Sem Chão (No Other Land)

2/22/2025 08:24:00 PM |

Costumo dizer que em um conflito você precisa ver a opinião dos dois lados, mas como entender quando um israelense e um palestino resolvem filmar a destruição das aldeias dos moradores da Cisjordânia por anos pelo exército de Israel com base apenas para criar espaço de treinamento militar com ajuda de colonos que se dizem donos das terras? Fica essa a pergunta para aqueles que tanto defendem a eliminação da Palestina e enaltecem Israel nos conflitos e matanças que andam e andaram fazendo por lá, que claro também existem retaliações e grupos rebeldes do outro lado, mas quem conferir o longa "Sem Chão" feito por repito dois jovens de ambos os lados vai sentir o impacto visual da destruição até 2023 que foi quando acabaram as filmagens. Diria que o longa oscila bastante com as conversas dos dois rapazes principais, mas todos os atos no meio do conflito, nos protestos e até correndo do exército já que alguns declaravam que iriam pegar eles longe das câmeras funcionam demais de forma representativa e simbólica também na tela, sendo intenso e marcante pela essência completa mostrando essas pessoas perdendo suas casas, com praticamente tudo dentro enquanto as escavadeiras vão botando tudo abaixo. O longa estreia nos cinemas brasileiros no dia 06/03, mas quem sabe já terá levado o Oscar no dia 02, pois força ele teve em tudo o que mostra na tela.

O longa mostra a aliança inusitada e cheia de contradições entre Basel Adra, um jovem militante palestino, e Yuval Abraham, um jornalista israelense. O documentário filma as ruínas e a terra arrasada que se tornou Masafer Yatta, um conjunto de vilas palestinas localizadas na Cisjordânia ocupada. Desde muito cedo, durante a infância, Basel testemunha e luta contra a destruição das casas e escolas locais e as desocupações violentas de sua comunidade pelo governo e pelo exército de Israel. Ao conhecer Yuval, ganha um aliado do lado inimigo, formando uma amizade de correspondências políticas e filosóficas. Sua relação, entretanto, permanece complexa, uma vez que, enquanto Basel vive sob as agressões e a prisão da ocupação militar israelense, Yuval vive livre e sem restrições.

Posso dizer que o trio de diretores Yuval Abraham, Basel Adra e Hamdan Ballal não tiveram bem um roteiro de filmagens, mas sim foram vivendo tudo o que ia acontecendo durante os cinco anos que passaram a captar imagens das desocupações pelo exército, e também as discussões entre eles sobre política e claro suas vidas, juntando também material de filmagens antigas de quando o jovem Basel era apenas um garoto e seu pai um ativista que deu entrevistas para outros documentaristas, viu Tony Blair passar pela vila e tudo mais. De modo que a trama tem uma pegada ao mesmo tempo que sentimental por vermos as casas das famílias sendo destruídas, também com um contexto bem maior político, afinal eram filmagens dos dois lados, mas somente atacavam o palestino, ou seja, conseguiram captar bem essa dinâmica e claro a brutalidade dos soldados para com os moradores, que vindo com ordens de despejo assinadas não podiam fazer muita coisa a mais pelo que eram contratados, mas fica nítido que o ataque era pessoal.

Ou seja, não costumo comentar muito documentários, pois é algo de sentimento mesmo e ver na ótica passada na tela o que os diretores tentam nos mostrar, de forma que aqui como técnica mesmo usaram câmeras simples, celulares e tudo mais que fosse disponível, correram muito tendo imagens até bagunçadas, algumas quebras de eixo, mas nada que incomode, afinal conseguiram documentar realmente o período e passar sua ideia politizada na tela.

Sendo assim, deixo a recomendação para que todos que puderem confiram o longa a partir do dia 06/03 nos cinemas nacionais, tirem suas conclusões ou mudem suas percepções sobre o conflito entre Israel e Palestina, e fico por aqui agora agradecendo o pessoal da Atômica Lab e da Synapse Distribuidora pela cabine de imprensa, e volto em breve com mais textos, então abraços e até breve.

PS: Não dei nota máxima apenas por achar que faltou um pouco mais de colocar o público presente na trama, deixando um pouco aberto a síntese da trama, mas ainda assim é um tremendo filmaço, e veremos como irão sair na premiação!


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...