Diamantes (Diamanti)

11/25/2025 01:54:00 AM |

Costumo ficar pensando como alguns diretores possuem tantos contatos para seus filmes, pois muitas vezes a trama é algo tão simbólico que o ator ao ler o roteiro fica pensando será que compensa botar meu nome nisso, mas como tem a parceria com o diretor, vai lá e faz. E o que é mostrado no longa "Diamantes", que pode ser conferido dentro do Festival de Cinema Italiano no Brasil, é bem isso mesmo, pois vemos um diretor que deseja criar uma homenagem aos ateliês de figurinos para cinema, mostrando o desenvolvimento, conflitos e criatividades, mas não bastando ser básico, ele quis colocar todas suas atrizes preferidas da Itália, contando com as mais novas estrelas até as grandes que já fizeram sua história, e o que acabou acontecendo? Sucesso absoluto de vendas de ingressos no país, além de prêmio de Filme do Ano no Nastro d'Argento, ou seja, uma junção simples, mas que fez história, pois a trama é bem básica, sem grandes anseios, mas funciona, mesmo tendo um estilão bem novelesco.

Situado em Roma nos anos 1970 e atualmente, o filme explora a jornada das irmãs Alberta e Gabriella Canova, donas de um renomado ateliê de figurinos cinematográficos, e das habilidosas mulheres que nela trabalham. A trama desenha uma rica tapeçaria de memórias, solidariedade, ambições e desafios, celebrando a força feminina e a arte do figurino no cinema.

Diria que o diretor e roteirista Ferzan Özpetek foi bem coerente na sua forma de homenagear as mulheres, e principalmente as figurinistas e costureiras que dão vida para os cinemas, sabendo encontrar materiais e simbolizar tudo o que um diretor deseja ver na tela, e só não diria que ele foi perfeito, pois optou por um dos estilos menos necessários que é o novelesco, tentando trabalhar diversas personagens, dinâmicas diferentes e até algumas esquetes soltas, de tal forma que seu filme até tem um volume interessante, começa bem deixando o público curioso, mas do miolo pra frente começa a se enroscar demais, resultando em algo bacana de ver pela ideia em si, mas fora de um padrão comum que o pessoal costuma conferir.

Quanto das atuações, é interessante que o longa dá bons momentos para praticamente todas as atrizes, e ficar falando de cada uma aqui faria o texto ficar imenso, então vou focar nas donas do ateliê, que Luisa Ranieri entregou uma Alberta bem imponente, porém cheia de conflitos para desenvolver tanto do lado pessoal, quanto do profissional, mas encaixando trejeitos marcantes e bem chamativos, e do outro lado Jasmine Trinca fazendo uma Gabriella mais fechada, com um zelo maior pelas costureiras, aonde a atriz não se jogou tanto, mas soube dosar bem seus olhares. E a que teve um pouco mais de história para trabalhar foi Milena Mancini com sua Nicoletta que apanha do marido que não gosta de seu trabalho, e a atriz soube ser marcante em seus trejeitos para resolver o problema da melhor forma que as amigas indicaram.

Visualmente é bem bacana observar como são feitos os pedidos de figurinos para o cinema, os diversos tipos de tecidos, de experimentos e de desenvolturas com o prazo curto para entregar tudo, vemos quase como uma casa de família aonde as mulheres almoçam e vivenciam tudo ali, além de bons momentos e dinâmicas para detalhar cada elemento cênico presente na ideia do diretor tanto do filme que vemos, quanto do que está sendo criado e da criação.

Enfim, é um longa bem diferente dos padrões normais que estamos acostumados, que poderia até ser ainda mais ousado se não recaísse para o lado novelesco, mas ainda assim conquistou o público italiano, então vale como um exemplar para pensarmos se algum dia isso caberia por aqui. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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A Ilusão (L'Abbaglio)

11/23/2025 11:56:00 PM |

Uma coisa que me deixa bem surpreso em alguns filmes é a possibilidade de conhecer histórias que sequer imaginava, e uma delas era de que a Sicília não fazia parte da Itália e que por lá tiveram várias guerras para tomar a ilha e anexá-la ao continente, algumas com conflitos pesados, que aqui foram mostrados de uma forma menos dura, como se um grande general fosse facilmente enganado da forma representada na tela em "A Ilusão", que pode ser conferido dentro do Festival de Cinema Italiano no Brasil. Claro que a essência de uma guerra foi bem mantida na tela, mas a seleção e as dinâmicas do longa acabaram sendo meio que bobas e lentas demais, demorando demais para que tudo acontecesse realmente, ao ponto que o filme se enrosca todo para quando chega nos finalmente correr a beça e precisar explicar com textos. Ou seja, é um filme com uma história interessante, que pode até ter sido real, mas florearam demais tudo, e o resultado acabou não convencendo como deveria.

O longa nos mostra que em 1860, durante a Expedição dos Mil, Giuseppe Garibaldi enfrenta o poderoso exército Bourbon enquanto tenta conquistar Palermo. Quando tudo parece perdido, confia ao coronel Orsini um plano engenhoso: simular uma retirada com um grupo de feridos e soldados para enganar o comandante inimigo. Começa então uma arriscada partida de xadrez militar, marcada por manobras inesperadas e um desfecho surpreendente.

Diria que o diretor e roteirista Roberto Andò até trabalhou bem as dinâmicas de guerra, criando boas batalhas e sacadas e desenvolvendo seus personagens na tela, porém como a batalha foi bem engenhosa de uma parte para um lado e outra para o outro da ilha, ele acabou brincando demais com todas as facetas dos personagens, de modo que seu filme se perdeu um pouco de essência. Claro que quem me lê sabe que reclamo se os diretores não colocarem ficção em suas obras, mas quando tem algo real como uma guerra, não se pode encher de comicidade, e assim sendo o resultado acabou ficando um pouco frouxo demais, e além disso, mesmo que seja uma guerra de xadrez, daquelas que cada movimento tem de ser muito preciso, tem de ser colocado mais dinâmicas para que o público não perca o entusiasmo com tudo, e isso não ocorreu aqui, o que é uma pena.

Quanto das atuações, Toni Servillo fez um ar meio que preocupado e sério demais para seu Orsini, de modo que como um bom general de guerra, seguiu as normativas de Garibaldi e soube dimensionar toda a encenação para que as dinâmicas enganassem o outro exército bem maior, mas o personagem em si ficou faltando um ar mais imponente de general, o que acabou não chamando tanta atenção. Já Salvatore Ficarra brincou com seu Domenico Tricò, fazendo as nuances claras de quem entrou na guerra apenas para conseguir uma carona para casa, mas sem deixar que os momentos ficassem bobos demais, foi esperto com cada dinâmica e agradou com o que fez, mesmo sendo uma dupla meio sem nexo na tela. Outro que trabalhou bem a personalidade de seu Rosario Spitale foi Valentino Picone, de modo que sendo um picareta de mão cheia, roubando em jogos e tudo mais, soube fazer com que seu papel soasse divertido na medida para que tudo ficasse ao seu redor, mas como disse, acabaram roubando a entrega de uma guerra realmente.

Visualmente o longa foi interessante de pegada, mostrando ambientes simples, porém bem colocados, trabalhando um longa de guerra de baixo orçamento, com momentos intensos de luta com armas corpo a corpo, sem colocar muito sangue para manter a censura, tivemos atos em conventos, numa cidade praticamente vazia, e alguns momentos intensos dentro do navio chacoalhando ao máximo, com boas entregas de detalhes, mas sem ir muito além.

Enfim, é um filme divertido de certo modo, que certamente seria melhor com um ritmo mais intenso e chamativo, que faria o público se envolver melhor com toda a proposta da guerra, além de talvez não forçar tanto para o lado cômico, mas o cinema italiano gosta dessa formatação mista, então temos de entrar no clima quando vemos em festivais. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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Amazon Prime Video - Depois da Caçada (After The Hunt)

11/23/2025 03:44:00 AM |

Por assistir tantos filmes, muitas vezes me deparo com algumas tramas que parecem que já assisti antes, e dessa forma fico sempre esperando aquele algo a mais na maioria das produções que confiro. Dito isso, tenho a nítida impressão que vi muito recentemente uma trama muito semelhante ao longa "Depois da Caçada", que incrivelmente nem teve um grande período nos cinemas entrando em cartaz dia 08/10 e agora já dia 20/11 chegou na Amazon Prime Video, trabalhando o conceito de ética e moral quando usam de mentiras ou não para se promover numa sociedade, empresa, faculdade ou até mesmo num relacionamento, desejando acabar ou manchar a vida de outra pessoa envolvida, e essa ideologia é interessante dentro do cinema do diretor Luca Guadagnino, pois ele sabe bem trabalhar a estética e o clima de tensão em seus filmes, o que deu uma nuance digamos "nova" para esse trabalho, porém faltou exatamente o que está escrito no topo do pôster que é deixar o espectador também desconfortável com a entrega, e isso não ocorreu aqui. Ou seja, é um filme bem denso, aonde a situação ocorre com muitas vertentes, que daria para impactar mais, mas que ainda assim é bem bom para discussões morais e éticas envolvendo relacionamentos em ambientes corporativos ou estudantis, que talvez funcione mais para alguns do que para outros, talvez crie gatilhos para alguns, mas que não conseguiu me incomodar como a proposta pedia, e em um filme desse estilo, isso é preocupante.

O longa nos conta que Alma Imhoff é uma professora universitária apaixonada pela sua profissão. No entanto, ao receber uma notícia surpreendente, a sua vida é completamente transformada. Maggie Price, a sua aluna prodígio, realiza uma denúncia extremamente grave contra um de seus colegas de profissão. Enfrentando um grande desafio, além de precisar lidar com a acusação feita com Hank Gibson, Alma precisa tomar cuidado para que um segredo obscuro de seu próprio passado não venha à tona.

Ainda acredito que o diretor Luca Guadagnino deveria ter sido indicado a mais premiações por "Rivais" do que por "Me Chame Pelo Seu Nome",  mas isso é uma opinião sobre o estilo e a desenvoltura que me convenceram bem mais na pegada do que por algo da narrativa em si, e aqui nesse longa em mais de um momento se fala em plágio, porém ainda acredito que a atriz e roteirista estreante Nora Garrett se baseou (ou plagiou) outra história que já vi bem recentemente ("O Bom Professor"). Porém, deixando isso de lado, o estilo do diretor de criar tensão ficou por conta da trilha sonora incomoda entremeada com o tema, afinal sabemos que essa dinâmica de certo ou errado nas relações, do "não" servir como uma boa desculpa do consensual ou não, e assim essas aberturas que o diretor acabou brincando foram bem floreadas na tela, de forma que até convence, mas volto a frisar que faltou seu diferencial, e aqui cairia como uma luva dar uma apimentada em tudo.

Quanto das atuações, é até engraçado ver Julia Roberts em um papel que não precisou ir além na tela, parecendo estar com muita segurança para que sua Alma não fosse insegura quanto de suas atitudes, e mesmo que isso seja algo bacana de ver com sua experiência monumental, ficou em alguns momentos parecendo até soar arrogante demais, o que não era do papel, até claro antes do ato final, ou seja, a atriz poderia ter passado alguns atos menos fechada para que tudo ficasse aberto para algo mais inseguro. Agora falando no quesito arrogância, faltou para Ayo Edebiri uma perspectiva menos imponente, afinal era a sua palavra contra outros muito maiores que ela, e sua personagem Maggie ficou como algo muito fora dos padrões, embora seja alguém muito rica, não poderia ter tanta suntuosidade na tela, então acredito que a atriz se jogou muito além da proposta, o que nesse filme não era algo que necessitasse tanto. O personagem Hank que Andrew Garfield entregou tinha mais para impactar e causar, de modo que o ator não foi tão usado quanto poderia, ou melhor, pagaram um cachê caro para um ator tão famoso, em um papel que qualquer ator jovem entregaria da mesma forma, ou seja, ficou devendo ele e o personagem. Quanto os demais, diria que tivemos algumas cenas bem colocadas de Michael Stuhlbarg com seu Frederik e Chlöe Sevigny com sua Dra. Kim, mas nada que fosse impactante o suficiente para dar grandes destaques para eles.

Visualmente posso dizer que estou muito feliz de ter visto o longa em casa, pois ele tem muitas cenas escuras que na maioria das salas de cinemas atuais nem veríamos nada na tela, mas diria que alguns ambientes bem ricos, mostrando a casa da professora como algo de altíssimo nível intelectual, tivemos alguns atos em salas de aula e salas de discussões, uma reitoria bem trabalhada, mostrando claro o nível da universidade, e também alguns atos em bares e lanchonetes, além claro do antigo apartamento da protagonista no cais, bem simples e praticamente sem nenhum móvel, quase como algo abandonado.

Enfim, é um filme que tinha mais potencial, afinal com um diretor renomado e um elenco de peso dava para ir muito mais além na tela, e discutir muito mais sobre tudo, ficando bem em segundo plano para causar como deveria, e nesse sentido talvez tenha sido o problema do roteiro ser de uma estreante no cargo. E é isso meus amigos, deixo essa recomendação como algo mediano, mas quem gosta de estudar um pouco das relações filosóficas pode ser que sirva de material, mas não vá esperando muito dele, senão irá se desapontar. Fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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Silvio Santos Vem Aí

11/22/2025 10:40:00 PM |

Hoje fui ao cinema com praticamente um carrinho de pedras para tacar no longa "Silvio Santos Vem Aí", pois desde o dia que vi o trailer ficou na minha mente que era um exagero estar fazendo mais uma obra sobre o comunicador, ainda mais com Leandro Hassum, que sabemos que é um ator cheio de exageros na forma de atuar, mas posso afirmar que após conferir voltei com o carrinho cheio de volta, ainda mais pesado pela ótima entrega do ator que não tentou imitar Silvio, e principalmente por trabalhar tudo dentro de um contexto que não ficou jogado como "mais um", e sim como um "definitivo", já que a história trabalha o período que Silvio tentou entrar para a política, e alguém que não era fã dele foi colocada para acompanhar e conhecer mais sobre o homem, não o personagem, e com isso nos colocamos no mesmo papel de Manu Gavassi, como alguém que não era apaixonada pelo que ele fazia nos palcos, mas que não conhecíamos de sua entrega com suas colegas de trabalho da plateia, da atenção para com as crianças no programa infantil, da conexão com a esposa atual e a que morreu no passado, e claro com os funcionários mais próximos, sendo algo que foi muito mais do que a política em si colocada em segundo plano, mas um filme sincero e gostoso de acompanhar. Ou seja, é daquelas tramas biográficas que vale a atenção, que funciona como não se espera, e que estreou na época mais errada possível, pois no meio de uma tonelada de blockbusters vai acabar sendo esquecida, o que de forma alguma merecia.

O longa acompanha os bastidores do programa de auditório que virou marca registrada e consagrou Silvio Santos como um dos maiores comunicadores do país. A trama se passa em 1989, logo após Silvio se candidatar, para a surpresa de todos, à presidência da república. A jornalista e publicitária Marília é, então, convocada a trabalhar na equipe do apresentador com o intuito de investigar sua vida e prever qualquer tipo de ataque e jogo sujo de seus adversários. Apesar de desconfiada, Marília é conquistada pelo carisma do comunicador, gerando uma parceria, mas também muitos embates. Embora um ícone da TV, Silvio é reservado e o convívio dos dois trará descobertas surpreendentes, com ambos sendo transformados no processo.

O que mais me surpreendeu foi ver a diretora Cris D'Amato que é conhecida por suas comédias, o roteirista Paulo Cursino que também é muito conhecido pelas comédias e Leandro Hassum que é um ator de comédias se juntarem para algo que não é uma comédia, embora até muitos tenham levado a candidatura de Silvio Santos como uma piada, mas a essência biográfica ficou marcada por algo com uma comicidade leve e em segundo plano, sendo sincera e gostosa de conhecer o personagem, ou melhor, o homem Senor por trás das câmeras, e dessa forma toda a entrega acabou sendo tão gostosa, que mostra que quando querem acertar, esse grupo de peso sabe fazer muito bem, pois a trama não tem uma vírgula que você olhe e fale que mudaria para algo diferente. Ou seja, é daqueles filmes que conseguimos enxergar bem a história que o roteirista tentou nos contar, quanto a diretora conseguiu nos levar para a época e trabalhar esse desenvolvimento na tela, de tal forma que o resultado flui fácil, nos faz prender os olhos na tela, e o resultado final acaba sendo surpreendentemente bom, pois tinha tudo para dar errado, mas não deu.

E falando do que poderia dar muito errado, afinal tanto no trailer quanto numa das primeiras cenas do longa vemos a protagonista falando que todo mundo acha que sabe imitar Silvio Santos, então o maior medo do público era ver depois de 3 ou 4 filmes que literalmente fizeram imitações ruins do verdadeiro, imaginar como seria com Leandro Hassum, que já fez muitas imitações e é um comediante que ou você ama ou odeia, ou seja, era um risco imenso que quiseram arriscar, e felizmente Hassum fez o mais certo, que era não imitar o Silvio, e sim deixar fluir como algo natural na tela, e isso ficou mais perfeito do que se ele tivesse pego para fazer qualquer outra pessoa, pois não vemos uma caricatura na tela, mas sim um homem que era sim multimilionário, mas que se divertia com o que fazia, saindo não para trabalhar, mas sim fazer o povo sorrir, e o ator conseguiu isso, pois saímos da sessão com um sorriso estampado na cara. Outra que poderia falhar demais era Manu Gavassi, pois seu jeito de atuar poderia não passar uma seriedade tradicional de uma jornalista e publicitária bem empossada, mas conseguiu dar um tom leve e bem colocado para que sua Marília fosse bem desenvolta e conquistasse o carisma do público, e principalmente do protagonista, fazendo atos bem dinâmicos e graciosos para que não ficasse uma personagem seca, e isso acabou agradando na tela. Ainda tivemos outros bons papeis, mas a base mesmo ficou com os dois personagens, valendo leves destaques para Marcelo Laham como Raul dono da agência de propaganda contratada pelo partido, e Regiane Alves dando um tom bem meigo para Íris Abravanel, mas sem grandes momentos que quebrassem o elo dos dois principais.

Visualmente a equipe fez um belo trabalho de época, com televisores e telefones antigos, pagers, orelhões, roupas bem tradicionais do final dos anos 80, formas de montagens com recortes nas equipes publicitárias (hoje no celular mesmo fariam o que o diretor da agência queria), vemos os vários programas antigos do apresentador, todos muito bem representados na tela em detalhes, e com todo o contexto da trama trabalhando um SBT das origens, que consegue chamar atenção e funcionar. Ou seja, é um filme que você vê boa base, ângulos muito bem escolhidos (a cena do almoço da protagonista com Lombardi sem mostrar o rosto dele sempre com algo inusitado é de um primor que chega a espantar!), e assim funcionou de várias formas na tela.

Enfim, é um filme que vale demais a recomendação, que até poderiam ter explorado mais alguns detalhes aqui ou ali, mas só serviria para aumentar o tempo de tela, pois diferente de muitos outros que desejamos acelerar as dinâmicas para não cansar o espectador, aqui fica aquele gostinho de quero mais, e isso costumo dizer que é um tremendo acerto. Ou seja, vá se divertir com uma história que poderia ter mudado a História do nosso país, afinal aos 45 do segundo tempo tiraram a chance de Silvio concorrer, mas talvez isso estragaria a memória gostosa que temos dele. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas verei mais um longa hoje, então abraços e até mais tarde.

PS: gostaria de ter visto mais Silvio e menos Marília, só esse é o motivo da nota não ser maior, mas ainda assim é um tremendo filmaço do cinema nacional!


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Netflix - O Filho de Mil Homens

11/22/2025 02:24:00 AM |

Existe uma linha tão fina, mas tão fina, que quase nem enxergamos que separa um filme introspectivo de um filme chato e/ou insuportável, e diria que mesmo gostando bastante de tramas introspectivas para refletir sobre o tema proposto, o longa da Netflix, "O Filho de Mil Homens", está no limite do limite dessa linha, ou seja, é o famoso filme que tenho de colocar aquela advertência gigante que se você não está acostumado com tramas de festivais nem passe perto de dar o play nele, pois a chance de você dormir é alta, e quem está dizendo isso é uma pessoa que gosta do estilo, que tem dificuldades para dormir, e precisou voltar uma parte por ter chegado a pegar no sono. Claro que o longa tem uma essência emocional belíssima que raramente vemos ser colocada em uma trama nacional, com nuances bem próximas de um cinema oriental, que trabalha muito esse estilo de dinâmica, mas outro dia falando com um amigo sobre isso, acredito que hoje o público normal não aceita mais esse estilo de trama, que fantasia em cima de temas reais, mas que se perde entre fantasia e realidade, ficando algo cansativo que leva nada a lugar algum, não permitindo reflexões sobre temas, nem sendo completamente alegórico, e aqui infelizmente é desse estilo, e assim não flui.

O longa acompanha Crisóstomo, um pescador solitário no auge de seus 40 anos que carrega dentro de si a culpa por não ter conseguido ser pai. Na procura de um filho sem pai, já que ele mesmo é um pai sem filho, Crisóstomo esbarra com Camilo, um garoto órfão de apenas 12 anos de idade. Logo, eles iniciam juntos uma jornada arriscada, mas recompensadora, de formar uma família nada convencional. No povoado onde vivem, um jovem incompreendido chamado Antonino (Johnny Massaro) e uma mulher fugindo da própria dor chamada Isaura (Rebeca Jamir) cruzam o caminho de Crisóstomo e Camilo. Juntos, os quatro aprendem o verdadeiro significado de família e o propósito de compartilhar a vida.

O mais interessante é que sabemos do potencial que o diretor e roteirista Daniel Rezende tem para adaptar histórias, porém aqui acredito que tenha se perdido na fantasia que o escritor Valter Hugo Mãe entregou em seu livro, e acabou indo para rumos tão com cara de festivais e de agradar críticos, que acabou saindo de eixo, pois repito que não é um filme ruim, muito pelo contrário, tem cenas potencialmente lindas, tem uma trama que permitia algumas reflexões, mas ele que é conhecido como um dos melhores editores do Brasil deixou a trama fluir tão lentamente, com dinâmicas quase inexistentes, e o resultado acabou sendo um marasmo que fez alguém que tem problemas para dormir acabar dormindo, ou seja, falhou em diversos momentos querendo brincar com o lúdico e com o real, e entregou algo que não foi para lado algum.

Quanto das atuações, estou preocupado com as escolhas de Rodrigo Santoro, pois já é seu segundo filme alternativo em menos de um ano, e ele que vinha numa decolada boa de bons papeis, chamando atenção de diversos diretores e tudo mais, está escolhendo tramas introspectivas demais que até mostra muito de si, se jogando completamente para que seu Crisóstomo fosse denso e chamativo, mas esse não é o ator que tem potencial de bater nas cabeças como melhor ator em tudo, então precisa recalcular rota para não virar ator que só faz filme de festival, e acabar sumindo do mapa. O jovem Miguel Martines mostrou muita personalidade e entrega para que seu Camilo fosse simples, porém expressivo, de modo que talvez com dinâmicas mais intensas chamasse mais atenção, porém seu papel é muito submisso na tela, e isso acaba não impactando tanto quanto poderia. Quanto aos demais, tivemos até algumas cenas bem intensas de Rebeca Jamir com sua Isaura e um Antonino bem abobado que Johnny Massaro acabou entregando, não fluindo tanto, mas ao menos não desapontando com o que tinham de fazer na tela. 

Visualmente o longa tem cenas bonitas, tem alegorias com efeitos bem interessantes, e uma fotografia bem suja, parecendo até mais algo desértico do que uma beira-mar, mas a escolha dos tons, a casa extremamente simples de todos ali, todo o visual funcional dentro do mar com o som da concha levando o protagonista para ambientes malucos e que conectam bem com os demais personagens, acabaram mostrando técnica e um trabalho primoroso que nem foi tão usado na tela, mas que a equipe pode dormir tranquila com algo cumprido.

Enfim, é um filme interessante de proposta, que talvez indo para rumos mais dinâmicos e com uma trama escolhendo qual lado tomar (real ou fantasioso) ao invés de misturar tudo acabaria agradando bem mais, mas da forma que foi feita só recomendo dar o play se você estiver com seu sono em dia e gostar muito de tramas complexas que não irá levar você necessariamente para algum lugar, então fica a ressalva. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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O Sobrevivente (The Running Man)

11/21/2025 10:05:00 AM |

Costumo dizer que quando um filme funciona não tem como sair triste da sessão, pois muitas vezes vamos conferir algumas tramas que já dá para saber de cara que é uma bomba completa, e refilmagens tem sido riscos gigantes de falhas, porém confesso que hoje fui assistir ao novo "O Sobrevivente" sem lembrar praticamente nada, a não ser que o protagonista era o Schwarzenegger lá, então acabei vendo como algo totalmente novo para mim, e o que posso dizer de cara é que a trama entregou tanta ação, tanto questionamento crítico e político, tantas nuances do modo de ser e aparecer, que acabou não apenas convencendo o público de tudo o que foi mostrado, mas sim tirou aplausos da sessão que eu estava, e olha que imaginava que isso iria ocorrer ontem na pré lotada de fãs de "Wicked - Parte 2", e acabou não acontecendo. Ou seja, é um filme que vai agradar os machões que querem ver tiro, porrada e bomba, mas também tem um cerne pensante dentro de toda a essência entregue, que quem estiver disposto a enxergar irá curtir bastante, assim como eu e mais toda a sala curtiu.

O longa retrata uma realidade sombria, nos Estados Unidos, onde a economia está em colapso e a violência global se intensifica. Nesse cenário caótico, Ben Richards (Glen Powell) encontra sua única chance de salvar a família ao se voluntariar para participar do violento game show "O Sobrevivente". No programa, os participantes precisam escapar de uma equipe de assassinos profissionais enviados para matá-los durante 30 dias, com a promessa de ganhar um prêmio em dinheiro. Se sobreviver, Ben conseguirá ajudar sua filha doente e tirar sua família da pobreza. O Sobrevivente explora temas como controle estatal, manipulação da mídia e a luta desesperada pela sobrevivência em um mundo cada vez mais brutal e desumanizado, refletindo preocupações sociais e políticas que ainda ressoam fortemente.

Diria que o diretor Edgar Wright soube trabalhar bem a essência de um mundo caótico um pouco além do que estamos vivendo, pois não está muito longe de vermos programas de TV do estilo para que as pessoas tentem sobreviver a caçadas, aliás se estudarmos alguns livros veríamos que alguns países já fizeram desse estilo no passado, e também já vimos outros longas com a pegada de sobrevivência, mas a grande sacada do diretor e roteirista foi a de brincar com seu estilão de ação sem limites, o que deu um tom intenso, forte e cheio de nuances bem encaixadas, além claro de juntar alguma comicidade sem forçar a barra, mas principalmente sendo político na medida para que as críticas num mundo fictício fossem bem reais com as atuais que andamos vendo. Ou seja, ele fez um filmão com sua cara, e já tinha mostrado potencial para isso antes.

Quanto das atuações, tem alguns atores que já estão virando figurinha repetida nas nossas telas, e Glen Powell é um deles, mas sempre trabalhando boas facetas, ele consegue prender a atenção em todos seus longas, e aqui seu Ben Richards tem a desenvoltura necessária para as cenas de ação e também um temperamento forte para seus atos de fúria, ou seja, deu tudo que o personagem precisava e mais um pouco, convencendo da entrega que fez. Josh Brolin trabalhou bem demais como o produtor do programa Dan Killian, sendo daqueles chefões que sabem trabalhar com seus líderes para que não precise sujar suas mãos de sangue, e o ator tem bem essa faceta de vilão, conseguindo impressionar na medida certa com a entrega que fez. Colman Domingo fez bem o apresentador do programa Bobby T, tendo personalidade para conduzir o público à loucura conforme as coisas iam ficando mais quentes na caçada, sendo imprudente e bem chamativo na pegada escolhida. Ainda tivemos outros bons personagens, mas sem grandes nuances que impactassem na tela, valendo citar Emilia Jones com sua Amelia bem usada nos atos de fechamento e Lee Pace ficando a maior parte do filme coberto com uma máscara para que seu McCone fosse imponente, mas quem entregou muito entre os secundários e deu show com sua loucura foi Michael Cera com seu Elton cheio de nuances e Daniel Ezra com seu Bradley explicando bem toda a insanidade dos realities do estilo.

Visualmente a trama teve uma boa entrega bem explosiva, mostrando locações mais fechadas na comunidade aonde o personagem vai se escondendo, tendo casas, hotéis e pousadas de todos os estilos, vemos bastante do palco com um auditório insano, muitos tanques e carros fortes pelas ruas, um avião bem moderno e antes de tudo todo um centro de treinamentos insanos por onde os personagens fazem seus testes para chegar ao programa realmente, ou seja, tudo bem grandioso com muitos tiros, mortes fortes e armadilhas bem trabalhadas no melhor estilo que gostamos de ver.

Enfim, é um longa que fui assistir com uma expectativa até que alta pelo trailer ter chamado minha atenção, mas como sabia que era uma refilmagem fui sem esperar que me impressionasse realmente, porém o resultado final é insano e vale a conferida para pensar em tudo desse meio televisivo e claro de como o mundo anda sendo maquiado. Então fica a dica para conferirem, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até amanhã com mais dicas.


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Wicked - Parte 2 em Imax 3D (Wicked For Good)

11/20/2025 02:55:00 AM |

Se na crítica da primeira parte de "Wicked" eu falei que não cortaria praticamente nada dos 160 minutos de filme, agora na segunda parte posso dizer que facilmente cortaria no mínimo uns 50 minutos dos 138 minutos de projeção, ou seja, somando as duas partes dá um total de 298 minutos, ou praticamente 5 horas que com 3 horas e meia bem cortadas ficaria um tremendo filmaço único daqueles para você sair arrepiado, chorando e tudo mais, mas usando a mesma faceta que falei lá, dá muita dó cortar qualquer coisa de uma produção com 80-90% construída para ser filmada, não tendo excessos computacionais e telas verdes para todos os lados, mas se o primeiro longa flui maravilhosamente bem, com canções que grudavam em nossas mentes, personagens bem apresentados e dinâmicas funcionais, aqui tudo pareceu enrolação para dar tempo de tela, com canções que não empolgam (tirando claro os fanáticos do musical que até choraram de soluçar na sessão!) e dinâmicas sem tantos chamarizes, personagens secundários tendo até importância demais na tela, e assim o resultado ao menos no olhar crítico acaba sendo chato de ver, maravilhosamente lindo na tela, mas com uma história que só faz valer mesmo os 30 minutos finais.

A sinopse que agora, Elphaba e Glinda estão separadas e devem enfrentar as consequências das ações e decisões que tomaram. Enquanto Elphaba segue demonizada como a Bruxa Má do Oeste, exilando-se na floresta de Oz, Glinda vive as glórias de ter se tornado o símbolo da Bondade no reino, morando no palácio da Cidade das Esmeraldas e desfrutando da fama e do glamour de ser amada por toda a população. Quando Glinda tenta intermediar uma reconciliação entre Elphaba e O Mágico, as coisas parecem piorar, afastando ainda mais as duas amigas. A visita de uma garota do Kansas vira tudo de cabeça para baixo, enquanto uma multidão se coloca contra a Bruxa Má, o que obrigará a dupla a se unir novamente.

Posso dizer facilmente que o diretor Jon M. Chu vai ser o terror dos produtores nos próximos anos, afinal aqui ele mostrou que não estava para brincadeira, criando ambientes gigantescos e fazendo com que qualquer editor ficasse com muita dó de cortar qualquer parte, tanto que inicialmente os planos do longa nunca foi ser feito em duas partes, mas precisaram, porém para a segunda parte inteira tivemos muitos atos que acabou faltando dinâmicas imponentes, sendo tudo muito arrastado para valorizar realmente a cenografia e os personagens. Sendo produtor, eu adoro ver cada detalhe, e posso afirmar que dá quase para ver o estagiário anotando rapidamente cada centavo de dólar usado em cada cena, para depois prestar as contas para os investidores, mas para o público normal (não estou me referindo aos fãs) o longa vai ser uma tortura, o que é uma pena, pois a parte um volto a frisar que é incrível. Ou seja, costumo falar que diretores grandiosos demais precisam de um produtor de cena que lhe pode, que fique ao seu redor e fale para ele que já deu, pois depois de gravado você vai querer usar algo que ficou bonito de ver, e nesse sentido colocaria que essa parte dois é um deleite feito para os fãs do musical verem partes que talvez no musical da Broadway foram eliminadas, e eles desejavam ver na telona, então nesse sentido, tudo funciona e emociona os fãs, e você que é uma pessoa normal vai ficar se perguntando o que rolou.

Quanto das atuações, chega a ser repetitivo, mas se jogar em um musical é algo para poucos, pois ter de cantar interpretando exige um algo a mais, e tanto Cynthia Erivo quanto Ariana Grande se jogaram por demais para suas Elphaba e Glinda, ao ponto que aqui já bem empossadas de seus papeis, vemos uma Cynthia mais imponente, mais determinada e sem erros para que suas cenas ficassem bem marcantes, enquanto Ariana já trabalhou algo mais sensível, mais delicado, que até soa engraçado em alguns momentos, porém funciona bem para a proposta, mostrando que foram escolhidas a dedo, e se na primeira parte já tinham mostrado técnica vocal combinada com boas entregas corporais, aqui foram ainda mais além. É engraçado que no primeiro filme Michelle Yeoh ficou menos explosiva com sua Madame Morrible, porém aqui ela quase desbanca como realmente uma bruxa má, sendo firme nas entregas mais fortes e chamando muita atenção no que fez. Ainda tivemos bons momentos de Jeff Goldblum com seu Mágico de Oz, sempre com trejeitos carismáticos bem trabalhados, e Jonathan Bailey precisando até botar o corpo para jogo para chamar atenção com seu Fiyero, mas não desapontaram com o que precisavam fazer. Algo que gostei muito e não vou citar os personagens e atores, foi como cada um virou os famosos personagens que acompanham Dorothy no famoso filme de Oz, mas o resultado tanto visual quanto de entrega dos atores foi bem bacana de ver.

Visualmente não tem como não se impressionar com a quantidade de detalhes em cada ambiente, desde as cenas dentro do castelo do mágico, com um porão detalhado de jaulas, passando pelo esconderijo de Elphaba na floresta e depois seu grandioso castelo com todos os macacos voadores, vemos muitos animais perfeitos de texturas, até a maravilhosa entrada do casamento com as borboletas voando para todos os cantos da sala do cinema em 3D, ainda tivemos todo o aparato da bolha, e ver a pequena Galinda desejando ter sua magia, e claro os diversos figurinos um mais bonito que o outro, com muitos figurantes perfeitamente bem vestidos também tudo dando diversas composições para o cenário. Quanto do 3D do longa, para os amantes da tecnologia o diretor brincou bastante com muitos elementos saindo para fora da tela, tendo claro uma funcionalidade visual de composição, mas também tem muitas cenas que praticamente se desliga por total não tendo nem profundidade de campo, o que não deveria acontecer, já que o longa foi gravado com a tecnologia, mas o mais importante é que funciona na tela.

Esse segundo capítulo do filme tem músicas mais densas, e por isso não são tão emocionais para quem não é tão envolvido na trama, de modo que parece faltar algo que puxe mais nossa atenção, ao ponto que facilmente poderiam entregar tudo sem cantar uma nota só que fosse, diferente do primeiro capítulo aonde somos imersos nas canções, ou seja, acaba sendo bonito de ver elas cantando e interpretando, o bom tom da orquestra, mas não encaixa tão bem.

Enfim, volto a frisar que não é um filme que cansa, mesmo sendo bem alongado, mas que dava para ser mais enxuto para agradar mais a todos, e não só os fãs do musical, de modo que se o primeiro levou várias indicações e prêmios, aqui acredito que deva aparecer somente no conceito visual das premiações, então fica a dica para os fãs irem se emocionar e envolver, e os demais apenas irem para fechar a história, mas sem esperar nada que vá realmente fazer valer como era imaginado. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.

PS: pensei em até dar uma nota menor para o longa, mas meu lado produtor ainda está floreando com todo o visual da tela, então vai ser essa a nota mesmo.


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Memórias de um Verão (The Summer Book)

11/18/2025 12:49:00 AM |

Confesso que demorei para começar a escrever do filme que vi hoje, primeiro pois se existe um estilo de trilha que raspa a trave de me fazer dormir é a tal do pianinho tocando do começo ao fim, que acaba alongando uma trama curta (90 minutos) para algo quase interminável, segundo pois mesmo sendo algo bonito de ver na tela, a trama de "Memórias de um Verão", que estreia na próxima quinta 27/11 nos cinemas, poderia ser descrito como quase uma homenagem de alguém que resolveu transformar em vídeo uma experiência simples na tela, e nada mais. Ou seja, é daqueles filmes que você fica se perguntando se entendeu a proposta, se era só isso mesmo, ou então será que eu dormi e perdi algo, sem nem saber por onde começar a escrever, e detesto isso, afinal gosto de sentir a trama e já vir digitar, e aqui não sabia mesmo o que falar, mas o que posso colocar é que é algo emocional, bonito visualmente, mas sem dinâmica alguma, brincando com algumas facetas do luto, do juntar a família após algum desastre, mas que apenas vai tocando nas fagulhas, sem desenvolver algo que impressione realmente, o que é uma pena.

A sinopse é bem simples e nos conta que após uma grande perda, Sophia, de 9 anos, passa o verão em uma pequena ilha da Finlândia com a sua avó. Juntas, vão aprender sobre o luto, a natureza e criar um laço profundo.

Diria que o diretor Charlie McDowell quis homenagear a verdadeira personagem do livro de Tove Jansson, pois até trabalhou olhares com sua câmera, deu alguns tons bem trabalhados na encenação dos atos, mas em momento algum vemos o desenvolvimento maior do ambiente de luto, da desenvoltura em cima da relação dos personagens, ao ponto que no momento que a garotinha pede a Deus que traga uma tempestade ou faça algo acontecer que já está cansada, você responde automaticamente para ela: "eu também!". Ou seja, faltou uma estrutura narrativa que trabalhasse algo a mais, e isso não ocorre, ao ponto que vemos que não basta ser algo bonito na tela, se não tiver uma história que agrade.

Quanto das atuações, sei que Glenn Close está com quase 80 anos, mas deixaram ela com uns 100 no mínimo para o papel da avó no filme, de modo que seu ar sentimental e entrega foram muito bons, e se não fosse isso talvez o longa fosse algo insuportável de conferir, mas suas dinâmicas foram condizentes com cada ato, seus movimentos bem determinados e chamando a responsabilidade para si botou um ar gostoso de acompanhar que agrada bastante na trama. A jovem Emily Matthews entregou bons traquejos para sua Sophia, porém não conseguiu chamar a responsabilidade para si como uma protagonista deveria, de modo que faltou uma segurança maior da direção para que a jovem pudesse se soltar mais na tela, ou seja, fez o que podia e foi até graciosa em alguns momentos, mas sem ir além. O pai vivido por Anders Danielsen Lie ganhou seu cachê por fazer praticamente nada, no modo de dizer, pois o papel é bem jogado, tendo o momento da tempestade como algo mais chamativo para si, mas do restante é mero enfeite cênico.

Visualmente o longa tem todo um cerne bem bonito da ilha, vemos as dinâmicas acontecerem com a senhora tentando estar o máximo presente, mas sem atrapalhar a conexão, escondendo detalhes que poderiam causar gatilhos como o chapéu, vemos o conhecer outros lugares próximos, tudo simples e bem colocado para que a fotografia desse o tom chamativo na tela, com nuances do sol e tudo mais, mas falta aquele algo a mais para chamar realmente atenção.

Enfim, é um longa que dava para ir muito mais além, que tem uma atriz de qualidade imensa, uma locação belíssima, uma fotografia linda demais, mas que leva nada a lugar algum, que talvez algumas pessoas até possam enxergar algo a mais na tela, mas infelizmente eu não consegui, e assim não diria que recomendo como algo comercial, pois talvez em festivais o pessoal até enxergue esses detalhes, mas com o grande público, não vai rolar. E é isso meus amigos, fico por aqui agradecendo o pessoal da Synapse Distribution e da Atomica Lab Assessoria pela cabine, e volto amanhã com mais dicas, então abraços e até lá.


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Netflix - Nos Seus Sonhos (In Your Dreams)

11/17/2025 12:57:00 AM |

Costumo dizer que para uma animação funcionar bem ela precisa cativar os pequenos e encantar os adultos, tendo texturas na medida, mas principalmente que a história envolva e entregue algo mágico sem soar apelativa demais, e quem vem fazendo um trabalho fenomenal nesse sentido é a Netflix Animation Studios, que antes usava bases de outras companhias, mas que ao criar sua própria vem chamando atenção e acredito que logo mais irá brigar pau a pau com as grandes companhias do estilo. E um exemplo bem marcante nesse ano ficará a cargo de "Nos Seus Sonhos", que estreou na última sexta trazendo algo tão bonito, tão cheio de vida e presença, e o melhor, sem soar bobinha ou ingênua demais na tela, fazendo com que o público brinque com o místico Sandman e pense como seria viver em um sonho real. Ou seja, talvez os menorzinhos não peguem tanto a essência do filme, mas o colorido todo acabará entretendo eles, enquanto os mais velhos, e principalmente os adultos, irão sentir toda a dinâmica que ocorre na tela, com a lição bem colocada de não desejar algo impossível.

No longa vemos que uma menina chamada Stevie e seu irmão mais novo Elliot são transportados para o universo encantado e mágico de seus próprios sonhos. Lá, eles embarcam numa jornada para encontrar o misterioso Sandman, que pode lhes conceder o maior desejo dos dois: uma família perfeita. Para isso, porém, os dois precisarão superar seus medos e uma série de obstáculos enquanto navegam pelo caminho até o mágico. Logo, uma girafa de pelúcia, comidas transformadas em mortos vivos e a temida rainha dos pesadelos são alguns dos desafios que os irmãos precisarão encarar.

Tanto Erik Benson quanto Alexander Wood estão estreando nas funções de direção de longas de animação, porém seus nomes já foram muitas vezes vistos nas equipes de arte de grandes animações conhecidas da Disney/Pixar, e provavelmente veremos muitas vezes mais seus nomes após esse belo trabalho que fizeram aqui, ao ponto de vermos texturas funcionais, sem precisar transformar os personagens em algo realista, vemos também uma história comovente e envolvente bem cheia de bons diálogos e situações, e uma composição gráfica lúdica cheia de nuances bacanas que até entrando nas dinâmicas de canções acabam encantando e divertindo a todos, ou seja, um trabalho impecável para funcionar e chamar atenção, o que mais a Netflix quer desse seu novo braço criativo.

Quanto dos personagens, achei bem fofa e bacana a relação dos irmãos Stevie e Elliot, com boas dinâmicas, cheios de personalidades, e tendo um carisma para com o público bem chamativo, além da ótima dublagem de Maria Clara Rosis e Lorenzo Tironi que deram tons bem infantis, mas cheios de nuance nas confusões que vão rolando, e como já falei a textura dos personagens ficaram bem interessantes de ver na tela, brincando bastante com todo o ambiente e assim agradando por completo. Os pais foram dublados por Olavo Cavalheiro e Marina Mafra, e tiveram boas cenas para passar os problemas na tela, e envolveram bem nos atos de fechamento. Tivemos cenas bem divertidas com o personagem PresunTony que Pierre Bittencourt deu a voz, sendo o ponto cômico do longa, e até foi engraçado ver nos créditos que a versão em espanhol foi de Tony Mortadela. E por fim, mas não menos importante tivemos Mauro Ramos fazendo Sandman com muita imponência, que é algo que sabemos que o dublador sempre entrega.

Visualmente o longa tem seu charme, tem traços e formas interessantes, contando com boas cenas de voos da cama, todo o processo do sonho com as areinhas dançantes, o lance da Pesadélia mudar todo o ambiente bonitinho para algo cheio de zumbis e coisas temebrosas, tudo variando bem na tela entre o lúdico e o real em tons bem chamativos que com certeza irão pegar a criançada. Ou seja, é daquelas animações completas que facilmente nos cinemas encantaria com um bom 3D, mas que ainda não era a hora da companhia estourar nas telonas, então caiu bem na telinha também.

Enfim, é daquelas animações que vale o tempo de tela, teve boas canções bem conectadas com a trama, algumas bem dubladas inclusive, que o resultado final fantasia a nossa mente e pode até fazer alguns soltarem algumas lágrimas, então fica a dica para dar o play junto com a família toda. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.

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Livros Restantes

11/16/2025 06:54:00 PM |

Muitas vezes na correria levamos um presente para uma festa apenas embrulhado de qualquer forma e são nos detalhes que muitas vezes eles acabam tomando forma, afinal cada momento tem sua vida e espaço na mente. E o bacana do longa "Livros Restantes", que estreia nos cinemas nacionais no dia 11/12, é mostrar toda essa base do rever as dedicatórias dos últimos livros a desapegar antes de mudar de país pela protagonista, e relembrar toda a essência junto da pessoa na despedida, só que reviver coisas do passado pode ser um pouco caótico, e a trama acaba tendo esse elo meio novelesco no miolo, mas o resultado felizmente não se atrapalha já que tendo boa segurança na protagonista, o filme flui e envolve o espectador, passando muito sentimento e reflexão na tela. Ou seja, é um filme denso que tem aquele algo a mais para sentirmos verdade e pensarmos como revemos as pessoas que passaram por nós, mas que no fundo pode ser que apenas foi um presente dado no momento e nem sempre isso é bom!

A sinopse nos conta que cinco livros na estante é o que restou de todas as coisas que Ana Catarina teve que desapegar antes da mudança para Portugal. Com dedicatórias, cheiros e marcas, Ana não consegue doá-los e decide devolvê-los para quem a presenteou. Os reencontros, alguns passados 20 anos, mexem com sua memória, fazendo-a refletir sobre o passado para poder seguir em frente.

Não conheci a cinematografia da diretora e roteirista Marcia Paraiso, mas dando uma rápida olhada em suas obras é notável como ela gosta de trabalhar o sentimental e o envolvimento dos personagens, para que passem bem isso na tela, e aqui temos muito disso, já que uma mudança é algo ao mesmo tempo bom, mas que envolve muitos fatores para se abandonar e deixar para trás, ativando algumas memórias que o tempo apagou por não serem necessárias, mas que podem explodir ao acontecer. Ou seja, é um filme que tem uma densidade tão bem trabalhada pela diretora, que não diria que o papel tenha sido escrito para a Denise Fraga, mas que caiu como uma luva para alguém que sabe como passar esse sentimento na tela, pois talvez em mãos erradas o papel seria fechado demais, e não causaria tudo o que acontece na tela, mostrando um acerto de escolha de papeis, e claro de uma direção certeira também.

Quanto das atuações, já até falei muito da Denise Fraga acima que foi um grande acerto no papel de Ana Catarina, pois a atriz sabe como pegar um papel amplo e trazer aquilo para si, de tal forma que ver ela se despedindo dos livros, de sua casa, de sua praia aonde viveu toda a vida é algo sentimental e intenso, com marcas bem alocadas para chamar a atenção e que contando com trejeitos bem trabalhados passam toda uma sinceridade na tela, ou seja, se o filme não cansa é totalmente pela entrega da atriz, pois tudo é muito calmo, e facilmente teria outro tom, mas ela pegou o papel e o fez como de sua vida. Como é um filme quase que íntimo da protagonista, os demais atores dão apenas as devidas conexões com cada momento, tendo leves destaques para Augusto Madeira como Carlos, o pai de sua filha, com um jeitão mais grosso e que não combina muito com a protagonista, Manuela Campagna como a filha Sofia, Vanderléia Will bem colocada como a mãe Antônia passando grandes lições em suas cenas mais densas, Renato Turnes como o irmão Sergio, e claro Marcinho Gonzaga como Joilton bem emocional em seus momentos com a protagonista.

Visualmente o longa tem uma pegada simples, mostrando a casa da protagonista já completamente vazia, apenas com uma árvore dentro da casa e a estante vazia com apenas os cinco livros, temos alguns atos no restaurante da mãe que ela trabalha, muitos atos nadando no mar de Florianópolis, alguns momentos na orla de Portugal andando e o fechamento no apartamento dela novo com uma estante nova para ser recheada de histórias, tendo no miolo os conflitos sejam em outro restaurante que vai entregar um livro, no carro embaixo de uma chuva imensa, mas tudo sem grandes nuances ou detalhes, refletindo como a vida da protagonista está sendo limpa para recomeçar do zero.

Enfim, é um longa sentimental e bonito de assistir, que muitos irão refletir com tudo o que acaba sendo entregue, enquanto outros apenas irão ver e não sentir nada, afinal não é uma trama ampla que o pessoal comum tanto curte, mas quem se doar para o longa receberá o sentimento de volta, e assim sendo acaba valendo o resultado. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da H2O Films e da Primeiro Plano Assessoria pela cabine de imprensa, e volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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Eddington

11/16/2025 03:12:00 AM |

Hoje foi daqueles dias que vou ao cinema sem saber nada do que veria na tela, pois nem trailer tinha assistido e muito menos lido a sinopse de "Eddington", aliás nem sabia que era do diretor Ari Aster, senão estaria ao menos preparado para a porrada que iria levar, pois sabemos bem que o diretor é daqueles que gosta de chocar e por muitas vezes ir preparando o terreno para que o soco seja bem dado, e meus amigos, que pancada eu levei, saindo do cinema chocado, amarrotado e passado com o que vi na telona, de forma a dizer que esse sem dúvida é o filme mais diferente do diretor, quiçá o melhor dele que já vi, pois é tão insano, mexendo com tantos gatilhos na nossa cabeça, que o resultado vai ficar reverberando um bom tempo na maturação do meu cérebro, pois não é um filme fácil, mas também passa bem longe dos mais difíceis, sabendo brincar com toda a intensidade, e principalmente ser político para mostrar tudo de mais nojento que vimos na política mundial na época da pandemia, e que ainda segue rolando mundo afora. Ou seja, vá preparado para tudo, e se surpreenda com cada minuto, pois vale demais cada impacto que o diretor joga na tela, batendo até nocautear o espectador comum.

O longa se passa em Maio de 2020, durante a pandemia de Covid-19. Na trama, uma desavença entre o xerife e o prefeito de uma pequena cidade do Novo México chamada Eddington rapidamente transforma o local em caos ao estalar um estopim. Vizinhos são colocados uns contra os outros, deixando para trás a serenidade e tranquilidade que aparentemente predominava na cidade.

O mais interessante de tudo é que mesmo sendo bem maluco, esse é o filme mais "comum" do diretor e roteirista Ari Aster, pois entrega algo digamos possível sem ter tantas coisas de outro mundo, magias e esquisitices, mas sim apenas a pessoa de bem que tanto vive com suas armas e que procurava boicotar com gosto todas as normas dos procedimentos da Covid, ou seja, muitos irão ver e conhecer com toda certeza os personagens do longa, e de um modo crítico, mas sem precisar aliviar para nenhum dos lados, o diretor conseguiu causar com muita intensidade e desenvoltura cada ato, trabalhar dinâmicas marcantes que aconteceram realmente, e simbolizar o incomum como comum, dando claro sua pitada de humor negro junto das nuances claras para que o espectador se envolvesse no longa, que por incrível que pareça mesmo tendo 148 minutos não cansa em momento algum. Ou seja, é daqueles longas que você fica pensando como tudo poderia acabar, afinal são fagulhas tão explosivas que nem dá para imaginar o comum ou como apaziguar toda a confusão criada, mas deram um jeitinho à lá gente com muita grana envolvida.

Quanto das atuações, sabemos a qualidade do ator Joaquin Phoenix, mas sequer imaginava o quanto ele poderia ficar insano em uma produção, e olha que já vimos grandes trabalhos seus, mas aqui seu Joe Cross vai ficando tão marcante, tão intenso, tão cheio de dinâmicas com o que faz, sabendo aonde trabalhar seus olhares e trejeitos que acabamos entrando na sua onda, ficamos bravos e revoltados com algumas atitudes suas, mas por fim o que queremos é aplaudir sua loucura, ou seja, deu show, e certamente valeria ao menos uma indicação para ele nas premiações, mesmo o filme não tendo ido tão bem nos EUA. O mais engraçado é que temos muitos outros bons personagens, mas todos funcionam ao redor do protagonista, de modo que Pedro Pascal como o prefeito Ted Garcia tem bons atos de rixa com ele, a sua mulher vivida por Emma Stone mesmo reclusa e estranha caiu bem quando precisou, Austin Butler trabalhou o missionário ou algo do estilo Vernon bem direto, Deirdre O'Connel fez a sogra do protagonista completamente maluca que acaba tendo uma grande participação no final do longa, os policiais vividos por Micheal Ward e Luke Grimes tiveram atos bem intensos e marcantes, e até mesmo o jovem Cameron Mann deu algumas nuances bem interessantes para seu Brian, de modo que vemos todo o lado da politicagem explosiva nas redes sociais, as opiniões mudadas até mesmo por quem pertence a grupos, vemos o caos que foi a pandemia, e toda a loucura do que uma fagulha instantânea acaba virando com o famoso aproveitar as condições para ir incriminando os outros, que cada personagem vai fazendo dentro de suas habilidades.

Visualmente vemos uma cidadezinha no meio do deserto, com uma grande empresa de tecnologia sendo montada, vemos campanhas políticas malucas, toda a insanidade que a pandemia causou juntamente com os famosos protestos após a morte do homem negro por um policial, vemos muitos depósitos de armas, a nuance de limites de municípios. Ou seja, é um longa bem representativo de tantos problemas e dinâmicas, que o resultado visual impressiona desde o começo mais simples com a confusão causada pelas máscaras da pandemia, dos distanciamentos, das conferências por Zoom e algumas escondidas em bares até chegarmos num grandioso tiroteio digno de muitos filmes de guerra, mas com as nuances de um bangue-bangue com inclusive papel ou folhagens passando ao fundo dos protagonistas, e assim o resultado da equipe de arte deu show.

Enfim, é um filme que merecia um sucesso maior, pois é um tremendo filmaço, com nuances que fazem a cabeça do espectador explodir com tudo o que entrega, mas que muitos não vão enxergar tudo o que ele proporciona, o que é uma pena, pois vale demais a conferida, e irei torcer para ao menos o protagonista ganhar alguma indicação nas premiações. E é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.


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Sombras No Deserto (The Carpenter's Son)

11/15/2025 03:15:00 AM |

É engraçado o julgamento que fazemos quando vemos os trailers nos cinemas, pois quando vi o do longa "Sombras No Deserto" meio que de relance, falei: "nossa que filme abstrato estranho", bem a cara dos filmes sem base alguma que o Nicolas Cage anda pegando, mas como me interessei pela loucura que apareceu na tela, fui pesquisar depois, e aí a coisa fez um bom tanto de sentido, principalmente por não lembrar de nenhum filme que tenha mostrado a adolescência de Jesus, sempre na maioria das vezes vemos ele bebê fugindo com a família dos romanos, vez ou outra mostrando alguns anos antes da crucificação, e centenas das famosas últimas horas e dias. Mas eis que chegou o dia de assistir, e fui com um medo monstruoso do que iriam entregar na tela, pois o longa foi classificado como gênero de horror, e misturar história bíblica com um estilo desse é perigosíssimo, porém felizmente o longa é bem interessante, mostrando várias tentações e provações que o jovem rapaz com seus 15 anos precisou passar, sendo colocado diversas vezes contra sua família, e se testando com curas de pessoas teoricamente que não deveria se aproximar, tudo com um Satanás bem colocado para sua idade, ou seja, um filme que os religiosos vão achar meio estranho, mas que valeu pela ideia trabalhada em cima de um livro mais antigo.

A sinopse nos conta que no Egito antigo, uma família vive escondida, tentando escapar de um passado que não pode ser revelado. O Carpinteiro, sua esposa e o Menino sobrevivem entre a fé e o medo de serem encontrados. Quando uma presença sombria cruza seu caminho, o Menino começa a questionar tudo o que acredita, despertando forças que nem ele é capaz de compreender. À medida que seu dom cresce, o confronto do sagrado com o desconhecido se inicia.

Diria que o diretor e roteirista Lotfy Nathan se arriscou bastante, primeiro por mexer em um vespeiro gigantesco que é falar de religião, segundo por trabalhar isso em um estilo de terror, e principalmente por ousar adaptar elementos do Evangelho Apócrifo da Infância segundo Pseudo-Tomé, pouquíssimo conhecido do grande público. Ou seja, tinha tudo para dar muito errado, mas que acabou funcionando, ao menos para os não tão religiosos, pois na sessão que estava ao sair o burburinho era que tinham gostado do que viram na tela, e me senti impactado pela entrega do personagem mostrado, afinal pouco sabemos da infância de Jesus, se ele já cresceu formado com sua ideologia, como aconteceram suas tentações, e por aí vai, que o diretor facilmente poderia ter feito um drama mais denso, porém optou por brincar com o terror, com muita maquiagem para os leprosos, feridas, cenas escuras e grandes impactos na concepção dos personagens em atos fortes. Sendo assim, o que posso afirmar é que deu certo na tela, e que funcionou a loucura toda.

Quanto das atuações, é estranho que Nicolas Cage depois de tantos personagens bizarros tem encontrado papeis interessantes para pegar, e aqui o seu Carpinteiro tem pegada, tem um estilão meio bagunçado entre a fé e a dúvida, de tal forma que chama atenção e não fica apenas jogado na tela, ou seja, é mais um dos papeis bons que guardaremos do ator que tanto faz grandes bombas. Noah Jupe trabalhou seu personagem (que fizeram questão de não chamar nem de Jesus nem de Yeshua até momentos antes do final) com um ar curioso, variando bem entre o bem e o mal que ainda não estava tão formado na sua personalidade, e com isso conseguiu chamar a atenção mesmo que um pouco retraído demais, e assim pareceu mais os jovens modernos que vivem mais perdidos que tudo, do que realmente os adolescentes das antigas, mas não decepcionou ao menos. Agora quem botou banca com trejeitos e dinâmicas tão bem chamativas quando bem dialogadas numa interpretação imponente foi a jovem Isla Johnston com sua "A Estranha", chamando para si a responsabilidade de muitas cenas fortes e não deixando que os demais sobrepusessem ela, ou seja, é um nome para ficarmos de olho. Já FKA Twigs não mostrou a que veio com sua Mãe, fazendo algumas expressões fortes no parto, mas depois ficando bem apática e meio que em segundo plano. E finalizando os principais, Souheila Yakoub trabalhou sua Lilith de uma maneira interessante e bem colocada, principalmente nas cenas que precisou estar possuída.

Visualmente o longa foi bem sujo, não sei se era essa a proposta do diretor, mas usando muitos tons marrons para dar a nuance de deserto na locação, com casas bem rudimentares, mas cenas de crucificação e prisões bem marcantes para os diferentes, doentes e impuros, tendo aulas de religião no meio da floresta, e até uma espécie de jaula aonde o jovem vai ficar durante a noite, tivemos muitas cenas com cobras saindo das gargantas das pessoas, e como já disse no começo maquiagens estranhas para dar as feridas dos leprosos e dos machucados pelas correntes também. Só poderiam ter melhorado um pouco os efeitos especiais, que ficaram bem artificiais, mas como é uma produção não tão grandiosa, o resultado não poderia ir muito além também.

Enfim, é um filme que eu não estava esperando nada, muito pelo contrário, estava esperando uma grande bomba, que acabou me surpreendendo e agradando bastante, então mesmo não sendo uma produção em si perfeita, o resultado final acaba sendo algo que valha recomendar, então fica a dica. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais. 


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Truque de Mestre: O 3°Ato (Now You See Me: Now You Don't)

11/14/2025 01:17:00 AM |

Meu lema deveria ser: "eu não sigo os meus próprios conselhos", pois quantas vezes já falei aqui para não ir conferir um filme com a expectativa alta? Centenas! E o que eu faço? Vou com toda a expectativa de espera de 10 anos guardada por uma das franquias que mais gosto! E o que aconteceu? Achei apenas bom o novo "Truque de Mestre: O 3º Ato", que ficou parecendo que o novo diretor não teve criatividade e pegou tudo o que apareceu de mágicas nesses últimos 10 anos, colocou na gaveta e deixou lá, pois usou praticamente tudo o que já vimos nos outros dois filmes, deu uma repaginada, e colocou no seu filme, sendo algo bacana para os fãs reverem seus personagens bem colocados ainda com seus estilos, mas faltou aquele ato chamativo explosivo, pois a revelação final é tão ok que nem um "nossa!" conseguiu sair da minha mente, quiçá da minha boca, ou seja, friso que não é um filme ruim, apenas para alguém ansioso que gosta demais de mágicas, que vê e revê milhões de vezes as apresentações de novos mágicos no AGT, e que esperava ver algo tão surpreendente quanto o primeiro filme, ficar apenas bom!

No longa vemos que os quatro cavaleiros retornam para mais uma aventura alucinante. Dessa vez, os ilusionistas serão desafiados em uma jornada que envolve a joia mais valiosa do mundo. Ao lado de uma nova geração de ilusionistas, o quarteto se envolve numa trama repleta de reviravoltas e mágicas. Diante de uma empresa corrupta, que lava dinheiro para diferentes criminosos, os dois grupos se reúnem para derrubar a família que controla a companhia.

O mais interessante é que nenhum dos três filmes foi dirigido pela mesma pessoa, e nem a base do roteiro, ou seja, cada vez reinventaram mais e mais para que a entrega seguisse apenas os personagens e seus estilos, e o restante fosse criado quase que do zero, de modo que aqui Ruben Fleischer soube usar o que já fez em outros filmes seus, mas sem ser criativo o bastante como outrora, se mostrando mais seguro do que pertinente para uma trama envolvendo mágica que poderia ser abusada ao máximo. Claro que o filme tem alguns bons momentos, o bom uso da câmera em alguns ângulos e entregas que chegam a chamar atenção, mas como falei no começo ficou faltando aquele impacto que você quisesse aplaudir ou ao menos buscar seu queixo no chão, o que é uma pena, pois sabemos que o diretor tem estilo, e facilmente poderia ter ido bem longe com o orçamento em suas mãos.

Quanto das atuações me incomodou um pouco o fato de que muitos pareciam estar no automático, inclusive os novos personagens, de modo que os antigos mostraram suas personalidades com convicção máxima parecendo que gravaram o último filme algumas semanas atrás, mas faltou uma junção de os cavaleiros mesmo, para que todos fossem um só como a proposta pedia, e não cada um por si só. Jesse Eisenberg entregou seu J. Daniel Atlas ainda mais egocêntrico, aparecendo quase sempre em primeiríssimo plano, mas sabendo ter a responsabilidade cênica que isso pedia, de modo que até incomoda um pouco, mas nada que fosse diferente do que aconteceu nos outros filmes. Woody Harrelson já vem entregando esse Merritt até em outros filmes, de modo que precisa urgente de uma repaginada total para não soar o mesmo ator de sempre, afinal ele sabe ir além, mas aqui diverte ao menos. Dave Franco mostra que não envelheceu praticamente nada desde o primeiro filme, parecendo que seu Jack dormiu no formol e estando sempre pronto para jogar suas cartas à la Gambit entrega bons atos de correria, mas sem ir muito além. Isla Fisher fez falta no segundo filme por estar grávida, e isso foi bem inserido na trama de sua Henley Reeves, porém pareceu muito deslocada na trama, perdida com os truques, servindo apenas para o desenrolar da armadilha final, mas ficou meio sem eixo. E falando sem eixo, jogaram Lizzy Caplan com sua Lula apenas para não dizer que não a convidaram para aparecer aqui, pois foi mero enfeite cênico. Dito tudo isso dos antigos cavaleiros, vamos aos novos, e Justice Smith tem seu jeitão meio desengonçado, porém seu Charlie acaba sendo bacana e importante na trama, fazendo claro muitas explicações para tudo, mas serviu entretenimento. Já Dominic Sessa tentou ser um "líder" com seu Bosco, chegando a ter até uma leve "briguinha de galo" com Atlas, mas não conseguiu ir muito além, sobrando para Ariana Greenblatt com sua June dar as nuances mais dinâmicas, e chamar atenção na tela com uma boa entrega. Quanto da vilã Veronika Vanderberg que Rosamund Pike entregou, tivemos bons traquejos expressivos, e foi até bem entregue em suas cenas mais densas, mas ainda queria ver ela mais maldosa e imponente na tela. Por fim Morgan Freeman e Mark Ruffalo foram apenas participações, então nem vale falar nada deles, e se Ruffalo recebeu cachê trate de devolver.

 Visualmente, embora eu sempre brigue com a Paris Filmes pelo excesso de longas dublados que coloca no mercado, ela é responsável por pegar filmes que incorporem bem os escritos no idioma dos seus devidos países, e aqui as aparições com os nomes dos países aonde os personagens vão se complementando nas imagens foi algo muito bonito de ver, tendo momentos de deserto, de leilões caros, de shows de mágica em pequenos e grandes ambientes, e uma Abu Dhabi mostrada cada vez mais rica e chamativa, aonde tivemos corrida de carros, tanques de areia, elevadores no meio do nada, e muito mais, além de uma mansão riquíssima de elos mágicos para chamar e brincar com o espectador.

Enfim, fui esperando ver uma nova Ferrari e me entregaram um novo Ônix, que cumpre a proposta de andar pelas ruas, mas não impõe o respeito que deveria, e sendo assim volto a frisar que se você não é fã da proposta nem arrisque a ir, pois não tem nada que vai fazer você saltar os olhos, recomendando mais ver o primeiro e o segundo do que esse para talvez se apaixonar mais, já os fãs da franquia ao menos poderão matar o saudosismo de ver novamente esse mundo nas telonas. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até lá.


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Verão Na Sicília (Gioia Mia) (Sweetheart)

11/13/2025 12:59:00 AM |

É interessante como os italianos gostam de trabalhar tramas que flertam com a infância, mostrando as desventuras da mudança e as frustrações dessa fase, de modo que se bem trabalhado costuma emocionar e envolver, ou então acabam virando algo tão monótono que faz dormir com menos de 20 minutos de tela, mas felizmente o longa "Verão Na Sicília", que pode ser conferido no Festival de Cinema Italiano no Brasil, faz parte do primeiro grupo, sendo uma trama leve, rápida e bem colocada de um jovem que vai a contragosto passar as férias com uma tia idosa praticamente na Idade Média, sem wi-fi, sem os amigos tradicionais, tendo costumes e comidas diferentes e tudo mais, e sendo bem alocado dentro da ideia do aprendizado com os mais velhos, vemos também algumas boas lições e dinâmicas, que talvez se tivesse mais dos atos finais, e menos dos iniciais, o resultado acabaria sendo incrível, mas não dá para mudar algo feito, então o envolvimento demora um pouco para acontecer, porém fecha bem demais.

A sinopse nos conta que Nico é um menino inquieto, irreverente e cheio de personalidade, criado em uma família laica, num mundo moderno e hiperconectado. Durante o verão, é enviado à Sicília para passar uma temporada com uma tia solteirona, extremamente religiosa e de temperamento difícil, que vive sozinha em um antigo casarão tomado por lendas e superstições, completamente à margem da tecnologia. Recebido com resistência, Nico é inserido à força em um universo místico dominado por anjos, espíritos e uma fé carregada de magia. O confronto entre o presente veloz e o passado silencioso marca o início de uma convivência turbulenta — mas, pouco a pouco, nasce entre os dois um vínculo profundo que mudará suas vidas.

Claro que talvez essa falta de conhecimento técnico para dimensionar mais uma parte do que a outra será algo que a diretora e roteirista estreante, Margherita Spampinato irá melhorar, mas ela soube usar bem os personagens e criar as dinâmicas talvez pensando na sua própria infância, e conseguir enxergar isso naturalmente na tela é bem bacana de acontecer. Ou seja, o filme é simples, tem algumas nuances bem colocadas, e até dava para ter ido mais além, mas como é um primeiro trabalho se nota o primor de alguns detalhes que quis colocar, e isso dava para eliminar para dar mais dinamicidade para a trama, não que não seja bonito ver uma toalhinha de mesa cheia de detalhes, mas dava para cortar alguns elos, e isso só com um editor livre da direção.

Quanto das atuações, posso afirmar que o garotinho Marco Fiore se seguir na carreira de atuação vai ser daqueles que vão chamar muita atenção, pois é um garoto com trejeitos bonitos, e que mesmo não tendo uma direção tão imponente, conseguiu fazer com que seu Nico não ficasse jogado como um protagonista sem fluxo, de forma que ele tem uma boa dinâmica nos olhares e chama o papel para si, o que acaba agradando bastante. Já a experiência de Aurora Quattrocchi foi bem importante para segurar as cenas do garoto, mas principalmente para dar um ar mais duro para sua Gela, criando alguns atos até mais duros e diretos, mas que envolve de um modo geral e agrada na tela. Ainda vale um leve destaque para Martina Ziami com sua Rosa meio fechada e durona, mas que entregou bons momentos para criar o ambiente com o garotinho.

Visualmente o longa foi interessante pelo prédio/casarão com seus vários apartamentos rústicos e antigos, com detalhes simples, porém marcantes como o excesso de imagens religiosas, o ambiente mais fechado nos apartamentos sem moradores, o pátio comum aonde as crianças brincaram, a praia bem colocada nos atos finais, tudo com muitos elementos cênicos representativos quase como um livro foleado. 

Enfim, é um longa que tem boas alegorias e momentos interessantes na tela, que nas mãos de um diretor mais experiente certamente impactaria muito mais, mas ainda assim é gostoso de acompanhar e funciona dentro da proposta, então fica a dica para dar play nele no Festival. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com um dos filmes que mais estava esperando nesse ano, então abraços e até logo mais.


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