Quatro Paredes (Black Box Diaries)

2/25/2025 11:59:00 PM |

Costumo dizer que o jornalista já nasce sabendo que vai fazer um documentário sobre algo na sua vida, pois fico pensando o que leva ele a filmar todo o processo de um caso seu, claro que no caso do concorrente ao Oscar, "Quatro Paredes", a jovem usou tudo para justificar a briga judicial, mas já vi tantos outros documentários que você fica olhando para a tela e fala: "impossível a pessoa pensar que isso seria útil para um filme daqui anos!". Dito isso, a frase inicial do longa diz muita coisa, pois ele certamente trará gatilhos imensos para quem já sofreu qualquer tipo de abuso, e de vítima acabou virando quase culpado frente a mídia toda, e digo mais, se a diretora/protagonista do documentário não fosse jornalista, certamente ela teria sofrido muito mais repressão do que mostra no longa, pois alguns grandes não entraram em conflito com a moça por saber que talvez isso viria a aparecer algum dia, como no caso o delegado que foge em determinado momento. Ou seja, é daqueles filmes que você inicialmente parece que não vai se conectar, mas a jovem soube usar muito o material filmado no desenvolvimento da sua busca por justiça, que acaba ficando interessante de ver, mas tem um grande detalhe na briga com os demais documentários concorrentes (ou melhor dos três que eu conferi), esse é o mais jornalístico deles, e isso pesa contra numa análise de filmes como é o caso do Oscar, pois para ele ficar mais com cara de filme mesmo, ela teria de ter pego alguns depoimentos e/ou usado coisas das mulheres do #MeToo que ela chega a citar em determinado momento.

Um escândalo, uma conspiração e uma tentativa de ocultar os fatos. A noite que mudou a vida da jornalista japonesa Shito Ito se transformou num caso emblemático no país. O longa acompanha a jornada corajosa de Shito Ito para reunir provas contra seu estuprador. Em 2017, a repórter foi a público revelar o fato de ter sido abusada sexualmente pelo jornalista e biógrafo do então primeiro-ministro Shinzo Abe. Após revelar sua dor para o mundo, Shito Ito é arrastada para o centro da política e dos holofotes midiáticos do país, sendo hostilizada por diferentes detratores. Documentando em tempo real a investigação de Ito e os obstáculos que enfrenta diante das raízes patriarcais da sociedade japonesa e do sistema judiciário do país. Com gravações de áudios reveladoras, vídeo-diários do cotidiano de Ito e imagens da averiguação no tribunal, o documentário coloca em evidência a espiral de violência, ameaças e ódio que se tornou a vida da jornalista.

Um ponto muito favorável da diretora Shito Ito é que por ser jornalista e claro por ser o seu próprio caso, ela soube editar muito bem a grandiosa quantidade de 8 anos de filmagens para que no longa de 102 minutos tudo ficasse bem dinâmico e claro favorável aos seus melhores ângulos e momentos, de modo que a trama fosse comovente, cheia de entregas fortes e com impacto, e assim sendo o resultado chegasse aonde vem chegando com muitos prêmios e indicações. Porém o grande impacto mesmo do longa é ver o quanto o Japão gigantesco e cheio de políticas forte é tão atrasado nas leis de abusos, pois volto a frisar o que coloquei no começo do texto, se ela não fosse uma jornalista influente e corajosa, certamente essa história teria tomado outros rumos, e é bem isso o que ela quis mostrar com seu filme, pois não iria se expor dessa forma tão facilmente, e assim sendo o longa acaba tendo duas grandes propostas, a sua de ego e cura mostrando como superou tudo o que aconteceu, e de ensinamento e tristeza pelas leis de seu país, ou seja, foi aonde deveria e chamou muita atenção em cada uma das gravações que fez (inclusive da sua própria família sendo contra ela seguir com a acusação!).

Enfim, é daqueles longas que entregam mais do que apenas vemos na tela, pois serve como reflexão do sistema de leis, serve para vermos o quanto uma carreira pode decolar para os dois lados dependendo de como for visto o resultado final, e principalmente mostra como uma mulher corajosa consegue ir além se não se fechar no mundinho que alguns a colocam em determinados atos, pois a trama engaja e tem estilo, mas também mostra muito o terror que fica a mente de uma pessoa abusada que ninguém quer lhe ouvir, então fica a dica para a conferida, que mesmo tendo esse teor jornalístico que falei não cansa, e assim vale o que é mostrado na tela. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da Atômica Lab pela cabine, e volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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