Eu, Que Te Amei (Moi Qui T'Aimais) (C'est Si Bon!)

12/02/2025 02:08:00 AM |

Já disse várias vezes aqui no site o quanto gosto de biografias, pois acabo conhecendo mais sobre algumas pessoas que marcaram época ou foram importantes em suas áreas, e conhecia bem pouco sobre Simone Signoret, a não ser que foi a primeira mulher francesa a ganhar um Oscar, mas nunca me aprofundei sobre sua história e saber o quanto seu marido a traia e suas recusas de aparecer na mídia justamente por isso. Porém hoje com o longa "Eu, Que Te Amei", que pode ser conferido na programação do Festival de Cinema Francês do Brasil, me foi entregue uma trama envolvente com muita representação da história do casal, que para leigos do cinema antigo francês (como é o meu caso) acabei sem saber muito bem quem era quem além dos protagonistas, mas ainda assim foi possível sentir toda a dinâmica na tela, tendo como apenas duas críticas bem negativas a duração do filme que é alongadíssimo e chega a cansar, e a maquiagem que começam o longa nos mostrando como que os atores se transformaram nos personagens, mas que conforme foram envelhecendo mais eles, o resultado foi ficando bem ruim, mas nada que atrapalhasse o resultado final.

A sinopse nos conta que ela o amava mais do que tudo, ele a amava mais do que todas as outras. Simone Signoret e Yves Montand foram o casal mais famoso de seu tempo. Assombrada pelo caso de seu marido com Marilyn Monroe e ferida por todos os que vieram depois, Signoret sempre recusou o papel de vítima.

Diria que a diretora e roteirista Diane Kurys fez bem a homenagem para os personagens, os retratando bem em suas épocas, porém faltou para ela ser mais sucinta com a entrega ou então trabalhar mais a essência direta dos casos e dos problemas, pois como disse no primeiro parágrafo, se você desconhecer por completo qualquer um que apareça na tela acabará sendo apenas mais um na vida deles, e isso infelizmente acaba sendo apenas uma enrolação maior. Claro que estou falando isso como alguém que já conferiu muitos longas franceses, então imagino quem viu menos ainda que certamente não conhecerá nem os protagonistas, ou seja, é um resultado bonito de se ver na tela, mas com uma história falha nesse sentido para um público mais amplo. Aliás, acredito que até mesmo na França atual, muitos nem saberiam nomear 10% de todos os personagens que aparecem na tela.

Quanto das atuações, já tinha falado muito bem de Roschdy Zem nessa semana com seu outro filme no Festival, e agora com seu Yves Montand posso dizer de cara que foi muito bom mostrar a transformação do ator no personagem com a maquiagem, pois em um primeiro momento ele ficou irreconhecível, mas depois conforme vai atuando vemos seu estilo tradicional, e sabemos como o ator entrega seus diálogos e trejeitos, então foi bem desenvolvido e soube segurar bem suas cenas com um traquejo mais galanteador. Outra também que ficou irreconhecível com a maquiagem foi Marina Foïs com sua Simone Signoret, de modo que sua entrega foi intensa e marcante, cheia de nuances para que a protagonista tivesse um ar emocional, mas sem ser uma vítima dos galanteios do marido, e essa essência que a atriz conseguiu botar nos seus atos foi tão bonita de ver que até esquecemos dos demais ao seu redor. Como disse, não conheço os demais personagens, então diria apenas que Cécile Brune trabalhou bem com muito carinho de sua Marcelle, a empregada da casa para com a protagonista, e tivemos muitas cenas com Thierry de Peretti com seu Serge Reggiani, mas sem ir muito além na tela.

Visualmente o longa teve um estilo bem clássico, mostrando a casa da família em Paris e a casa de campo, com algumas reuniões na área externa e alguns atos dentro delas, além de alguns restaurantes, spas e até atos de algumas gravações, tendo claro um ar de época bem trabalhado, figurinos marcantes e uma maquiagem de envelhecimento que por vezes falhou bastante na tela, mas isso é algo que não chega a ser um grande incomodo.

Enfim, é um longa bem interessante pela proposta em si, mas que talvez vá funcionar mais em sessões com fãs realmente do cinema francês mais antigo, que conheçam bem os personagens para ver as devidas interações, mas que fique preparado para algo mais lento na tela, pois a trama é alongada, e sendo assim recomendo com algumas ressalvas. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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Os Bastidores do Amor (Le Beau Rôle)

12/01/2025 09:04:00 PM |

Não existe quem me convença que as comédias românticas francesas não são as melhores para se envolver, pois conseguem ir além até mesmo quando tudo parece bem bobinho na tela. E o mais bacana de tudo é que "Os Bastidores do Amor" parecia que não iria engrenar no começo, que iria ver algo básico e fraco, mas que depois que temos alguns bons pontos de virada, o resultado consegue fluir fácil e encantar com a entrega dos personagens, mostrando bem todas as dinâmicas na tela, aonde a fluidez encaixa e envolve bem o público com as facetas da trama. Ou seja, é daqueles filmes até meio bobinho de conferir, mas que acaba funcionando e agradando até mais do que o esperado.

A sinopse nos conta que há anos, Henri e Nora compartilham tudo: eles se amam e ela dirige as peças em que ele atua. Quando Henri consegue, pela primeira vez, um papel no cinema, a criação de seu novo espetáculo desmorona e o casal se despedaça.

Diria que o diretor e roteirista Victor Rodenbach soube ser bem criativo para mostrar os conflitos entre trabalho e vida pessoal, principalmente no mundo da arte, de modo que entramos em uma entrega que possivelmente tenha acontecido com ele para ter tantos detalhes do conflito relacional, e a rixa entre cinema e teatro, de modo que ele não quis inovar muito, mas também não deixou sua trama jogada, de modo que o clima leve e bem colocado acaba funcionando mais pela dinâmica do que pela história em si, é isso acaba sendo gostoso de ver, pois poderia dar tudo errado, mas felizmente não aconteceu, e dessa forma o resultado fluiu bem, mostrando que ele tem potencial.

Quanto das atuações, não lembro de outros filmes de William Lebghil, mas aqui com seu Henri, ele conseguiu trabalhar bem o estilo sem ficar adocicado demais, mostrando aqueles relacionamentos conflitos aonde tudo pode acontecer, e nenhum dos lados está aberto para ceder, de modo que vemos bons traquejos expressivos, meio que inseguros por vezes, mas que acaba agradando na tela justamente por isso. Outra que desconhecia foi Vimala Pons, que com sua Nora mostrou bem a vida confusa e corrida de diretores/produtores teatrais que precisam fazer tudo e ainda elevar o ego dos atores, trabalhando bem concisa, mas certeira do que precisava fazer. O longa foca bem mais nos protagonistas, até tendo outros personagens interessantes, mas sem grandes chamarizes, valendo destacar levemente Jérémie Laheurte com seu François Graziani e Pauline Bayle com sua Lou, mais pelas inversões que deram.

Visualmente o longa teve uma entrega bem divertida para mostrar os bastidores tanto do teatro, quanto do cinema, como a produção dos cenários, da composição dos personagens, e claro a criatividade de cada cenógrafo ou figurinista com suas brigas por escolhas, aonde vemos o apartamento bagunçado dos protagonistas, e também vemos as instabilidades de moradia, de família e tudo mais que a equipe soube brincar bem na tela.

Enfim, não é nada brilhante, mas que consegue funcionar e envolver com um bom gracejo na tela, sendo daqueles filmes que você acaba saindo da sessão com um bom sorriso na cara, valendo a recomendação. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas vou conferir mais um longa do Festival de Cinema Francês do Brasil, então abraços e até logo mais.


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Morra, Amor (Die My Love)

12/01/2025 01:36:00 AM |

Muitas vezes vamos assistir algum filme sem saber o que esperar e saímos da sessão maravilhados com a entrega que o diretor e os protagonistas jogam em nossas mentes, mas também tem vezes que da mesma forma que entramos saímos com um grande nada, e essa segunda condição é a mais triste, pois costumo dizer que mesmo que um filme seja muito ruim, ele precisa ao menos deixar essa condição de "ruindade" para o espectador, afinal o nada é o famoso falhar na tela. E infelizmente comecei dessa forma o texto de "Morra, Amor", pois ao sair da sessão ficamos eu e minha irmã tentando pensar se dormimos em alguma parte, se realmente era apenas algum tipo de doença pós-parto, se era algo do imaginário da personagem já que era uma escritora e poderia estar fazendo um livro dessa forma, ou se tudo foi algo bizarro mesmo na tela, e ao menos eu tentarei apostar nessa primeira intenção, de ser uma mulher doida, que fica ainda mais maluca após o parto, e só, para ao menos minha mente dormir tranquila que foi apenas mais uma escolha de duas horas perdidas, afinal não vejo outra intenção nessa entrega (por sinal brilhante) da protagonista, que é o que salva o filme de não ser algo péssimo.

O longa acompanha uma mulher que vive em uma casa isolada em uma cidade rural no interior dos Estados Unidos. Ela convive com uma condição de psicose e batalha diariamente com sua sanidade enquanto a maternidade e o casamento a enlouquecem.

Não tinha ligado o nome ainda quando vi na tela, mas todos os filmes da diretora e roteirista Lynne Ramsay são extremamente complexos e difíceis de se conectar e/ou chegar ao consenso do que ela desejava passar, então aqui sem ter lido nada, nem ter visto o trailer anteriormente até que chutei durante minha assistida a ideia mais ou menos básica do que a trama se tratava, que é o que vi agora ao colar a sinopse, porém é uma das maneiras que poderia fazer, já que dava para o longa ser ainda intenso, e não soar estranho e jogado, mas aí não teria a assinatura da diretora. Ou seja, é daqueles filmes que possuem vertentes e caminhos diferentes para serem entregues, mas que acabaram escolhendo digamos o menos comum, que alguns podem até gostar, mas que não era o melhor.

Agora falando diretamente das atuações, Jennifer Lawrence mostrou que não estava para brincadeiras com sua Grace, se jogando por completo, trabalhando trejeitos fortes e marcantes, criando dinâmicas e não se segurando para nada na tela, ao ponto de até surpreender em alguns momentos com situações inesperadas, e isso talvez lhe garanta algumas indicações, pois mesmo o longa não sendo algo chamativo, a atriz mostrou muito serviço, e já vimos isso em outros anos acontecer. Robert Pattinson tentou fazer com que seu Jackson sobrevivesse às loucuras de sua namorada e depois esposa, pois ele realmente pareceu perdido na tela com tanta informação proveniente de sua parceira cênica tão intensa, mas não foi muito além quanto poderia, parecendo até cansado no final, mas fez o que deu. Quanto aos demais, a maioria apenas faz uma ou outra conexão com os protagonistas, valendo destacar apenas Sissy Spacek com sua Pam, mãe do protagonista, mas nada que saísse do incomum do longa.

Visualmente vemos uma trama simples, que a diretora quis enfeitar o doce e trabalhar no formato quadrado de tela, mostrando a casa dos protagonistas no meio do nada, alguns atos acontecendo na casa da mãe do protagonista, muitas cenas na floresta, e alguns atos num pequeno mercado, nada indo muito longe, tendo alguma certa representatividade nos momentos mais violentos da protagonista dentro do banheiro ou na varanda, mas sem ir muito além.

Enfim, fui sem saber o que iria encontrar, e voltei para casa com algo que não foi interessante nem agradável, que se não fosse pelas boas atuações seria daqueles que xingaria sem pensar duas vezes, mas como teve uma boa interpretação e passou ao menos a mensagem, fica como algo mediano que cumpriu com seu papel, e nada demais, então veja por sua conta e risco, pois a chance de não gostar é alta. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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Zootopia 2 em Imax 3D

11/30/2025 07:05:00 PM |

Uma coisa engraçada que vem acontecendo já há algum tempo dentro das animações da Disney é que o comando criativo tem pedido por mais desenvolvimento de histórias, e isso para os adultos que vão conferir é ótimo, já para cativar os menorzinhos é algo mais complexo. E isso era algo que estava com um pouco de receio para "Zootopia 2", pois o primeiro é magistral ao mostrar uma cidade complexa de animais de todos os estilos convivendo juntos com suas próprias zonas climáticas e tudo mais, e mesmo querendo ver logo uma continuação, não imaginava por onde poderiam seguir sem sair do lúdico bem emocionalmente trabalhado para algo que não ficasse bobo e jogado apenas como uma continuação feita às pressas, e nove anos se passaram para entregar algo que funcionasse bem demais, pois o longa conta ainda com mais histórias, determina ainda mais os conflitos entre ser diferente e estar junto, e brinca com a ideia de animais completamente fora da cadeia animal tradicional, colocando temperatura em jogo e muita determinação para as devidas comparações. Ou seja, foram bem mais além do que o imaginado, e conseguiram entregar uma trama que você se diverte, dança a música nova da Shakira, e ainda curte toda a essência emocional colocada, enquanto os pequenos se divertem com as cores, resultando em algo bem colocado e funcional.

O longa nos mostra que os heróis e policiais novatos Judy Hopps e Nick Wilde estão de volta para mais uma aventura extravagante pela grande metrópole animal de Zootopia, mostrando que após desvendarem o maior caso da história da cidade, Judy e Nick são surpreendidos por uma ordem do Chefe Bogo: os dois detetives precisarão frequentar o programa de aconselhamento Parceiros em Crise. A união da dupla é colocada à prova quando surge um mistério ligado a um recém-chegado à cidade: o misterioso e venenoso réptil Gary De’Snake. Para encontrar as soluções para o caso envolvendo a víbora, Judy e Nick devem desvendar novas partes da cidade, sendo testados o tempo todo.

Sempre digo isso, e podem reparar, continuações que trazem de volta seus criadores sempre dão certo, e aqui Jared Bush que foi co-diretor do primeiro filme, assumiu de vez tanto como diretor quanto como roteirista, sabendo exatamente aonde dar sequência na trama, aonde desenvolver mais ou até brincar menos, para fazer uma trama séria e encantadora que você se diverte e vivencia tantos momentos, mas ainda assim pode pensar, pode ver referências e também manter o espírito infantil. Ou seja, o diretor demorou bastante para entregar algo novo na tela, e isso foi muito bom, pois teve maturidade para não ser apenas mais um, mas sim algo que dê continuidade e tenha continuidade, abrindo as portas que antes era de apenas mamíferos para agora répteis, e na cena pós-créditos já deram a deixa com o que virá a seguir (só espero que não seja numa série, e sim em um longa que mereça nossa atenção).

Quanto dos personagens e da dublagem, tivemos a volta do foco total em cima de Judy e Nick, abrilhantados pelas vozes de Monica Iozzi e Rodrigo Lombardi, com uma entrega perfeita de personalidades, mostrando o desconforto da parceria tão diferente, mas também a preocupação em dar a vez para o outro, de modo que a cena próxima do fim foi tão bonita de ver quanto uma trama clássica de um grande romance, tendo toda a conexão e vivência entre eles cheio de desenvolturas, de perseguições e tudo mais, ou seja, foram realmente os protagonistas de suas histórias, chamando tudo para si e encantando. O personagem Gary também foi bem bacana, cheio de nuances e traquejos, aonde Danton Mello pode brincar com suas diferentes vozes e entregas, sendo dinâmico e interessante nos atos mais intensos da trama. Ainda tivemos todo o clã dos Linceslei, o prefeito Cavalgante e muitos outros, tendo alguns com mais liberdade que outros, tendo a rápida participação de alguns antigos como Flecha, Capitão Bogo e Garramansa, mas quem teve mais destaque agora foram a castor Nibbles Castanheira com toda sua astúcia e até a Gazelle de Shakira teve mais falas, além claro de uma música nova original para concorrer às premiações.

Visualmente o longa seguiu o mesmo estilo do primeiro filme, com uma boa entrega cênica, muitos ambientes, dinâmicas, tudo muito bem pensado desde a perseguição no começo até os atos finais no deserto e na neve, tendo um festival grandioso de música e ainda um belo brejo aonde vivem os répteis, sendo algo cheio de cores, de dinâmicas, texturas e muita personalidade que a equipe de arte soube trabalhar para compor cada momento como algo único, ou seja, é um filme belíssimo até para algo do estilo, só não sendo tudo tão sutil como no original, mas ainda assim tendo referências à grandes clássicos do cinema live-action, em sua versão animada. Quanto do 3D, aí já não diria que posso elogiar tanto, pois mesmo vendo na maior tecnologia possível, usaram apenas para a imersão e composição dos personagens e cenários, dando um maior realismo para uma animação, mas o pessoal que gosta de ver coisas saindo da tela não terá tanto para brincar.

Enfim, é uma animação muito gostosa de conferir, cheia de nuances e desenvolturas, que agradará bem mais os adultos do que os pequenos, sendo algo meio diferente para uma produção da Disney, mas como já abriu com mais de meio milhão de bilheteria iremos ficar esperando a continuação, e que não demore tanto, pois já queremos ver tudo de novo. E é isso meus amigos, fica a indicação, mas eu não fico por aqui hoje, pois ainda vou conferir mais uma estreia nesse domingo, então abraços e até logo mais.


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Fora de Controle (Dis-Moi Juste Que Tu M'Aimes) (Out of Control)

11/29/2025 02:51:00 AM |

Sou desses que reclamam com toda vontade quando um filme recai para o lado novelesco, e não ligo mesmo, pois é algo que é desnecessário na filmografia de qualquer ator, pois se ele quisesse realmente fazer novela, fosse para o mundo das séries e/ou as novelas mesmo que existem em todos os países, e claro que na França não é diferente, de modo que até longas premiados, com atores renomados acabam indo para rumos não tão bacanas. Claro que não estou falando que o longa "Fora de Controle", que está no Festival de Cinema Francês do Brasil (antigo Varilux), é algo ruim de ver, pois até é uma novelona, porém francesa com uma certa classe, que tem alguns defeitos bem grandiosos, como o antagonista extremamente exagerado para um CEO de uma grande empresa, e também o forçar da barra que as protagonistas serem bonitas (até a mais linda do mundo como ele a elogia), além de todo o conflitivo mundo das formas de acusações. Ou seja, para se apaixonar pela trama precisa relevar muita coisa, mas dá para conferir como um passatempo, ao menos.

O longa nos conta que após quinze anos de casamento, uma crise coloca à prova a união de Julien e Marie. Quando Anaëlle, o grande amor de juventude de Julien, reaparece, Marie entra em pânico. Perdida em uma espiral infernal de ciúmes e autodepreciação, Marie se deixa levar para uma aventura com Thomas, que se revelará tão manipulador quanto perigoso.

É interessante que mesmo já escrevendo e dirigindo a bastante tempo, ainda vemos e lembramos bem mais Anne Le Ny atuando como em "Intocáveis" ou "Stillwater", e acredito que deva ser principalmente pelas escolhas de estilo, já que suas tramas recaem muito para o lado mais novelesco, e assim essa seria sua primeira mudança para um lado mais de suspense psicológico, mas ainda assim não conseguiu desgrudar, ao ponto que seu filme até tem estilo, tem alguns momentos tensos, mas faltou deixar fluir sem precisar forçar, e isso só com o tempo mesmo para conseguir mudar a essência e virar essa chave.

Quanto das atuações, Élodie Bouchez trabalhou sua Marie com traquejos até que interessantes, se vendo entrar em apuros quando acaba entrando no jogo do seu chefe, mas julgava que ela iria trabalhar em outros rumos ou expressões, que talvez daria um tom mais chamativo para o papel, pois faltou ir mais além e causar com dinâmicas mais de medo ou temor, parecendo até estar curtindo o conflito de ciúmes em alguns atos. José Garcia até tentou ser mais chamativo com seu Thomas, porém exagerou no tom e ficou parecendo mais um maníaco do que um CEO de empresa, desenvolvendo algumas expressões até caricatas demais para o papel, que acabou não dando muito certo. Particularmente gosto do estilo de atuação de Omar Sy, mas aqui seu Julien ficou meio que em cima do muro, tendo alguns momentos mais expressivos de fúria, mas se fechando demais e não indo muito além, o que é uma pena. Quanto aos demais, tentaram dar um algo a mais para Vanessa Paradis com sua Anaëlle, mas nada que fosse muito além.

Visualmente a trama mostra a casa mais simples da família, com seus defeitos, mas tendo um ar mais de campo mesmo bem interessante, tivemos alguns momentos numa empresa de máquinas, não mostrando efetivamente o que produziam, tendo mais cenas no escritório que está passando por uma auditoria, e cenas no hotel aonde o CEO está hospedado, além do bar de Anaëlle e outro vizinho com alguns drinks até que bonitos, e também mais próximo ao fim vemos o ateliê da irmã da protagonista, tudo bem básicos e sem grandes chamarizes.

Enfim, é um passatempo até que interessante, que tem uma pegada bem colocada de suspense psicológico, mas que acabou indo muito para o lado dramático novelesco, e isso acabou baixando um pouco o nível da trama. E é isso meus amigos, fica essa ressalva para quem for conferir ele no Festival, para que saibam o que vão encontrar. Fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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Bugonia

11/28/2025 08:56:00 PM |

Costumo achar que alguns diretores são tão malucos que nem eles conseguem entender o que querem entregar na tela, mas por muitas vezes nos esforçamos para ao menos curtir toda a loucura que eles acabam colocando durante toda a exibição. E hoje com "Bugonia" até parecia que o filme ia ser algo a mais do que três palavras: alien, alienação, alucinado, tendo um humor meio bizarro bem colocado na tela, mas depois tudo fica caótico para o lado ruim da coisa, e assim não empolga, pelo contrário, cansando do que vemos na tela. Ou seja, alguns até vai curtir, filosofar e ir bem mais além do que a ideia do diretor, mas quem não dormir no miolo acabará dormindo com o ato de encerramento.

A sinopse é bem simples e nos diz que dois jovens obcecados por teorias da conspiração sequestram a CEO de uma grande empresa, convencidos de que ela é uma alienígena que tem a intenção de destruir o planeta Terra.

Claro que eu sei que o diretor Yorgos Lanthimos é daqueles que entregam loucuras demais para pessoas anormais, mas aqui baseando-se no filme coreano "Save the Green Planet"(2003), ele acabou indo para um rumo tão fora da casinha, que se fosse mais além nisso agradaria ainda mais na tela, porém o fechamento é básico, e assim pareceu que até ele desanimou do que estava entregando e resolveu fechar a caixa com imagens "mortas".

Quanto das atuações, precisamos falar do tanto de alucinógeno que deram para que Jesse Plemons fizesse seu Teddy, pois ele nos convence de toda sua insanidade na tela, e com o que faz no hospital temos a devida certeza que até ele estava acreditando na suas ideologias, e isso mostra uma entrega tão boa que acaba funcionando demais na tela. Já Aidan Delbis fez de seu Don, um bobão que aceita qualquer coisa, e que nem precisou de muito para cair no golpe dos dois lados, ou seja, espero que ele não seja assim realmente, pois ficou o que chamamos de bobão total. Agora Emma Stone mais uma vez deu show em um filme do diretor, de modo que sua Michelle tem presença, tem imposição e sabe bem o que está fazendo do começo ao fim, agradando tanto com trejeitos expressivos, quanto com os diálogos bem encaixados que ela domina em cena. Ainda tivemos algumas rápidas cenas de Alicia Silverstone como a mãe do protagonista e Stavros Halkias com seu Casey, mas sem ir muito além de algumas boas entregas para dar as conexões do filme.

Visualmente o longa foi bem fechado dentro do porão e da casa do protagonista, com muitos apetrechos para prender a empresária e até uma máquina de choque para uma tortura efetiva, mas nada que impressionasse na composição cênica. Porém dando um spoiler dos atos finais, o formato que é mostrado nosso planeta mostra bem a crítica do diretor para os "alienados".

Enfim, sabia que iria ver um longa bem maluco, mas esperava um fechamento insano e acabou não acontecendo, de forma que ficou mais mediano do que incrível de ver. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas vou para uma outra sessão, então abraços e até mais tarde 


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13 Dias, 13 Noites (13 Jours, 13 Nuits)

11/28/2025 01:41:00 AM |

Sei que festivais costumam trazer tramas de todos os estilos, mas geralmente os franceses focam muito em dramas cômicos, porém nos últimos anos tem aparecido boas tramas de ação, suspense policial, ou até mesmo dramas mais contundentes com questões políticas fortes, e desde que saíram os filmes que entrariam nesse ano, um dos filmes que mais tinha atraído minha atenção era "13 Dias, 13 Noites", e minha intuição raramente tem falhado, pois conferindo ele hoje foi um tremendo de um filmaço tenso, denso e cheio de nuances impactantes, mostrando uma história real bem complexa da última embaixada a deixar o Afeganistão quando o Talibã retomou o poder, aonde vemos negociações dificílimas, pessoas sendo escolhidas para sair enquanto outras tem de ficar no país, atentados e tudo mais que faz você ficar na ponta da poltrona só esperando o caos dominar até o final, sendo daqueles que facilmente ficarão guardados como um dos que valem a indicação para os amigos, e até mesmo rever, pois além de ser uma tremenda história, a produção é imponentíssima, chamando atenção demais na tela do começo ao fim.

O longa é ambientado em Cabul, no Afeganistão, em agosto de 2021, e inspirado em uma história real. Enquanto as tropas americanas se retiram, os Talibãs tomam a capital e milhares de afegãos buscam refúgio na Embaixada da França, protegida pelo comandante Mohamed Bida e seus homens. Cercado, ele negocia com os Talibãs para organizar, com a ajuda de Eva, uma humanitária franco-afegã, um último comboio em direção ao aeroporto. 

O diretor Martin Bourboulon já está bem acostumado com orçamentos milionários, afinal fez os novos "Três Mosqueteiros: D'Artagnan" e "Milady", e aqui certamente gastou um bom dinheiro para que sua trama fosse imponente na tela e tivesse toda a personalidade que o verdadeiro Mohamed Bida escreveu sobre sua vivência na saída do Afeganistão, pois dava para ser uma trama de tantas formas que a impressão que fica na tela é que vemos algo que foi tão conversado entre a direção e o verdadeiro personagem que não poderia ser diferente do que vemos, aonde tudo é marcado pela famosa sensação que uma virada de lado de alguém ali poderia dar muito errado, causar um caos tremendo, e isso é o cinema de tensão ´feito da melhor forma possível, aonde o espectador acaba se sentindo no meio dos personagens, tentando dar o seu melhor para que todos cheguem com vida, e isso acaba sendo lindo de ver, mesmo que você precise tomar algo depois para se acalmar, e mostra o potencial do diretor voltando, pois em "Milady" ele fez tudo automático demais.

Quanto das atuações, o que mais gosto de Roschdy Zem é que ele é daqueles que se joga por completo nas tramas que entra, de modo que faz trejeitos, briga, se impõe e tudo mais, e aqui fazendo o protagonista Mohamed Bida, conseguiu trabalhar tudo de forma a ainda dar um tom forte para o personagem, pois pode até ser que o verdadeiro não tivesse tanta imposição assim, mas com o ator quase foi um daqueles que até o maior terrorista respeita. A entrega de Lyna Khoudri para com sua Eva também foi bem marcante, ao ponto de que se a verdadeira Eva foi tão corajosa quanto a personagem deveria ser um exemplo, pois encarar os terroristas com uma arma apontada na cabeça, sendo mulher num país daquele tipo, e ainda sobreviver, dando um resultado tão chamativo, que a atriz acabou indo até além do que precisava. Quanto aos demais personagens, vale dar leves destaques para Sidse Babett Knudsen com sua Kate, fazendo daquelas jornalistas malucas que enfrentam tudo e todos, e também para Christophe Montenez com seu Martin, que facilmente pegaria seus soldados e dariam o fora dali o quanto antes, mas que foram bem convencidos pelos protagonistas a ficar e ajudar. 

Visualmente o longa tem uma entrega incrível, pois tem tantos figurantes em cena, seja na entrada da embaixada francesa, seja no aeroporto, com comboios de ônibus e muito desespero, sendo algo marcante pelas grandes aeronaves, filas, e dinâmicas bem abertas, mostrando que o diretor não teve medo de abrir a câmera para mostrar tudo o que foi gravado, pois com muita certeza se fosse um filme americano do mesmo tema seria trabalhado em planos fechados sem impor e marcar tudo na tela, então vale a conferida num cinema bem grande para se empolgar com tudo o que a equipe de arte conseguiu entregar.

Enfim, é um tremendo filmaço que talvez poderia ser ainda mais perfeito com pouquíssimos cortes de atos não tão importantes, mas toda a essência faz você nem piscar os olhos que faz valer demais a recomendação de conferida nele agora no Festival de Cinema Francês, pois como costumo falar, depois torcer para que estreie na sua cidade ou streaming é bem difícil (a não ser que more em capitais), então aproveite que ainda terá muitas sessões e vá. E é isso meus amigos, comecei bem o Festival, e voltarei ainda com muitas outras dicas, então abraços e até logo mais.


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Netflix - Sonhos de Trem (Train Dreams)

11/27/2025 01:32:00 AM |

São raros os filmes cheios de narração que consigo gostar, pois na maioria das vezes acaba me dando sono com o excesso de "explicações" do que está acontecendo, porém hoje o estilo caiu muito bem para o longa da Netflix, "Sonhos de Trem", que dá as devidas nuances para algo acontecendo no passado, mas que atualmente é bem mais comum, que é o não viver com as pessoas mais importantes, apenas trabalhando para ganhar dinheiro, e acabar perdendo fases e até algo a mais. E a essência da trama acaba tendo uma entrega tão bonita do protagonista, que acabamos nos envolvendo com tudo o que é mostrado, resultando em um filme simples, porém bem efetivo na tela.

O longa nos conta que Robert Grainier é um dos muitos madeireiros responsáveis por construir e expandir ferrovias pelos Estados Unidos no início do século XX. Órfão desde muito jovem, Robert cresceu entre as florestas imponentes do Noroeste do Pacífico. Em um mundo que se transformava cada vez mais rápido durante o agitado século XX, por causa do árduo trabalho, Robert precisou passar longos períodos afastado de quem mais amava: sua esposa Gladys (Felicity Jones) e sua pequena filha. Quando uma tragédia sem precedentes atinge a família, ele precisa aceitar a derrota e se esforçar para relembrar os laços únicos de uma jornada que, ao mesmo tempo, é distinta, mas universal.

É interessante que o diretor e roteirista Clint Bentley soube pegar o conto de Denis Johnson e não ampliá-lo para que ficasse um filme cansativo, de tal maneira que a narração funciona exatamente como uma entrega simples e direta na tela, e a sensação é de algo que transmite bem a essência do personagem, de vivenciar as construções das ferrovias e dos cortes de árvores, juntamente com o distanciamento da família, vendo tudo o que acontecia por ali, os casos de pessoas fugitivas no meio dos desconhecidos e tudo mais, mas a grande base e sacada do diretor foi a de não deixar com que o segundo ato após a tragédia ficasse algo morto na tela, passando bem a sensação que muitos possuem no luto, e assim o resultado ficou marcante e bem chamativo com toda a proposta.

Quanto das atuações, o longa é de Joel Edgerton com seu Robert Grainier, de modo que esse pode ser uma de suas melhores atuações, aonde ele conseguiu passar muita sinceridade nos olhares, conversando muito com o espectador através deles, já que a grande base falada ficou a cargo da narração de Will Patton, ou seja, o ator precisou passar a essência toda de sua vida com traquejos e dinâmicas bem colocadas, aonde vemos tudo funcionar muito bem na tela. Felicity Jones trabalhou alguns bons atos de sua Gladys, sendo uma mulher bem a frente de seu tempo, imponente e trabalhadora, que o diretor não quis utilizar tanto suas dinâmicas, mas no que precisou ela se jogou. Ainda tivemos muitos outros bons papeis bem rápidos com destaques para William H. Macy com seu Arn, Paul Schneider falando mais do que tudo com seu Apóstolo Frank, e Kerry Condon fechando com sua Claire Thompson, mas todos sem grandes chamarizes para não atrapalhar a essência do protagonista.

Visualmente a trama é bem bonita, com muitas cenas em florestas, mostrando os processos antigos de corte e fabricação de pontes e ferrovias, vemos um pouco dos acampamentos, e também a construção da casa dos protagonistas, tivemos uma grandiosa cena com fogo, e depois muitas nuances no ambiente completamente destruído, ou seja, a equipe soube usar bem o que tinham, não precisando de muitos detalhes, mas sim colocações fortes nos atos mais precisos.

Enfim, é um longa que talvez pedisse um algo a mais, mas que acabaria talvez perdendo a essência e a proposta, então acabou sendo curto e direto aonde precisava chegar, e assim valendo o play e a reflexão que ele propõe sobre trabalharmos muito e vivermos pouco com quem realmente importa. E é isso meus amigos, então fica a dica para um play mais reflexivo, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até logo mais.


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Diamantes (Diamanti)

11/25/2025 01:54:00 AM |

Costumo ficar pensando como alguns diretores possuem tantos contatos para seus filmes, pois muitas vezes a trama é algo tão simbólico que o ator ao ler o roteiro fica pensando será que compensa botar meu nome nisso, mas como tem a parceria com o diretor, vai lá e faz. E o que é mostrado no longa "Diamantes", que pode ser conferido dentro do Festival de Cinema Italiano no Brasil, é bem isso mesmo, pois vemos um diretor que deseja criar uma homenagem aos ateliês de figurinos para cinema, mostrando o desenvolvimento, conflitos e criatividades, mas não bastando ser básico, ele quis colocar todas suas atrizes preferidas da Itália, contando com as mais novas estrelas até as grandes que já fizeram sua história, e o que acabou acontecendo? Sucesso absoluto de vendas de ingressos no país, além de prêmio de Filme do Ano no Nastro d'Argento, ou seja, uma junção simples, mas que fez história, pois a trama é bem básica, sem grandes anseios, mas funciona, mesmo tendo um estilão bem novelesco.

Situado em Roma nos anos 1970 e atualmente, o filme explora a jornada das irmãs Alberta e Gabriella Canova, donas de um renomado ateliê de figurinos cinematográficos, e das habilidosas mulheres que nela trabalham. A trama desenha uma rica tapeçaria de memórias, solidariedade, ambições e desafios, celebrando a força feminina e a arte do figurino no cinema.

Diria que o diretor e roteirista Ferzan Özpetek foi bem coerente na sua forma de homenagear as mulheres, e principalmente as figurinistas e costureiras que dão vida para os cinemas, sabendo encontrar materiais e simbolizar tudo o que um diretor deseja ver na tela, e só não diria que ele foi perfeito, pois optou por um dos estilos menos necessários que é o novelesco, tentando trabalhar diversas personagens, dinâmicas diferentes e até algumas esquetes soltas, de tal forma que seu filme até tem um volume interessante, começa bem deixando o público curioso, mas do miolo pra frente começa a se enroscar demais, resultando em algo bacana de ver pela ideia em si, mas fora de um padrão comum que o pessoal costuma conferir.

Quanto das atuações, é interessante que o longa dá bons momentos para praticamente todas as atrizes, e ficar falando de cada uma aqui faria o texto ficar imenso, então vou focar nas donas do ateliê, que Luisa Ranieri entregou uma Alberta bem imponente, porém cheia de conflitos para desenvolver tanto do lado pessoal, quanto do profissional, mas encaixando trejeitos marcantes e bem chamativos, e do outro lado Jasmine Trinca fazendo uma Gabriella mais fechada, com um zelo maior pelas costureiras, aonde a atriz não se jogou tanto, mas soube dosar bem seus olhares. E a que teve um pouco mais de história para trabalhar foi Milena Mancini com sua Nicoletta que apanha do marido que não gosta de seu trabalho, e a atriz soube ser marcante em seus trejeitos para resolver o problema da melhor forma que as amigas indicaram.

Visualmente é bem bacana observar como são feitos os pedidos de figurinos para o cinema, os diversos tipos de tecidos, de experimentos e de desenvolturas com o prazo curto para entregar tudo, vemos quase como uma casa de família aonde as mulheres almoçam e vivenciam tudo ali, além de bons momentos e dinâmicas para detalhar cada elemento cênico presente na ideia do diretor tanto do filme que vemos, quanto do que está sendo criado e da criação.

Enfim, é um longa bem diferente dos padrões normais que estamos acostumados, que poderia até ser ainda mais ousado se não recaísse para o lado novelesco, mas ainda assim conquistou o público italiano, então vale como um exemplar para pensarmos se algum dia isso caberia por aqui. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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A Ilusão (L'Abbaglio)

11/23/2025 11:56:00 PM |

Uma coisa que me deixa bem surpreso em alguns filmes é a possibilidade de conhecer histórias que sequer imaginava, e uma delas era de que a Sicília não fazia parte da Itália e que por lá tiveram várias guerras para tomar a ilha e anexá-la ao continente, algumas com conflitos pesados, que aqui foram mostrados de uma forma menos dura, como se um grande general fosse facilmente enganado da forma representada na tela em "A Ilusão", que pode ser conferido dentro do Festival de Cinema Italiano no Brasil. Claro que a essência de uma guerra foi bem mantida na tela, mas a seleção e as dinâmicas do longa acabaram sendo meio que bobas e lentas demais, demorando demais para que tudo acontecesse realmente, ao ponto que o filme se enrosca todo para quando chega nos finalmente correr a beça e precisar explicar com textos. Ou seja, é um filme com uma história interessante, que pode até ter sido real, mas florearam demais tudo, e o resultado acabou não convencendo como deveria.

O longa nos mostra que em 1860, durante a Expedição dos Mil, Giuseppe Garibaldi enfrenta o poderoso exército Bourbon enquanto tenta conquistar Palermo. Quando tudo parece perdido, confia ao coronel Orsini um plano engenhoso: simular uma retirada com um grupo de feridos e soldados para enganar o comandante inimigo. Começa então uma arriscada partida de xadrez militar, marcada por manobras inesperadas e um desfecho surpreendente.

Diria que o diretor e roteirista Roberto Andò até trabalhou bem as dinâmicas de guerra, criando boas batalhas e sacadas e desenvolvendo seus personagens na tela, porém como a batalha foi bem engenhosa de uma parte para um lado e outra para o outro da ilha, ele acabou brincando demais com todas as facetas dos personagens, de modo que seu filme se perdeu um pouco de essência. Claro que quem me lê sabe que reclamo se os diretores não colocarem ficção em suas obras, mas quando tem algo real como uma guerra, não se pode encher de comicidade, e assim sendo o resultado acabou ficando um pouco frouxo demais, e além disso, mesmo que seja uma guerra de xadrez, daquelas que cada movimento tem de ser muito preciso, tem de ser colocado mais dinâmicas para que o público não perca o entusiasmo com tudo, e isso não ocorreu aqui, o que é uma pena.

Quanto das atuações, Toni Servillo fez um ar meio que preocupado e sério demais para seu Orsini, de modo que como um bom general de guerra, seguiu as normativas de Garibaldi e soube dimensionar toda a encenação para que as dinâmicas enganassem o outro exército bem maior, mas o personagem em si ficou faltando um ar mais imponente de general, o que acabou não chamando tanta atenção. Já Salvatore Ficarra brincou com seu Domenico Tricò, fazendo as nuances claras de quem entrou na guerra apenas para conseguir uma carona para casa, mas sem deixar que os momentos ficassem bobos demais, foi esperto com cada dinâmica e agradou com o que fez, mesmo sendo uma dupla meio sem nexo na tela. Outro que trabalhou bem a personalidade de seu Rosario Spitale foi Valentino Picone, de modo que sendo um picareta de mão cheia, roubando em jogos e tudo mais, soube fazer com que seu papel soasse divertido na medida para que tudo ficasse ao seu redor, mas como disse, acabaram roubando a entrega de uma guerra realmente.

Visualmente o longa foi interessante de pegada, mostrando ambientes simples, porém bem colocados, trabalhando um longa de guerra de baixo orçamento, com momentos intensos de luta com armas corpo a corpo, sem colocar muito sangue para manter a censura, tivemos atos em conventos, numa cidade praticamente vazia, e alguns momentos intensos dentro do navio chacoalhando ao máximo, com boas entregas de detalhes, mas sem ir muito além.

Enfim, é um filme divertido de certo modo, que certamente seria melhor com um ritmo mais intenso e chamativo, que faria o público se envolver melhor com toda a proposta da guerra, além de talvez não forçar tanto para o lado cômico, mas o cinema italiano gosta dessa formatação mista, então temos de entrar no clima quando vemos em festivais. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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Amazon Prime Video - Depois da Caçada (After The Hunt)

11/23/2025 03:44:00 AM |

Por assistir tantos filmes, muitas vezes me deparo com algumas tramas que parecem que já assisti antes, e dessa forma fico sempre esperando aquele algo a mais na maioria das produções que confiro. Dito isso, tenho a nítida impressão que vi muito recentemente uma trama muito semelhante ao longa "Depois da Caçada", que incrivelmente nem teve um grande período nos cinemas entrando em cartaz dia 08/10 e agora já dia 20/11 chegou na Amazon Prime Video, trabalhando o conceito de ética e moral quando usam de mentiras ou não para se promover numa sociedade, empresa, faculdade ou até mesmo num relacionamento, desejando acabar ou manchar a vida de outra pessoa envolvida, e essa ideologia é interessante dentro do cinema do diretor Luca Guadagnino, pois ele sabe bem trabalhar a estética e o clima de tensão em seus filmes, o que deu uma nuance digamos "nova" para esse trabalho, porém faltou exatamente o que está escrito no topo do pôster que é deixar o espectador também desconfortável com a entrega, e isso não ocorreu aqui. Ou seja, é um filme bem denso, aonde a situação ocorre com muitas vertentes, que daria para impactar mais, mas que ainda assim é bem bom para discussões morais e éticas envolvendo relacionamentos em ambientes corporativos ou estudantis, que talvez funcione mais para alguns do que para outros, talvez crie gatilhos para alguns, mas que não conseguiu me incomodar como a proposta pedia, e em um filme desse estilo, isso é preocupante.

O longa nos conta que Alma Imhoff é uma professora universitária apaixonada pela sua profissão. No entanto, ao receber uma notícia surpreendente, a sua vida é completamente transformada. Maggie Price, a sua aluna prodígio, realiza uma denúncia extremamente grave contra um de seus colegas de profissão. Enfrentando um grande desafio, além de precisar lidar com a acusação feita com Hank Gibson, Alma precisa tomar cuidado para que um segredo obscuro de seu próprio passado não venha à tona.

Ainda acredito que o diretor Luca Guadagnino deveria ter sido indicado a mais premiações por "Rivais" do que por "Me Chame Pelo Seu Nome",  mas isso é uma opinião sobre o estilo e a desenvoltura que me convenceram bem mais na pegada do que por algo da narrativa em si, e aqui nesse longa em mais de um momento se fala em plágio, porém ainda acredito que a atriz e roteirista estreante Nora Garrett se baseou (ou plagiou) outra história que já vi bem recentemente ("O Bom Professor"). Porém, deixando isso de lado, o estilo do diretor de criar tensão ficou por conta da trilha sonora incomoda entremeada com o tema, afinal sabemos que essa dinâmica de certo ou errado nas relações, do "não" servir como uma boa desculpa do consensual ou não, e assim essas aberturas que o diretor acabou brincando foram bem floreadas na tela, de forma que até convence, mas volto a frisar que faltou seu diferencial, e aqui cairia como uma luva dar uma apimentada em tudo.

Quanto das atuações, é até engraçado ver Julia Roberts em um papel que não precisou ir além na tela, parecendo estar com muita segurança para que sua Alma não fosse insegura quanto de suas atitudes, e mesmo que isso seja algo bacana de ver com sua experiência monumental, ficou em alguns momentos parecendo até soar arrogante demais, o que não era do papel, até claro antes do ato final, ou seja, a atriz poderia ter passado alguns atos menos fechada para que tudo ficasse aberto para algo mais inseguro. Agora falando no quesito arrogância, faltou para Ayo Edebiri uma perspectiva menos imponente, afinal era a sua palavra contra outros muito maiores que ela, e sua personagem Maggie ficou como algo muito fora dos padrões, embora seja alguém muito rica, não poderia ter tanta suntuosidade na tela, então acredito que a atriz se jogou muito além da proposta, o que nesse filme não era algo que necessitasse tanto. O personagem Hank que Andrew Garfield entregou tinha mais para impactar e causar, de modo que o ator não foi tão usado quanto poderia, ou melhor, pagaram um cachê caro para um ator tão famoso, em um papel que qualquer ator jovem entregaria da mesma forma, ou seja, ficou devendo ele e o personagem. Quanto os demais, diria que tivemos algumas cenas bem colocadas de Michael Stuhlbarg com seu Frederik e Chlöe Sevigny com sua Dra. Kim, mas nada que fosse impactante o suficiente para dar grandes destaques para eles.

Visualmente posso dizer que estou muito feliz de ter visto o longa em casa, pois ele tem muitas cenas escuras que na maioria das salas de cinemas atuais nem veríamos nada na tela, mas diria que alguns ambientes bem ricos, mostrando a casa da professora como algo de altíssimo nível intelectual, tivemos alguns atos em salas de aula e salas de discussões, uma reitoria bem trabalhada, mostrando claro o nível da universidade, e também alguns atos em bares e lanchonetes, além claro do antigo apartamento da protagonista no cais, bem simples e praticamente sem nenhum móvel, quase como algo abandonado.

Enfim, é um filme que tinha mais potencial, afinal com um diretor renomado e um elenco de peso dava para ir muito mais além na tela, e discutir muito mais sobre tudo, ficando bem em segundo plano para causar como deveria, e nesse sentido talvez tenha sido o problema do roteiro ser de uma estreante no cargo. E é isso meus amigos, deixo essa recomendação como algo mediano, mas quem gosta de estudar um pouco das relações filosóficas pode ser que sirva de material, mas não vá esperando muito dele, senão irá se desapontar. Fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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Silvio Santos Vem Aí

11/22/2025 10:40:00 PM |

Hoje fui ao cinema com praticamente um carrinho de pedras para tacar no longa "Silvio Santos Vem Aí", pois desde o dia que vi o trailer ficou na minha mente que era um exagero estar fazendo mais uma obra sobre o comunicador, ainda mais com Leandro Hassum, que sabemos que é um ator cheio de exageros na forma de atuar, mas posso afirmar que após conferir voltei com o carrinho cheio de volta, ainda mais pesado pela ótima entrega do ator que não tentou imitar Silvio, e principalmente por trabalhar tudo dentro de um contexto que não ficou jogado como "mais um", e sim como um "definitivo", já que a história trabalha o período que Silvio tentou entrar para a política, e alguém que não era fã dele foi colocada para acompanhar e conhecer mais sobre o homem, não o personagem, e com isso nos colocamos no mesmo papel de Manu Gavassi, como alguém que não era apaixonada pelo que ele fazia nos palcos, mas que não conhecíamos de sua entrega com suas colegas de trabalho da plateia, da atenção para com as crianças no programa infantil, da conexão com a esposa atual e a que morreu no passado, e claro com os funcionários mais próximos, sendo algo que foi muito mais do que a política em si colocada em segundo plano, mas um filme sincero e gostoso de acompanhar. Ou seja, é daquelas tramas biográficas que vale a atenção, que funciona como não se espera, e que estreou na época mais errada possível, pois no meio de uma tonelada de blockbusters vai acabar sendo esquecida, o que de forma alguma merecia.

O longa acompanha os bastidores do programa de auditório que virou marca registrada e consagrou Silvio Santos como um dos maiores comunicadores do país. A trama se passa em 1989, logo após Silvio se candidatar, para a surpresa de todos, à presidência da república. A jornalista e publicitária Marília é, então, convocada a trabalhar na equipe do apresentador com o intuito de investigar sua vida e prever qualquer tipo de ataque e jogo sujo de seus adversários. Apesar de desconfiada, Marília é conquistada pelo carisma do comunicador, gerando uma parceria, mas também muitos embates. Embora um ícone da TV, Silvio é reservado e o convívio dos dois trará descobertas surpreendentes, com ambos sendo transformados no processo.

O que mais me surpreendeu foi ver a diretora Cris D'Amato que é conhecida por suas comédias, o roteirista Paulo Cursino que também é muito conhecido pelas comédias e Leandro Hassum que é um ator de comédias se juntarem para algo que não é uma comédia, embora até muitos tenham levado a candidatura de Silvio Santos como uma piada, mas a essência biográfica ficou marcada por algo com uma comicidade leve e em segundo plano, sendo sincera e gostosa de conhecer o personagem, ou melhor, o homem Senor por trás das câmeras, e dessa forma toda a entrega acabou sendo tão gostosa, que mostra que quando querem acertar, esse grupo de peso sabe fazer muito bem, pois a trama não tem uma vírgula que você olhe e fale que mudaria para algo diferente. Ou seja, é daqueles filmes que conseguimos enxergar bem a história que o roteirista tentou nos contar, quanto a diretora conseguiu nos levar para a época e trabalhar esse desenvolvimento na tela, de tal forma que o resultado flui fácil, nos faz prender os olhos na tela, e o resultado final acaba sendo surpreendentemente bom, pois tinha tudo para dar errado, mas não deu.

E falando do que poderia dar muito errado, afinal tanto no trailer quanto numa das primeiras cenas do longa vemos a protagonista falando que todo mundo acha que sabe imitar Silvio Santos, então o maior medo do público era ver depois de 3 ou 4 filmes que literalmente fizeram imitações ruins do verdadeiro, imaginar como seria com Leandro Hassum, que já fez muitas imitações e é um comediante que ou você ama ou odeia, ou seja, era um risco imenso que quiseram arriscar, e felizmente Hassum fez o mais certo, que era não imitar o Silvio, e sim deixar fluir como algo natural na tela, e isso ficou mais perfeito do que se ele tivesse pego para fazer qualquer outra pessoa, pois não vemos uma caricatura na tela, mas sim um homem que era sim multimilionário, mas que se divertia com o que fazia, saindo não para trabalhar, mas sim fazer o povo sorrir, e o ator conseguiu isso, pois saímos da sessão com um sorriso estampado na cara. Outra que poderia falhar demais era Manu Gavassi, pois seu jeito de atuar poderia não passar uma seriedade tradicional de uma jornalista e publicitária bem empossada, mas conseguiu dar um tom leve e bem colocado para que sua Marília fosse bem desenvolta e conquistasse o carisma do público, e principalmente do protagonista, fazendo atos bem dinâmicos e graciosos para que não ficasse uma personagem seca, e isso acabou agradando na tela. Ainda tivemos outros bons papeis, mas a base mesmo ficou com os dois personagens, valendo leves destaques para Marcelo Laham como Raul dono da agência de propaganda contratada pelo partido, e Regiane Alves dando um tom bem meigo para Íris Abravanel, mas sem grandes momentos que quebrassem o elo dos dois principais.

Visualmente a equipe fez um belo trabalho de época, com televisores e telefones antigos, pagers, orelhões, roupas bem tradicionais do final dos anos 80, formas de montagens com recortes nas equipes publicitárias (hoje no celular mesmo fariam o que o diretor da agência queria), vemos os vários programas antigos do apresentador, todos muito bem representados na tela em detalhes, e com todo o contexto da trama trabalhando um SBT das origens, que consegue chamar atenção e funcionar. Ou seja, é um filme que você vê boa base, ângulos muito bem escolhidos (a cena do almoço da protagonista com Lombardi sem mostrar o rosto dele sempre com algo inusitado é de um primor que chega a espantar!), e assim funcionou de várias formas na tela.

Enfim, é um filme que vale demais a recomendação, que até poderiam ter explorado mais alguns detalhes aqui ou ali, mas só serviria para aumentar o tempo de tela, pois diferente de muitos outros que desejamos acelerar as dinâmicas para não cansar o espectador, aqui fica aquele gostinho de quero mais, e isso costumo dizer que é um tremendo acerto. Ou seja, vá se divertir com uma história que poderia ter mudado a História do nosso país, afinal aos 45 do segundo tempo tiraram a chance de Silvio concorrer, mas talvez isso estragaria a memória gostosa que temos dele. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas verei mais um longa hoje, então abraços e até mais tarde.

PS: gostaria de ter visto mais Silvio e menos Marília, só esse é o motivo da nota não ser maior, mas ainda assim é um tremendo filmaço do cinema nacional!


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Netflix - O Filho de Mil Homens

11/22/2025 02:24:00 AM |

Existe uma linha tão fina, mas tão fina, que quase nem enxergamos que separa um filme introspectivo de um filme chato e/ou insuportável, e diria que mesmo gostando bastante de tramas introspectivas para refletir sobre o tema proposto, o longa da Netflix, "O Filho de Mil Homens", está no limite do limite dessa linha, ou seja, é o famoso filme que tenho de colocar aquela advertência gigante que se você não está acostumado com tramas de festivais nem passe perto de dar o play nele, pois a chance de você dormir é alta, e quem está dizendo isso é uma pessoa que gosta do estilo, que tem dificuldades para dormir, e precisou voltar uma parte por ter chegado a pegar no sono. Claro que o longa tem uma essência emocional belíssima que raramente vemos ser colocada em uma trama nacional, com nuances bem próximas de um cinema oriental, que trabalha muito esse estilo de dinâmica, mas outro dia falando com um amigo sobre isso, acredito que hoje o público normal não aceita mais esse estilo de trama, que fantasia em cima de temas reais, mas que se perde entre fantasia e realidade, ficando algo cansativo que leva nada a lugar algum, não permitindo reflexões sobre temas, nem sendo completamente alegórico, e aqui infelizmente é desse estilo, e assim não flui.

O longa acompanha Crisóstomo, um pescador solitário no auge de seus 40 anos que carrega dentro de si a culpa por não ter conseguido ser pai. Na procura de um filho sem pai, já que ele mesmo é um pai sem filho, Crisóstomo esbarra com Camilo, um garoto órfão de apenas 12 anos de idade. Logo, eles iniciam juntos uma jornada arriscada, mas recompensadora, de formar uma família nada convencional. No povoado onde vivem, um jovem incompreendido chamado Antonino (Johnny Massaro) e uma mulher fugindo da própria dor chamada Isaura (Rebeca Jamir) cruzam o caminho de Crisóstomo e Camilo. Juntos, os quatro aprendem o verdadeiro significado de família e o propósito de compartilhar a vida.

O mais interessante é que sabemos do potencial que o diretor e roteirista Daniel Rezende tem para adaptar histórias, porém aqui acredito que tenha se perdido na fantasia que o escritor Valter Hugo Mãe entregou em seu livro, e acabou indo para rumos tão com cara de festivais e de agradar críticos, que acabou saindo de eixo, pois repito que não é um filme ruim, muito pelo contrário, tem cenas potencialmente lindas, tem uma trama que permitia algumas reflexões, mas ele que é conhecido como um dos melhores editores do Brasil deixou a trama fluir tão lentamente, com dinâmicas quase inexistentes, e o resultado acabou sendo um marasmo que fez alguém que tem problemas para dormir acabar dormindo, ou seja, falhou em diversos momentos querendo brincar com o lúdico e com o real, e entregou algo que não foi para lado algum.

Quanto das atuações, estou preocupado com as escolhas de Rodrigo Santoro, pois já é seu segundo filme alternativo em menos de um ano, e ele que vinha numa decolada boa de bons papeis, chamando atenção de diversos diretores e tudo mais, está escolhendo tramas introspectivas demais que até mostra muito de si, se jogando completamente para que seu Crisóstomo fosse denso e chamativo, mas esse não é o ator que tem potencial de bater nas cabeças como melhor ator em tudo, então precisa recalcular rota para não virar ator que só faz filme de festival, e acabar sumindo do mapa. O jovem Miguel Martines mostrou muita personalidade e entrega para que seu Camilo fosse simples, porém expressivo, de modo que talvez com dinâmicas mais intensas chamasse mais atenção, porém seu papel é muito submisso na tela, e isso acaba não impactando tanto quanto poderia. Quanto aos demais, tivemos até algumas cenas bem intensas de Rebeca Jamir com sua Isaura e um Antonino bem abobado que Johnny Massaro acabou entregando, não fluindo tanto, mas ao menos não desapontando com o que tinham de fazer na tela. 

Visualmente o longa tem cenas bonitas, tem alegorias com efeitos bem interessantes, e uma fotografia bem suja, parecendo até mais algo desértico do que uma beira-mar, mas a escolha dos tons, a casa extremamente simples de todos ali, todo o visual funcional dentro do mar com o som da concha levando o protagonista para ambientes malucos e que conectam bem com os demais personagens, acabaram mostrando técnica e um trabalho primoroso que nem foi tão usado na tela, mas que a equipe pode dormir tranquila com algo cumprido.

Enfim, é um filme interessante de proposta, que talvez indo para rumos mais dinâmicos e com uma trama escolhendo qual lado tomar (real ou fantasioso) ao invés de misturar tudo acabaria agradando bem mais, mas da forma que foi feita só recomendo dar o play se você estiver com seu sono em dia e gostar muito de tramas complexas que não irá levar você necessariamente para algum lugar, então fica a ressalva. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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O Sobrevivente (The Running Man)

11/21/2025 10:05:00 AM |

Costumo dizer que quando um filme funciona não tem como sair triste da sessão, pois muitas vezes vamos conferir algumas tramas que já dá para saber de cara que é uma bomba completa, e refilmagens tem sido riscos gigantes de falhas, porém confesso que hoje fui assistir ao novo "O Sobrevivente" sem lembrar praticamente nada, a não ser que o protagonista era o Schwarzenegger lá, então acabei vendo como algo totalmente novo para mim, e o que posso dizer de cara é que a trama entregou tanta ação, tanto questionamento crítico e político, tantas nuances do modo de ser e aparecer, que acabou não apenas convencendo o público de tudo o que foi mostrado, mas sim tirou aplausos da sessão que eu estava, e olha que imaginava que isso iria ocorrer ontem na pré lotada de fãs de "Wicked - Parte 2", e acabou não acontecendo. Ou seja, é um filme que vai agradar os machões que querem ver tiro, porrada e bomba, mas também tem um cerne pensante dentro de toda a essência entregue, que quem estiver disposto a enxergar irá curtir bastante, assim como eu e mais toda a sala curtiu.

O longa retrata uma realidade sombria, nos Estados Unidos, onde a economia está em colapso e a violência global se intensifica. Nesse cenário caótico, Ben Richards (Glen Powell) encontra sua única chance de salvar a família ao se voluntariar para participar do violento game show "O Sobrevivente". No programa, os participantes precisam escapar de uma equipe de assassinos profissionais enviados para matá-los durante 30 dias, com a promessa de ganhar um prêmio em dinheiro. Se sobreviver, Ben conseguirá ajudar sua filha doente e tirar sua família da pobreza. O Sobrevivente explora temas como controle estatal, manipulação da mídia e a luta desesperada pela sobrevivência em um mundo cada vez mais brutal e desumanizado, refletindo preocupações sociais e políticas que ainda ressoam fortemente.

Diria que o diretor Edgar Wright soube trabalhar bem a essência de um mundo caótico um pouco além do que estamos vivendo, pois não está muito longe de vermos programas de TV do estilo para que as pessoas tentem sobreviver a caçadas, aliás se estudarmos alguns livros veríamos que alguns países já fizeram desse estilo no passado, e também já vimos outros longas com a pegada de sobrevivência, mas a grande sacada do diretor e roteirista foi a de brincar com seu estilão de ação sem limites, o que deu um tom intenso, forte e cheio de nuances bem encaixadas, além claro de juntar alguma comicidade sem forçar a barra, mas principalmente sendo político na medida para que as críticas num mundo fictício fossem bem reais com as atuais que andamos vendo. Ou seja, ele fez um filmão com sua cara, e já tinha mostrado potencial para isso antes.

Quanto das atuações, tem alguns atores que já estão virando figurinha repetida nas nossas telas, e Glen Powell é um deles, mas sempre trabalhando boas facetas, ele consegue prender a atenção em todos seus longas, e aqui seu Ben Richards tem a desenvoltura necessária para as cenas de ação e também um temperamento forte para seus atos de fúria, ou seja, deu tudo que o personagem precisava e mais um pouco, convencendo da entrega que fez. Josh Brolin trabalhou bem demais como o produtor do programa Dan Killian, sendo daqueles chefões que sabem trabalhar com seus líderes para que não precise sujar suas mãos de sangue, e o ator tem bem essa faceta de vilão, conseguindo impressionar na medida certa com a entrega que fez. Colman Domingo fez bem o apresentador do programa Bobby T, tendo personalidade para conduzir o público à loucura conforme as coisas iam ficando mais quentes na caçada, sendo imprudente e bem chamativo na pegada escolhida. Ainda tivemos outros bons personagens, mas sem grandes nuances que impactassem na tela, valendo citar Emilia Jones com sua Amelia bem usada nos atos de fechamento e Lee Pace ficando a maior parte do filme coberto com uma máscara para que seu McCone fosse imponente, mas quem entregou muito entre os secundários e deu show com sua loucura foi Michael Cera com seu Elton cheio de nuances e Daniel Ezra com seu Bradley explicando bem toda a insanidade dos realities do estilo.

Visualmente a trama teve uma boa entrega bem explosiva, mostrando locações mais fechadas na comunidade aonde o personagem vai se escondendo, tendo casas, hotéis e pousadas de todos os estilos, vemos bastante do palco com um auditório insano, muitos tanques e carros fortes pelas ruas, um avião bem moderno e antes de tudo todo um centro de treinamentos insanos por onde os personagens fazem seus testes para chegar ao programa realmente, ou seja, tudo bem grandioso com muitos tiros, mortes fortes e armadilhas bem trabalhadas no melhor estilo que gostamos de ver.

Enfim, é um longa que fui assistir com uma expectativa até que alta pelo trailer ter chamado minha atenção, mas como sabia que era uma refilmagem fui sem esperar que me impressionasse realmente, porém o resultado final é insano e vale a conferida para pensar em tudo desse meio televisivo e claro de como o mundo anda sendo maquiado. Então fica a dica para conferirem, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até amanhã com mais dicas.


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Wicked - Parte 2 em Imax 3D (Wicked For Good)

11/20/2025 02:55:00 AM |

Se na crítica da primeira parte de "Wicked" eu falei que não cortaria praticamente nada dos 160 minutos de filme, agora na segunda parte posso dizer que facilmente cortaria no mínimo uns 50 minutos dos 138 minutos de projeção, ou seja, somando as duas partes dá um total de 298 minutos, ou praticamente 5 horas que com 3 horas e meia bem cortadas ficaria um tremendo filmaço único daqueles para você sair arrepiado, chorando e tudo mais, mas usando a mesma faceta que falei lá, dá muita dó cortar qualquer coisa de uma produção com 80-90% construída para ser filmada, não tendo excessos computacionais e telas verdes para todos os lados, mas se o primeiro longa flui maravilhosamente bem, com canções que grudavam em nossas mentes, personagens bem apresentados e dinâmicas funcionais, aqui tudo pareceu enrolação para dar tempo de tela, com canções que não empolgam (tirando claro os fanáticos do musical que até choraram de soluçar na sessão!) e dinâmicas sem tantos chamarizes, personagens secundários tendo até importância demais na tela, e assim o resultado ao menos no olhar crítico acaba sendo chato de ver, maravilhosamente lindo na tela, mas com uma história que só faz valer mesmo os 30 minutos finais.

A sinopse que agora, Elphaba e Glinda estão separadas e devem enfrentar as consequências das ações e decisões que tomaram. Enquanto Elphaba segue demonizada como a Bruxa Má do Oeste, exilando-se na floresta de Oz, Glinda vive as glórias de ter se tornado o símbolo da Bondade no reino, morando no palácio da Cidade das Esmeraldas e desfrutando da fama e do glamour de ser amada por toda a população. Quando Glinda tenta intermediar uma reconciliação entre Elphaba e O Mágico, as coisas parecem piorar, afastando ainda mais as duas amigas. A visita de uma garota do Kansas vira tudo de cabeça para baixo, enquanto uma multidão se coloca contra a Bruxa Má, o que obrigará a dupla a se unir novamente.

Posso dizer facilmente que o diretor Jon M. Chu vai ser o terror dos produtores nos próximos anos, afinal aqui ele mostrou que não estava para brincadeira, criando ambientes gigantescos e fazendo com que qualquer editor ficasse com muita dó de cortar qualquer parte, tanto que inicialmente os planos do longa nunca foi ser feito em duas partes, mas precisaram, porém para a segunda parte inteira tivemos muitos atos que acabou faltando dinâmicas imponentes, sendo tudo muito arrastado para valorizar realmente a cenografia e os personagens. Sendo produtor, eu adoro ver cada detalhe, e posso afirmar que dá quase para ver o estagiário anotando rapidamente cada centavo de dólar usado em cada cena, para depois prestar as contas para os investidores, mas para o público normal (não estou me referindo aos fãs) o longa vai ser uma tortura, o que é uma pena, pois a parte um volto a frisar que é incrível. Ou seja, costumo falar que diretores grandiosos demais precisam de um produtor de cena que lhe pode, que fique ao seu redor e fale para ele que já deu, pois depois de gravado você vai querer usar algo que ficou bonito de ver, e nesse sentido colocaria que essa parte dois é um deleite feito para os fãs do musical verem partes que talvez no musical da Broadway foram eliminadas, e eles desejavam ver na telona, então nesse sentido, tudo funciona e emociona os fãs, e você que é uma pessoa normal vai ficar se perguntando o que rolou.

Quanto das atuações, chega a ser repetitivo, mas se jogar em um musical é algo para poucos, pois ter de cantar interpretando exige um algo a mais, e tanto Cynthia Erivo quanto Ariana Grande se jogaram por demais para suas Elphaba e Glinda, ao ponto que aqui já bem empossadas de seus papeis, vemos uma Cynthia mais imponente, mais determinada e sem erros para que suas cenas ficassem bem marcantes, enquanto Ariana já trabalhou algo mais sensível, mais delicado, que até soa engraçado em alguns momentos, porém funciona bem para a proposta, mostrando que foram escolhidas a dedo, e se na primeira parte já tinham mostrado técnica vocal combinada com boas entregas corporais, aqui foram ainda mais além. É engraçado que no primeiro filme Michelle Yeoh ficou menos explosiva com sua Madame Morrible, porém aqui ela quase desbanca como realmente uma bruxa má, sendo firme nas entregas mais fortes e chamando muita atenção no que fez. Ainda tivemos bons momentos de Jeff Goldblum com seu Mágico de Oz, sempre com trejeitos carismáticos bem trabalhados, e Jonathan Bailey precisando até botar o corpo para jogo para chamar atenção com seu Fiyero, mas não desapontaram com o que precisavam fazer. Algo que gostei muito e não vou citar os personagens e atores, foi como cada um virou os famosos personagens que acompanham Dorothy no famoso filme de Oz, mas o resultado tanto visual quanto de entrega dos atores foi bem bacana de ver.

Visualmente não tem como não se impressionar com a quantidade de detalhes em cada ambiente, desde as cenas dentro do castelo do mágico, com um porão detalhado de jaulas, passando pelo esconderijo de Elphaba na floresta e depois seu grandioso castelo com todos os macacos voadores, vemos muitos animais perfeitos de texturas, até a maravilhosa entrada do casamento com as borboletas voando para todos os cantos da sala do cinema em 3D, ainda tivemos todo o aparato da bolha, e ver a pequena Galinda desejando ter sua magia, e claro os diversos figurinos um mais bonito que o outro, com muitos figurantes perfeitamente bem vestidos também tudo dando diversas composições para o cenário. Quanto do 3D do longa, para os amantes da tecnologia o diretor brincou bastante com muitos elementos saindo para fora da tela, tendo claro uma funcionalidade visual de composição, mas também tem muitas cenas que praticamente se desliga por total não tendo nem profundidade de campo, o que não deveria acontecer, já que o longa foi gravado com a tecnologia, mas o mais importante é que funciona na tela.

Esse segundo capítulo do filme tem músicas mais densas, e por isso não são tão emocionais para quem não é tão envolvido na trama, de modo que parece faltar algo que puxe mais nossa atenção, ao ponto que facilmente poderiam entregar tudo sem cantar uma nota só que fosse, diferente do primeiro capítulo aonde somos imersos nas canções, ou seja, acaba sendo bonito de ver elas cantando e interpretando, o bom tom da orquestra, mas não encaixa tão bem.

Enfim, volto a frisar que não é um filme que cansa, mesmo sendo bem alongado, mas que dava para ser mais enxuto para agradar mais a todos, e não só os fãs do musical, de modo que se o primeiro levou várias indicações e prêmios, aqui acredito que deva aparecer somente no conceito visual das premiações, então fica a dica para os fãs irem se emocionar e envolver, e os demais apenas irem para fechar a história, mas sem esperar nada que vá realmente fazer valer como era imaginado. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.

PS: pensei em até dar uma nota menor para o longa, mas meu lado produtor ainda está floreando com todo o visual da tela, então vai ser essa a nota mesmo.


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