Um Completo Desconhecido (A Complete Unknown)

2/28/2025 01:22:00 AM |

É muito interessante ver no cinema uma biografia de uma pessoa que ainda está viva, e que possivelmente opinou em detalhes para que o rumo do que fosse entregue na tela não destoasse tanto de sua história, e como costumo falar, adoro ver biografias na tela de pessoas que conheço pouco ou quase nada, pois você acaba entrando na onda completa de tudo o que estão te mostrando independente de que o diretor ou o roteirista tenha inventado muita coisa para que a trama funcionasse como cinema, o que aparentemente não é o caso aqui, afinal pesquisando sobre "Um Completo Desconhecido", a única coisa que foi exigida pelo verdadeiro Bob Dylan é que mudassem o nome de sua namorada da juventude na tela em respeito ao carinho que tinha por ela, e assim fizeram, o que não atrapalha em absolutamente nada, pois tudo na tela foi bem carinhoso e funcional. Dito isso, um medo que estava da produção é que Timothée Chalamet ficasse muito "dopado" com o estilão do personagem, e que a dublagem da voz icônica do cantor não combinasse com o ator, mas pelo contrário, o ator fez diversos cursos e traquejos, e pasmei ainda mais, que ele cantou as canções em estúdio para que o filme ficasse com sua voz e não mixagens, ou seja, vemos na tela algo com um tom levemente diferente do que ouvimos em alguns discos, mas que combinou demais, e assim o resultado foi muito além do que era esperado.

Situado na influente cena musical de Nova York do início dos anos 60, Dylan, o jovem músico de Minnesota, tem apenas 19 anos e caminha rumo à sua ascensão na música. Passando de cantor folk, para as salas de concerto e ao topo das paradas, culminando em sua performance inovadora de rock and roll elétrico no Festival Folclórico de Newport em 1965, definindo um dos momentos mais transformadores da música do século XX.

Diria que o diretor e roteirista James Mangold que já entregou cenas bem intensas na tela com outros filmes violentos foi até sutil demais com o que fez aqui com seu trabalho, pois mesmo tendo todo um traquejo paz e amor do protagonista, ele não pôs em cena nenhuma droga ou bebida fora de muitos cigarros tradicionais e um ato com uma garrafa de bebida, de resto é apenas um jovem que praticamente não dorme compondo músicas e que brilhantemente se jogava para onde desejava, e não para onde o obrigavam a ir, e com isso conseguiu o sucesso. Ou seja, o diretor foi sintético e emocional para que o tom musical funcionasse bem demais, e que os atores conseguissem representar ao máximo os seus momentos na tela, agradando com estilo e desenvoltura, sem precisar apelar ou sair da base, e assim o filme tem técnica, mostra bem os anos 60, e entrega quase um festival folk na telona, aonde vemos grandes nomes do estilo com canções icônicas e que valem o tempo de tela.

Quanto das atuações, muitos vão reclamar do estilo meio largado que Timothée Chalamet fez para seu Bob Dylan, mas caiu tão bem na tela, sendo algo singelo e ao mesmo tempo imponente, com traquejos de voz bem dominados, e principalmente ao saber que o ator gravou todas as canções realmente para que o filme ficasse com sua voz e não duplas dublagens, aí esquece e deem para ele logo as premiações, pois mostrou que sabe fazer bem quando é bem dirigido, e isso já faz tempo. Edward Norton está tão solto, feliz e emocional com seu Pete Seeger que transmite carisma em todas as suas cenas, ao ponto de que você fica até bravo com o protagonista nas cenas finais por meio que não ajudar quem lhe deu a oportunidade de iniciar no meio, e essa entrega do ator foi muito funcional para que o filme fluísse bem, ou seja, agradou do começo ao fim. Quem botou o vozeirão também para jogo foi Monica Barbaro que trouxe estilo para que sua Joan Baez ficasse marcante na tela, cantando sozinha ou junto do protagonista conseguiu chamar muitos atos para si, sem ofuscar as boas entregas dele, e assim agradou bastante. E claro ainda tivemos Elle Fanning perfeita com sua Sylvie integrando atos românticos e emotivos com o protagonista, mostrando claro o grande amor da juventude do astro que acabou meio que deixada de lado quando sua carreira decolou. Ainda tivemos muitos outros grandes atores na tela, fazendo personagens marcantes do folk americano, valendo os destaques para Boyd Holbrok como Johnny Cash e Big Bill Morganfield como Jesse Moffette, mais pelas lendas que foram mostradas na tela.

Visualmente o longa entrega uma precisão cirúrgica dos anos 60 na tela, com muitos carros da época, os gigantes festivais sejam abertos ou em teatros, os bares que dividiam shows de folk e blues, com figurinos bem encaixados, cabelos e maquiagens clássicos, e claro uma personificação bem trabalhada do jovem Bob que conseguiu ser desenvolvida com classe e boa dinâmica para que não ficasse nada pesado na tela, além de termos um hospital meio que caindo aos pedaços aonde a lenda do folk Wood Guthrie estava hospitalizado e os apartamentos e TVs da época mostrando o desespero dos americanos na Guerra Fria, e claro o conflito da segregação aonde os personagens brigavam muito com seus ativismos, ou seja, tudo muito bem direto e funcional.

Por ser um longa musical já iria compartilhar com vocês a trilha sonora do filme, e já adianto que está incrível como já disse inteira cantada pelos atores do longa, e claro são músicas de Bob Dylan e outros cantores folk, não sendo daqueles filmes que os personagens cantam as falas, então podem ver tranquilamente, e claro deixar a trilha para ser ouvida em casa curtindo um bom som com o link que deixo aqui.

Enfim, é um filme que envolve demais, que tem estilo, que faz você viajar com as canções tão bem colocadas na tela, e claro conhecer um pouco do cantor, de modo que talvez por ser fechado em uma época e depois contar muito mais nos escritos finais tenha perdido um pouco o brilho completo para uma nota máxima, mas ainda assim é um tremendo filmaço que vale a pena ser conferido na telona, tanto que está concorrendo a 8 Oscars (Filme, Diretor, Ator, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante, Roteiro Adaptado, Som e Figurino). E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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