Todo Tempo Que Temos (We Live In Time)

11/02/2024 06:01:00 PM |

Sou daqueles adeptos que comédias românticas envolvendo doenças tem de ter uma pegada mais forte para fazer o público desabar, mesmo que seja algo que já vimos muito acontecer, e no longa "Todo Tempo Que Temos" o diretor optou por ser menos sensível nesse sentido, mas sabendo brincar bem com a proposta do tempo em si, de tal forma que contando com uma edição bem picotada entre o tempo que os protagonistas se conhecem, todo o processo da doença e do nascimento da filha, e a explosão da doença coincidindo com momentos importantes na vida da protagonista, de tal forma que só conseguimos diferenciar as épocas pelos cortes de cabelo da protagonista, numa bagunça de idas e vindas que alguns vão até se perder (geralmente a turminha do celular), e que tendo uma química emotiva bem boa entre os protagonistas, acabamos embarcando junto com eles na trama toda. Ou seja, é um filme que se sustenta bem, que tem um carisma gostoso e bem trabalhado entre os personagens, algumas discussões bem ponderadas e com boas nuances, porém para quem gosta de uma puxada mais marcante seja pelo drama ou pela emoção acabará saindo da sessão sentindo que faltou algo, mas ainda assim é algo gostoso e fácil de conferir.

A história acompanha Almut e Tobias, um casal que se conhece de uma forma inusitada e cujas vidas se entrelaçam para sempre, os levando a formar uma família e viver uma vida juntos. Conforme o casal navega pelas alegrias e tristezas de suas trajetórias, o longa nos convida a refletir sobre a importância de aproveitar cada momento e valorizar intensamente as conexões genuínas que construímos ao longo da vida.

Muitas vezes diretores aceitam fazer dramas românticos sem ter isso no seu DNA artístico, e também muitas vezes acabam pegando roteiros de escritores não muito fluentes nesse sentido, que acaba resultando em algo meio que aberto demais na tela, mas isso não é algo que acontece aqui, pois tanto John Crowley quanto Nick Payne já fizeram diversas tramas que conquistaram vários corações e prêmios, de tal forma que aqui você sente o texto um pouco mais pesado e a leveza da mão do diretor, aonde a composição deu uma química bem funcional de oposição, pois facilmente se o diretor seguisse a linha do roteiro que Payne desejava, o filme teria um impacto direto daqueles que o queixo das pessoas cairiam, outros atos seriam mais secos e fortes, mas com a leveza de Crowley e uma edição mais picotada que carta de desculpas de muitos filmes envolvendo brigas românticas, o resultado acabou fluindo fácil e cheio de atos fofos e bem encaixados. Ou seja, é daqueles filmes que poderiam trocar completamente o elenco inteiro que veríamos algo bem trabalhado na tela e gostoso de ver, mas que ainda por cima escolheram dois ótimos atores com uma química perfeita também entre eles, e assim o sucesso está vindo com salas bem movimentadas, e que talvez chame até mais atenção do que imaginavam.

E já que comecei a falar dos atores, outro ponto muito bem escolhido foi o de não ter dezenas de personagens coadjuvantes, que se conectariam e dariam uma pegada novelesca cansativa para o resultado, de modo que vemos quase que em tempo integral apenas os dois protagonistas, a médica dela, uma funcionária que vira assistente na competição, e a filhinha do casal, enquanto os demais que tiveram muitos desaparecem e quase são figurantes com no máximo uma a duas falas. Dito isso, Florence Pugh enganou muitas pessoas nos bailes e festas do ano passado dizendo que tinha raspado o cabelo para controlar a vaidade, mas na verdade foi durante as gravações do longa aqui para fazer sua Almut, de modo que caiu muito bem o penteado e deu um tom mais sério para ela, enquanto as madeixas estranhas (perucas ou não) da faze mais jovem dela ficaram mais descontraídas, ao ponto que a artista soube dosar trejeitos bem densos sem fazer floreios demais como realmente a maioria dos chefs de cozinha são, e assim funcionou bem com a personalidade da personagem e dela também. Da mesma forma Andrew Garfield entrega para seu Tobias um carisma fofo e até meio bobinho e apaixonado demais, de modo que não tira os olhos da sua parceira cênica, se emociona e se expressa bem com todas as intensidades de momentos mais difíceis, e conseguindo dividir bem seus atos, acaba entregando algo familiar e cheio de vontade de estar ali. Quanto aos demais, como disse vale a pena destacar apenas Lee Braithwaite com sua Jade bem disposta a ajudar a protagonista numa competição, e Lucy Briers com sua Dra. Kerri bem cheia de emoções colocadas na tela, que aliás ser oncologista tem de ter muito jeito para falar com os pacientes, e claro a bela garotinha Grace Delaney que sempre sorridente e bem simpática conseguiu chamar a atenção para si em momentos de diálogos bem duros, mas que funcionaram bem sem muito o que explodir.

Visualmente a trama trabalhou alguns atos no apartamento do pai do rapaz, alguns atos no apartamento da moça, um restaurante simples, uma competição gastronômica e muitos atos de treinamentos para a competição, além da casa deles bem decorada em alguns atos com velas e outros mais amplos e normais, além de uma casa de campo também bem elaborada e chamativa, e nos atos finais um ringue de patinação também bem simples. Ou seja, a equipe de arte não quis chamar a atenção, deixando que o roteiro fosse fechado nos personagens, e assim sendo tudo é bem dosado na tela.

Enfim, é um filme simples, bonito, com boas nuances e emoções, que funciona bem dentro da proposta, que como disse no começo até gostaria que fosse mais forte emocionalmente ou dramaticamente, para dar um pouco mais de intensidade para o longa, mas aí desapontaria outros que gostaram dessa forma sem tanta força ou açúcar na tela, e sendo assim é algo que agrada a todos também. Fica então a dica de conferida sem esperar muito dele, e eu fico por aqui agora, afinal hoje ainda vejo muitos outros longas, então abraços e até logo mais.


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