalidade poética, e o divertido Marcelo Adnet com um Tom carismático e cheio de traquejos; além de uma Alice Braga bem dinâmica com sua Nina. Ainda tivemos Lázaro Ramos dando voz para o imponente leão Baruk e Gregorio Duvivier dando voz para o divertido inseto Alfonso. E aqui deixo apenas a citação dos demais com seus papéis bem feitos: Julio Andrade (Noé), Bruno Gagliasso (Andorinha Kilgore), Giovanna Ewbank (Serpente fêmea e AMY), Eduardo Sterblitch (Gorila e Pinguim), Ingrid Guimarães (Pomba Sônia), Heloisa Périssé (Furona), Marcelo Serrado (Elefante), Débora Nascimento (Baleia), Monica Iozzi (Hiena Fêmea, Galinha d´Angola), Babu Santana (Hiena), Seu Jorge (Deus), Chico César (Bode), Russo Passapusso (cantando O Pato), Larissa Luz (cantando A Galinha D’Angola), Rihana (Menininha), Edvana Carvalho (Ruth), Laila Garin (Onça e Baby), Louise D’Tuani (Leoa) 
Guilherme Rodio (Bob, Bukovsky e Rinoceronte), Leandro Firmino (Zé Urso), Daniel Furlan (Pica Pau e Furão), Luis Miranda (Serpente macho, Sheyla, Corsa, Texugo), Adriana Calcanhotto (cantando A Corujinha), Céu (BaianaSystem).

Visualmente a trama foi bem desenhada, tendo bons detalhes e texturas na tela, com uma arca rústica e quase se desfazendo por inteira, e personagens que não procuraram fazer um desenho mais certinho, mas que puderam dar liberdade poética bem encaixada para funcionar e marcar na tela.

Enfim, é uma animação gostosa de conferir, que agrada pela simplicidade, e que junto de boas canções consegue segurar bem o público desde os mais pequenos até os adultos que lembrarão de suas infâncias pelas canções de antigamente escolhidas a dedo. Claro que não é nenhuma animação que impacta pela essência da história, mas que funciona e agrada com o que entrega na tela. Sendo assim, fica a indicação para conferir e levar a criançada para ver uma animação com uma história musicalmente nacional, e eu fico por aqui agora, já que hoje ainda tenho muitas outras sessões, então abraços e até mais tarde.


A Fanfarra (En Fanfare) (The Marching Band)

Se tem algo que gosto no cinema francês é que mesmo ele repetindo o estilo consegue comover como se fosse algo totalmente novo, e que você indo conferir um longa classificado como comédia, quando menos se espera está lá lavando a sala do cinema. Claro que conheço uma tonelada de pessoas que não irá curtir o estilo do filme "A Fanfarra", mas como está em cartaz dentro de um Festival diria que as pessoas que irão conferir vão todas se emocionar com o ato final, que por incrível que pareça até estava esperando algo do tipo, mas que quando aconteceu, a emoção bateu. Outro ponto bem bacana do filme é que ele trabalha alguns temas pesados como adoção de irmãos em famílias de classes bem diferentes, transplantes, doenças, protestos e fábricas fechando com funcionários sendo mandados embora, enquanto desenvolve toda uma musicalidade, o ouvido puro de notas e música clássica, ou seja, dois pontos bem opostos que acabam fluindo naturalmente de uma maneira bem gostosa e sem pesar na mão.

O longa nos conta que Thibaut é um maestro de renome internacional que viaja pelo mundo. Ao descobrir que foi adotado, ele encontra um irmão, Jimmy, que trabalha em uma cantina escolar e toca trombone em uma fanfarra. À primeira vista, tudo os separa, exceto o amor pela música. Percebendo as capacidades musicais excepcionais de seu irmão, Thibaut decide reparar a injustiça do destino.

O diretor e roteirista Emmanuel Courcol ("A Noite do Triunfo") já mostrou que tem estilo com outro filme que já foi reproduzido em diversos outros idiomas, e não duvidaria de ver esse seu novo trabalho sendo reinventado em outras línguas, pois a essência passada é algo universal e cheio de personalidade funcional, de tal maneira que mesmo trabalhando temas pesados, a sutileza acaba envolvendo o público e tudo acaba transparecendo de uma forma fácil na tela. Ou seja, ele conseguiu pegar toda a densidade e sentimento que um bom maestro tem com sua orquestra e passar isso para algo sentimental como a vida de irmãos separados, mas com uma tendência musical precisa e marcante, que não amarra seu filme em momento algum, fluindo fácil os 103 minutos na tela.

Quanto das atuações, diria que Benjamin Lavernhe soube entregar muito estilo para que seu Thibaut Desormeaux fosse um maestro reconhecido, cheio de personalidade, mas também com uma disposição de viver os momentos que a trama pedia, sendo simples com o irmão, vivendo alguns bons dias e conhecendo mais da vida simples que o outro teve, e principalmente passando o olhar entre irmãos de reconhecimento, que é a coisa mais bonita de ver quando funciona numa trama, pois qualquer estilo diferente acaba sendo falso, e aqui em todas as cenas dele vemos essa atitude presente. Da mesma forma, Pierre Lottin trabalhou seu Jimmy Lecocq, com um pouco mais de atitude, já que não teve uma vida tão requintada, mas criando personalidade de estilo musical, sendo bem simbólico com os envolvimentos de carinho para com seus próximos, e também se jogando demais como um bom irmão faria, sem falar na devolução de olhares, que até de maneira mais explosiva consegue passar um bom carisma. Quanto aos demais, cada um da banda passou uma sintonia diferente para seus personagens, tendo praticamente todos um bom carisma, mas acaba valendo claro o destaque para Sarah Suco com sua Sabrina imponente e cheia de atitude, e claro para Anne Loiret com sua Claire bem dimensionada e direta quanto ao assunto da adoção.

Visualmente o longa teve dois lados, um bem luxuoso com Thibaut em grandiosos teatros, ensaios requintados com instrumentos bem alocados e um apartamento bem chamativo, enquanto do outro lado tivemos uma casa mais simples, porém com um quartinho da música recheado de discos, pôsteres, instrumentos e tudo mais, além de um amontoado para ensaios da banda em um prédio da prefeitura, e claro a fábrica abandonada com as máquinas indo embora e os trabalhadores à frente tentando manter, e claro um hospital aonde vemos um pouco de como é um transplante de medula. Um ponto bacana foi do longa ir para o interior da França em lugares que não aparecem tanto nos filmes, usar o trombone como instrumento principal que também é pouco utilizado em longas, e brincar com todo o simbolismo de uma banda, uma orquestra e uma fanfarra, dando uma visão maior para o ambiente musical. 

Enfim, é um filme bem simples, porém forte e gracioso na mesma proporção, com um fechamento bem marcante e emocional para toda a conexão dar a liga que precisava, ou seja, é daqueles filmes que alguns vão chorar muito, mas quem não se emocionar ao menos um pouco com o final não devem ter mais coração. Assim sendo recomendo com certeza o longa para todos conferirem dentro do Festival Varilux de Cinema Francês, pois olhem a honraria de estarmos vendo antes mesmo que os próprios franceses, pois tirando as exibições no Festival de Cannes, ele só estreia lá no final do mês de Novembro. E é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas de filmes, então abraços e até logo mais.


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

O Segundo Ato (Le Deuxième Acte) (The Second Act)

Costumo dizer que o absurdo por mais estranho que pareça ainda tem boas sacadas, e a grande deixa do longa "O Segundo Ato" é mostrar que muito em breve veremos filmes escritos, dirigidos e atuados por inteligências artificiais, porém irão ficar tão ruins e insuportáveis que mais nos incomodaremos com tudo do que veremos uma boa história na tela. Ou seja, o filme funciona como uma crítica ao artificial, e ainda brinca com um dos diretores que mais coloca efeitos em seus filmes, e assim a trama mesmo que cansativa, tem sua funcionalidade.

A sinopse nos conta que quatro atores se encontram na filmagem de uma obra realizada 100% com inteligência artificial. Aos poucos torna-se difícil distinguir a ficção da realidade.

O mais engraçado é que esse ano teremos o diretor e roteirista Quentin Dupieux em dose dupla no Varilux, já que ainda teremos "Daaaaaali!" para conferir, e aqui no filme que foi a abertura de Cannes, ele não quis fazer nada além de uma boa crítica ao sistema atual de filmes artificiais, de atuações sem expressividade, e que acabarão dominando o mundo das telas muito em breve, e sendo sarcástico ao mesmo tempo que coloca personagens que não acreditam mais em si, nem sabem o que estão fazendo realmente, acabamos vendo algo bem colocado, com uma boa pegada, mas que incomoda ao mesmo tempo que diverte.

Quanto das atuações, diria que todos fizeram bem seus papeis artificiais, de forma que praticamente nenhum dos atores tenta se destacar na tela, e sendo assim tivemos uma Léa Seydoux bem simples com sua Florence, um Louis Garrel bem normal e exibido com seu David, Vincent Lindon se achando mais do que todos com seu Guillaume, e Raphäel Quenard bem encaixado com seu Willy, mas quem acaba se destacando na tela é o que deveria ser um figurante no longa artificial, mas que brilha com o que faz, ao ponto que Manuel Guillot com seu Stéphane chamou atenção e agradou demais.

Visualmente a trama também é bem simples, se passando quase que inteiro numa estrada sem fim (que no final nos é mostrado o trilho imenso de filmagem) e depois dentro de um pequeno restaurante, sem ter muito o que ousar, e que brinca com as conversas dos personagens.

Enfim, é um filme simples, que nem tenho muito o que falar dele, pois não tenta ir além do que foi projetado para ser, que é a crítica ao futuro das produções feitas por inteligências artificiais, então fica a dica para conferir e imaginar como será esse futuro. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas já vou para mais uma sessão do Festival Varilux, então abraços e até logo mais.


Ainda Estou Aqui

Muitas vezes reclamamos que alguns diretores faltam com a sensibilidade para tratar determinados temas, e que dessa forma acabamos vendo filmes secos, quase com solavancos demais, com gritarias demais, personagens tentando aparecer mais do que propriamente a história e por aí vai, mas e quando acontece o inverso, de ter sensibilidade demais para um tema que dava para se impor mais e quebrar tudo e mais um pouco? Devemos reclamar também? E começo dessa forma o texto do longa "Ainda Estou Aqui", nosso candidato ao Oscar de Melhor Filme Internacional (antigamente chamado de Estrangeiro ou Não Falado em Inglês), pelo simples motivo de que é um filme lindo, incrivelmente bem dirigido e atuado num nível fora de rumo pela protagonista, porém o diretor foi tão sutil e emocional com tudo, quase nos levando para morar junto com os Paiva no período, mas sem causar, sem impactar com o que ocorre na tela, de forma que emociona pela frase que é dita pela protagonista quando consegue o atestado de óbito como um símbolo, pois passar anos sem saber que a pessoa estava realmente morta, mesmo que soubesse por dentro é o pior que pode acontecer com uma família. Ou seja, vai depender muito da campanha da Sony para vender o filme como se deve para que vejamos mais prêmios na prateleira do longa, pois senão acabará sendo algo que nós sentimos a dor por vivermos num país que existem vários que desejam voltar ao tempo da ditadura, mas que lá fora não irão entender o motivo da sutileza na tela.

O longa narra a emocionante trajetória de sua mãe, Eunice Paiva, durante a ditadura militar no Brasil. Ambientada em 1970, a história retrata como a vida de uma mulher comum, casada com um importante político, muda drasticamente após o desaparecimento de seu marido, capturado pelo regime militar. Forçada a abandonar sua rotina de dona de casa, Eunice se transforma em uma ativista dos direitos humanos, lutando pela verdade sobre o paradeiro de seu marido e enfrentando as consequências brutais da repressão. O filme explora não apenas o drama pessoal de Eunice, mas também o impacto do regime militar na vida de milhares de famílias brasileiras, destacando o papel das mulheres na resistência.

Claro que toda essa sensibilidade e o transporte do público para o convívio com a família Paiva durante a ditadura não se deve 100% ao diretor Walter Salles, mas sim ao roteiro ser a adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva, que conta sob o seu olhar a vida da mãe com tudo o que aconteceu com o marido e com ela na época, e essa síntese brilha bem na tela com todo o desenrolar, tanto que vemos muitos atos que fazem muito sentido no olhar do garoto, de estar jogando bola com os amigos e se despedindo depois, as partidas de totó com o pai e até com os milicos, e até vemos aonde ele passou a achar que o pai estava realmente morto, ou seja, essa transparência do livro passa muito no filme. E qual então é o diferencial que chama a proposta para os rumos tão premiados e elogiados que anda acontecendo: a simplicidade! Pois qualquer outro diretor megalomaníaco pegaria o mesmo livro e transformaria ele em um ambiente hostil da ditadura, com pancadaria rolando solta, com pessoas sofrendo tensões na tela e tudo mais, enquanto Walter pegou, colocou a emoção na tela, e falou, sejam felizes com essa ideia. Porém entrando numa crítica pessoal, e bem opinativa, faltou um pouco mais do meio da sinopse, pois não vemos a Eunice ativista, não vemos ela indo além, e talvez colocar mais isso não aumentaria em nada o tamanho do longa, mas sim tiraria alguns atos vagos, sem perder a qualidade.

Quanto das atuações não tem nem o que falar, o filme é de Fernanda Torres, de tal forma que sempre a vi como uma comediante, nem lembrando de nenhum papel icônico que ela tenha entregue de forma dramática, e aqui esse seu jeitão meio descontraído acabou dando um vértice tão bom e tão denso para sua Eunice, que a atriz parece solta, não se esforçando para uma entrega, mas fazendo o que gosta, com personalidade e boas dinâmicas, fora quando o filme anda alguns anos, se o diretor resolver fazer "Central do Brasil 2", ela já pode fazer o papel que sua mãe fez no passado, pois está exatamente igual, além de que ficou muito semelhante a verdadeira Eunice. E falando na mãe da protagonista, foi bacana colocar Fernanda Montenegro para fechar o filme já com o Alzheimer avançado, mas se expressando muito bem sem dizer uma única palavra. Selton Mello faz um bom começo com seu Rubens, e vendo as fotos verdadeiras no final é praticamente uma reencarnação do verdadeiro, e atuou bem com seu jeitão descontraído sendo bem coeso na tela. Quanto das crianças todas entregaram atos bem marcantes e chamativos, valendo claro o destaque das duas maiores Vera e Eliana vividas por Valentina Herszage e Luíza Kosovsky, que tiveram as cenas mais densas da produção.

Visualmente a trama traz uma família classe média alta do Rio de Janeiro, mostrando a casa na beira da praia, com as crianças vivendo correndo entre a praia, a rua e a casa, sempre cheia de amigos para almoços e festas, com todos os cômodos bem detalhados, muitas imagens filmadas com uma câmera antiga que a equipe de edição depois deu um bom tratamento para ficar realmente como os filmes da época, e falando em época temos de dar muitos parabéns para os atos nas ruas, com muitos carros, prédios antigos, pessoas com figurinos, e muita decoração mesmo (até uma colcha que vi muito na casa de minha avó apareceu no filme!), depois vemos um pouco do exército andando pelas ruas da cidade, e claro todo o temor e atos fortes dentro de uma delegacia/quartel aonde a protagonista fica presa por alguns dias, ainda tivemos alguns atos em São Paulo, mas tudo muito rápido, ao ponto que a equipe não precisou decorar tanto o ambiente.

Enfim, é um filme com uma pegada bem trabalhada na tela, que não força o espectador a nada, mas que passa bem sua mensagem de época, de contexto e de simpatia pelos personagens, ao ponto que junto de uma trilha sonora muito bem escolhida acaba envolvendo e agradando a todos que forem conferir a trama nos cinemas, valendo a recomendação, e claro estaremos na torcida para que o longa chegue ainda mais longe nas principais premiações do ano. Então fica a dica, e eu fico por aqui hoje, voltando amanhã com mais textos, então abraços e até lá.


quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Mega Cena (Heureux Gagnants) (Lucky Winners)

Desconheço quem nunca tenha jogado na loteria ou ao menos comprado uma raspadinha ou talvez uma rifa de um amigo para ajudar, mas claro torcendo para ter a sorte grande, e se aqui temos alguns prêmios milionários que já deixam muitos surtando, quando vemos as boladas que as loterias lá fora sorteiam é de cair o queixo e querer arriscar, aliás é algo bem engraçado que vemos nos filmes (afinal nunca viajei para fora para comprovar que é assim mesmo!) que o pessoal compra bilhetes dessas grandes loterias em bares, mercados e tudo mais, então é mais fácil do nada pegar e fazer uma fezinha. Dito isso, o longa escolhido para a abertura do Festival Varilux de Cinema Francês de 2024 foi "Mega Cena", e posso dizer que fazia tempo que um longa não me fazia rir e ao mesmo tempo surtar com as situações da trama, pois sei que existem pessoas azaradas, mas desconhecia quem fica milionário num dia e cai em umas maldições tão imponentes como foram as 4 histórias que o longa trabalha, de tal forma que estou até com medo de comprar um bilhete, que vai que ganho e acontece tudo o que rolou com os protagonistas do filme. De certa forma tudo é tão bem sacado que não vemos artificialidade, e por incrível que pareça, mesmo sendo quatro histórias isoladas, a fluidez é bem dinâmica, fácil e não fica jogado na tela, e claro que o humor francês é bem diferenciado, mas aqui brilha demais na tela.

Uma chance em 19 milhões. É mais provável ser atingido por um meteorito do que ganhar na loteria. Para os nossos sortudos ganhadores, o sonho rapidamente vira pesadelo, e suas vidas se despedaçam em um espetacular festival de humor ácido e fortes emoções.

Costumo dizer que acertar de cara em uma primeira direção também é algo com pouquíssimas chances, ainda mais com uma comédia, porém a dupla Romain Choay em seu primeiro trabalho e Maxime Govare que já veio em outro Varilux com uma comédia bem gostosa também, conseguiram esse feito, pois usaram o com muito cinismo e desarranjos típicos bem impossíveis algo que cada história tivesse uma peculiaridade ímpar para segurar o espectador e ver do que as pessoas são capazes para conseguir ficar muito ricas, e claro também os aproveitadores do momento, que unindo as duas facetas acabam explodindo tudo na tela, e fazendo rir do começo ao fim. Aí vem a famosa frase: "mas Coelho, é um filme que força o riso", e sim, é algo que costumo reclamar bastante também, mas a comédia do absurdo como costumo classificar muitas comédias francesas que se colocam para essa função, é dessa forma, e o acerto acontece sem que precise apelar na tela. Ou seja, é um filme com sacadas que você vai achar que o diretor surtou em criar aquilo, mas dentro de cada uma das quatro histórias (1ª - família que encontra um bilhete premiado antigo dentro do carro e precisa chegar no local para pegar o prêmio num tempo recorde por já estar no prazo final; 2ª - moça que ganha o prêmio e acaba arrumando um encontro com um galã no meio da rua, e a amiga fala para desconfiar de um golpe; 3ª - jovem homem bomba compra um bilhete para despistar a compra de chips e ao estar com o aparato pronto para explodir descobre que ficou rico; 4ª - o senhor de um asilo morre ao ganhar um prêmio e os cuidadores que ficam com o bilhete se veem entrar numa onda de azar gigante por pegarem o prêmio dele; e ao final voltam na primeira história para fechar ela melhor), o resultado acontece e faz valer o tempo de tela. 

Quanto das atuações, a trama nos coloca um elenco bem grande com vários personagens, tendo na primeira história os destaques de Fabrice Eboué com seu Paul surtado por completo, e a esposa interesseira Louise vivida pela sempre bem expressiva Audrey Lami. Na segunda história Pauline Clément fez uma Julie bem simples de traquejos, mas que entrega bastante no que faz, e Victor Meutelet com um Thomas bem galanteador e sedutor, com uma sacada incrível de reviravolta em seu personagem. Na terceira história o trio vivido por Sami Outalbali, Mathieu Lourdel e Illyès Salah trabalharam com uma conexão bem prática de situações que seus trejeitos se sustentam bem quando a situação aperta, e o fechamento é literalmente explosivo. E na quarta história, o grande destaque é Anouk Grinberg com sua Sandra inicialmente não querendo o prêmio e fazendo as situações mais irritantes com os amigos, mas depois que o dinheiro a muda, fica alguém tão rica e necessitada do dinheiro que faz coisas que qualquer um duvidaria e entrega demais na expressividade.

Visualmente por serem tramas curtas e bem fechadas, tivemos na primeira trama praticamente todas as cenas dentro do carro em uma corrida completamente insana pelas ruas de Marselha; no segundo filme tivemos um restaurante bem chique e uma mansão imponentíssima cheia de boas sacadas no final; na terceira história vemos um mercadinho pequeno, um apartamento simples, toda a preparação de um homem-bomba, e depois vamos para as cenas dentro do trem, numa estação e depois no banco, tudo bem representado; na quarta história vemos um asilo de idosos com seus médicos e cuidadores, o sorteio do grande prêmio na TV, e depois algumas festas seja de comemoração ou de velórios bem elaborados, cada um com seu detalhe; e voltando para a primeira história tivemos um presídio simples, mas bem representado pela cabine de conversa e a cela do protagonista, além de uma saída em grande estilo com muita comemoração.

Enfim, é o famoso filme de vários outros filmes, mas que se completa pelas situações em si, de tal forma que tudo funciona muito bem e acaba agradando, divertindo e surpreendendo em cada ato, fazendo com que o público ria, converse com os personagens, e claro, surte com todos os resultados finais. Ou seja, pode ir na sessão dele do Festival Varilux que vai valer demais o ingresso, então veja os horários na sua cidade e não perca. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas nos próximos 15 dias falarei de muitos filmes sejam do Festival ou das estreias dos cinemas também, então abraços e até logo mais.


terça-feira, 5 de novembro de 2024

Mia

Esse ano acredito que o curador do Festival de Cinema Italiano no Brasil estava com alguns probleminhas, pois o nível de discussão que ele montou na programação é pro pessoal sair ao final da programação direto para a terapia, só não pode ser com o médico do filme de ontem, senão não vai dar certo! Brincadeiras à parte, hoje conferi mais um filmão da programação, "Mia", que na base já vimos pelo menos uns 10 filmes do mesmo jeitinho, da garotinha do papai que acaba se envolvendo com algum marmanjo galanteador, depois temos o famoso abuso, o abandono, e o caos se instaura, alguns indo para uns vértices mais abertos, outros indo para algo mais denso e forte, e aqui já lhes adianto que vai para o lado mais denso. Claro que sempre são tramas muito parecidas, mas que cada diretor brinca com a ideia de uma forma para que o público não se incomode de ver novamente toda essa prática, e claro que se discuta muito isso, afinal já era algo muito comum no passado com pessoas "teoricamente" mais fortes, imagina hoje que se uma mosca pousa no braço de um já é motivo para explosão. E dessa forma o longa tem uma boa pegada, não é cansativo, não é daqueles que você fica irritado com os personagens, só sabendo mesmo o rumo do final que é quase sempre o mesmo, mas que funciona sempre também.

A história de uma família simples e feliz é violentamente interrompida pela chegada de um rapaz manipulador, que transforma a vida de uma maravilhosa adolescente de quinze anos em um verdadeiro pesadelo. Quando a garota, com a ajuda do pai, consegue se afastar e recomeçar a viver, o rapaz decide destruí-la. Ao pai resta apenas uma coisa: a vingança.

O diretor e roteirista Ivano de Matteo é daqueles que gosta de trabalhar temas polêmicos, e aqui ele soube dar uma boa nuance para não apenas um tema que já é batido, mas sim juntar quatro ao mesmo tempo que é: a destruição familiar, relacionamentos tóxicos, suicídio e vingança, ou seja, ele quis botar tudo em um único filme e o melhor é que conseguiu, pois o longa funciona bem, e mesmo parecendo que já vimos outras várias vezes, e sabendo o rumo que o final vai tomar, ainda conseguiu prender a atenção nossa na tela e dar um bom viés. Claro que por termos visto muitas vezes esse estilo de trama, ficamos já mais apreensivos, esperando tudo acontecer, mas a formatação escolhida pelo diretor foi bem sintética e direta, então o resultado vem, e claro alguns gatilhos também para quem já teve algum desses problemas, então balanceie antes de conferir.

Quanto das atuações, Edoardo Leo foi completamente perfeito como um pai apreensivo, direto e bem colocado, fazendo com seu Sergio tudo o que a maioria dos pais faria em situações do estilo, trabalhando olhares e tensões marcantes do começo ao fim, dando um show de performance. Não por menos Milena Mancini emocionou com seus atos de uma mãe presente nos momentos mais difíceis, tendo suas cenas no hospital marcantes e incríveis de ver. A jovem Greta Gasbarri teve uma estreia com muita personalidade, fazendo com que sua Mia tivesse momentos tão diferentes e precisos na tela, que chega a ser até uma grande surpresa expressiva, pois segurou atos duros e também felizes com classe e presença, ou seja, tem futuro se seguir essa linha de trabalho cênico. Riccardo Mandolini também segurou bem os trejeitos para que seu Oscar fosse bem manipulador com a garota e abusado para com o pai dela, em situações que muitos teriam dificuldade de enfrentar um ator premiado como Edoardo Leo, e não se diminuiu fazendo tudo o que tinha para que odiássemos ele. 

Visualmente a trama foi bem densa, pois o apartamento dos protagonistas é pequeno, então temos atos sufocantes acompanhando os momentos dos pais no quarto, na sala e na cozinha (aonde temos o jantar do climão bem quebrado por uma piada boba), além do quarto da garota, tudo bem representado com fotos e vídeos dela quando pequenina que o pai faz questão de ver no celular a todo momento, tivemos alguns atos na escola, na quadra de vôlei que a jovem joga, em alguns barzinhos e claro na casa do rapaz aonde acontece o ato, ou seja, tudo bem representativo, porém simples para que não onerasse tanto o orçamento da produção.

Enfim, é um filme simples, com situações que já vimos muitas outras vezes, mas que funciona e tem uma dinâmica que não cansa, de forma que vale então a conferida dentro do Festival Italiano de Cinema no Brasil, de 07/11 a 08/12 online e gratuitamente pelo site deles, então não perca essa chance de ver ótimos filmes lá. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


segunda-feira, 4 de novembro de 2024

O Penitente (The Penitent)

É interessante como alguns filmes entregam propostas de reflexão de formas bem diferentes, pois alguns gostam de serem mais sucintos e entregar tudo logo de cara para o espectador, enquanto outros ficam numa enrolação imersiva que por vezes até levam o público para o meio do diálogo dos personagens, e esse segundo estilo quando não é bem conduzido acaba cansando mais do que entregando algo para quem está vendo o filme. E comecei dessa forma o texto de "O Penitente" pelo simples fato de que a trama tenta trabalhar as motivações de um crime e uma alegação num jornal como talvez culpa do terapeuta que não orientou direito seu paciente, mas o terapeuta com remorso tenta jogar a culpa para as leis e a sua orientação para a religião, e tudo num ciclo vicioso tão armado entre terapeuta, esposa, advogado e promotor de justiça, que se me dissessem que o longa era a adaptação de alguma peça teatral sem mexer uma vírgula no roteiro, eu acreditaria. E isso é algo extremamente ruim de acontecer, pois o conflituoso texto de vai e vens de frases, cada hora dita numa pontuação e entonação acaba cansando e irritando o espectador, ao ponto de que em determinados momentos já estava até xingando a esposa do protagonista por repetir tanto a mesma coisa que o protagonista falava, mas aí ele vai se encontrar com o advogado, e lá acontece a mesma coisa, vai falar com o promotor e novamente tudo igual, aí chegamos a conclusão que essa era a intenção, e no final das contas quem você acusa, com a revelação final que poderia ser mostrada na primeira cena, tudo se resolve, mas aí não existiria o filme.

O longa nos situa em Nova York, aonde a carreira e a vida pessoal de um psiquiatra começam a desmoronar após ele se recusar a testemunhar a favor de um ex-paciente violento e instável, responsável pela morte de várias pessoas. A identidade LGBT do jovem paciente, a fé judaica do médico, a fome de notícias da imprensa e o julgamento severo da lei, agravados por um erro de impressão no editorial de um jornal, desencadeiam uma reação em cadeia explosiva. A perseguição midiática e a pressão do sistema judiciário se somam ao dilema moral do psiquiatra, que se apoia no juramento de Hipócrates para se defender das acusações, pressões e traições de todos os lados em busca da verdade. Quem é, afinal, o verdadeiro monstro? O rapaz? O médico? A imprensa? A justiça? Quem pode realmente ser considerado inocente?

Não consigo imaginar aonde o diretor Luca Barbareschi queria chegar com o roteiro de David Mamet, pois ele conseguiu amarrar tanto seu filme que ficou parecendo estarmos numa sessão de psicanálise gigantesca aonde você pergunta algo para o terapeuta, e ele te devolve com a mesma pergunta invertida, e para dar a resposta da pergunta dele você voltava com a mesma pergunta apenas adicionando algo, e assim sucessivamente como se o roteiro infelizmente tivesse sido escrito por uma inteligência artificial e as atuações entregues também fosse feitas da mesma forma, o que no meio jurídico diríamos como alguém se defendendo acusando o outro para que ninguém tivesse culpa. Ou seja, é daqueles filmes extremamente monótonos que o olho chega a piscar diversas vezes, mas que dá para tirar algumas reflexões, então acaba não sendo uma bomba gigante, mesmo que o diretor tentasse isso dirigindo ou atuando, já que também é o protagonista.

E já que comecei a falar das atuações, o diretor Luca Barbareschi até deu um tom clássico de estilo para seu Carlo, trabalhando suas dinâmicas com muita personalidade, bem trabalhado no estilo de médicos psiquiatras, aonde você não sabe quem é o maluco, se o médico ou o paciente, e dessa forma ele também acabou alongando um pouco demais o resultado para poder se dirigir, de tal maneira que daria fácil para cortar uns 30 minutos no mínimo do longa, e o resultado seria ainda mais expressivo de sua direção e de sua atuação também. Catherine McCormack até deu algumas boas nuances com sua Kath, mas para uma mulher de um psiquiatra aparentou ter mais problemas psicológicos do que qualquer um dos seus pacientes, estando em constante conflito na discussão, fazendo trejeitos meio que duplos, até termos uma revelação mais sucinta no ato final, mas aí já era tarde para reflexões. Se no filme que vi de tarde elogiei por completo a advogada, falando que era o estilo que procuraria se um dia precisasse, o perfil entregue aqui por Adam James como advogado do protagonista eu certamente passaria longe, pois ele entregou traquejos que deixaram o cliente mais confuso do que já era, e dando algumas opções controversas pareceu mais um poste sem expressões do que alguém que estava ali para ajudar, ou seja, falhou no que precisava entregar. Ainda tivemos Adrian Lester como um promotor ou procurador da justiça trabalhando da mesma forma que os demais, com trejeitos fortes, mas jogando seus diálogos para o protagonista e recebendo de volta perguntas e acusações, de tal forma que leva nada a lugar algum, ou seja, poderia ter sido mais incisivo para chamar mais atenção.

Visualmente como já disse o longa poderia ser uma peça teatral sem precisar de ajuste algum no roteiro, mas ainda assim a equipe de arte conseguiu um apartamento clássico bem requintado, mostrando um padrão de vida chique da família, alguns diálogos numa praia, outros num hotel/escritório/bar do advogado também com um requinte bem marcante, e uma sala de depoimento que parecia a de reunião de uma grande empresa, além de um hospital para fechar tudo, tendo ainda uma multidão cheia de placas e muitas TVs aparecendo o conflitivo discurso de quem é a culpa do médico ou do assassino, ou seja, tudo bem colocado na tela para dar mais representatividade cênica, mas sem grandes necessidades.

Enfim, é daqueles filmes que você acaba comprando pela sinopse, mas que quando vai conferir não entrega o que promete, não sendo algo ruim de ver, mas que facilmente dava para cortar uns 30-40 minutos, e ainda fizeram uma grande arte, pois o longa foi filmado em inglês e depois dublado para italiano, ou seja, ficou estranho pela movimentação das bocas. Para quem curte tramas de discussão advocatícia misturada com medicina psiquiátrica pode até dar o play durante o período do Festival de Cinema Italiano no Brasil de 07/11 a 08/12 que irá gostar do que verá, já os demais é melhor dar play em qualquer outro. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.