Sebastian

1/09/2025 01:02:00 AM |

Costumo dizer que quando um diretor sabe aonde quer chegar e prepara o público para isso sem precisar correr ou enrolar, já tem seu lugar reservado no Paraíso, pois vemos muitas vezes filmes com propostas tão fáceis e simples que acabam virando monstros pesados e difíceis de digerir, e quando acertam a mão na pegada correta, mesmo o tema mais complexo de trabalhar flui, envolve e pode até ter várias horas que você acaba se envolvendo e sai da sessão pensando que gostoso foi ver isso. E quando me mandaram o material do longa "Sebastian" de cara achei a ideia interessante, porém fiquei com o receio que a temática seria algo que me incomodaria e/ou seria daquelas obras que dificilmente me conectaria com o personagem principal, porém hoje ao conferir vi que o diretor teve uma sensibilidade e o protagonista uma precisão na dinâmica e nos traquejos de seus atos, que ao final o sentimento foi de uma emoção de ter visto algo gostoso e funcional na tela, que mesmo sendo uma trama erótica forte, que ousou mostrar o trabalho de venda do corpo e do prazer, mas não como algo sujo e trabalhoso, mas como uma arte de pesquisa, e assim essa leveza agrada e faz com que muitos comprem a ideia facilmente sem grandes sustos.

O longa nos conta que Max é um jovem de 25 anos que vive como escritor freelancer em Londres trabalhando com artigos para uma revista. Ter um livro publicado fala alto na lista de desejos do rapaz e, então, ele encontra um tema para explorar: o trabalho sexual na internet. Se a vida é um veículo de inspiração para um artista, Max corre atrás das experiências necessárias para desenvolver a trama de seu livro. Com isso, durante a noite, Max vira Sebastian, um trabalhador sexual com um perfil em um site no qual se oferece pagamentos por uma noite de sexo. Com essa vida dupla, Max navega diferentes histórias, vulnerabilidades e os próprios dilemas. Será que esse pseudônimo é apenas um meio para um fim, ou há algo a mais?

É interessante ver o estilo do diretor e roteirista Mikko Mäkelä, pois como disse no começo do texto, ele facilmente poderia ter feito um longa completamente ousado, cheio de nuances e expressões, que ainda transmitiria bem a mensagem, mas de uma forma mais chocante, porém ele soube segurar quase que a timidez e a vergonha (ou a vergonha da vergonha como é falado no filme) que logo que abri sua foto para ver seus trabalhos até pensei que ele fosse o protagonista (ou talvez baseado a trama também em suas experiências), pois ele não quis deixar a experiência/pesquisa do jovem como algo ruim, mas sim o conhecer do que gosta, saber falar do que gosta, pois até no meio da crítica de arte/cinema vemos alguns jornalistas que apenas vão como um mero trabalho, nunca que fosse algo que gostasse de ver realmente, produzir e analisar, e essa dinâmica fica clara que o jovem escrevendo seu livro acaba se conhecendo melhor. E dessa forma o acerto ficou muito bem colocado na tela, pois o longa fica gostoso de conferir, pontua preconceitos tanto exteriores quanto do próprio personagem sobre si, e a escolha artística funciona de forma agradável.

Quanto das atuações, sem dúvida alguma o longa é de Ruaridh Mollica, pois mais do um apenas Max, ele também se entrega como Sebastian, de tal forma que sendo Sebastian ele se reencontra como Max, e isso é brilhante quando vemos atores fazendo duplas de papeis, mas uma enxergando a outra no meio do caminho e se auto-corrigindo, o que acaba mostrando alguém muito experiente na profissão de ator, mas mais do que isso tendo simpatia para que seu personagem dominasse a tela mesmo sendo "tímido" de certa forma, ou seja, perfeita escolha para o papel, e acredito que ainda veremos falar mais dele em outros filmes. Quanto aos demais, temos vários jogos bem encaixados de cada um para talvez estereotipar os tipos de pessoas que contratam profissionais do sexo, e do outro lado os escritores e analistas de livros e revistas, que acabaram sendo muito explícitos nos termos da trama, não fazendo com que tudo tivesse nuances, o que não atrapalha o andar do filme, e principalmente funciona bem como exemplos, valendo dar claro destaques para Jonathan Hyde com seu Nicholas (ou Jonathan para o escritor - o que foi muito bem sacado na fala dele de gostar do nome Jonathan) bem emocional e cheio de sabedoria para encantar o rapaz, e Ingvar Sigurdsson já fazendo o oposto, mais bruto e que explode ao se reconhecer no personagem do livro.

Visualmente a trama tem cenas bem intensas de sexo, mas sem grandes atos explícitos (tirando as imagens dos sites do computador do rapaz), que para alguns pode incomodar, mas que funciona para a proposta, mostrando os diversos tipos de contratantes entre casas mais simples ou apartamentos mais amplos e requintados, hotéis, boates e restaurantes, mas também tendo o vértice mais cultural como a casa do senhor cheia de bons livros e músicas, quadros, e até mesmo as famosas leituras em anfiteatros, ou seja, a equipe de arte foi bem colocada, sem precisar exagerar.

Enfim, não é um filme que muitos terão a ousadia de ver pelo tema ser homossexual, ter cenas de sexo e tudo mais, mas que quem der a chance sem pré-conceitos acabará gostando bastante do longa que já ganhou uma boa quantidade de prêmios em diversos Festivais, então deem a chance. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da Mention Assessoria e a Imovision pelo screener incrível, e volto amanhã com mais textos, então abraços e até breve.


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