A Semente do Fruto Sagrado (Dâne-ye anjîr-e ma'âbed) (The Seed of the Sacred Fig)

1/08/2025 01:34:00 AM |

Simplesmente chocado com o que vi na tela hoje! Não existe outra expressão para descrever o impacto do longa franco-alemão, "A Semente do Fruto Sagrado", que tem sido a indicação da Alemanha nas diversas premiações, pois é daqueles filmes tão crus, com um tema tão em voga, mas que entregue de maneira sincera brinca com o lado fictício ao mesmo tempo que mostra a realidade no Oriente Médio aonde os conflitos entre religião, rituais e a modernidade se chocam de uma forma que nem mesmo dentro da própria casa as pessoas conseguem se entender. Ou seja, é daqueles filmes que você vai assistir, começará achar tudo meio estranho, com um estilo não muito convencional, mas que vai se abrindo e entregando cada coisa mais imponente que a outra, que quando você vê está envolvidíssimo já esperando por um final também fora dos padrões, mas que aconteceria em qualquer língua ou país que o longa fosse feito, porém que amarra tão bem os 167 minutos que você não conseguirá parar de assistir se for ver em casa quando chegar aos streamings/locações, ou desesperado para acabar no cinema para ir ao banheiro, pois não tem como fugir de tudo. E por incrível que pareça, fiquei pensando se achava algum defeito para colocar, mas não consegui, no máximo uma leve reclamação para as cenas reais em formato pequeno de gravações de celulares, mas funciona para a ideia da trama, então vou falar mais dele abaixo, mas a nota todos já sabem de antemão.

A sinopse nos conta que recém-promovido a juiz de instrução, Iman luta contra a paranoia e o esgotamento mental em meio à agitação política em Teerã causada pela morte de uma jovem. Quando sua arma desaparece, ele suspeita de sua esposa e suas filhas, impondo medidas severas que desgastam os laços familiares.

Diria que o diretor e roteirista Mohammad Rasoulof foi tão ousado com sua proposta que nem sei se conseguirá voltar para o Irã com toda a crítica social que colocou em seu filme, pois a proposta é daquelas que vai contra não apenas a tradição religiosa do país, mas sim a posição política e até policial de lá, ousando dizer coisas que já pelo trailer impactam, e que no filme se desenvolve de uma forma ainda maior, mas que para quem conferir verá algo gigantesco e importante a ser discutido, afinal o mundo mudou, e hoje tradições culturais foram renovadas, de forma que claro não vamos virar tudo de ponta cabeça, mas certas mentalidades devem ser discutidas, e a proposta do diretor foi bem essa, só que apontando o dedo na cara. Ou seja, vemos na trama algo que fascina pela essência, que mesmo sendo longuíssimo não cansa, e principalmente, que funciona na tela, pois não ficou aquele marasmo arrastado que vemos em muitos longas do país, sendo um grande diferencial que tem feito o longa e o diretor a levar vários prêmios mundo afora, claro não como sendo de seu país o Irã, o qual já está sentenciado de prisão, mas sim pela Alemanha. 

Quanto das atuações, é algo que chega a ser difícil imaginar como alguém de fora do país conseguiria passar toda a síntese que vemos no longa, e certamente os atores correram e correrão grandes riscos após terem feito o longa, mas é inegável que o protagonista Missagh Zareh entregou tanta personalidade para seu Iman que sustentou sua paranoia de maneira incrível na tela, ao ponto de que nós também ficássemos paranoicos junto com ele, e isso é uma qualidade de atuação tão precisa que o diretor nem precisou pirar nas cenas, fazendo com que o protagonista chamasse tudo para si e agradasse demais nas suas cenas. Outra que foi muito ousada na entrega foi Soheila Golestani com sua Najmeh no melhor estilo de mãe preocupada com as filhas, mas também cedendo muito ao marido, trabalhando seus trejeitos de uma forma tão suave que mesmo os atos mais explosivos conseguiu dosar a intensidade na tela e agradou com leveza, ou seja, foi precisa e agradou muito. As jovens Setareh Maleki e Mahsa Rostami foram também bem expressivas com sua Sana e Rezvan, tendo a primeira se destacado mais nos atos finais e a segunda segurando todo o miolo da trama, mas sendo diretas e passando muita verdade e realidade nas suas entregas, o que acabou agradando bastante. Quanto aos demais, a maioria deu boas conexões para os personagens em atos mais simples, tirando claro o destaque para a jovem Niousha Akhshi com a cena fortíssima visualmente de sua Sadaf.

Visualmente a trama é interessante por brincar com o tribunal de justiça do país com vários bonecos de papelão parecendo pessoas nas portas, mas passando por trás vários acusados vendados e acorrentados, o refeitório no meio de tudo acontecendo, vemos o apartamento simples da família que acaba sendo revirado para procurar a arma, os detalhes das comidas e da submissão da esposa em fazer tudo para o marido, a roupa como presente, o feitio da barba e do cabelo, e claro toda a discussão do hijab, fora toda a perseguição dos carros nas ruas e na estrada, e o fechamento numa casa isolada nas montanhas quase como uma prisão literalmente e também com o labirinto cênico das ruínas sendo incrível para a cena final. E um detalhe que brinca com a modernidade é a presença do famoso refrigerante em quase todas as refeições.

Enfim, é um filme que estava muito curioso já pelo pôster e pela sinopse, mas estava com muito medo de ser algo lento e cansativo, principalmente pela duração gigante para um filme dramático, mas podem conferir sem medo algum, que vai passar voando na tela, e quando você menos esperar já estará grudado esperando o final que fica evidente do miolo para frente. Então fica a dica para conferida nos cinemas a partir de quinta dia 09/01 quando ele estreia, afinal é um possível longa que se tirar a premiação nossa no Oscar ou no Critics não ficaria desapontado, e eu fico por aqui hoje agradecendo demais o pessoal da Mares Filmes pela oportunidade de conferir a cabine de imprensa, então abraços e até amanhã com mais textos.




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