Madame Durocher

11/02/2024 02:03:00 AM |

O Festival Varilux só começa na próxima quinta 07/11, mas hoje já pude ter o gostinho do estilo francês começando a brincar com a minha cabeça, pois pude conferir "Madame Durocher" que diria que quando anunciaram no festival foi de uma grande surpresa, pois mesmo contando a história de uma garota francesa que teve grandes feitos quando adulta, é um filme brasileiro, ou seja, fiquei meio com uma leve pulga na orelha do que iria ver, porém ao conferir tudo fez muito sentido, afinal a personagem real foi a primeira mulher a ser aceita na Academia Brasileira de Medicina, a muito contragosto dos demais médicos ultra-conservadores da época, e também foi quem pariu a Princesa Leopoldina no meio dos seus mais de 4000 partos que fez durante toda a vida, não tendo preconceitos com negros ou brancos, ricos ou pobres, mas sim com muita disposição em salvar vidas e botar muitas outras no mundo. Como costumo falar que o mais bacana de algumas biografias é conhecermos pessoas e personalidades que sequer um dia ouvimos falar, pois quando é de alguém muito famoso, já ficamos esperando acontecer determinado momento ou reclamamos depois de não parecer em nada com o conhecido, então diria que o acerto na tela foi bem colocado e o resultado vai agradar bem quem curte o estilo, pois a história é boa e bem representada na tela.

A cinebiografia de uma mulher à frente de seu tempo. Madame Durocher conta a história da primeira mulher a receber o título de parteira no Brasil e a ser reconhecida como membro da Academia Imperial de Medicina no século XIX. Essa foi Marie Josephine Mathilde Durocher, cuja trajetória começa em 1816, quando a jovem francesa, aos 7 anos, chega com sua mãe modista no Brasil. Após a morte de sua mãe e a perda de seu marido, Marie Durocher resolve se dedicar e aprender a função de parteira. É a partir daí que entra no curso de Medicina do Rio de Janeiro e torna-se a primeira mulher a se diplomar nessa área. Sua jornada não apenas desafia as normas sociais da época, mas também inspira futuras gerações de mulheres a lutarem por seus sonhos, enfrentando preconceitos e superando adversidades em um mundo predominantemente masculino.

Diria que os diretores Dida Andrade e Andradina Azevedo viram os pontos positivos e negativos de seu último filme biográfico "Eike: Tudo ou Nada", e aperfeiçoaram com uma protagonista que só mesmo as mulheres que estudaram Medicina, se aprofundando em Obstetrícia, conheciam, afinal é algo que nunca sequer vi em qualquer livro de História. E dessa forma puderam brincar bem com o tema, trabalhar claro muito do preconceito, do machismo e até mesmo das imposições da época, criando um ambiente bem encaixado na tela, retratando bem os tempos do Império com figurinos e objetos, e claro contextualizando tudo com escravos, nobres franceses que fugiram de Napoleão e tudo mais com as boas sacadas dentro dos diálogos, tendo apenas um leve defeito que é quase ser uma obra com um estilo novelesco, tendo duas fases, duas protagonistas, e até encaixando passado e presente na tela, que dava para talvez dinamizar mais e entregar ainda o mesmo resultado, mas isso é um gosto pessoal meu.

Quanto das atuações, inicialmente tivemos Jeanne Boudier bem graciosa com sua Marie graciosa e cheia de nuances, vivendo com a mãe bem interpretada também por Marie-Josée Croze, falando até que alguns atos em português bem colocado, mas mantendo bem o francês com os demais, mostrando quase um Brasil que falava mais francês do que português, tudo com muita classe e boas dinâmicas, e com a jovem fazendo suas aulas de partos, no meio de um mundo bem machista e tradicionalista da época, mas aí vamos para o segundo ato, e aí entra Sandra Corveloni com toda sua imposição forte, cheia de personalidade, mudando de uma Marie doce para uma mulher com presença e sem segurar os traquejos da vida, conseguindo agradar em cheio com trejeitos e dinâmicas bem encaixadas, o que acaba sendo perfeito na tela. Nas duas fases tivemos os médicos e professores vividos por Mateus Solano e André Ramiro, com o primeiro sendo daqueles professores irônicos, com toda a pegada que vemos em médicos que se acham deuses e tudo mais, enquanto o segundo teve de trabalhar com todo o preconceito por ser um dos primeiros médicos negros a integrar a Academia Imperial, mas ambos sabendo jogar bem com a protagonista e desenvolver tudo muito bem na tela. Ainda tivemos Isabel Fillardis bem colocada como a escrava, porém muito amiga da protagonista, que preferiu não ser livre para continuar vivendo com ela.

Visualmente o longa teve muitas cenas a base de velas, dando um charme a mais para a fotografia de época e claro não precisando gastar tanto na composição dos ambientes, mas ainda assim foi bem representativa ao mostrar as crises de saúde da época, mostrando alguns partos complicados, e até algumas aulas cheias de atos machistas por parte tanto dos alunos quanto do professor, além de figurinos bem representativos e a simplicidade da protagonista em não viver com tanto luxo, ou seja, a equipe de arte foi econômica, mas não errou em nada do que entregou.

Enfim, é um filme muito bem feito, que tem estilo e chama bastante atenção pela entrega dos personagens, e claro pela história em si, que foi totalmente uma novidade para mim e acredito que será para muitos também, então só por isso já faz valer a conferida, mas para pontuar algo que dava para melhorar bem facilmente seria não depender tanto de quebras, pois o filme se passa em muitos anos, mas não representa isso na tela, o que acaba ficando um pouco estranho de ver, mas nada que atrapalhe o resultado final. E é isso meus amigos deixo a recomendação de conferir ele no Festival Varilux de Cinema Francês a partir da próxima quinta, e também em algumas cidades que entrará dentro da programação normal, e eu fico por aqui hoje agradecendo os amigos da Elo Studios e da AtomicaLab pela cabine de imprensa, então abraços e até amanhã com mais dicas.


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