A sinopse nos situa em meados do século XIX, aonde um grupo de sobreviventes do naufrágio de um navio negreiro, brancos e negros, dão um ar diferente a uma ilha deserta, perdida em algures no Oceano Atlântico. A luta pela sobrevivência e pelo poder vai inverter os valores morais e sociais da época. Isolados, será possível que deixem de lado o passado das relações de poder e subjugação e encontrem uma nova forma de viver em harmonia?
Não posso dizer que conhecia o estilo do diretor José Barahona antes do filme de hoje, pois filmes portugueses raramente aparecem por aqui sem ser nos Festivais do Sesc, pois tem um costume infelizmente repetitivo e cansativo, então mesmo nos streamings são raros os casos que aparecem por lá, porém a ideia do roteiro do diretor e de José Eduardo Agualusa é algo que vale demais para se refletir, pois e se no Brasil tivesse ocorrido o inverso, com os negros escravizando os brancos, se uma revolta maior tivesse ocorrido para mudar os motes sociais? E a estrutura narrativa que o diretor consegue desenvolver até tem seu gracejo, não é algo que cansa, e deu boas dinâmicas entre os personagens, ou seja, se o filme fosse colorido com presença maior e intensa dos diálogos finais, talvez víssemos uma grandiosa obra reflexiva, mas como a trama "enrolou" demais nos conflitos dos próprios brancos no começo e usou de uma fotografia preto/branco apenas para minimizar falhas, o resultado acaba não chamando tanta atenção quanto poderia.
Quanto das atuações, vale dar um bom destaque para Miguel Damião com seu Fradique Mendes por saber segurar a dinâmica na tela, ser político nas relações do ambiente, e se conectar bem com o negro para desenhar a estrutura ali, de modo que o ator teve atos de impacto e chamou bem a cena para si nos momentos que precisava, agradando sem precisar forçar na tela. Allex Miranda também entregou a boa base com seu João Salvador impondo regras e traquejos sociais, como o único ali que sabia realmente fazer as coisas, e o mais bacana foi ver a sua invertida quando vê no meio de duas "famílias" e o que tinha que fazer realmente, ou seja, o ator é o miolo de tudo e entregou bem o que precisava fazer. Ainda tivemos Paulo Azevedo entregando tudo que um padre nunca deveria pensar, mas como bem sabemos no passado a maioria era extremamente racista, Anabela Moreira com sua D. Emília achando que no meio de um conflito ainda teria suas posses e classes, Roberto Bomtempo fazendo um Gregório clássico de um marujo sem rumos e escrúpulos pronto para atacar a qualquer momento, e Kim Ostrowskij fazendo uma jovem Inês meio que jogada na tela, mas que trouxe um ar mais alocado na tela.
Visualmente o longa não entrega nada a mais que uma praia, alguns bem poucos destroços do navio como uns 2 ou três baús, aonde acham um jogo de xadrez, algumas roupas e uma sombrinha, uma barrica de vinho, um facão, algumas cordas e nada mais, aonde os personagens fazem algumas armas para pescar, e depois é só andam (com um erro meio que estranho, pois usam a corda para subir o morro, e na cena seguinte estão andando pela praia novamente), aí chegando aonde estão os demais negros que escaparam do naufrágio vemos já artefatos de pesca que fizeram e como a "colônia" está mais desenvolvida.
Enfim, é um longa de proposta interessante que talvez poderia ter ido mais além, mas que funciona na tela e passa uma boa reflexão dentro do tema. Deixo então a dica para a conferida nos cinemas a partir do dia 24/04, e eu fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da Pandora Filmes e da Sinny Assessoria pela cabine, então abraços e até breve com mais textos.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...