Made in China

10/31/2014 01:56:00 AM |

Já sabemos que o gênero que move o cinema nacional é a comédia, goste você ou não da forma que é representado no país, e assim como existe em outros países, esse gênero consegue ter variações boas, ruins e péssimas, saindo desde o romance engraçado até apelo escatológico, e nesse entremeio vem surgindo um produto mais interessante que usa da leveza do cotidiano para fazer com que o público de risada, não precisando nem apelar para escatologias nem para romances enfadonhos. Com essa proposta chega na semana que vem (06/11) aos cinemas "Made in China", que brinca com a invasão dos produtos chineses nos mercados populares e de uma maneira bem descontraída consegue envolver o espectador sem precisar forçar a barra e pecando muito pouco por exageros vai com certeza divertir quem chegar preparado para o pior, afinal rola todo um preconceito logo de cara pela protagonista, e a superação atinge o gosto popular do cinema nacional.

O filme nos mostra que Francis é uma vendedora na Casa São Jorge, uma loja de brinquedos de Seu Nazir, que fica na Saara, no Rio de Janeiro. Intrigada com os preços tão baixos da loja de chineses recém-chegados no local, Francis, junto do namorado Carlos Eduardo e da companheira de trabalho Andressa, decide investigá-los para descobrir o segredo dos concorrentes e salvar o comércio do patrão.

Depois de muitos curtas-metragens, séries e programas de TV, Estevão Ciavatta estreia na direção de um longa-metragem, e ao escolher uma boa equipe de produção consegue iniciar com o pé direito, já que trabalhando com um ritmo contínuo, onde coloca o carisma da sua esposa à prova junto de outros amigos, o longa é montado para seguir uma linha única de pensamento, como os chineses conseguem preços tão baratos que acabam quebrando a economia da cidade, claro que de uma forma cômica, pois esse assunto daria um documentário pesado e bem tramado caso quisessem estudar mais a fundo a história. E sabendo escolher ângulos não tão tradicionais de câmera, o diretor desenvolveu o roteiro como sempre fez nas séries e programas que dirigiu, ou seja, deixando fluir e não se preocupando com um plano fechado característico do cinema mais tradicional, e mesmo necessitando em certas cenas fechar a lente da câmera para não necessitar de uma cenografia mais ampliada, ele ainda conseguiu segurar a trama com uma unidade bem pautada.

Quanto das atuações, não temos nenhum grande momento que mereça algum expressão mais contundente, mas Regina Casé consegue ser a grande personagem que já mantém há alguns anos em seu programa dominical, e com esse jeitão de ser ela acaba envolvendo as piadas para um lado bacana, mesmo repetindo sua frase ao menos umas 5 vezes, talvez sendo diferente não agradaria tanto, mas também o filme poderia ser outro com outra protagonista, o que atrapalharia o resultado final já que ela caiu bem no papel. Xande de Pilares estreando na atuação faz um personagem até que interessante que quem já frequentou feiras populares sabe bem da existência, e por ser um pagodeiro/sambista romântico sabe bem como impressionar quando precisa, claro que de uma forma ainda amadora na interpretação, mas não decepcionou. Juliana Alves é uma das poucas ex-BBBs que deram certo na televisão, afinal com seu corpão consegue chamar atenção nos papéis que pode ser explorado isso, só faltou colocar um pouco mais de comicidade no papel ao invés de carões para seu lado mais espiritual. Otávio Augusto é um ator que já fez de tudo na TV, no cinema e nos palcos, mas seu personagem aqui como dono de loja faltou muito arroz e feijão para agradar, o que é uma pena, já que a ideia da trama caberia facilmente como uma pós-série e necessitaria de alguém bem encaixado para o papel. Luis Lobianco deve se achar engraçado, e só ele acha isso, pois suas facetas não conseguiram sequer chamar atenção com piadas fracas e expressão mais fraca ainda, qualquer um no papel agradaria mais. Os atores chineses Liú Wang, Yili Chang e Tony Lee conseguem ao mesmo tempo ser parte da história e divertidos com suas falas que ninguém entende, e isso cabe bem na história, já que quem foi na 25 de Março ou na Saara sabe bem que não dá para entender nada o que eles falam, e ao mesmo tempo que acertaram em não legendar as falas deles, erraram ao botar símbolos chineses como sendo uma legenda, se não era pra entender nada não necessitaria nada embaixo.

Agora o maior acerto da trama ficou por conta da direção de arte de Tiago Marques Teixeira que soube utilizar o lugar popular e trabalhar bem todas as épocas comemorativas do ano, para isso fechando o campo de visão para ornamentar figurinos, cenários e objetos cênicos dando o contexto exato que a trama pedia, e esse acerto agrada bastante tanto como um simbolismo que é o comércio popular de feiras quanto envolver os personagens bem dentro da trama proposta. E junto com a equipe artística, a fotografia trabalhou bem ao iluminar com foco bem encaixado para junto do ângulo escolhido envolver as diversas cores trabalhadas para dar nuances alegres e bem colocadas na sintonia que o filme pediu.

E claro que mesmo sabendo que funk e pagode são as canções mais tocadas nesses lugares, o exagero da mixagem ficou um pouco fora de tom, chegando a irritar em alguns momentos com o excesso. Poderiam manter o ritmo facilmente com músicas do mesmo estilo, mas numa mixagem com dois tons abaixo para envolver sem destoar. No geral o resultado do ritmo satisfaz, mas o barulho demasiado chega a colocar você quase como um comprador no meio da bagunça que são esses locais, o que chega a pirar a cabeça.

Enfim, é um longa que agrada bem mais do que poderíamos imaginar. Claro que possui muitos defeitos como enumerei acima, mas são bem menores do que a comicidade passada pela trama, o que acaba envolvendo mais o espectador, e diferentemente das comédias novelescas e cheias de apelos que estamos acostumados a ver no cinema nacional, o longa desfila e faz com que todos saiam felizes sem sair ofendido com algo que pudesse chocar mais. No geral, como já falei mais para cima o resultado é satisfatório e até consigo recomendar ele para que outros amigos confiram na semana que vem, quando o longa estreia. Agradeço novamente a Difusora FM 91,3Mhz que é sempre nos convida para esses eventos e ao UCI Cinemas Ribeirão que sedia as empreitadas com todo carinho possível. Dessa vez estiveram presentes no evento a atriz Regina Casé e o diretor Estevão Ciavatta que possuem família na região, mas foram tão breves nos comentários que nem podemos dizer que foram importantes para o evento. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas logo mais estou de volta com as estreias da semana, então abraços e até breve.


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Sobrevivente Urbano

10/30/2014 12:36:00 AM |

Ao mesmo tempo em que fico muito feliz por ver produtoras pequenas conseguirem lançar seus longas comercialmente por todo o Brasil, fico também extremamente desapontado por banalizarem uma história que poderia ser de um potencial interessante, já que proveio de um curta feito no Canadá pelo diretor, e ao ser transformado em longa "Sobrevivente Urbano" virou uma enrolação sem limites, onde ninguém está preocupado com o conteúdo final da história, pois os atores fingem fazer caras que nem eles sabem o porquê estão fazendo, a montagem utilizou inúmeras imagens de arquivo aéreo para tentar conectar partes "teoricamente" sem nexos e a direção se perdeu ao não saber o que fazer de um roteiro simples, mas que poderia sim virar longa, porém com um trabalho gigantesco em cima, e preferencialmente escrito por outra pessoa que não ele próprio.

O filme nos mostra que saindo do trabalho, Daniel flagra o famoso jornalista Erick Mayer sendo ameaçado por um grupo de criminosos. Ele registra a cena com seu celular e, após ser surpreendido, torna-se alvo do líder da gangue, Tony, e do delegado Cesar Romero. Difamado e perseguido, Daniel precisa encontrar uma forma de salvar a esposa, sequestrada pelos bandidos, e tem apenas um amigo como aliado.

Se você leu a sinopse acima, acrescente muitas imagens inúteis, cenas dignas de uma novela bem ruim, e pronto, não será necessário perder 110 minutos da sua vida para conferir o longa. Um fator totalmente explicável sobre o maior erro da trama é o diretor pegar algo seu, um curta que filmou no Canadá, e ele mesmo recriar a história alongando apenas, e antes que me perguntem, não vi o curta, mas é notável a característica de enrolação de tempo, pois não temos uma história desenvolvida, mas sim pedaços de história que se juntarmos eliminando a encheção de linguiça não daria nem 70 minutos, e dessa forma acabaria nem sendo considerado longa-metragem, sendo classificado como um média. O diretor José Claudio Silva errou feio na condução da trama, já que o que vemos são os atores perdidos em cena, e alguns até saindo do plano convincente que deveria ser para que o filme se encaixasse ao menos em uma realidade, mesmo que abstrata. Ou seja, a ideia foi considerável, mas a execução completa falhou e muito.

O nível das atuações é tão fraco que não consigo relevar algo que seja útil falar deles, mesmo das coisas ruins que cada um aprontou, mas vamos lá. Toni Garrido ao menos aparenta estar mais gordo, afinal na última vez que o vi cantando achei que fosse voar, e aqui como ator mostrou que ainda canta bem, pois nem em milênios teríamos um chefe de quadrilha tão burro que pega a arma na mão e pensaria em algo senão mandar pro espaço quem quer que seja que estivesse na sua frente. Carlos Bonow tem tanta expressão que nos assusta com seu Erick, pois há momentos que deveria estar com cara de choro e se faz de bêbado, em seguida precisa se desesperar e está com sorriso irônico na face, ou seja, se alguém conseguir entender seu personagem sem ser pela trama explicada pode ser considerado gênio. André Di Mauro fez a escola "Tom & Jerry" de fuga com o seu Daniel, pois corre, corre, corre e acaba sendo pego ao lado de onde saiu, na outra cena, fica pulando de pilar em pilar e acaba no mesmo lugar, assim não dá para torcer para ele, além de sua cara de raiva ser tão fraca quanto os momentos em que conversa com a filha. Luciano Szafir não mostrou seus anos de atuação na trama, aparentando que fez seu Delegado de forma tão contraditória e sem satisfação com o papel que acaba ficando até chato suas cenas, além de que o erro ridículo de figurino para ele e seus policiais com distintivos pendurados no estilo americano de ser ficou péssimo. Liége Müller fazendo a esposa de Daniel, nas cenas de dramaticidade dá risada pedindo socorro, nem vou falar mais nada dela que só isso já mataria qualquer coisa boa que tivesse feito, mas não fez, então melhor nem falar muito. Déo Garcez mostra que seu Marcos é quase um hacker múltiplo com tudo que consegue fazer, além de adorar closes grudando sua cara quase sempre na câmera, ou seja, uma maluquice total. Bom se os protagonistas já foram desse nível, imaginem os secundários e figurantes, o destaque negativo fica para as recepcionistas inúteis e bobas.

Visualmente, as locações foram num nível até que aceitável, mas longe de conseguir agradar, tanto que foi necessário muito material extra aéreo para suprir os intervalos das cenas, e isso é uma falha grotesca para equipe que não preparou o cenário para que a trama se deslanchasse ali. Não temos praticamente nenhum elemento cênico contundente senão o telefone que foi usado na filmagem, e mesmo sendo algo importante, não deram a relevância que poderia para o objeto. A equipe de fotografia ficou com um medo monstruoso de não usar filtros e transformar o longa em um novelão, e com isso acabou errando demais com as nuances escolhidas, não trabalhando cores em nenhuma cena e deixando que o público decidisse qual cena valesse prestar atenção, e dessa forma com o final até daria para ter uma outra opinião sobre a trama, mas onde deveriam ter dado ênfase com a iluminação, acabaram esquecendo de focalizar.

Já vi partes sonoras estragarem um filme, e trilhas que deram ao menos uma segunda chance para uma trama, mas piorar algo que já estava ruim foi a primeira vez. As canções tocadas até envolvem e trazem algum sentido para a trama, mas as orquestradas escolhidas ficaram parecendo que foi comprado um HD de trilhas e saíram jogando na trama aleatoriamente, não tendo nada combinando com nada na cena, ou seja, uma bagunça total.

Enfim, não sei se por ter sido o último dia dele na cidade, a sessão estava totalmente vazia mesmo no dia mais barato do cinema, tendo apenas esse Coelho aqui assistindo ao filme, e em parte fico feliz com isso, pois mais ninguém acabou jogando dinheiro fora e saindo do cinema com mais convicção de que o cinema brasileiro não presta, o que já desmenti em diversos outros longas que considerei bons e excelentes, mas aqui já deixo claro para quem ver em cartaz na sua cidade que fuja dessa bomba, pois não vale a pena sair de casa para ver isso. Como disse no começo fico feliz por uma produtora/distribuidora pequena conseguir lançar no mercado comercial hiper-competitivo que temos seu longa, mas poderiam ao menos ter dado uma caprichada a mais. Fico por aqui agora, mas não consegui fechar a semana cinematográfica, de forma que acabei deixando um longa dessa para a próxima, mas em breve já irei conferir e falar sobre ele, então abraços e até breve pessoal.

PS: A nota vai apenas pela força de vontade e o sucesso na distribuição, pois tirando isso, o restante não valeria nem 1 coelho.


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Drácula - A História Nunca Contada

10/24/2014 10:11:00 PM |

Certos personagens acabam gerando diversas versões de filmes, séries, livros e tudo mais que a mente humana possa imaginar. Em alguns casos, essas repetições ou refilmagens acabam ficando chatos já que na maioria das vezes a história nem mereceria ser contada novamente, e vampiros embora nunca saiam de moda já deram tudo o que podiam nos cinemas, será? Os produtores de "Drácula - A História Nunca Contada" ao menos colocaram no nome que essa sua versão nunca foi mostrada, e felizmente é notável o frescor na história, dando uma repaginada na história conhecida e criando motivos para sua sede de sangue e de vingança. Aliado à isso, souberam colocar batalhas razoavelmente interessantes a ponto de fazer o espectador ficar atento à todos os detalhes para curtir bastante o que está sendo passado, ou seja, uma trama envolvente e bem satisfatória para quem gosta de ação no limiar para não virar um terror, e também não ser um romance.

O filme nos mostra que os habitantes da Transilvânia sempre foram inimigos dos turcos, com quem tiveram batalhas épicas. Para evitar que sua população fosse massacrada, o rei local aceitou entregar aos turcos centenas de crianças. Entre elas estava seu próprio filho, Vlad Tepes, que aprendeu com os turcos a arte de guerrear. Logo Vlad ganhou fama pela ferocidade nas batalhas e também por empalar os derrotados. De volta à Transilvânia, onde é nomeado príncipe, ele governa em paz por 10 anos. Só que o rei Mehmed mais uma vez exige que 1000 crianças sejam entregues aos turcos. Vlad se recusa e, com isso, inicia uma nova guerra. Para vencê-la, ele recorre a um ser das trevas que vive pela região. Após beber o sangue dele, Vlad se torna um vampiro e ganha poderes sobre-humanos.

A base da história é interessante pelo fato de não querer que você domine nem a história das batalhas otomanas muito menos virar um conhecedor nato de vampiros, ou seja, lhe é apresentado o básico do contexto e bora guerrear. Aí é que o diretor estreante em longas, Gary Shore entrou com tudo possível, transformando o simples em algo bem elaborado, que acompanhado de efeitos muito bem feitos e interessantes pela visceralidade, acaba dando um teor gostoso para se divertir com o que é passado. O diretor foi esperto em não ficar enrolando na história, visto que muitos acabariam enfatizando cada ponto para dar uma valorizada no roteiro, que até caberia ser mais bem explorado, mas o público-chave da trama são os adolescentes e com isso nada melhor do que muita briga, e claro pouco sangue, senão a classificação indicativa subiria muito, e esse é um dos fatores que mais decepciona no longa, já que um bom filme de terror, envolvendo vampiros e turcos empaladores, necessita ser praticamente uma carnificina no mínimo. E sendo assim temos algo bem light que quem tem nojo de cenas mais fortes pode assistir tranquilamente que o resultado vai agradar sem embrulhar o estômago.

Quanto das atuações, ironicamente temos um novo vampiro no papel do vampiro principal, outro ex-vampiro que agora vira apenas vilão, e outro ex-vampiro que continuou sendo vampiro, ou seja, a experiência nessa função conta para outros filmes. Luke Evans se sai bem natural ao misturar trejeitos canastrões com rispidez nas ações para que seu vampiro não fique nem cruel demais, mesmo com sua história dura, e também não seja bobinho demais para que a violência seja convincente, e dessa forma seu acerto é bem grande, claro que poderia nas cenas que não está na pancadaria ou nos diálogos mais fortes, trabalhar a expressão mais serena, e não ficar carrancudo o tempo inteiro, mas acabou sendo uma boa escolha para o papel, não decepcionando quando mais precisou. Dominic Cooper tem um texto de vilania monstruoso que se quisesse conseguiria arrebatar até alguns prêmios se tivesse feito uma atuação violenta como pediria, mas ficou tão em segundo plano na trama que somente sua cena de luta com o protagonista acabou valendo alguma atenção para si, e olha que teve mais chances de se mostrar, porém sempre fazendo os mesmos trejeitos acabou cansando. Charles Dance faz um vampiro tenebroso visualmente, que com auxílio de muita maquiagem acabou ficando até estranho, mas sua atuação e pontuação nos diálogos ficaram bem colocados e acabam agradando bastante, também poderiam ter dado mais chance ao personagem, o que acredito que possa vir caso queiram continuar a trama. Sarah Gadon teve boas cenas, mas fazendo sempre um ar triste nem aparentou ser uma rainha, teve alguns momentos intrigantes, mas nada que pudesse ser lembrado daqui há alguns dias. Dos demais quase nenhum chega a chamar atenção também, só o jovem Art Parkinson que como sempre saiu-se bem e conseguiu dar boas nuances de desespero nas cenas em que aparece.

Visualmente o longa conseguiu trabalhar bem o lado sombrio para termos as nuances que conhecemos da Transilvânia de outros filmes e aliado a Era em que se passa a trama, tivemos um contexto gráfico bem bonito de se ver, claro que tudo poderia ser mais explorado historicamente, mas aí teríamos um filme completamente diferente. A cada cena temos um objeto cênico marcante e isso chama bem a atenção para que pudéssemos colocar detalhe em cada época do filme, pois mesmo não trabalhando várias fases, dá para conectar as três de forma bem separadamente. A fotografia utilizou o preto como cor base e oscilou bem pouco nas demais cenas, dando algumas pitadas de vermelho e colocando em segunda mão o prata, o que deu um tom bem clássico para o filme. Os efeitos como disse mais acima ficaram muito bem trabalhados e o "desintegrar" dos vampiros ficou muito legal, juntamente com as cenas dos morcegos.

Com uma trilha sonora envolvente bem puxada para o rock com alguns toques de guitarra, a trama se desenvolve bem rapidamente e isso é bom para não perder o ritmo que o diretor quis passar e isso agrada bastante, já que tendo um contexto um pouco histórico acabaríamos tendo um filme chato se enrolasse muito.

Enfim, é um filme que vale a pena ser conferido e agrada tanto quem gosta de uma ação envolvente quanto quem quiser ver algo que dê para desenvolver um contexto mais histórico para a origem do personagem tão famoso que é o Drácula. Recomendo que vejam nas telas maiores pelas batalhas, mas nada que vá mudar muita coisa no filme. Claro que se os atores tivessem engajado um pouco mais e, quem sabe com uma direção mais experiente, o longa seria até melhor, mas não deixou a desejar em nada, agradando bastante com o que foi apresentado. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda faltam algumas estreias para conferir, mas como tenho alguns compromissos nesse final de semana, volto mais no meio da semana com o restante dos filmes. Então abraços e até breve!


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O Apocalipse

10/24/2014 01:10:00 AM |

Tem filmes que vamos já com pré-conceitos para a sessão, e o maior deles ultimamente da maioria das pessoas é "tem Nicolas Cage é ruim!", mas como sempre vou às sessões disposto à curtir o que o filme pode me passar, o que posso dizer inicialmente é que você pode sair da sua casa tranquilo para assistir "O Apocalipse" que ele consegue nos deixar tensos em alguns momentos e mesmo tendo toda a temática bíblica por trás de uma refilmagem, consegue manter a ação constante do início ao fim, claro que com muitas cenas improváveis de uma realidade, sem perder o contexto e dessa forma agradar a quem for disposto a curtir um filme sem pré-conceitos.

O filme nos mostra que após um longo tempo, Chloe decidiu visitar os pais. Ela andava irritava com a mãe, Irene, que há cerca de um ano insistia na pregação religiosa a todos à sua volta. Ainda no aeroporto ela encontra por acaso com seu pai, Rayford, um piloto de avião que iria trabalhar bem no dia do aniversário. Não demora muito para que Chloe perceba que ele arquitetou a viagem para ter um encontro com uma das aeromoças, o que a deixa bastante decepcionada. Também no aeroporto ela conhece Buck, que se interessa por ela mas embarca no voo que será pilotado por Rayford. Durante a viagem, algo repentino acontece em todo o planeta: milhões de pessoas simplesmente desaparecem, sem deixar vestígios. A situação causa um pânico geral.

Embora possa assustar o mote da trama ser religioso, e isso ser algo forte dentro da história, o longa até que consegue surpreender pela quantidade de ação, o que é um pouco incomum em filmes que possuem esse estilo de história. Claro que muito disso se deve ao roteiro ser embasado numa série completa de livros, que já foi transposta para as telonas mundiais como uma trilogia em 2000, sendo lançado aqui no Brasil diretamente em DVD com o nome original dos livros "Deixados Para Trás". O diretor Vic Armstrong, que é especialista em dublês, poderia ter abusado um pouco mais de cenas envolvendo os conflitos dentro do avião e nas ruas, mas aí fugiria um pouco dos protagonistas e não daria o tempo de um único filme, mas ele foi sábio ao menos em não ficar feito um maluco somente dentro dos fatores bíblicos, o que em algumas cenas até recai absurdo, já que a convicção é tão grande ninguém muda sua ideologia do nada, e felizmente isso não ocorre a todo momento. A cena final beira o absurdo máximo, já que em hipótese alguma tudo que ocorre ali rolaria, mas vamos levar em conta a ficção e aceitar.

Quanto das atuações, é de praxe que não dá querer que Nicolas Cage seja alguém diferente, e ainda me pergunto como ele ganhou um Oscar no passado, mas como um piloto até que saiu-se bem afinal não precisamos de alguém expressivo para o papel, claro que poderia nas cenas que envolvem mais tensão aparentar isso que agradaria mais, mas aí já não seria ele o protagonista. Chad Michael Murray incorporou na pele aqueles jornalistas chatos que não tem o que fazer, e quando o pau tá comendo solto pega sua câmera e filma, mesmo sem saber se vai sobreviver, vamos filmar tudo que tá acontecendo, e sua atuação até que convence bem, mas totalmente improvável o afeto entre ele e a protagonista logo de cara já virarem íntimos. Cassi Thomson com sua Chloe foi uma grata surpresa, ao fazer boas nuances de desespero e até algumas pitadas irônicas somente com o olhar, mas o grande problema é o que a pobre teve de fazer no filme, que sendo responsável pelas 2 cenas mais improváveis da história do cinema, acabará sendo lembrada por isso. Nicky Whelan também não teve muito o que fazer, apenas ser a aeromoça bonita que entra em desespero e tem um caso com o piloto, mas suas cenas de desespero foram ao menos convincentes e agradaram. Quanto dos demais passageiros é absurdo em cima de absurdo, e falar de qualquer um é querer rir do que fazem, inclusive quero saber o que leva uma cantora que já teve músicas no topo das paradas como Jordin Sparks a virar coadjuvante de quinta num filme, e ainda fazer toda a sua ceninha de desespero envolvendo marido e armas, totalmente fora do prumo.

Visualmente o longa teve um bom trabalho cênico, já que precisou de muita gente correndo nas cenas do shopping, todos com alguma coisa colorida na mão para distinguir e mostrar que não são clones digitais, dentro do avião foram condizentes ao mostrar à divisão de classes e bem colocados cada estilo de personalidade em cada área, sempre tendo algo para ser usado a mão. Nas cenas de destruição tivemos algumas micagens, mas sempre mostrando um bom trabalho da equipe artística para mostrar serviço, e isso é bacana, pois na trapalhada que acabam saindo boas cenas, e claro que muitas ruins também, mas aqui foi agradável ao menos. Um problema grande do filme ficou a cargo dos efeitos especiais, pois soaram falsos demais, e isso é um fator terrível dentro de longas de ação, afinal é um pecado a história envolver toda numa cena, e aí vem um fogo e chão partindo que não condiz jamais com o que aconteceria, entre outras coisas mais. A fotografia foi ao menos cuidadosa para não termos sombras demais dentro do avião, e preparou as cenas externas uma iluminação bem forte para que as nuances fossem mais chamativas, e tirando a maluquice final, tudo correu muito bem nesse quesito.

Enfim, é um filme bacana, que não tem nada a perder, afinal gastou-se pouco para um longa de ação e com 1 mês em cartaz em apenas alguns países já praticamente se pagou, e no Brasil como temos fãs a rodo do ator, é certeza de boa renda. Não posso dizer que é um filme maravilhoso, afinal pontuei os diversos problemas dele acima, mas recomendo para quem não tiver outros filmes para conferir e curtir uma ação "bíblica" na telona. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda tenho outras estreias para comentar, mas essa semana vou mais devagar no andamento aqui, então vamos com calma pessoal, então abraços e até breve.


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Na Quebrada

10/21/2014 12:04:00 AM |

Se existe uma coisa importante que deva ser valorizada dentro do cinema são os projetos sociais que incentivem melhorias dentro de comunidades e que dessa forma acabe criando formadores culturais para que possam dar ao menos cultura para a população carente. Já soube de diversos projetos pelo país que apoiam, e um deles é o Instituto Criar que foi fundado pelo apresentador Luciano Huck. Pois bem, após oficinas e curtas-metragens que foram feitos no projeto, chegou-se ao longa "Na Quebrada", através disso e demais elementos criados pelos jovens da comunidade, e o filme poderia ser imenso ao contar uma história que fosse escolhida a priori e desenvolvê-la com desenvoltura, mas ao optar por entrelaçar diversas outras montando um emaranhando quase que novelesco, acabou não contando quase que nenhuma, e com muitos erros de escolhas de linguagem, acabou se perdendo na forma construtiva de um longa e quase que ficou impossível gostar ao menos da ideologia da trama.

O filme nos mostra que entre tiros, confusões, amor e ódio, histórias de jovens de baixa renda se misturam em busca de sonhos e escolhas é sobrevivente de uma chacina. Gerson nunca teve a chance de ver o pai fora da prisão. Mônica se vê diferente de todos seus familiares. Junior é apaixonado por eletrônicos. Joana sonha com a mãe que nunca conheceu. A vida desses jovens é tocada pela arte de fazer cinema e assim podem mudar seus destinos.

Ao menos não podemos dizer que o esforço coletivo foi em vão, afinal todas as histórias possuem ao menos um elo interessante e de certa forma criativo, mas ao tentar unir todas, o clima acaba se perdendo e o diretor Fernando Grostein Andrade não consegue conduzir uma trama que o espectador ficasse curioso ao menos com alguma coisa, necessitando colocar textos escritos para contar o deslanchar de cada um ao final do longa. A história que deu origem à toda trama é a de Gerson e poderia ser um filme único no cinema de favela nacional, mas colocando todas as demais, tivemos quase um docudrama (documentário ficcional) onde cada personagem se perde no contexto e apenas falamos nossa que bacana foi aquilo não é mesmo? Por exemplo de todas as demais histórias acabamos nos envolvendo um pouco mais com o que é passado pela garota Mônica e pelos projetos que Zeca vai acabar desenvolvendo, mas não como um todo. Além disso, outro fator que acaba mostrando demais a desorientação do diretor é o excesso de planos aéreos mostrando a comunidade onde os personagens vivem, e na terceira ou quarta vez já cansamos de toda hora estar mostrando isso, e até onde eu consegui contar, afinal já estava me incomodando, foram 19, e garanto que tiveram muitas outras cenas onde não temos ninguém em quadro, mas sobe uma grua ou drone ou qualquer coisa do estilo para retratar a favela e tentar colocar o espectador na mesma situação em que vivem todos ali.

Quanto das atuações, a maioria é estreante nas telonas, e por mostrar a garra em querer fazer bem demais o seu papel, acabam até cometendo certos excessos de iniciantes, mas diferentemente do que se possa pensar, isso não atrapalha em nada a trama, muito pelo contrário, até faz com que exigíssemos menos deles. Por exemplo Felipe Dimas que já está há algum tempo atuando, fez de seu Zeca um personagem tradicional que poderíamos ver tranquilamente querendo algo diferente do que poderia ser e se mostrou tão humilde dentro da trama que não cogitamos em momento algum que ele já fosse um ator rico e vivido na TV junto de seu irmão mais famoso. Os estreantes filhos de Mano Brow, Jorge e Domênica Dias souberam colocar olhares bem longínquos para que ao mesmo tempo que torcêssemos por eles, também ficasse uma pontinha de pena, e como disse o personagem Gerson que Jorge interpreta daria um longa sozinho muito bem feito, além da história vivida por Domênica com sua Mônica ser a mais envolvente das paralelas. Jean Amorim com seu Junior é o mote cômico da história e junto com seu pai na trama Gero Camilo, são os responsáveis pelas risadas no meio de muita dramaticidade. Daiana Andrade teve a história de sua Joana mais velha rápida demais, e acabou sendo a responsável pela narração da junção das histórias, mas vale mais a pena seus momentos de criança.

Como disse, o diretor tentou nos colocar diversas vezes dentro da comunidade, e isso fez com que o trabalho da equipe artística fosse mais trabalhoso, porém acredito que nem tudo tenha saído como ele queria, pois o excesso demasiado de closes, e sabendo que a maioria dos atores não são grandes profissionais da interpretação, ele acabou fechando o ângulo não valorizando os elementos cênicos que fizeram parte das cenas mais introspectivas. E dessa forma a valorização acabou apenas para a comunidade como uma locação macro, e não cada cena com tudo que foi preparado ao redor para condizer com o que era passado no momento exato, ou seja, um recurso de certa forma desesperador para não falhar mais do que arriscar. A fotografia trabalhou com iluminações bem interessantes, e pela equipe ser principalmente do projeto, mostra que aprenderam bastante os conceitos de uma iluminação coerente com cada situação, os destaques claro ficaram para as cenas de chuva, onde os contraluz deram destaque para os personagens sem esmaecer tanto o fundo.

Enfim, é um filme razoável que se olharmos com olhares de que boa parte são amadores dá pra relevar e falar que agrada, mas como o filme teve incentivos bem recheados de verba, e outros nem tão inexperientes assim frente ao projeto, temos de respeitar o cinema e dizer que poderiam sim ter trabalhado mais para algo menos pomposo de histórias e focado apenas no que era necessário que era mostrar que devem incentivar mais o cinema dentro das comunidades carentes e que a vida de crimes não compensa, mesmo você sendo um fruto do crime. Bem é isso pessoal, como fui ver o longa sem nenhuma expectativa até que não saí tão decepcionado da sala com o que vi, mas que poderia ser algo muito melhor, com toda certeza poderia. Encerro a semana cinematográfica aqui, mas volto quinta com mais bons filmes que irão aparecer, então abraços e até lá pessoal.


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Fúria

10/18/2014 01:59:00 AM |

Olha, nunca um título nacional funcionou tão bem num filme como esse "Fúria", pois não é o sentimento do protagonista, nem nada do filme que retrata o nome, mas sim na realidade como a maioria dos espectadores do filme acabam ficando após 90 minutos inúteis, para que nos 8 finais tudo que aconteceu tenha servido para nada. A decepção é tão grande, que os créditos sobem com uma cena acontecendo ao fundo, nem é cena pós-crédito nem nada, uma cena contínua rolando, e pasmem a sala que estava lotada não sobrou ninguém durante esses 2 a 3 minutos. Não digo que seja uma cena importante para o que tenha ocorrido e tal, mas tirando esse Coelho persistente que vê até o último crédito, olhei para todos os lados e ninguém quis ver o que acontece ali, ou seja, Nicolas Cage vende muitos ingressos no Brasil com todos os seus filmes, mas conseguiu deixar uma sala inteira furiosa com o que viu hoje, e se eu fosse da distribuidora de seu outro filme que estreia semana que vem, daria uma segurada na data.

O filme nos mostra que Paul Maguire esteve envolvido durante muito tempo com o mundo do crime, mas hoje ele tenta viver uma vida tranquila, protegendo a sua filha. Um dia, no entanto, a garota desaparece e Paul decide reunir os amigos de antigamente, pegar em armas e se vingar dos responsáveis, líderes da máfia russa.

Não posso dizer que o final não é surpreendente, mas o recheio do filme é tão absurdo com tantas câmeras na mão para dar velocidade nas cenas e tentar empolgar o público com a ação gratuita, que não temos como falar nossa que filme no contexto geral sequer é bom. Muito pelo contrário, o trabalho do diretor Paco Cabezas que surpreendeu muita gente no seu trabalho anterior até é sentido nuances semelhantes, mas ao ter muito dinheiro em mãos para criar uma ação mais trabalhada, se perdeu colocando coisas que não seriam necessárias, e se fizesse algo mais clássico talvez empolgaria mais, envolveria os personagens da mesma forma, e sairíamos do cinema arrepiados com o final entregue, mas a cada enrolada que o filme nos dava, era jogado mais uma tonelada do mesmo flashback com ângulos diferenciados, mais uma perseguição completamente absurda, e tudo isso aliado à muita violência gratuita com tiros lotados de efeitos de computação gráfica de terceira linha, ou seja, um desastre completo que transformou uma trama que poderia ser satisfatória, em algo que nem numa sessão noturna de Corujão serviria para ao menos dar sono no público.

Falar da atuação de Nicolas Cage é repetir que suas expressões sempre são iguais, agora com a idade chegando está entupindo o rosto de trejeitos engraçados já que deve estar usando algum tipo de tratamento anti-idade, e ir conferir a mesma coisa sempre, mas confesso que mesmo sabendo sempre disso, vou ver seus filmes na expectativa de que ele faça ao menos algo diferente, mas sempre saio não muito contente com o que vejo, claro que tivemos algumas poucas exceções em alguns filmes, mas aqui ele foi o mesmo de sempre. Danny Glover deu uma envelhecida gigantesca ou sumiu por um bom tempo? Pois está quase irreconhecível no filme e é notável que não é maquiagem e sim seus 68 anos pesando em cena, sua voz já está arranhadíssima, e mesmo vendo que ainda tá produzindo uma tonelada de filmes que serão lançados mais pra frente, não acredito que decole mais como fazia antigamente, pois aqui tirando sua cena mais trabalhada no bar, onde teve uma fala mais longa e de boa interpretação, não fez mais do que algumas caretas no filme todo. Max Ryan e Michael McGrady fazem uma boa dupla de amigos do protagonista, e dispostos a bater muito pelo antigo parceiro de crime, eles estão a postos para tudo, e só, suas atuações não chamam atenção nem nada demais, apenas estão no filme para bater e atirar. Tal pai, tal filho? Ainda não dá para falar que Weston Cage vai seguir a linha do pai Nicolas e aparecer em 20 filmes por ano, mas aqui fazendo sua versão mais jovem nos flashbacks soube ao menos fazer menos caretas que o pai. Dos demais não temos que destacar ninguém a não ser as caras bobas que os dois adolescentes fazem, principalmente ao se cagarem de medo do protagonista.

As locações escolhidas foram bem preparadas para a trama, e ao conterem diversos elementos cênicos ao redor poderiam até ter sido melhor aproveitadas, mas com a correria que deram para a trama, tudo acaba sendo superficial, claro que ao voltar para cada cena e retratar o fato que aconteceu, o filme dá uma valorizada no trabalho da equipe de arte, detalhando algum elemento cênico preciso para as cenas de crime e tudo mais, mas tudo poderia ter um ganho tão maior se o tivessem trabalhado a trama ao invés de jogar tudo na tela que a única coisa que podemos sentir é pena da equipe que recebeu para fazer algo bem montado e ao final não conseguiu com certeza ver nem 10% do que fez. A fotografia do filme é toda em tons escuros, utilizando bastante o marrom e o preto para segurar o ambiente nervoso que o diretor quis mostrar, claro que temos sempre um ou outro elemento bem iluminado na cena para dar uma quebrada na nuance, mas diferente da maioria dos filmes policiais, não precisa prestar atenção nesse elemento, que ele não irá servir para nada além de dar contraluz e tirar o excesso de escuridão da trama.

Enfim, é um filme ruim, sim, mas não é totalmente péssimo, pois se você assistir o começo e o final, como muitos acabam vendo em casa no computador ou na TV fazendo diversas outras coisas ao mesmo tempo, talvez fique abismado e adore o que viu, mas no cinema chega a cansar demais o espectador que começa a ter diversos outros problemas ouvindo pessoas conversando demais, batendo chaves na poltrona, procurando doces nas sacolinhas dos mercados, e tudo mais, afinal o longa não prende sua atenção na tela, ou seja, o programa que poderia ser uma diversão acaba se tornando um martírio, ou seja, para esse Coelho que vos digita aqui não bastou o filme ser um desastre, ainda teve uma sorte imensa de pegar aquelas salas lotadas de adoradores de picnic que fazem uma rebelião no cinema, afinal esse é o público que Cage chama para seus filmes, então se já estava disposto a não recomendar o filme passados apenas 50 minutos do longa, deixo minha dica para fugir completamente das sessões, já que podem além de ver um filme nada interessante, ainda pegar uma turma dessa que esteve em minha sessão. Bem é isso pessoal, falta ainda um longa para conferir, mas vou tirar o fim de semana de folga dos cinemas, então volto na segunda com mais a crítica da última estreia dessa semana cinematográfica curta. Então abraços e até lá pessoal.

PS: A nota está composta apenas pelo final interessante e surpreendente aliado da ideia boa que a trama tinha, pois tirando isso não daria para dar nenhuma nota.

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O Juiz

10/17/2014 12:59:00 AM |

Filmes que envolvam julgamento sempre são interessantes, pois podemos analisar as provas, nos colocar como júri e dar o nosso próprio veredito, afinal já fazemos isso naturalmente com todos os filmes, então em um que estamos diante de um tribunal a coisa fica mais envolvente não é mesmo? E se junto disto colocarmos uma boa dose de um dos filmes que fez grande sucesso ano passado "Álbum de Família"? Ficaria melhor ainda não é! Pois bem, com essa ideologia familiar, de família lotada de problemas tanto no passado quanto no presente, atuações perfeitas de dois atores de grande renome e um caso no mínimo estranho para analisarmos, não tem como reclamar de "O Juiz", mesmo com grandes furos de maquiagem (me senti vendo "Crepúsculo" em algumas cenas) continuará sendo um filme gostoso de acompanhar e até mesmo torcer para indicações à prêmios para os atores no mínimo, mesmo que a crítica americana não tenha curtido tanto assim.

O filme nos apresenta o advogado de sucesso Hank Palmer, que após se distanciar de sua família retorna para a casa na qual nasceu para o velório da mãe e reencontra seu pai, o juiz da cidade e também suspeito de um assassinato. Palmer decide descobrir a verdade e no processo reconecta-se com a família que havia deixado para trás há anos.

Com um roteiro bem trabalhado, onde as situações sempre nos levam a pensar antes mesmo da cena acontecer, a grande sacada da trama é deixar que isso acabe fluindo e em diversos momentos até ir contra o que imaginamos acontecer, e isso é bom, pois se fosse tudo como pensamos a história seria nossa e não estaria nas telonas como uma grande produção. O diretor David Dobkin, que sempre fez comédias, foi bem hábil nas nuances que puderam ser trabalhadas tanto na ideologia dramática quanto dando certo ao colocar pequenas pitadas cômicas para que o filme não saísse do contexto, e isso mostra que sua versatilidade e inteligência são capazes de outros estilos, pois acertar a mão dessa forma é para poucos. Claro que teve ajuda monstruosa do elenco, já que todos ali estavam bem dispostos para os seus personagens, então mesmo não sendo um típico filme de atores, já e a trama pediria algo mais colocado dentro de um roteiro, o resultado final acaba sendo bem eloquente pelo que cada um faz, e ao invés da história pesar, temos personagens pesados.

Já que falei que o grande mérito do filme ficou nas mãos dos protagonistas, vamos falar das qualidades deles. Robert Downey Jr. conseguiu felizmente se libertar do seu Homem de Ferro, pois ultimamente só conseguíamos ver seu estilo de interpretação mesmo em outros filmes sendo o playboy da Marvel, e aqui trabalhou bem a personalidade de uma forma interessante que em algumas cenas até faz parecer que é um novo ator, na cena da bicicleta até lembrou um pouco sua vitalidade de ser, e com expressões fortes corre ainda o risco de ser lembrado em alguma premiação do ano. Só tenho uma coisa a falar de Robert Duvall: deu show, não dá para falar outra palavra senão isso, em todos os momentos é incrível ver sua interpretação, mas na cena da banheira só quem sabe como é na vida real vai emocionar. Vera Farmiga apareceu tão diferente que realmente não reconheci e sua atuação embora simples, já que seu papel não é algo tão significativo na trama, mostrou carisma e fez bem suas cenas, colocando em cheque alguns pontos do protagonista. O problema do personagem de Jeremy Strong não é tão colocado em pauta, mas sua atuação foi ímpar tanto como um cinegrafista-amador quanto com seu singelo modo de mostrar um personagem problemático, foi muito contundente o que fez. Dax Shepard como um advogado que não atua ficou muito cômico e suas cenas são exageradas, mas divertidas ao menos, poderia não repetir tanto sua cena de vômito, mas tudo bem. A garotinha Emma Trembley trabalhou bem, mostrando uma postura de grande atriz, e se derem um papel mais trabalhado é capaz que chame atenção.

A equipe de arte escolheu a dedo uma cidade mais que interiorana e conseguiu representar isso claramente já logo nas cenas iniciais, mostrando o povo caipira, depois as pessoas do júri e por aí vai, mas ao trabalhar nas cenas fechadas abusou de elementos demais, que acabaram perdidos não tendo o significado que mereciam. A cena do vendaval ao menos foi diferente do tradicional e chuvoso clichê de ponto de virada, e ao mesmo tempo que foi bem trabalhado, serviu de realce visual até no tom da trama. Tivemos cenas muito bem fotografadas que o diretor de fotografia fez questão de grudar na edição e não deixar ser eliminada de forma alguma do produto final, e essas nuances de tons serviram bem para mostrar ao espectador que agora é momento cômico, aqui é tensão e aqui é drama, e alguns filmes não costumam deixar isso claro para deixar que o público escolha suas reações, mas de certa forma agradou bastante a forma usada. Não costumo muito prestar atenção em maquiagem e figurino em filmes que não são de época, mas dessa vez o close foi tão exagerado que ficou notável a quantidade de cremes e até lápis para maquiar as olheiras no Downey Jr. e isso é uma falha grotesca em filmes dramáticos que prezam por uma coisa mais suavizada, não sei a que ponto de exaustão foram as filmagens, mas a equipe pecou e muito nisso aqui de forma até amadora.

Enfim, é um filme com formato claro que a Academia gosta, com ritmo bem pontuado e com atores dando o seu máximo, temos alguns defeitos fortes no roteiro que precisaram ficar repetindo a todo momento as cenas para que o público ficasse mudando a opinião quanto ao julgamento do protagonista, mas como sabemos que julgamentos são enrolados dessa forma também e que advogados fazem isso para mexer com nossa opinião até que o efeito soou bem válido. Particularmente, eu terminaria o filme na cena do barco, seria perfeita, mas a continuação e a colocação de algumas lições aprendidas após serviram bem também. Bem é isso pessoal, claro que recomendo o filme, principalmente para os amigos advogados que gostam de fazer seus clientes serem sempre inocentes, e também para quem gosta de filmes de tribunais, claro que já deixo o aviso que não nenhum filme que vai fazer você sair vibrando do cinema, mas é uma boa opção para conferir numa sala de cinema. Fico por aqui agora, mas ainda tenho mais duas estreias para conferir, então abraços e até breve pessoal.

PS: Caberia aqui uma nota 7,5 devido aos pontos que pesei no texto, mas como as cenas contundentes do filme valem a pena, dessa vez optei por arredondar para cima.


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O Físico

10/12/2014 10:23:00 PM |

Antes de mais nada, assim como eu saí dando bordoadas na tradução literal do título "The Physician" para "O Físico", utilizei dos serviços de pesquisa do meu amigo quase historiador Cardoso Junior para poder dizer que na Idade Média, o médico ou curandeiro da corte real era chamado de físico, então aqui com o deslanchar da história e já ficando com um mini-spoiler no ar, a tradução não foi tão em vã, aliás o próprio livro que foi base para o filme foi traduzido aqui assim também. Dito isso, o que mais posso adiantar antes de explanar cada parte no texto abaixo é que é um filme de cenografia riquíssima, onde os personagens não omitem detalhes de quão precária era a medicina naquela época, mas com ótimas atuações, temos um panorama crível e bem elaborado de tudo que tentam nos passar. O único porém que cito é que quem não for forte para ver umas doencinhas feias, não coma durante o filme.

O filme nos situa na Inglaterra, século XI. Ainda criança, Rob vê sua mãe morrer em decorrência da "doença do lado". O garoto cresce sob os cuidados de Bader, o barbeiro local, que vende bebidas que prometem curar doenças. Ao crescer, Rob aprende tudo o que Bader sabe sobre cuidar de pessoas doentes, mas ele sonha em saber mais. Após Bader passar por uma operação nos olhos, Rob descobre que na Pérsia há um médico famoso, Ibn Sina, que coordena um hospital, algo impensável na Inglaterra. Para aprender com ele, Rob aceita não apenas fazer uma longa viagem rumo à Ásia mas também esconde o fato de ser cristão, já que apenas judeus e árabes podem entrar na Pérsia.

Para quem gosta de filmes que envolvam História esse é um prato cheio, já a produção foi impecável com a cenografia, e moldou um Oriente Médio bem interessante, bem como também uma Europa jogada às traças no início do filme. O roteiro em si, possui alguns furos e alguns clichês exagerados, mas nada que quem for disposto à assistir um filme e se envolver com ele consiga relevar, afinal como já disse em alguns textos se você se envolver com a trama não vai ser defeitos que vão lhe tirar o prazer de estar assistindo ao filme. Acredito sim, que o texto do livro de Noah Gordon deva ser de uma precisão cirúrgica, pois se somente em quase duas horas (sim, o filme foi reduzido no Brasil, de 150 minutos para 119 minutos, sabe-se lá por quais razões) conseguimos ver tudo que é passado pelo roteirista Jan Berger, então é algo que valha a pena ser lido para enxergar mais detalhes da trama. O diretor Philipp Stölzl trabalhou a história um pouco acelerada demais, e isso funciona mas chegamos ao final um pouco cansados com tanta informação, que poderia ter sido diluída mais proporcionalmente, não enrolando tanto em algumas firulas desnecessárias, e trabalhando mais os pontos cruciais da trama. Claro que o longa por ser da escola alemã de cinema, algo que não é muito comum de aparecer pelos cinemas daqui, temos uma leve estranheza com as cenas mais impactantes, que preferem manter e serem apedrejados, do que cortar fora para ter algo mais light, mas isso com o andamento do filme fica bem em segundo plano e acostumamos com o que estamos vendo.

Outro fator que fez do filme algo meio duro por aqui, é a falta de atores mais conhecidos, pois tirando Ben Kingsley e Stellan Skarsgård que todos já viram nas telonas inúmeras vezes, o restante é praticamente carinhas novas por aqui, mas longe de ser ruim, todos mostraram um jeito diferente e interessante de atuar, que se pegar o estilo é capaz de gostar bastante. O protagonista Tom Payne tem um semblante de boa postura e engajado nos trejeitos consegue segurar a trama nos pontos mais duros, porém quando precisou dialogar demais sentimos uma falta de força para com o papel que representava, já com seus 32 anos poderia ter despontado mais facilmente, então não garanto que vá explodir mais para frente, visto que agora sendo protagonista não decolou, fica mais difícil no futuro. Stellan Skarsgård deu um tom cômico gostoso para o início e fim da trama, sendo fanfarrão e bem trabalhado no figurino manteve sua linha forte e soube dosar as cenas em que esteve para não saírem do clima, afinal sendo um barbeiro, médico mais precário das antigas, poderia fazer cenas tão duras quanto quisessem, e ele saberia fazer também. Ben Kingsley é um dos melhores atores há muito tempo, pois qualquer papel que lhe é entregue, ele retorna com uma qualidade melhor que a esperada, e aqui como mentor de diversos alunos do seu curso de Física ou Medicina como preferir, apesar de que no seu curso não abriam ninguém por ser contra às leis religiosas da época, ele simplesmente humaniza o papel que poderia ser algo completamente diferente, mas caiu como uma luva em suas mãos. Olivier Martinez faz um Xá ou Shah bem no estilo me ame ou eu te mato, e suas cenas são muito engraçadas e bem colocadas na trama, seus olhares são fortes, mas poderiam ter alongado mais sua participação na tela. Emma Rigby não é daquelas mulheres que alguém brigaria feio por ela, e muito menos a compraria, ainda mais com a atuação fraquinha que teve no longa, ficando jogada bem em segundo plano, apenas como meta do protagonista.

Bem, como todo épico temos cenografias gigantescas, cenários bem trabalhados e figurinos impecáveis para contar até mais história que o próprio roteiro e diálogos, e nesse quesito o filme não falha em uma agulha sequer, mostrando objetos toscos que eram usados para "curar" as pessoas, colocaram já em pauta o início das guerras no Islã e tudo mais que poderiam trabalhar visualmente num único filme, Com diversos elementos cênicos, em cada cena podemos nos remeter o detalhamento para um ângulo apenas, e isso funciona, pois mesmo tendo diversos pontos para observar numa única cena, o elemento principal está bem destacado para funcionar o andamento do filme. A fotografia usou demais o filtro avermelhado e isso deixou o tom da trama quase que como um campo de batalha, e se fosse para pontuar erros, consideraria esse o maior defeito, claro que em longas épicos abusam de colorações, mas aqui caberia melhor um sépia amarronzado que o vermelho.

Enfim, é um filme muito bem feito que quem quiser achar erros dá para brincar por horas a fio, mas quem estiver interessado em curtir uma boa trama também sairá muito satisfeito da sessão. Recomendo bem ele principalmente para os amigos médicos que como disse uma senhora que estava na fileira atrás da minha de quinta até hoje ela já assistiu 3 vezes apenas para dar mais valor à tudo que ela tem a disposição dela na profissão hoje, então deixo a cargo dele a recomendação maior. Bem é isso pessoal, encerro hoje essa semana cinematográfica curta, mas feliz por termos um final de semana com filmes que valeram a pena conferir, agora é descansar da correria que foi as duas últimas semanas, e aguardar o que virá na próxima. Então abraços e até quinta pessoal.


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Festa no Céu em 3D

10/11/2014 08:01:00 PM |

Se tem um estilo cinematográfico que gostam de experimentar tecnologias e formas é o de animação, afinal cada dia os computadores ficam mais potentes, então porque não tentar a sorte fazendo coisas diferenciadas. E se existe um diretor/produtor que não gosta de nenhuma forma certinha visualmente é Guillermo del Toro, então fazendo algo que gosta de fazer que é lançar novos diretores no mercado, pegou seu compatriota mexicano Jorge R. Gutierrez, que vinha fazendo um bom trabalho visual em curtas e séries animadas, e coloca aqui para lançar seu primeiro longa "Festa no Céu", que ao mesmo tempo que tem um visual maravilhoso e ótimas mensagens na história, não é tradicionalmente uma animação bonitinha, e assim da mesma forma que incomoda, agrada na mesma proporção.

O filme nos apresenta o jovem Manolo, que tem dúvidas entre cumprir as expectativas impostas por sua família de toureiros ou seguir a vontade de seu coração - que leva à música. Tentando se decidir, ele embarca em uma viagem por três diferentes mundos: o dos Vivos, o dos Esquecidos e o dos Lembrados. Ele encontra figuras marcantes e conta com o apoio do amigo Joaquin e da amada Maria.

O lema de vida de fazer sua própria história e engajar os pequenos a seguir bons caminhos, e que eles podem conquistar tudo sendo bons, é um dos arquétipos que mais gostam de inserir nas animações, afinal é uma boa maneira de ensinar as coisas para as crianças com animações, mas aqui o diretor e roteirista Jorge R. Gutierrez soube dominar mais do que isso, ao dar sua versão de "Romeu e Julieta" utilizando algo que é mais mexicano que tudo, que é o Dia dos Mortos, famoso 2 de novembro, e essa mistura ficou muito bacana, pois as lições fluem fácil, acabam animando e segurando bem as crianças nas poltronas, e funciona bem por não utilizar nenhuma das duas academias de animação: stop-motion ou computação perfeccionista, preferindo formas mais quadradas e disformes que acabam chamando bastante atenção. Outro fator bem sábio é o de não trabalhar de forma tão irônica, pois no miolo da história até vemos uma tentativa de escape para essa vertente, mas ao voltar para o lado da comédia romantizada ficou bem mais agradável e interessante, onde as piadas caíram bem e o teor romântico funciona bem em segundo plano.

Contando com personagens bem cativantes, a trama desenrola sozinha e nos faz rir em diversos momentos com os personagens secundários que são bem caricatos. Não é um filme que você irá se apaixonar ou torcer por algum personagem, pois cada um da sua maneira acaba envolvendo e chamando a responsabilidade nas suas cenas, mas que o Homem de Cera é o mais divertido não tenho dúvida. Catrina, a Morte é um personagem também que chama bastante atenção nos seus momentos e dublada na versão nacional por Marisa Orth acabou tendo uma voz interessante. O personagem Joaquin acaba sendo exibido demais e em alguns momentos passamos até a desgostar dele, mas por ser um personagem forte acabamos relevando alguns deslizes e ficando feliz com seu final, e Thiago Lacerda impostou bem sua voz, para dar um ar diferenciado do que conhecemos, ficando uma dublagem bem original. O protagonista Manolo tem carisma para nos conquistar e se segurou muito bem nos 3 mundos, dando nuances interessantes e chamando bem a responsabilidade do filme para si, e agradou com seu jeito romântico de ser. O personagem Xibalba não chega a ser um vilão que ficamos com medo ou raiva, mas consegue ter suas maldades bem colocadas dentro da trama. O vilão mesmo, o Chakal aparece somente para a última cena, e isso achei um pouco falho da produção, já que todo mundo temia tanto ele, deveriam ter explorado um pouco mais. Como os demais dubladores não são tão conhecidos não tivemos uma divulgação tão grande em cima da dublagem, mas o pessoal mandou bem com os trejeitos que criaram, agora ficarei na torcida de que na estreia venha 1 cópia legendada ao menos para ouvir as vozes de Zoe Saldana, Diego Luna, Channing Tatum, Danny Trejo, Ice Cube e Plácido Domingo, que devem ter dado um show musical com as canções originais.

Com uma modelagem estética única, o visual do filme ficou riquíssimo e agrada tanto que não sabemos para onde olhar de tantos elementos gráficos diferenciados que aparecem na tela, e isso é muito bacana de acompanhar, fazendo com que o filme agrade tanto os pequenos pela quantidade excessiva de cores, como os maiores que forem conferir e quiserem se atentar a detalhes cênicos incríveis que a equipe quis colocar para rechear o longa. No quesito 3D, o filme tem uma profundidade bem abrangente que quase nos imerge como parte da história, mas aqueles que esperam muitos elementos voando pra fora da tela talvez ficarão um pouco decepcionados, mas longe de ser ruim, a tecnologia favoreceu muito para que todo esse contexto gráfico ficasse com texturas ainda mais interessantes.

A trilha sonora que ficou a cargo de Gustavo Santaolalla e que nunca decepciona está incrível com muita sonoplastia gostosa de acompanhar e que dita um ritmo bem dinâmico para a trama. As canções dubladas não ficaram tão empolgantes, e quem conhece um pouco mais de inglês consegue sentir que a versão americana com certeza tem notas mais interessantes e por conter alguns cantores famosos deve ter ficado bem bacana de ouvir, mas não posso desprezar que ao menos o sentido das canções foram bem passados pelos dubladores nacionais.

Enfim, é uma ótima opção para levar as crianças nas sessões de pré-estreia paga que estão rolando de 11 a 15 de outubro, inclusive amanhã no Dia das Crianças não é mesmo, e na próxima semana vem com tudo a estreia, então quem gosta de uma boa animação diferente do comum, já pode colocar ela nos planos. Recomendo bastante pelo visual proposto e pelo envolvimento que as mensagens acabam deixando tanto na garotada quanto para nossa vida mesmo. Por ser algo tão diferenciado, o longa me remeteu à "Rango", que inovou e igualmente pôs muitas referências dentro da trama para criar algo maior. Fico por aqui hoje, mas amanhã confiro a última estreia da semana, então abraços e até amanhã.


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Trash - A Esperança Vem do Lixo

10/11/2014 01:02:00 AM |

Irei começar meu texto de uma forma diferente hoje, pois sei que muitos odeiam o cinema nacional, alguns vão falar que esse filme não é brasileiro por ser dirigido e roteirizado por um estrangeiro, alguns vão ficar apenas citando erros, outros vão dizer que é algo muito simples e por isso não tem valor. Para todas essas pessoas, eu só digo uma coisa, não vá mais aos cinemas, fique em casa e leia um livro. Para todas as demais pessoas que vão pagar caro, afinal um ingresso hoje custa um valor bem salgado, para ter 2 horas de alguma experiência cinematográfica, que ela ao menos seja satisfatória e prazerosa, e o filme "Trash - A Esperança Vem do Lixo" não só cumpre com isso, mas mostra que até mesmo no Brasil temos capacidade de criar algo envolvente, com uma boa trama de aventura sem descaracterizar nada de nossas comunidades e muito menos sair da ideologia que vivem as pessoas por aqui. E digo ainda mais, precisou vir um diretor estrangeiro para mostrar isso, já que alguns diretores nacionais preferem fazer filmes para o próprio umbigo, apenas gastando dinheiro de incentivos fiscais, sem pensar em quem queira assistir suas loucuras.

O filme nos mostra que Raphael, Gardo e Rato são três meninos que vivem num lixão. Um dia, ao encontrar uma carteira misteriosa, decidem embarcar numa aventura, mas o que eles não sabem é que pessoas más como o policial Frederico e o político Santos estão atrás deles. Os garotos só podem contar com a ajuda do pastor Juilliard e da professora Olivia.

Quanto o escritor Andy Mulligan escreveu o livro, não necessariamente a história se passaria aqui, e sim num país fictício, mas se adaptou tão bem à nossa realidade que Richard Curtis nem deve ter dado trabalho para Felipe Braga contar como é o nosso país para juntos montarem o roteiro do filme, pois a nossa realidade é sofrida e que com uma caracterização tão minuciosa dos fatos, não temos como não falar que esse filme foi feito para ser nosso. Aí entra em cena um diretor renomadíssimo como é Stephen Daudry com uma mão única e cria uma aventura de busca por algo que nem mesmo os jovens inicialmente imaginam ser, mas querem ir a fundo, porquê acreditam ser o certo, e o mundo fantasioso cria vida nas ruas, favelas e lugares diversos do Rio de Janeiro, com um olhar duro por parte dos adultos, mas com uma magia infantil ímpar que só teve sucesso devido às escolhas perfeitas do diretor em relação ao jovem elenco que soube trabalhar tão bem que nem parece que são iniciantes na arte de atuar, mas como alguém já disse: "já nascemos sabendo fingir choro, então atuar é moleza". Brincadeiras à parte, o diretor conseguiu um feito tão proveitoso com os jovens, enquadrando bem sua câmera para termos dinâmica e sempre estarmos com as perspectivas dos jovens, mesmo que para isso, os câmeras tivessem que andar sobre telhados, entrar em águas sujas e tudo mais, para termos a realidade como deve ser vista.

No quesito atuação, muitos começariam pelos nomes renomados, mas como todos são praticamente coadjuvantes aqui, vamos falar de quem interessa primeiro. E claro vamos com o protagonista Raphael, mais conhecido por seu nome real, Rickson Tevez, que trabalhou tão bem suas expressões, eximindo felicidade quando precisava, mantendo o carisma alto, sofrendo muito com cara de dor e clemência nas cenas que apanha, estando com os olhos curiosos à todo instante e mostrando seu lado detetive muito bem encaixado nos momentos chave, não querendo ser nenhum Sherlock Holmes, mas sim alguém que brinca de detetive na vida almejando algo. Eduardo Luis transformou o seu Gardo em um personagem muito humano e interessante, unindo as características da rua sem perder estilo, e o jovem é uma pecinha rara dentro da trama, que acabamos nos familiarizando bem com o que consegue passar, bons trejeitos e leva jeito para trabalhar mais no cinema. Gabriel Weinstein inicialmente assusta com seu Rato, mas vai tornando a experiência do filme tão viva que seus trejeitos acabam nos colocando quase que como um irmão na câmera, o jovem tem um talento único de arrumar confusão e sair dela com expressões rápidas e bem colocadas, um luxo para sua idade. Agora vamos pros estrelados, começando por Selton Mello, sim aquele ator que esse Coelho que vos digita não consegue gostar de suas atuações, e por incrível que pareça, finalmente achamos um papel que suas expressões couberam perfeitamente, seu policial corrupto é fantástico, onde trabalhou bem o semblante e colocou tudo que podia fazer num único filme, sua cena no carro ouvindo música clássica enquanto rolava tudo do lado de fora foi espetacular. Wagner Moura faz poucas cenas no filme, mas como todas são muito importantes para a trama, seu José vem com as características tradicionais que já conhecemos e sabemos que ele faz bem, trabalhando seu diálogo com a essência necessária e pontuando cada detalhe com seu olhar. Martin Sheen fez de Juilliard um padre/pastor interessante não só por humanizar a favela como falando bem português, claro que com muito sotaque, botou expressões inteligentes e semblantes bem humanos na trama, mesmo bebendo muito deu um tom íntegro para os momentos que esteve na tela. Rooney Mara já não trabalhou tanto o português, mas arranhou algumas boas frases sem forçar tanto e encaixada como uma "professora" de inglês na comunidade saiu-se muito bem como arquétipo para ligar a ideia americanizada que o filme colocou um pouco na trama, a atriz é boa em papéis mais diferentes, e aqui sendo simples demais não combinou tanto, mas também teve bons momentos e isso acaba agradando. O personagem de Stepan Nercessian aparece bem rapidamente e isso nos deixa bem feliz, pois ele forçou demais no estilo "político" de ser, e isso já estamos cansados de ver nas telas. Dos demais, a maioria aparece tão rapidamente que nem quase é relevante para a história, mas ao menos ninguém quis aparecer mais do que os protagonistas, e isso já é um avanço imenso quando estamos falando de atores brasileiros.

Que a equipe de Tulé Peak sabe criar artes como ninguém no Brasil, isso todo mundo já sabe, afinal é só lembrar de "Cidade de Deus", "Tropa de Elite", "Ensaio Sobre a Cegueira" e muitos outros que conseguimos ver a precisão técnica que ele tem, e aqui trabalharam tão bem com a cenografia que fiquei imaginando a dó de destruir o set na cena da favela, pois havia em cena tantos elementos visuais interessantes que só de lembrar do que acontece já bate uma tristeza imensa, e não apenas nessa cena, mas o esgoto do personagem Rato é bem trabalhado visualmente, as locações escolhidas para as cenas de perseguição foram bem escolhidas, e até mesmo o cemitério teve seu charme dentro da proposta, e dessa forma tivemos um trabalho visualmente perfeito que não teria como ser melhorado. Se existe uma área dentro do cinema nacional que têm profissionais renomados internacionalmente é a direção de fotografia, e Adriano Goldman que ultimamente deu um show em "Álbum de Família" fez aqui milagres com sua câmera, impondo algo interessante que costuma nem ser de responsabilidade da área, mas sim da trilha sonora, e aqui a fotografia dita o ritmo da trama, pois as nuances de dia/noite conseguem trabalhar tão em prol da velocidade que o filme toma que a cada ângulo e filtro escolhido, o longa toma um rumo diferente, e isso é muito bacana de ver na tela, pois o diretor soube dosar cores bem duras nos momentos que os jovens estão pensativos ou diante de algum ator que exigisse um trabalho maior de diálogo, e na hora que estão sozinhos correndo, o marrom domina dando uma acelerada na trama.

Mas claro que o longa não ficaria sem ter boas trilhas sonoras, e colocando funks, afinal estamos numa favela, e canções bem encaixadas com cada momento, ele nos amarra com tudo que é passado, e junto de uma trilha composta exclusivamente para as cenas que não temos nada cantado, o luxo da trama fica mais evidenciado ainda.

Enfim, é um excelente filme, claro que tem defeitos, mas são tão pequenos frente à tudo de bom que é mostrado que nem dá para relevar. Além disso a produção foi corajosíssima em determinada cena botar lenha na fogueira questionando grandes organizações e seus desvios de dinheiro para eleições e tudo mais, então a única coisa que tenho para falar (até parece que não fiz um texto imenso falando demais) é que você pare tudo o que está fazendo agora e vá para uma sala de cinema conferir esse filme. Sei que muitos não vão concordar com minha nota, mas posso dizer que hoje sinto orgulho novamente de ter visto um filme nacional, mesmo que feito por um diretor estrangeiro, tão bem trabalhado e que posso colocar como um dos que recomendo com certeza. Fico por aqui agora, mas ainda falta uma estreia e uma pré para conferir nessa semana, então abraços e até breve pessoal.


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Annabelle

10/10/2014 12:38:00 AM |

Logo que "Invocação do Mal" saiu, muitos já começaram a perguntar mais sobre a história da boneca "Annabelle", e é claro que nenhum produtor deixaria de lado a curiosidade do público sem já correr para algum roteirista e encomendar um bom roteiro. Pois bem, 392 dias após o sucesso do filme original já estamos com o spin-off pronto e assustando a galera que gosta de uma história tensa, com sustos bem colocados em momentos estratégicos para pegar você desprevenido e a indagação do motivo que levaria alguém a comprar uma boneca feia e assustadora como essa, e pasmem, a história é totalmente baseada em fatos reais, e a boneca real encontra-se trancada em um museu, onde apenas 1 padre a visita 2 vezes por mês.

O filme nos conta que tudo começou quando John Form encontra o presente perfeito para sua esposa grávida, Mia - uma boneca que usa um vestido de noiva branco. Mas a felicidade de Mia com Annabelle não dura muito. A boneca atrai membros de uma seita e o casal é violentamente atacado.

A sinopse é bem sucinta já que não podemos também falar muito sobre o longa, já que a ideologia do filme é melhor entendida assistindo e se envolvendo com o que é passado. Mas prestem bastante atenção nos sermões do padre, que o restante fica fácil e mais interessante. E claro, faça o que o diretor John R. Leonetti, que foi o diretor de fotografia do filme original, quis de nós, relaxe e se deixe assustar, afinal terror que você fica procurando erros, você acaba achando e não curte o que é passado. Claro que a história real é um pouco diferente, e consegue ser mais bizarra ainda, já que uma mãe compra para uma filha a boneca feiosa, então não consigo nem imaginar isso, apesar de que o final da história deixa no ar essa possibilidade para caso queiram continuar ele antes de ir para o "Invocação do Mal 2", mas acredito que não já que o começo do filme já é o Invocação. O que acabou faltando é mais vida à boneca, claro que seus momentos de andança são de arrepiar, mas os momentos que fica parada é quase no estilo "Atividade Paranormal" que ficamos grudados esperando acontecer algo e apenas a cara feia dela está nos encarando, então isso acaba sendo uma falha grande para envolver e assustar mais o público, mas repito quando a boneca não está parada, ou com o que vem de brinde com ela, aí o bicho pega e o cagaço vem.

Sobre a atuação, já começamos bem com a ironia que um diretor de casting quis fazer a piada pronta, chamando para protagonista uma mulher com o mesmo nome da boneca, tenho quase certeza de que deve ser algum humorista essa pessoa, mas Annabelle Wallis faz por compensar seu nome e consegue manter a tensão no olhar e de forma desesperante só vai aumentando sua performance, e ainda que não tenha nenhum momento grandioso, a cena da garagem é muitíssimo bem interpretada por ela. Ward Horton atuou de forma como se nada tivesse ocorrendo ao seu lado, e isso irrita de certa forma, pois mesmo o cara mais corajoso do mundo iria entender a mulher e tudo que estava rolando ali, no mínimo faria algo e não apenas fazendo sua residência médica, e o ator foi bem fraquinho tanto na atuação quanto nos trejeitos. Tony Amendola faz um padre bem estranho e com semblantes que se ele fosse o mal do filme acho que caberia bem para o ator, poderiam ter colocado alguém com um semblante mais sereno que acertariam mais do que o que ele fez. Alfre Woodart me lembrou um misto de Woopy e Oprah e fez mérito às boas atuações que ambas já fizeram nos cinemas, pois fez trejeitos bem encaixados e soube ser eloquente nos diálogos quando foi solicitado. Além dos protagonistas, vale o destaque para o carisma do bebê que a cada situação estava sempre risonho e bem disposto para as tomadas diferenciadas.

A equipe de arte trabalhou bem para colocar os elementos pontuados a cada canto dos cenários, e além da boneca estranha, as outras bonecas também deram um tom bem sombrio para a trama, a cena da garagem é ímpar de suspense e tudo mais agrada muito visualmente. Aliás para quem quiser conhecer a verdadeira boneca, aqui está o link. Se existia uma coisa que não tinha como falhar no filme é a fotografia, afinal como sabemos o diretor é formado nessa academia, e a cada nuance apresentada com a mistura de luzes piscando, sombras e sustos vindo do nada só vemos acerto em cima de acerto. Os efeitos visuais não foram lá os melhores que já vimos, afinal optaram por usar menos computação gráfica para dar mais realismo nas cenas, mas o velho estilo de assustar até que funcionou bem.

Todo terror que se preze não pode falhar com a trilha sonora, e mais uma vez a tarefa ficou a cargo de Joseph Bishara que sabe dosar o nível de tensão na medida para não atrapalhar nunca o ritmo de um filme. Mas como disse já uma vez, preferia ver mais movimento no espírito da boneca que ficar ouvindo a sonoridade olhando pra ela, esperando algo e sabendo que vou assustar na sequência com o que virá, então quase toda hora parando com isso chega a cansar um pouco.

Enfim, é um bom filme de terror, mas que por ser parte de um todo, e o filme que foi descendente ser uma das melhores obras do ano passado, a responsabilidade acabou sendo alta demais para ser cumprida logo de cara, e como sabemos o diretor não é um grande nome que pudesse fazer algo surpreendente, vide seus filmes anteriores "Mortal Kombat: Aniquilação" e "Efeito Borboleta 2", ou seja, vai lhe dar alguns sustos, isso eu garanto, mas não vai te deixar borrado de medo com o que verá na tela. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas esse foi apenas o começo da semana cinematográfica recheada que teremos. Então abraços e até mais.


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Alabama Monroe

10/09/2014 02:34:00 AM |

Sei que já assisti diversos filmes, mas alguns me dá tanta raiva de ver meses após sua estreia oficial que não tenho sensações para expressar. E "Alabama Monroe" é mais um que entra para essa seleta lista, pois quando foi indicado ao Oscar no começo do ano, jurava que estrearia ao menos em alguma sala pelo interior, e somente agora com o Festival de Cinema de Ribeirão Preto tivemos o privilégio de poder ver esse maravilhoso filme belga. Muitos podem até achar que tudo que é mostrado no filme seria uma novela de 1 capítulo só, mas o que acabou diferenciando tanto ele, foi sua montagem totalmente quebrada onde a qualquer momento podemos ver o fim do filme, e logo em seguida o começo, depois meio e por aí vai, e por mais incrível que se possa imaginar, isso ficou lindo de ver e emociona de uma forma totalmente diferenciada com canções belíssimas e ideologias duras de aguentar. É algo único que precisa ser visto para acreditar no que estou dizendo.

O filme nos mostra que Elise e Didier se apaixonam à primeira vista, mesmo sendo pessoas muito diferentes. Ele é um músico romântico e ela a realista dona de um estúdio de tatuagem. Apesar das diferenças, o relacionamento dá certo e eles têm uma filha, Maybelle. Aos seis anos a menina fica gravemente doente e a família se desestabiliza.

O que é notável no filme é que o diretor Felix Van Groeningen nem quis saber de fazer algo ameno, foi colocando sofrimento em doses homeopáticas e trabalhou em diversos momentos o conteúdo musical para dar uma suavizada apenas, claro que usando do ritmo country que chamam de bluegrass que faz quase os instrumentos chorarem de tanto sofrimento. E com essa vertente mais dolorida, o filme comove ao trabalhar o câncer, religião e amor tudo  num único pacote, mas se você for esperando ver um filme bonitinho vai cair do cavalo, afinal temos cenas acontecendo em uma ordem completamente fora dos eixos que se ainda tivéssemos projeção 35mm iríamos certamente reclamar com o projecionista, pois teria montado o filme errado, mas aqui é de fábrica assim, e o que com muita certeza esse Coelho chato reclamaria, acabou achando genial, afinal deu um ritmo completamente diferenciado que nos envolve e quando tudo está perdido, nos vemos torcendo por algo que já mostrou estar ferrado, então estamos apenas aguardando o acontecido já sabendo o que houve, e isso ao menos ameniza o choro continuado durante toda a projeção.

Os protagonistas trabalham tão consistentemente na trama que quase não notamos a existência de outros atores, inclusive na banda aonde temos outros elementos tocando e cantando com eles. Veerle Baetens ao mesmo tempo que possui uma voz doce e suave tanto para cantar como para colocar na imposição de sua personagem, mantém uma postura sólida e firme perante as situações, apenas se derrubando no momento exato em que a trama pede, mas mesmo nos momentos mais duros, suas expressões beiram a perfeição com uma nitidez ímpar. Johan Heldenbergh é literalmente um cowboy que não conseguimos ver ele de outro jeito, incorporou o personagem e até mesmo nos seus momentos de cântico romantizado, o que vemos ali é um vaqueiro com boas expressões, claro que no seu momento surto ficamos impressionados com o que faz, mas na maior parte do filme a tenacidade é sua maior característica. Agora o destaque mesmo que com poucos diálogos é para a garotinha Nell Cattrysse que deu um show de fofura e não quero nem pesquisar se foi maquiagem ou se a família foi maluca o suficiente de deixar que cortassem todo seu cabelo da forma que foi feito, pois ficou incrível a atuação da jovem nos momentos mais duros e impactantes, sinceramente é de chorar ver uma criança sofrer com a doença.

A direção de arte escolheu bem as locações tanto para realçar o ambiente rural que a família vivia, quanto para mostrar a tristeza que é uma área hospitalar voltada para o câncer, e utilizando de poucos, mas bem encaixados elementos, a sintonia de cada parte acaba nos envolvendo e mostrando tudo que deve. Além das partes onde ocorrem as apresentações musicais serem teatros bacanas e bares onde a banda pode se destacar com os elementos mais importantes que eram os instrumentos e as vozes dos integrantes. A fotografia trabalhou com alguns tons opacos para realçar sofrimento, puxou a cor para o laranja avermelhado nos momentos mais tórridos tanto de amor quanto de brigas e jogou para o cinza escuro com chuva claro (existe clichê maior?) para as cenas dramáticas onde o clima fica ruim.

Com boas canções, onde os protagonistas botaram o gogó para fora, o ritmo do filme nos envolve com um estilo musical não muito frequente nos cinemas, e isso acabou ficando bem interessante de acompanhar na trama, dando uma característica bem diferenciada do usual.

Enfim, um excelente filme que vale muito a pena conferir, e se antes já estava curioso com o ganhador do Oscar que também não estreou aqui, agora fiquei mais ainda, pois se esse aqui perdeu pra ele, deve ser algo sensacional. Recomendo muito ele para todos, mas aqueles que perderam algum parente devido ao câncer talvez vai ser meio dolorido assistir ao longa. Bem é isso pessoal, acabou o Festival de Cinema de Ribeirão Preto, mas logo mais volto com as estreias dessa semana. Então abraços e até breve.


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Entre Vales

10/09/2014 01:12:00 AM |

"Entre Vales" é um filme duro que ao mostrar os dois momentos em que vive o protagonista, ele nos coloca praticamente na mesma situação dele, e isso acaba nos angustiando e situando a diferença entre os dois mundos que foi mostrado, de patrão à empregado, mas que ambos dependem do lixo para sobreviver, e isso não soa superficial como muito filmes acabam fazendo, mas algo pertinente tanto à situação quanto à um contexto de vida.

O filme nos mostra que Vicente é economista, pai de Caio e marido de Marina, uma dedicada dentista. Ele tem uma vida comum em casa e no trabalho até que uma perda seguida de outra o levam a uma jornada errática de desapego. Uma história que aborda a fragilidade do homem e sua capacidade de se recriar.

O diretor Phillippe Barcinski conseguiu trabalhar tudo com maestria ao transferir o problema tanto de identidade quanto da falta de humanismo que a pessoa acaba perdendo e está vivendo para nós espectadores, e ao mesmo tempo que isso é muito duro, ele trabalhou tão bem as câmeras, que com esse feitio ele acabou sendo quase que um gênio, pois incluiu o espectador no filme ao fazer com que não fosse apenas a sua visão ali, mas a convivência da situação em si, o que acabou aperfeiçoando uma grande realidade à trama.

Uma peça chave na trama que auxiliou demais a direção foram os atores, pois Ângelo Antônio foi humilde por ir catar lixo mesmo e trabalhou com fidelidade única para alcançar o melhor resultado possível e com trejeitos perfeitos soube agradar demais ao vivenciar tudo com força e persistência. Melissa Vettore ficou forçada demais e suas reações não nos convence mesmo ao parecer aflita, e necessitaria mais tempo para que ficássemos com pena dela, mesmo com a perda. O garoto Matheus Restiffe teve bons momentos com o pai, interpretando bem, mas sua cena de morte foi simbólica demais e não nos comove, já que pela sinopse já foi entregue. Os figurantes e coadjuvantes mandaram muito bem, auxiliando no aprendizado do trabalho e se enquadrando exatamente como deveria para dar a nuance que o diretor necessitava.

A direção de arte teve mais trabalho em ajudar nos enquadramentos que montar uma cenografia criativa nas cenas do lixão e da cooperativa, enquanto que na casa e hospital fizeram o básico para não soar falso demais. Com uma fotografia bem escura ficamos tensos com tudo que pode ocorrer, mas com uma sabedoria digna de grandes diretores internacionais, a montagem fez do filme algo inteligente e único.

Enfim, um filme excelente que nos envolve numa situação dura de imaginarmos, mas que conseguimos sentir através da ótima atuação e da direção precisa que nos foi entregue. E com isso não tem como não ficar triste com o que vemos ao presenciar a situação que muitos vivem e ficamos perguntando o porquê daquilo, mas felizes com o resultado de um excelente longa nacional que junto de outros 2 países mostrou como deve ser feito o cinema brasileiro para agradar cada vez mais. Claro que recomendo muito ele para todos, afinal não é sempre que vemos um filme nacional bem feitinho. Fico por aqui agora, mas como vi dois filmes hoje para fechar o Festival, daqui a pouco tem mais.


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