Redenção (Maixabel)

11/24/2024 10:59:00 PM |

Um fator que costuma ser bem interessante de ver nos dramas espanhóis é o peso cênico em cima do desenvolvimento da trama, de forma que o longa acaba fazendo você pensar bastante na situação que está sendo mostrada, e que quando colocado ainda um tema real se aprofundam tanto que chega a soar até alongado demais na tela. E o longa "Redenção", que levou 14 indicações ao Goya, chega na próxima quinta, 28/11, aos cinemas brasileiros após rodar por diversos festivais mundo afora trazendo bem essa densidade artística, aonde nos vemos pensando: "E se fosse com algum parente nosso? Iríamos querer ouvir um pedido de perdão ou somente que fosse conversar com o assassino dele após vários anos?". Ou seja, é um filme simples de entrega, mas que tem uma formatação bem trabalhada na tela, que consegue envolver o público com a história contada, e que mais do que apenas um filme consegue cadenciar os devidos momentos entre todos os principais personagens, afinal seguir uma ideologia de um grupo também pode fazer com que a pessoa nem saiba o que irá fazer, mas a culpa é para todos.

A sinopse nos conta que no ano 2000, o marido de Maixabel Lasa, Juan María Jaúregui, foi morto pelo ETA. Onze anos depois, ela recebe um pedido inacreditável: um dos homens que mataram Juan quer se encontrar com ela na prisão de Nanclares de la Oca, em Álava (Espanha), onde ele está cumprindo sua pena após romper com o grupo terrorista. Apesar de suas reservas e de sua imensa dor, Maixabel Lasa concorda em se encontrar cara a cara com aqueles que acabaram com a vida da pessoa que foi sua companheira desde os 16 anos de idade. "Todos merecem uma segunda chance”, disse ela, quando lhe perguntaram por que estava disposta a confrontar o homem que matou seu marido.

Diria que a diretora e roteirista Icíar Bollaín foi bem centrada no estilo que escolheu para fazer sua trama, pois não usou de artifícios emocionais que puxassem seu filme para algo dramático forçado, mas também não criou dinâmicas que fizessem o longa fluir melhor na tela, de modo que o resultado cênico acabou criando alguns momentos meio que cansativos demais, porém com uma identidade bem colocada que funcionasse na tela. Ou seja, é daqueles filmes que entregam o que promete, sem ir além para nenhum lado, e muito menos apelando para sínteses mais densas, de modo que a diretora deixa que você fique com o questionamento se aceitaria ou não o "perdão", pois ao apenas retratar a história de Maixabel, ela não quis colocar se ela perdoaria. Outro detalhe, é que o começo do longa foi muito picotado, de modo que as coisas vão acontecendo e pulando quase como de forma sem muito sentido, tanto que os assassinos conseguem fugir, vão para o meio do mato, estão comendo, e na cena seguinte já estão presos e sendo julgados, de tal forma que praticamente esqueceram de filmar esse meio do caminho, ou simplesmente resolveram cortar.

Quanto das atuações, Blanca Portillo já ganhou muitos prêmios por papeis densos, e aqui sua Maixabel tem a personalidade que facilmente lhe daria muitos outros com um pouco mais de entrega na tela, de modo que até vemos ela expressando atos fortes e bem marcantes, mas faltou passar um pouco mais de sentimento para impactar como ela poderia. Luis Tosar é daqueles atores que trabalham de uma forma a expressividade no olhar que você não sabe o que ele está pensando, de tal forma que aqui seu Ibon foi bem denso, com trejeitos mais amplos, e que sem ir muito além convence na tela com o que faz, mas facilmente dava para ter algo mais explosivo na personalidade para entregar algo a mais. Urko Olazabal trabalhou seu Luis com uma pegada já mais calma, mais cheia de traquejos, e que desde os primeiros momentos parece estar bem disposto a mudar de vida, de modo que sua cena com a protagonista até foi emocionante de ver, mas poderia ser algo mais emotivo. Quanto aos demais, vale breves destaques para María Cerezuela como a filha da protagonista e María Jesús Hoyos como a mãe de Ibon, de modo que ambas derão boas conexões para os personagens principais, e trabalharam suas cenas de uma forma emotiva convincente, mas sem também chamar muita atenção na tela.

Visualmente a trama teve alguns vértices complexos no começo, mostrando o processo do assassinato no cassino, um pouco do lado emocional dentro de um hospital com a protagonista e num camping com a filha, depois tivemos um julgamento bem rápido com os assassinos dentro de um cubo interessante de ver, para depois termos atos no memorial aonde o marido está com homenagens, e também destruição por parte do ETA, e vemos uma prisão bem arrumada também na tela, de modo que a equipe de arte foi bem sucinta de elementos, mas funcionando com o que precisava mostrar.

Enfim, é um filme denso e bem marcante, que consegue mostrar um pouco de como foi o processo de colocar famílias frente a frente com assassinos de parentes para tentar se perdoarem, mas que acabou faltando um pouco mais de intensidade cênica para emocionar, sendo algo bacana de ver como uma biografia do processo em si, mas que dava para impactar bem mais, isso dava. Então fica a dica de conferida nos cinemas a partir da próxima quinta, 28/11, e eu fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da Sinny Assessoria e da Pandora Filmes pela cabine de imprensa, e volto amanhã com mais textos, deixo vocês com meus abraços e até logo mais.


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