A Garota do Livro (The Girl In The Book)

5/31/2016 12:50:00 AM |

Se existe uma coisa que não me agrada muito é ver um filme que tenha muitas semelhanças com outro que tenha visto recentemente. Não por reclamar da falta de originalidade de roteiros, mas por acabar fazendo tantas comparações durante a exibição que acabo nem curtindo tanto o filme como deveria. E infelizmente "A Garota do Livro" foi lançado nos cinemas nacionais apenas 7 dias após o lançamento de "Pais e Filhas", que embora possuam dois estilos de traumas bem diferentes, trabalham num mesmo formato de drama (o de livros em que as protagonistas dos filmes na versão adulta são as personagens principais do livro na versão criança) e até possuem semelhanças grandes nos problemas que acabam sofrendo, nas quebras de relacionamentos, e assim sendo praticamente quem viu um, vai acabar assistindo ao outro ligando cada detalhe como se fosse uma continuação ou no caso, uma cópia não tão bem feita um do outro. Digo isso, pois o que no outro o filme o tormento psicológico tenha sido abalado, o amor ainda acaba comovendo, enquanto aqui embora seja algo bem mais traumático, acabamos não acreditando tanto na problematização que a atriz nos entrega. Ou seja, pode até ser que algumas feministas fiquem revoltadíssimas com o filme, afinal o cunho machista da trama acaba sendo até forçado demais, mas poderiam ter feito um longa mais comovente ou mais impactante, que acabaríamos mais tocados.

O longa nos mostra que Alice Harvey, de 28 anos, é uma assistente de uma editora de livros, e sonha em ser escritora. Filha de um poderoso agente literário de Nova York, ela vai ser obrigada e enfrentar dolorosos acontecimentos de seu passado, ao ser convidada para trabalhar no lançamento de um livro de Milan Daneker, um antigo cliente de seu pai. A jovem precisará ter forças para enfrentar antigos demônios de sua mente, e quebrar seu bloqueio criativo que a impede de realizar seus desejos.

Agora que já fiz as devidas comparações, vou falar apenas desse filme, afinal não tenho como determinar quem foi realmente escrito primeiro, se algum pegou ideia do outro, ou se foram realmente apenas coincidências criativas, já que nenhum dos dois é baseado em qualquer livro real, mesmo que os livros lançados nas tramas pareçam bem reais como bestsellers. A diretora e roteirista estreante Marya Cohn até conseguiu amarrar bem as nuances da história para tentar levar o mistério até os últimos momentos, mas como já vimos tantos filmes desse estilo, fica claro desde o primeiro olhar da protagonista na versão infantil, qual o desfecho da situação (e felizmente não apelaram para algo mais explícito, que certamente com um diretor mais traumático colocaria na tela), e essa tentativa de explicação para a jovem adulta ser tão traumatizada é de certa maneira ingênua demais para que o público se envolva com ela, acabando que até vamos seguindo o ritmo do que nos é mostrado na tela, com tomadas ora rápidas, ora mais calmas, mas nada que você ao final esteja conectado desejando saber qualquer desenrolar além do que nos é mostrado. Ou seja, é um filme bem simples de estreia da diretora, que vai precisar seguir uma nova linhagem quando nos entregar mais algum novo longa, pois se continuar dessa forma, logo acabará queimada, e esquecida.

No quesito atuação, Emily VanCamp é uma atriz que não sai da moda, pois sempre procura estar ao mesmo tempo em algum blockbuster do cinema ou da TV, fazendo personagens marcantes, e também pegando longas alternativos, como é o caso de sua Alice aqui, e não digo que ela tenha feito algo errado para com sua personagem, mas acredito que o roteiro que esteve em sua mão não deu detalhes para que a vivência criasse algum estilo de distúrbio maior na cabeça da personagem que a atriz pudesse colocar em pauta na trama, e dessa maneira soou um pouco artificial seus momentos. Ana Mulvoy-Ten já fez diversos trabalhos na TV, mas sua estreia na telona será marcada por expressões bem fora de um realismo cabível para uma jovem, pois sua jovem Alice em quase todas as cenas trabalhou com algo entre alguém apaixonado demais pela outra pessoa e algo que se assemelhasse demais com espanto, o que não era certamente a expressão mais coesa para os momentos. Michael Nyqvist é um ator diferenciado que costuma fazer boas interpretações em longas de ação, e aqui até ousou em aparecer no mesmo papel em duas épocas diferentes, mudando apenas o corte de cabelo, mas essa mudança de visual acabou não sendo tão incorporada no estilo de atuar, e seu Milan acaba sendo um misto de pervertido com alguém que não liga para conceitos, e claro que talvez essa seja a característica que a diretora desejava dele, mas poderia ter trabalhado com algo mais forte para realmente caracterizar o "crime" que acabou cometendo. Ainda estou na dúvida do que é o personagem Emmett de David Call na trama, se ele é um candidato a senador, se é apenas um ativista, ou apenas um ator "bonito" colocado para criar um relacionamento manjado dentro da trama, pois suas cenas foram cortadas de maneira bem estranha para com o desenvolvimento do personagem, e isso é algo um pouco incomum que acabou estragando um pouco da magia romântica que o longa poderia demonstrar, mas o ator fez o que pode para sair-se bem. Os demais atores nem tiveram tantas aparições para chamar atenção, ou melhor, alguns até apareceram bastante como Michael Christopher como o pai da jovem, Ali Ahn como Sadie, e até Jordan Lage como o chefe da protagonista, mas todos apenas jogavam suas deixas para que a protagonista seguisse a linha, e isso não é algo bacana de ver em dramas, então não merecem destaque.

Sobre o visual da trama, também não podemos falar que a equipe quis criar algo interessante de se ver, pois ao optar por algo mais barato e básico, nenhum apartamento teve elementos emblemáticos, todas as locações foram escolhidas para simbolizar restaurantes, livrarias, um escritório bagunçado de uma editora (que certamente ficou bem fora do usual comum que são os escritórios modernos de escritoras renomadas), alguns parques para ter cenas externas, e até bares bem fraquinhos sem que nada chamasse atenção, ou seja, a equipe de arte até fez o seu trabalho, mas nada que você possa elogiar de qualquer cena, e mesmo na cena de aniversário, foram econômicos com algumas bandeirinhas e cupcakes. Enquanto a fotografia tentou ousar colocando alguns filtros coloridos, e nas cenas do passado aplicando tons mais esbranquiçados para dar uma diferença cênica fora dos padrões comuns, ou seja, até ver que tentaram algo diferenciado, mas nada que envolva realmente.

Ou seja, um filme padrão que até quem tiver vivido algo do estilo poderá se envolver, mas que por ser fraco na montagem e na direção acaba ficando abaixo da média, e como disse acima, acabará sendo esquecido por quem for conferir a trama apenas por conferir. E sendo assim não recomendo o longa para ninguém, somente deixando aberto para quem desejar ver mais uma obra que mistura passado e presente, envolvendo condições de estudo sobre traumas, e nada mais. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda tenho uma estreia dessa semana para conferir, então abraços e até breve.

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Alice Através do Espelho em Imax 3D (Alice Through The Looking Glass)

5/28/2016 02:14:00 AM |

Seis anos se passaram desde que "Alice no País das Maravilhas" foi lançado, e se muitos apostavam que a franquia não ganharia uma continuação após diversas críticas falando do exagerado estilo escolhido, eis que o dinheiro é claro que falou mais alto, e praticamente todos voltaram para seus papeis para que uma nova história fluísse, mesmo que a maioria seja praticamente apenas ligações para dar boas conexões, e novos personagens (alguns sendo os mesmos mais novos) trabalhassem bem a história toda. Dito isso, podemos dizer facilmente que "Alice Através do Espelho" é em quesitos de história, algo muito superior ao primeiro filme, pois temos algo realmente para ser contado, enquanto no outro tínhamos mais uma apresentação figurativa, e também podemos falar que visualmente o longa consegue novamente encantar com diversas facetas multicoloridas e que quem estiver disposto a esquecer a história poderá viajar facilmente somente pelo ambiente mostrado, porém ao trabalhar minuciosamente quase cada um dos capítulos do livro em que foi baseado, o diretor acabou fantasiando demais toda a trama, colocando lições demais para serem aprendidas, e com isso por bem pouco o longa não acaba monótono, alongado e cansativo, e desse modo, seus 113 minutos parecem certamente muito mais na tela. De modo geral é algo bem interessante para se pensar em diversas questões e muito bonito para se olhar, mas tem de ir ao cinema preparado para viajar, entrar no clima e se desprender completamente do tempo que irá passar por lá, pois senão a chance de não gostar do que verá é altíssima, e além disso, mesmo a trama de Lewis Carroll sendo algo mais infantilizado, evitem levar as crianças, pois a chance deles desistirem na metade é alta.

Basicamente a história nos conta que Alice retorna após uma longa viagem pelo mundo, e reencontra a mãe. No casarão de uma grande festa, ela percebe a presença de um espelho mágico. A jovem atravessa o objeto e retorna ao País das Maravilhas, onde descobre que o Chapeleiro Maluco corre risco de morte após fazer uma descoberta sobre seu passado. Para salvar o amigo, Alice deve conversar com o Tempo para voltar às vésperas de um evento traumático e mudar o destino do Chapeleiro. Nesta aventura, também descobre um trauma que separou as irmãs Rainha Branca e Rainha Vermelha.

Um ponto facilmente notado na diferença dos dois filmes é o estilo de ambos, e claro que isso se deve principalmente pela troca de diretores, pois ao sair Tim Burton e sua loucura desvairada com formas abstratas e nuances mais sérias, entrou James Bobin que já prefere um mundo mais cheio de lições de moral e personagens animados no meio de muita cor, que já vimos fortemente acontecer nos dois "Os Muppets" dirigidos por ele. Não digo que isso é algo ruim, só era necessário que o foco da trama não ficasse tão dependente disso, pois história em si foi, com toda certeza, o que mais os roteiristas lhe entregaram para trabalhar, e ele preferiu segurar seu mundo multicolorido trabalhando as referências, e deixando de lado boas sintonias que cada personagem poderia trazer de positivo para a trama. Outro ponto claro no estilo do diretor, é que ao não distribuir o tempo de tela para os diversos personagens, praticamente tivemos muitos atores apenas enfeitando tela, sem envolver ou chamar atenção, e isso é um erro num filme desse tamanho, pois é como se você colocasse em cena diversos lustres caríssimos, numa cena aonde o diretor de fotografia só enquadra até a cabeça do ator! Ou seja, temos algo de certa forma até bem interessante de ver na tela, com toda certeza vamos sair reflexivos com as questões familiares, de amigos e até mesmo com pensamentos melhores sobre todas as metáforas de tempo ditas no longa, mas não podemos em momento algum chamar o filme de obra-prima, pois de tudo falta um pouco, e usando uma expressão que brinca com a ideia do longa: "só o tempo dirá se vamos rever muito ele, ou se acabará sumindo em breve de nossa memória".

Sobre as atuações, com toda certeza Mia Wasikowska cresceu muito no seu estilo de atuação, não sendo mais aquela garota ingênua de pouca expressividade que vimos florescer no primeiro filme, mas sim uma atriz que já trabalha suas interpretações pontuando bem as alegrias, as dores e botando o sentimento pra jogo ao invés de apenas ficar se assustando, claro que sua Alice ainda não foi o seu melhor papel, mas a jovem já começou a agradar bastante num estilo mais envolvente, daria destaque mais para suas cenas junto de Tempo e as fora do mundo subterrâneo. Johnny Depp sempre gostou de personagens exóticos e com o Chapeleiro ele se esbalda em expressões e trejeitos, ainda mais nesse longa que é praticamente todo seu, tendo claro como narradora/expectadora da ação Alice, mas no fundo o longa é sobre sua perspectiva e dessa forma Depp acaba sendo incumbido de mostrar mais serviço do que no anterior. Fazia tempo que não entregavam um personagem tão icônico para Sacha Baron Cohen como foi essa personificação do Tempo, pois o ator pode desenvolver todas suas caricaturas e ainda ser coeso com uma ótima expressividade, e ao agradar bem num estilo mais contido do que faz em seus longas bagunçados, o ator conseguiu mostrar o quanto é bom no que faz, podendo pegar mais personagens fantasiosos que tenham conteúdo para ser mostrado. Anne Hathaway e Helena Bonhan Carter até voltam bem com suas rainhas Branca/Mirana e Vermelha/Iracebeth, trabalhando de forma mais contida, e Hathaway esqueceu o que é expressividade, fazendo caras e bocas mesmo que parada, o que não é legal de ver em cena, mas ambas não atrapalham o andamento em suas poucas cenas, e assim sendo fizeram o que lhes foi pedido. Dos demais personagens, tivemos muitos bons atores dando vozes à personagens animados, e até alguns que caíram bem em papeis do mundo real, mas sempre fazendo poucas cenas, quase nenhum chamou atenção demais para que precisássemos destacar algo, então como disse acima, o diretor colocou em alguns momentos cerca de 10 a 20 personagens na tela, mas poucos mostraram a que vieram.

Agora se temos de tirar o chapéu do chapeleiro e de toda a família Cartola para algo do filme certamente é para a equipe de arte, que com muito primor técnico criou um mundo fantasioso lotado de referências incríveis ao imaginário, trabalhou bem com a perspectiva temporal nas cenas do castelo do tempo, usou e abusou de ideologias de passado com visuais coloridos e cheios de elementos cênicos que foram usados inclusive como justificativa de enredo, trabalhou com muitas texturas interessantes de se envolver, ou seja, quem não quiser curtir a história e passar as quase duas horas de projeção viajando na cenografia vai sair até mais contente que quem ficar preso completamente na história procurando simbologias mais psicodramáticas como foi o primeiro longa, ou seja, um trabalho técnico incrível que ao misturar identidade cênica de locações, com ótimas criações computacionais, acabou chamando atenção para algo que já se falava desde "Avatar", que em breve esqueceremos as histórias para focarmos somente nos ambientes, e isso é um perigo monstruoso. Sobre a fotografia, é quase impossível dizer que o diretor de fotografia procurou trabalhar com determinado tom para isso, ou para aquilo, pois temos praticamente todas as cores possíveis e imaginárias no longa, e claro que vou dar destaque para o tom mais sombrio do castelo do Tempo, que ao brincar com referências de vida e morte acabou tendo umas nuances mais fechadas e interessantes de se ver, e claro que procuraram usar muitas sombras no longa inteiro para aumentar o campo visual do 3D. E falando da tecnologia tridimensional, mesmo na maior sala da cidade, o que posso dizer é que até temos uma boa profundidade e o longa funciona no quesito imersivo com muito brilho e dinâmicas de tentativa do público adentrar ao filme, mas por ser um longa convertido após as filmagens, acabaram esquecendo do detalhe mestre que é pensar em 3D, e assim sendo quase nenhum movimento acaba agradando e valendo tanto o ingresso mais caro.

Enfim, é um bom filme, de certa forma melhor que o primeiro por ter mais conteúdo para ser trabalhado, mas acabou apostando nas fórmulas erradas, e se alongou demais em uma das vertentes possíveis, talvez umas se desprendesse para uns dois ou três lados acabaria sendo mais dinâmico e agradaria bem mais. Porém ainda continua sendo algo maravilhoso de ver como falei na parte artística da trama, então com toda certeza ainda é um filme que vale apreciar, claro que alguns vão reclamar mais, outros menos, mas no contexto geral irá agradar pelo resultado em si. Bem é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas ainda faltam duas estreias da semana para conferir, então volto em breve com mais posts. Abraços e até lá.

PS: Pensei em dar 7 para o longa, mas voltei a pensar mais no visual da trama, e como valorizo demais a parte de produção técnica, o longa acabou me cativando demais nisso, então daria um 7,5... arredondando da forma que sempre pedimos para os professores, é igual a nota abaixo.

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Jogo do Dinheiro (Money Monster)

5/26/2016 11:56:00 PM |

Ao mesmo tempo que "Jogo do Dinheiro" acaba sendo aflitivo como algo ficcional, o longa acabou esquecendo de trabalhar mais a faceta da realidade que poderia ser incrível, e em diversos momentos até acabamos rindo da situação com falhas de enquadramentos que mostram pequenos deslizes na atuação de Jack O'Connell. Porém o filme possui um desenvolvimento tão interessante que acabamos nos envolvendo com os personagens e até participando opinando o desenrolar da história, pois como a trama trabalhou tão bem para mostrar o realismo e todo o trabalho que existe por trás de um simples programa ao vivo, a dinâmica causada pelos personagens acabam criando as perspectivas mais interessantes possíveis sobre como o desenrolar completo irá fluir, e claro que desse maneira cada um vai tirar diversas opiniões, e felizmente a minha opinião inicial (que vou compartilhar com vocês) de que o sequestro fosse apenas um mote arquitetado pelo apresentador para ganhar audiência não foi a que aconteceu, pois seria previsível e até chata demais de ser vista, e ao desenvolverem uma investigação maior sobre a real causa da quebra de determinada empresa é algo que certamente vai deixar muitos investidores nacionais com a pulga atrás da orelha.

O filme nos mostra que Lee Gates é uma personalidade bombástica de TV que foi transformado no mago do dinheiro de Wall Street graças ao sucesso de seu programa financeiro. Mas depois de recomendar as ações de uma empresa de tecnologia que misteriosamente entram em colapso; um irado investidor toma como reféns Gates, sua equipe e sua astuta produtora Patty Fenn durante uma transmissão ao vivo. Com os desdobramentos transmitidos em tempo real, Gates e Fenn precisam encontrar uma maneira de se manterem vivos enquanto buscam desvendar a verdade por trás de um emaranhado de mentiras e muito dinheiro.

Se existe algo que é difícil demais explicar é o tal mercado financeiro, pois mesmo tendo diversos cursos e tudo mais, até mesmo as pessoas mais experientes em investimentos acabam errando e perdendo dinheiro com alguma companhia que parecia ser um bom investimento, e assim como é a meteorologia, o máximo que as pessoas conseguem dizer é uma previsão, não sendo 100% a chance de acerto. Os roteiristas do filme trabalharam bem essa gama de possibilidades, colocando isso na trama em diversos pontos sem ser exatamente na liquidação de ações, talvez para dar alguma sacada para o público que não conhece tanto do mercado financeiro, talvez apenas para deixar mais engraçado mesmo, e claro que a diretora Jodie Foster que gosta de trabalhar temas sérios, mas sempre incorporando algumas sacadas cômicas, não iria deixar isso de lado, deixando o filme fluindo por um ângulo que de certa forma outros diretores não encarariam tanto o roteiro. E como disse no início do texto, essa "brincadeira" que a diretora acabou deixando fluir, acabou deixando transparecer alguns erros cruciais na trama, que quem tiver um olhar nem tão treinado, vai conseguir ver algumas falhas claras referentes ao uso dos explosivos, à atuação da polícia no caso, e até mesmo no desabafar desesperado da namorada do protagonista, que nem num mundo completamente imaginário acabaria acontecendo. Não digo que florear é algo ruim, afinal estamos falando de uma ficção, então tudo está liberado para ser feito, mas o mínimo de realismo é exigido por quem vai ver um "suspense", como o longa é classificado. E assim sendo, o filme continua sendo excelente pela ótima proposta, pela dinâmica interessante de investigação, pelo final premeditado, mas contundente, mas se a diretora tivesse pesado um pouco mais a mão, e o roteiro não fosse tão cheio de ironias leves para serem trabalhadas, o resultado certamente seria mais sensacional ainda.

Poderia até dizer que o papel de Julia Robers é secundário na trama, já que a dinâmica de palco realmente ocorre entre os dois protagonistas masculinos, mas sua Patty é tão interessante de ver com uma ótima química com o protagonista que nem seria necessário a cena que ele fala bem dela para que o público já saiba todo o ótimo sentimento de parceria que existe entre os dois, e ela fez tão bem o papel, que assim como falávamos no curso, um bom apresentador de programas ao vivo, não é nada sem o seu diretor apoiando através do ponto eletrônico, então palmas mais uma vez para essa atriz que não erra. George Clooney é sempre um ator bem interessante de se ver atuando, e seu Lee Gates é carismático, bem expressivo para todos os momentos, mas poderia ficar sem as dancinhas, pois foi muito fake e não combinou com seu estilo, acredito que nenhum programa financeiro teria essa característica, tudo bem os demais lances, mas entrar dançando não agradou, porém tirando esse detalhe, cada diálogo do ator mostrava mais de sua ótima dinâmica como apresentador, logo devem colocar ele para algum programa assim que se aposentar da carreira de ator. Jack O'Connell também trabalhou muito bem o seu Kyle, sendo expressivo e mostrando realmente toda indignação que um investidor iniciante tem quando bota seu suado dinheiro em algo que indicaram e vai tudo por água abaixo, de modo que acredito fielmente que se colocasse qualquer pessoa real para atuar ali com a ideia na cabeça, teria as mesmas reações, o único adendo é que deveriam ter utilizado algum outro tipo de dispositivo de bomba para ele, pois ficar um filme inteiro segurando um botão vermelho, acabou rendendo altos erros, e se fosse algo real mesmo, o estúdio teria ido pelos ares diversas vezes. Christopher Denham mostrou que vida de produtor nunca é fácil, tem de se virar nos 30 pra fazer o que a direção e o apresentador desejam, e sempre acabam se lascando, de modo que seu Ron foi perfeito, mesmo dentro das piadinhas. Dos demais atores, a maioria teve apenas algumas leves participações, e só vale destacar bem rapidamente Lenny Devito como um bom cameraman, pois qualquer um na situação acabaria correndo ao invés de ficar filmando, e Caitriona Balfer como Diane Lester, por mostrar dinâmica junto de uma boa investigação, pois geralmente relações públicas de empresas não costumam ajudar muito.

Sobre o visual do longa, basicamente conseguiram uma ótima economia, pois fazer um filme dentro de um estúdio, mostrando como é um estúdio de programa é algo fácil para as equipes, afinal todos das equipes de cinema já fizeram TV em algum momento de sua vida, e conhecem ótimas locações para fazer um filme assim, e dessa forma acabaram montando bem o estúdio para receber a filmagem no estilo que o programa pedia, e os bastidores ficaram crus como realmente são, sem precisar de muita frescura com elementos cênicos, e ao fazer a parte externa do longa, a equipe se preocupou bem em colocar diversos figurantes, montar bons lugares aonde as pessoas gostariam de acompanhar um sequestro pela TV, e tudo mais completamente dentro de algo cabível, claro que tirando o detalhe meio maluco de uma população ir pras ruas seguir um maluco com uma bomba no corpo, afinal quem iria pra perto de algo que pode explodir??? E claro que a equipe de fotografia no meio dessa bagunça de protagonistas passeando pela rua com diversos figurantes ao redor sofreu muito para trabalhar bem a iluminação, e conseguiram um feito clássico de manter bem o tom, pois qualquer um trabalharia várias nuances de sombras e justificaria o feito para câmeras ruins, e tudo mais, mas não foram objetivos e trabalharam bem dentro da tonalidade mais simples e agradável.

Ou seja, é um ótimo filme, que foi muito bem feito, mas que possui alguns defeitos que se pudessem ser minimizados, poderiam ter transformado o longa em algo muito melhor do que acabou sendo. Claro que não é algo que atrapalhe uma boa curtição na sessão, e dessa forma acabo recomendando bastante o longa para todos, pois alguns vão ficar tensos com algumas cenas, outros vão se emocionar com algumas atitudes, e com toda certeza todos vão rir bastante de diversas situações, e assim sendo, é algo que vale o ingresso. Bem, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com as outras estreias da semana, então abraços e até mais pessoal.

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Pais e Filhas (Fathers and Daughters)

5/22/2016 10:57:00 PM |

Tenho certeza que muita gente chorou com "À Procura da Felicidade", e pelo que vi na sala, depois de 11 anos, o diretor italiano Gabriele Muccino volta a comover com uma história bem envolvente que trabalha a mente de pessoas que sofreram grandes traumas na vida, e ao conduzir de uma forma incrivelmente emocional a convivência de pais com filhas, o longa conseguiu ir sendo desenvolvido com muito amor, desespero e desequilíbrio emocional, para um fechamento bem interessante. E principalmente, ao colocar ótimos atores interpretando com muita vontade seus papeis, o filme acabou indo num crescente tão homogênea que parecia algo real bem contado para emocionar o público.

O longa nos situa em Nova York, 1988, aonde um novelista mentalmente instável tenta criar sozinho a filha de cinco anos após a morte da esposa. Vinte e cinco anos depois, a garota, já adulta, cuida de crianças com problemas psicológicos e ainda tenta entender sua complicada infância.

Tendo seu primeiro roteiro disputado por diversos produtores como uma grande obra a ser desenvolvida, Brad Desch criou um drama envolvente e cheio de pontuações para que o diretor que pegasse a obra e criasse suas nuances montasse quase que um alçapão obscuro aonde o público colocasse os olhos à flor da pele para tentar entender tanto a cabeça da família que tenta disputar com o pai biológico a guarda de uma criança que ama o pai, mesmo que problemático, e numa crua revolta já adulta ela trabalhando como psicóloga trabalha com crianças com problemas, sem ao menos conseguir entender o seu!! Ou seja, é algo duríssimo a ideia completa do filme, pois pode chocar em qualquer cena com o menor movimento de câmera possível, e trabalhando quase como um isqueiro aceso passando perto de uma seda, o diretor Gabriele Muccino acompanha todos os personagens com uma câmera dinâmica e desenfreada andando de um lado para o outro para pegar a essência de cada personagem, juntamente com a atitude de interpretação de cada ator para o seu papel. E desse modo acabamos criando vínculos afetivos com cada um dos protagonistas, torcendo para que consiga atingir seu objetivo de vida, e claro uma convivência melhor para tudo. Além de que como o longa intercalou maravilhosamente o passado e o presente, ficamos à todo momento pensando no que pode ter levado a linda garotinha do passado à virar a mulher traumatizada de relacionamentos que vive no presente, e isso felizmente só nos é mostrado nas últimas cenas, embora que tenha faltado um pouco mais de impacto por parte tanto do texto quanto da direção nesse momento. Porém, ainda o longa agrada demais em todos os aspectos da história.

Sobre as atuações, já reclamei algumas vezes de ambos os protagonistas, mas o que fizeram aqui compensou completamente seus erros no passado, pois foram incríveis. Russel Crowe fez convulsões tão reais para incorporar o problema traumático de seu Jake Davis que chegam a dar desespero no público, e nas demais cenas incorporando ansiedade de escrita com muita dinâmica nas expressões, o veterano ator mostrou que ainda tem muito gás para dar em todo estilo que desejarem que atue, não necessitando ser apenas filmes que exijam força, mas sim também os que trabalhem bem a carga dramática que o ator sabe fazer tão bem. Da mesma forma, Amanda Seyfried trabalhou bem para dar vida à sua Katie, colocando um ar de desespero no olhar, e um semblante que misturava confiança e dúvida frente aos desafios que encarava, numa crise bipolar monstruosa, e embora não seja algo digno de prêmio, a atriz fez um bom trabalho incorporando vivência e desespero para que tudo ficasse o mais intrigante possível. Já tinha ficado impressionado com o trabalho de Kylie Rogers em "Milagres do Paraíso", e aqui fazendo o papel da jovem Katie foi tão precisa na interpretação, mostrando desespero, ansiedade e até mesmo vontade de atingir seu objetivo que agradou demais em cada cena, mostrando realmente ser uma atriz potencial, então vamos ficar de olho nela. Quvenzhané Wallis é uma atriz de nome difícil e personalidade incrível de ver na telona, e depois de quase ganhar um Oscar na sua estreia no cinema, de cantar e dançar num musical, agora fazendo uma garotinha problemática, a jovem mostrou que mesmo com poucas palavras pode agradar em essência, e como falei em "Indomável Sonhadora", ela terá certamente um futuro grandioso. Aaron Paul definitivamente saiu das telinhas para as telonas e seu Cameron é daqueles que faz a mulherada suspirar e ao mesmo tempo xingar a protagonista pelas atitudes (me divirto demais nesses filmes ouvindo o restante da sala, a menina ao meu lado só faltou jogar o refrigerante na tela, na cena de conflito do casal), e o jovem começou a trabalhar mais o semblante menos fechado que era comum de ver em "Breaking Bad" para o de astro realmente de cinema, sendo doce e interessante de ver no filme, mesmo que a aparição de seu personagem seja meio falsa demais. Diane Kruger e Bruce Greenwood entraram realmente como grandes vilões no filme como Elizabeth e William, passando de bons moços para personagens incrivelmente arrogantes de se ver na tela, e isso mostra o quanto são bons atores, e encontraram trejeitos interessantes para simbolizar o momento do filme, ou seja, grandes atores dando personalidade para o momento certo. Octavia Spencer também veio com poucas cenas, mas trabalhou bem sua Dra. Corman e mostrou o que gostamos de ver em suas atuações, que é um estilo forte e bem feito. E para finalizar, mesmo com apenas três ou quatro cenas, Jane Fonda mostrou que com quase 80 anos, ainda pode fazer papeis bem longe de senhoras velhinhas que costumeiramente veríamos em outros longas, pois sua Teddy se mostrou mais do que uma agente simples de escritores, mas sim uma amiga incrível e bem desenvolvida, com um impecável encorpamento.

É interessante ver o trabalho de cena que a equipe de arte criou, pois como a câmera insana do diretor percorre em diversos momentos com planos "quase" sequências, qualquer deslize de elementos jogados poderiam atrapalhar em tudo o andamento do filme, e foram espertos em utilizar essa "bagunça" como elemento cênico para a época mais agitada do protagonista, e em diversos outros momentos, procuraram utilizar sempre muita coisa espalhada para dar um ar de família conturbada, enquanto nas cenas junto de Elizabeth, o minimalismo de uma tentativa de seriedade e elitismo contava com poucos objetos e tudo de cores muito claras, o que é interessante de analisar. E claro que nos anos atuais trabalharam com mais despojamento das locações, para mostrar a dinâmica da protagonista, sempre confrontando com seu trabalho de psicóloga, aonde era visto outro mundo completamente diferente. Mas em ambos as épocas, o parque vinha para representar a paz interior dos personagens, que acaba agradando bastante.

Enfim, não é um filme perfeito, pois temos alguns detalhes que poderiam ser melhor aprimorados para que o envolvimento fosse maior, além de alguns momentos (principalmente nos dias atuais) levemente desconexos, o que acaba atrapalhando um pouco, mas no geral é tão bonito de ver a ótima conexão da história toda que o filme acaba agradável e interessante demais e certamente merece a recomendação para todos. Bem é isso pessoal, encero aqui minha semana cinematográfica, mas volto na próxima quinta com mais estreias por aqui, então abraços e até breve.

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Vizinhos 2 (Neighbors 2: Sorority Rising)

5/21/2016 11:32:00 PM |

Assim como falei quando vi "Vizinhos", a vibe para curtir os filmes de Seth Rogen é ir preparado para muita escatologia e não ligar para isso, pois é aí que as piadas acabam funcionando e ficando engraçadas. Claro que agora novo longa "Vizinhos 2" pode sofrer um belo ataque das feministas de plantão por usar algo que ultimamente anda tanto em moda que é sua independência, da vontade de usar o que quiser e não seguir nenhum molde, e em alguns momentos o diretor até parece apoiar a ideia, mas no decorrer da trama, acabam usando isso também como forma de piada, e aí a trama acaba ficando com dois vértices que até diverte quem não ligar tanto para a causa, mas tenho certeza que vai ter muita mulher brava com algumas cenas do longa. De modo geral é uma comédia bem divertida e segue a mesma linha do original, mas apela bem mais que o primeiro filme para conseguir risadas, e isso é um perigo para que o filme pudesse falhar feio, o que acabou não acontecendo, mas caso queiram seguir com a ideia de uma trilogia, a chance do próximo sair do eixo é altíssima.

O longa nos mostra que prestes a ganhar um segundo filho, Mac e Kelly estão dispostos a dar mais um passo rumo à vida adulta: morar em um subúrbio. Mas justo na hora em que decidem vender a casa, percebem que as vizinhas ao lado são de uma fraternidade muito mais sem limites que a anterior: as garotas de Kappa Nu, que estão cansadas das restrições da faculdade e decidiram criar uma república onde podem fazer tudo o que querem. A única saída será chamar Teddy, seu antigo vizinho, para ajudá-los a combater as estudantes.

Facilmente podemos dizer que os roteiros de Nicholas Stoller são melhores que suas direções, pois quando escreve filmes que não vai dirigir (geralmente encomendados), ele acaba colocando mais comicidade livre e incorporando os momentos às piadas, e quando pega para dirigir seus textos resolve tudo na base da apelação. Não digo que isso é errado, mas um filme precisar forçar o riso é motivo de que a ideia ficou desgastada ao ponto de não conseguir somente com a ideia da piada divertir, necessitando uma cena de vômito, ou pessoas drogadas surtando, ou até mesmo o apelo visual para as mulheres aparecer quase nu para roubar a cena. O diretor soube dosar ao menos as cenas mais grotescas com a diversão livre durante boa parte da trama, usando até mesmo recursos mais fofos ao inserir piadas com o estilo de ser pais atualmente, com a jovem garotinha. Claro que não é um filme que se possa refletir muito sobre o mundo feminista, mas a ideologia que foi colocada para a personagem de Chloë Grace Moretz vai deixar muita gente interessado na proposta, mesmo que seja usada algumas vezes para fazer graça, a preocupação em mostrar que hoje mulheres querem direitos iguais em tudo é algo bem interessante de ver em uma comédia, e quem sabe se melhor trabalhado agradaria a todos e ainda chamaria atenção.

Já que comecei a falar das personagens, Chloë vai sempre arrasar em qualquer filme que lhe entreguem um papel, e não apenas por ser uma boa atriz, mas por saber como desenvolver o papel que lhe é dado chamando a responsabilidade para si e agradando sempre com sua simplicidade mesmo que seja para fazer guerra como é o caso de sua Shelby no filme, que impostando sua voz doce, cria boas perspectivas para sua irmandade e ainda trabalha bem a personalidade, ou seja, veremos ainda muita coisa boa da jovem nas telonas. Seth Rogen é um cara divertido, mas precisa sempre de muita apelação para fazer graça, e seu Mac agora menos doidão do que no primeiro filme ainda apronta bastante, mas de uma maneira mais atrapalhada do que desesperada como acontecia antes, e claro que apelando bastante para divertir ele conseguiu chamar atenção no filme, mas poderia ser menos inconveniente em algumas cenas que agradaria mais. Zac Efron é o chamariz de mulher para uma trama que certamente não levaria nenhuma garota para assistir, e seu Teddy ficou ainda abaixo do que fez pois não tem mais o mesmo tempo de tela do outro filme, claro que o jovem possui uma boa dinâmica nas cenas em que foi exigido, mas está longe de conseguir chamar atenção pela interpretação que fez sem ser tirando a camisa. Rose Byrne é uma atriz interessante que gosta de misturar bem os trabalhos, e geralmente se sai bem em diversos gêneros, e se na quinta ela caiu bem no filme de mutantes, aqui ela até chama atenção como uma mãe daquelas que não vai dar grandes exemplos pras filhas, mas que na hora que precisa de um bom conselho sua Kelly acerta de certa forma, talvez com um pouco menos de expressões agradasse mais. Dos demais personagens, a maioria acabou nem tendo sua personalidade trabalhada para agradar, e isso é um problema gigante, mas se tenho de dar destaque para alguém, com certeza fica a cargo de todas as meninas que interpretaram os minions, pois foi uma diversão imensa ver minions live-action.

A equipe artística praticamente economizou tempo dessa vez, pois utilizando do mesmo cenário do filme anterior, só precisaram incluir os novos elementos cênicos, pois as festas utilizaram de mesma iluminação, e a criatividade foi quase nula na guerra entre os vizinhos (tá a cena dos absorventes foi bem nojenta! Mais nojenta do que criativa), porém no momento mais grandioso da trama, ao colocarem um megaevento de faculdades, poderiam ter trabalhado mais cenas ali, pois o visual era interessante para criar situações, e acabaram singelos demais com uma cena rápida, mas que certamente exigiu muito tempo de filmagem pelos longos planos de correria. Sobre a fotografia, a iluminação clássica praticamente dominou o filme, de modo que nada foi trabalhado para criar comicidade por alguma situação que envolvesse cores ou tons diferenciados, e isso é o que acaba pecando muito em comédia exageradas, que poderiam facilmente ser melhoradas com alguns toques mais trabalhados.

Enfim, está longe de ser um filme ruim, pois cumpre com a proposta de uma boa comédia que é divertir, mas o exagero chulo foi tão grande que fica também difícil gostar do que é mostrado. A proposta de colocar sexismo e feminismo num único filme para brigar dentro do roteiro foi excelente, mas mal-usada, e talvez se esquecessem os exageros deixando só a ideologia funcionar, o resultado seria extraordinário. Ou seja, recomendo somente para quem não se incomodar com abusos exagerados de todo tipo possível, pois qualquer coisa no longa pode incomodar qualquer um, bem mais do que divertir pelo absurdo, mas volto a frisar que não é algo ruim de se assistir. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com a última estreia dessa semana no interior, então abraços e até breve.

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X-Men: Apocalipse em Imax 3D (X-Men: Apocalypse)

5/19/2016 03:19:00 AM |

Se nos demais filmes desse reinício de franquia dos X-Men tivemos muita filosofia, introduções históricas e diversas coisas para se pensar, que muitos não-fãs até acabaram agradando bastante com a linhagem dos roteiros, os fãs por um lado queriam mais lutas, personagens com uniformes corretos, histórias se conectando e tudo mais, que quem acompanha os mutantes desde os quadrinhos ou somente pelo desenho animado na infância, até ficavam empolgados com os filmes, mas faltava ainda algo a mais para envolver realmente. E diferente do que ocorreu com outros blockbusters desse ano, "X-Men: Apocalipse" vem comendo pelas beiradas, pois não teve nenhuma campanha monstruosa de marketing, passou seu trailer poucas vezes nas salas, não lançou cinco mil versões colocando novos pedaços na internet, e com isso a expectativa acabou ficando bem baixa para sua estreia, e cá que ao ver cada momento na telona, era um arrepio novo, e mesmo sem ficar parando para contar a história de cada novo personagem inserido na trama, o longa conseguiu incluir todos com muita personalidade e agradar em cheio quem desejava ver algo que unisse as coisas boas de todos os longas dos mutantes e ainda deixasse a bala na agulha para brincar muito mais nos próximos anos. E o que posso falar imprimindo minha humilde opinião é que conseguiram com êxito criar o melhor filme da franquia, já quase ligando a ponte para o primeiro filme original, com muita ação, boa história e um 3D de tirar o chapéu (afinal foi filmado com a tecnologia).

O longa nos mostra que desde o início da civilização, ele era adorado como um deus. Apocalipse, o primeiro e mais poderoso mutante do universo, e durante anos acumulou os poderes de muitos outros mutantes, tornando-se imortal e invencível. Ao acordar depois de milhares de anos, ele está desiludido com o mundo em que se encontra e recruta uma equipe de mutantes poderosos, incluindo um Magneto desanimado, para purificar a humanidade e criar uma nova ordem mundial, sobre a qual ele reinará. Como o destino da Terra está na balança, Raven, com a ajuda do Professor Xavier deve levar uma equipe de jovens X-Men para parar o seu maior inimigo e salvar a humanidade da destruição completa.

Assim como fiquei completamente envolvido e querendo aplaudir cada parte que me remetia a algo que conhecia de longo tempo (afinal não sou desses fãs que comem quadrinhos e sabem tudo sobre cada personagem), certamente terão os críticos que preferem algo mais cheio de referências políticas e sociais como foram os outros dois longas da nova roupagem("Primeira Classe" e "Dias de Um Futuro Esquecido"), e vão odiar um filme que praticamente só foi feito pensando em agradar quem realmente gosta da franquia. Digo isso, pois Bryan Singer conseguiu montar a cada novo personagem inserido na trama, algo que o público via uma referência à algo em cada momento que se passava, se arrepiava e vibrava com o que via, e certamente todos irão rever para achar ainda mais referências. O diretor e roteirista soube trabalhar bem o "início" da mutação colocando a ideologia de deuses do Egito e com uma passagem de tempo acelerada pela ótima abertura 3D, chegou aos anos 80 colocando bem o outro início da escola de jovens especiais, que conseguiu praticamente dar todas as conexões para com o primeiro filme que Singer fez dos mutantes há 16 anos atrás, ou seja, conseguiu dar a amarração necessária para as duas frentes temporais se ligarem e termos uma nova montagem fluindo agora se desejarem até apagar o que ocorreu no passado (claro que não vou dar spoilers, mas os poderes de alguns personagens das antigas agora nesse ficaram muito melhores, e para os fãs, se preparem para o final da batalha: é épico!). Ao trabalhar bastante o visual da trama, Singer soube dosar a parte histórica que tanto agradou alguns nos outros filmes, para compensar com tecnologia, afinal logo de cara quis filmar usando câmeras 3D em diversas cenas, já pensando exatamente como o movimento impressionaria (e em diversos momentos somos bombardeados por pedaços de coisas, e em outras praticamente imersos ao filme junto dos personagens, claro que não é o longa inteiro, mas tem muita coisa!!). Ou seja, para quem gosta de um bom filme pipoca de ação, não haverá reclamações, e se era isso o que os fãs tanto esperavam, lhes foi entregue com perfeição e louvor, mas como sempre haverá reclamações, e no quesito técnico, o diretor procurou ser o mais coeso com os quadrinhos possível, para agradar quem devia realmente.

Sobre as atuações, mesmo que a trama de cara parecesse mais focada no personagem de Oscar Isaac com seu En Sabah Nur/Apocalipse, acabaram trabalhando bem outros personagens e deixaram para o ator apenas algo mais tranquilo, não que ele não tenha feito ótimas expressões, imposto bem sua voz para depois darem alguns efeitos, mas em diversos momentos acabaram deixando ele como um personagem secundário frente aos diversos outros do longa. Jennifer Lawrence após liberar sua outra heroína, agora com foco completo para sua Mística/Raven conseguiu chamar a responsabilidade em diversas cenas e com boas expressões mostrar que sabe bem como segurar o público apaixonado por boas lutas, agora é ver o que vai aprontar nas continuações. James McAvoy continua colocando uma ótima personalidade para seu Charles Xavier e sempre com muita serenidade e boas facetas consegue agradar bastante em cada cena sua. Que Michael Fassbender é um ator sensacional, todos já sabem bem, mas aqui ele conseguiu agradar tanto trabalhando um lado mais comovente e emocional, quanto nas suas cenas de ódio/raiva, e fazer isso em um único filme é algo que poucos atores conseguem incorporar bem, e agora fica a dúvida como seguirá seu Erik/Magneto nos próximos longas. Sem dar spoilers, só posso falar uma coisa, Evan Peters arrasou novamente com seu Peter Maximoff/Mercúrio de modo que por bem pouco logo devem estar pedindo um filme solo dele, ator nota 10 para personagem nota 10, um show a cada expressão sua. Nicholas Hoult não teve tantos momentos para trabalhar a personalidade de sua Fera/Hank, mas agradou bem nos momentos de luta, e foi interessante para trabalhar em momentos picados, talvez o personagem tenha ficado gasto demais nos demais filmes para agora ficar em segundo plano. As introduções de Sophie Turner como Jean Grey e Tye Sheridan como Scott/Ciclope foram bem trabalhadas e ambos os atores mostraram um desempenho satisfatório para o início tanto do romance quanto da ótima parceria, e nos momentos que precisaram mostrar boa ação também agradaram. Kodi Smith-McPhee parece que foi feito para Noturno, e trabalhando bem um misto de comicidade com nuances meio emo, o jovem ator chamou atenção em cenas picadas. Olivia Munn como Psyloque encarou todos os preconceitos que muitas atrizes acabam tendo, e botou o corpão para jogo, usando o tradicional uniforme da personagem, e com boas cenas de ação chamou a responsabilidade para si no outro lado oposto da guerra e agradou bastante com suas interpretações, claro que faltou um pouco mais de sua origem, mas pelo seu fechamento, ainda vamos ver mais coisas dela. Já com Alexandra Shipp como Tempestade foi exatamente o contrário, pois trabalharam mais sua origem humilde de ladra do deserto, e não deixaram ela mostrar muito seus poderes climáticos, mas de certo modo a atriz agradou bem na expressividade. Os demais mutantes tiveram cenas mais picadas, aparecendo pouco de Lana Condor como Jubileu novinha, algumas poucas cenas fortes e bem chamativas de Lucas Till como Alex Summers, e desses de pequeno papel o destaque fica por conta de Ben Hardy como Anjo ou Arcanjo como alguns costumam chamar, que visualmente impressionou bastante e teve sua origem bem mostrada, mas falou pouco demais para ser alguém que vamos lembrar mais. E claro, tivemos Hugh Jackman com seu papel quase único de Wolverine, e mesmo que com uma cena quase muda, apenas com alguns grunhidos, o que mais valeu foi a ligação dele com Jean ser melhor explicada, e claro semi-re-apresentar o Coronel Strike aonde se fez uma nova ligação dele com os mutantes.

Os anos 80 não foram tão emblemáticos visualmente para que a equipe de arte tivesse um trabalho de composição mais elaborado, mas como o filme contou com muitas construções para serem destruídas, diversas locações em muitos países e figurinos mil para uma tonelada de personagens, com toda certeza o trabalho deles foi algo que exigiu muita pesquisa (principalmente para não decepcionar os fãs) e felizmente posso dizer que foi um dos grandes acertos do longa, pois tudo é muito fiel e agrada em cada elemento cênico mínimo pensado para estar no local certo e na hora certa, ou seja, é daqueles filmes que você vendo diversas vezes vai achar cada vez mais coisas para falar sobre o contexto visual da trama. A fotografia trabalhou muito com um tom puxado mais para o marrom quase chegando no sépia para sujar um pouco o filme e deixar ele mais desértico, mas claro que por contar com personagens de diversas cores, e que possuem efeitos em seus poderes, os tons vermelho e azul acabaram sendo bastante usados, mas se tenho de reclamar de algo, poderiam ter usado tons mais frios e sombrios nas cenas mais tensas para causar um pouco mais, pois no teor médio/quente que usaram no filme quase que inteiro, não chegamos a ficar presos na poltrona em quase nenhuma cena. Já falei muito sobre o 3D do longa lá pra cima, mas volto a afirmar que se vão vender um filme com a tecnologia que ele seja pensado para que os efeitos funcionem na tecnologia, como foi o caso aqui, pois é um filme aonde tudo quebra, tudo se move rapidamente, possui diversas cenas em slow, e tudo foi minuciosamente usado para que os óculos 3D não fossem meros enfeites na cara, e junto disso tudo que sai para fora da tela, ainda tivemos boas cenas de profundidade com diversas camadas, ou seja, pague um pouco mais caro e veja o filme em 3D, pois vai valer a pena.

Enfim, me alonguei demais, e possivelmente até devo ter soltado alguns spoilers no texto com toda a agitação que acabei saindo da sessão. O filme possui defeitos? Sim! Mas acabam sendo bem menores do que a grandiosidade de toda a ação que a trama nos entrega, agradando demais quem gostar do estilo. Como todos bem sabem, não sou o maior fã de filmes de super-heróis, e para me empolgar com algo do estilo, o filme precisa ser bem agitado e envolver, e aqui o resultado chegou a arrepiar em diversos momentos, e chegou até dar vontade de aplaudir com algumas cenas. Ou seja, recomendo com toda certeza para todos que gostem de longas de super-heróis, que curtem quadrinhos, ou até mesmo você que gosta de um bom filme de ação, pois o filme não para um segundo para respirar e vai agradar bastante quem estiver disposto a curtir 143 minutos de muita adrenalina. Como todos sabem, todo filme da Marvel, embora este seja feito pela Fox, possui uma cena pós 5 minutos de créditos, que já dá a brecha para o próximo vilão do próximo filme, novamente dando boas referências para quem assistia aos desenhos. Enfim, gostei muito do que vi, e como fui praticamente sem expectativa nenhuma, o longa me agitou bem mais do que imaginaria que acontecesse. Até daria nota máxima para o filme pelo tanto que acabou me empolgando, mas por faltar uma ou outra melhor apresentação de alguns personagens, um detalhe ali, outro acolá, vou acabar tirando um ponto dele, mas que fique claro que daria 9,5 fácil, isso se não arredondasse para cima. E claro volto para falar mais dele nos comentários, assim que rever ele, pois isso certamente acontecerá. Bem fico por aqui hoje, mas volto em breve com as outras duas estreias dessa semana, então abraços e até mais pessoal.

PS: Criando uma discórdia com o pessoal que gosta de outros super-heróis, esse filme bota os outros dois que já estrearam nesse ano no bolso em quase tudo fácil, fácil!! Pena que na bilheteria não deve corresponder tanto!

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O Conto dos Contos (Il Racconto dei Racconti) (Tale of Tales)

5/14/2016 02:04:00 AM |

Nesses meus anos de caminhada cinematográfica já vi muita coisa diferente e estranha nos cinemas, mas acho que nada se compara com a bizarrice mostrada em "O Conto dos Contos", aonde se você imaginar algo impossível de acontecer na tela, é provável que aconteça, e pior ainda, pois na cena seguinte conseguem superar com algo mais estranho, já que tentaram numa mistura de "Game of Thrones" com contos de fadas mais sombrios, incorporando o gore e trash de longas de terror em um único filme. Ou seja, é um filme completamente diferente que pode até agradar aqueles que gostem do extremismo, pois não é uma trama ruim, só é necessário ter estômago para aguentar a tanta insanidade reunida em um único longa que de maneira certinha conta um pedaço de uma história, vai pra outra, depois para a outra, daí volta para a primeira, e assim subsequentemente até o final completo das três histórias, que claro em diversos momentos tem participações coletivas de uma subtrama na outra.

O longa nos apresenta três fábulas presentes no livro Pentamerone, que dão origem a um mosaico da época barroca do século XVII na Itália. Três reinos vizinhos governados em castelos maravilhosos pelos seus reis e rainhas, príncipes e princesas. Um rei adultero e libertino, outro rei fascinado por um animal peculiarmente estranho e uma rainha obcecada pelo desejo de ter filhos. Magos, ogros, acrobatas e cortesãos são os heróis desta interpretação livre dos famosos contos de Giambattista Basile.

Hoje novamente fiz a loucura de ir ver o filme sem ler sinopse, nem ver trailer nem nada sobre ele, e agora pesquisando um pouco mais para poder falar, vi que o diretor italiano Matteo Garrone é o responsável pela loucura que foi "Gomorra" e também fez "Reality", que são boas histórias, mas usando da forma incomum de mostrar as coisas acaba saindo do estilo proposto e deixa o público confuso se gosta ou não do que viu, e aqui ele não nos decepciona novamente ao utilizar esse estilo mais irreal, brincando com diversas possibilidades de um mundo não tão bonito, aonde seus atos sempre geram consequências não tão boas. O filme roteirizado e dirigido por ele pode ser visto de duas maneiras, a primordial como uma história só utilizando o conceito neutro, e a outra que é trabalhando cada uma das três histórias como vértices bem separados, o que na minha humilde opinião é a melhor forma, e se fosse feita sem intercalações agradaria bem mais. Embora se pesquisar um pouco na net sobre o filme seja possível saber a ideologia de cada uma das três histórias, vou preferir não ficar falando sobre cada uma em específico, mas sim dizer o porquê de cada uma ser interessante. Na primeira trama da rainha, logo que o mago aparece e dá sua famosa frase de que nada se conquista e o preço do que desejam é algo caro demais, fica evidente tudo o que vai rolar, e por mais estranho que possa ser e desenrolar, cada ato é um flash do que foi dito, e ao mesmo tempo que vai acontecendo, só vamos esperando os próximos flashes. Na história do rei das orgias, o fato claro é mostrar que embora muitos falem que a beleza está no interior, ninguém quer ser visto com uma pele toda amassada, e o ponto mais forte é ver as pessoas loucas seguirem a risca o que é dito, não importa que seja uma loucura, de modo que "Carrie" foi fichinha para o fechamento do segundo ato da trama. E na história do rei com seu animalzinho de estimação mega bizarro, não bastasse essa loucura completa, ao entregar a filha para o ganhador da competição, vemos o desenrolar de algo que volta a mostrar que o anseio pela beleza é algo perigoso, e não dá para confiar em pessoas bonitas demais. Com essas deixas, tentei não dar muitos spoilers, mas já dá para pegar a ideologia maluca que o diretor mostra em carne crua visceral na tela, então não espere por cenas mornas, pois o que irá ver é o acontecer forte de cada momento, em ângulos bem proximais. E embora a censura esteja 14 anos, evite levar crianças menores de 16, pois a chance de um trauma é alto... por sorte o garotinho na fileira lá da frente a mãe entregou um celular para ele jogar, pois não é algo bom de se ver com certa idade.  

Sobre as atuações, não posso dizer que me surpreendi com praticamente ninguém, pois os personagens falam mais do que as expressões dos artistas, de modo que poderiam colocar qualquer um fazendo os papeis principais de cada uma das três histórias que ainda assim acabaríamos chocados com o contexto completo e nem repararíamos em quem estava ali. Diria que Salma Hayek, que anda um pouco sumida de protagonizações, não estava lá com muita vontade de fazer uma das rainhas, e suas expressões ficaram angustiadas demais para alguém que desejava tanto ter um filho, talvez seja apenas uma falta de carisma na personagem, mas exalou rancor em todas as suas cenas. Os gêmeos Jonah e Christian Lees deram boas personalidades para seus papeis de Jonah e Elias, e com uma maquiagem branca exagerada fizeram cenas bem colocadas junto de Hayek, agradando pela ótima simbologia dos papeis. Vincent Cassel com longas madeixas de cabelo é algo meio incomum de se ver, e o seu rei libertino é algo que facilmente imaginamos com sua cara de muita bebedeira, de certo modo podemos usar a ideologia de suas cenas como se beber mais, qualquer baranga vira uma deusa, mas seu estilo é sempre algo interessante e robusto que agrada de modo geral. O trio de mulheres composto por Shirley Henderson como Imma, Hayley Carmichael como Dora e Stacy Martin como Dora na segunda fase, é algo bem controverso de se ver, pois ao mostrar o desespero das senhoras por serem novas e bonitas, é algo que seu semblante predominava de forma incrível, e quando surge Stacy como veio ao mundo, claro que de um modo bem fora do comum, a ideologia fica bem surreal para não dizer outras palavras. Que Toby Jones já possui uma cara de maluco nem é algo que se tenha de discutir muito, mas colocando seu rei para cuidar de um bichinho bem exótico, alimentando ele com seu próprio sangue até que esse bicho vire um cão imenso, vemos seus trejeitos ficarem ainda mais fora da realidade normal de uma pessoa, e claro que isso vai ficar mais tenso para frente, e o ator segura bem toda a compostura. Porém o grande destaque em controvérsia de expressões ficou a cargo de Bebe Cave com sua Violet, pois inicialmente se mostrando como uma jovem bem mimada e cheia de frescuras, ao entrar pro mundo mais forte e impactante com seu novo marido, aí ela vira outra, com uma reviravolta incrível (quando já havia acontecido uma reviravolta bem trabalhada, mas que não é encerrada) que todos vão ficar bem chocados mesmo imaginando a cena completa que foi semi anunciada, ou seja, a garotinha mostrou que tem pegada.

Sobre o visual da trama, ao juntar clássico de época barroca com figurinos exuberantes e cheios de panos e adornos, junto com fantasia aonde podem surgir bichos e pessoas de todas as formas estranhas possíveis, e adicionar à tudo isso um estilo mais sombrio puxado para o terror mais trash e gore, o filme não tinha como não ter uma produção eficiente que deu liberdade poética e asas para que o diretor de arte criasse muitas coisas que uma cabeça normal sequer conseguiria imaginar, e com isso, o filme está lotado de elementos cênicos bem importantes para dar contexto à cada personagem e montando assim a história de forma completa, ou seja, tudo o que você ver em cena terá alguma importância mais para frente, então assista ao filme com olhos em 180 graus, observando tudo. E claro que para manter a essência fantasiosa sombria, a equipe de fotografia trabalhou a iluminação em tons bem escuros para segurar a tensão e manter o clássico estilo de época, talvez se posso fazer uma reclamação, embora seja pertinente que embaixo da água turva não se vê muita coisa, ou cortassem fora a cena (o que seria um desperdício, pois tem muita simbologia ali do que vai rolar para frente), ou melhorassem mesmo que deixasse falso o visual da imagem, pois chega a ser um incômodo acompanhar a cena inteira lenta e embaçada.

Sobre a sonoridade do filme, é claro que Alexandre Desplat não se contém apenas com sussurros e suspiros para compor suas trilhas mais profundas, colocando sua orquestra completa para termos ruídos e climas bem dentro do que o filme pediria, e ainda não deixando que o longa cansasse tanto o espectador ao manter um ritmo mais lento na primeira parte de apresentação de cada trama.

Enfim, não é um filme perfeito e interessante ao ponto de que todos vão querer assistir, no contexto geral posso dizer que é um filme bem diferente, que ou vai agradar demais quem for conferir, ou vai incomodar tanto que será difícil o espectador ficar até o final da sessão. Claro que sempre vai ter aqueles curiosos que se seguram para não ir embora, e esses podem ficar meio que em cima do muro, mas no contexto geral, a trama é bem interessante, porém bizarra demais para se deixar levar por tudo o que é mostrado. E sendo assim, até recomendo o filme para todos (colocando em pauta a idade limite para 16 anos e não 14 como foi lançado), mas que certamente muitos vão achar que é maluquice demais para sua cabeça, portanto fica a dica, que não é algo comum de ir ver tranquilamente numa tarde à toa. Bem é isso pessoal, infelizmente essa semana foi bem curta, e encerro já aqui minhas postagens, mas volto na quinta (já que o filme vai acabar quase meia-noite) com a pré-estreia do blockbuster da próxima semana, então abraços e até lá.

PS: Estava com intenção de falar de cada cena do filme, pois me revoltei muito com toda a bizarrice da trama, mas viraria um texto só de spoiler, e como sempre digo, prefiro não estragar a oportunidade de cada um ver o filme à sua maneira.

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Angry Birds em 3D

5/13/2016 01:27:00 AM |

Confesso que assim que soube que estavam fazendo um longa sobre o jogo "Angry Birds" me veio à cabeça como conseguiriam fazer um enredo em cima de algo que é apenas uns passarinhos sendo arremessados por um estilingue matando porcos e destruindo as casas deles, mas eis que hoje após conferir o filme, posso dizer com toda certeza que conseguiram com grande êxito criar tanto história para apresentar cada personagem de maneira correta, como souberam adequar boas referências à outros filmes junto de uma boa animação bem trabalhada para envolver e agradar quem estiver disposto à se divertir, e claro que se a bilheteria for no mesmo ritmo que o jogo foi baixado, certamente nos entregarão continuações, pois agora que já fomos todos apresentados à cada personagem, o rumo da aventura certamente vai ser bem mais fácil de conduzir. Ou seja, de um modo geral a trama agrada bastante à todos que quiserem ver indiferente de idade, e garanto que até quem não for muito ligado à animações vai acabar se divertindo com o filme.

O filme nos leva a uma ilha populada inteiramente por pássaros felizes e que não podem voar – ou quase inteiramente. Neste paraíso, Red, um pássaro com problemas de temperamento, o veloz Chuck, e o volátil Bomba sempre foram excluídos. Mas quando a ilha é visitada por misteriosos porquinhos verdes, cabe a estes improváveis rejeitados descobrir o que os porcos estão tramando.

O segredo para o sucesso do filme é bem fácil: primeiro pegue um jogo que foi super bem vendido nas mídias móveis, depois contrate o roteirista de uma das animações mais escrachadas e de sucesso da TV (Jon Vitti - "Os Simpsons"), em seguida de o cargo de direção para uma dupla estreante, mas que já trabalhou em inúmeras animações nas funções exatas que determinam se uma animação é boa ou não (Clay Kaytis - animador de "Frozen", "Detona Ralph", "Enrolados", "Bolt"; e Fergal Reily - desenhista de storyboards de "Hotel Transilvania", "Os Smurfs", "Tá Chovendo Hamburguer"), e pronto, metade do resultado já está garantido, adicione à isso um carisma bem dublado nas falas pelos dubladores (tanto originais que muitos andam elogiando, quanto os nacionais) e uma trilha sonora de nível épico, salpique algumas referências à outros filmes e certamente não vai ter quem reclame de algo do filme.

O interessante do filme é que a equipe não procurou criar personagens com texturas incríveis como vem acontecendo nas últimas animações, deixando o estilo bem semelhante ao jogo, mudando apenas alguns elementos para "humanizar" mais os personagens e com isso não sair inventando muita moda. E esse acerto também refletiu bastante na personalidade de cada um, deixando nem tanto que seus movimentos fizessem a diversão completa dos pássaros, mas colocando para que cada dublador interpretasse bem as falas incorporando trejeitos do país e deixando cada um mais divertido que o outro.

Com muita certeza, alguns vão reclamar do elenco nacional, mas é fato que a voz de Marcelo Adnet combinou bem com a personalidade de Red, a agitação bem sacada de Chuck ficou interessante de ver com Fábio Porchat, o dublador profissional Mauro Ramos fez um ótimo trabalho como Bomba, assim como Guilherme Briggs, que os fãs de dublagem tanto amam, deu simbolismo incrível para Leonardo, o Porco, e até mesmo Dani Calabresa soube ser carismática com sua Matilda. Claro que não vai ser possível ver por aqui a versão original para saber se caíram bem as demais personalidades com os atores, o que certamente deve ter ocorrido, mas em momento algum senti falta de uma voz mais gostosa para os personagens, e além disso, evitaram frases de efeito que soassem fora do contexto, ou seja, foi uma dublagem bem eficiente e gostosa para envolver à todos. O único problema que ocorreu na dublagem contra a legendagem, é que diferente do que costuma ocorrer com a Disney/Pixar ou até mesmo a Dreamworks que procura nas coisas escritas fazer também a versão nacional, e certamente dá um trabalho imenso, aqui a Sony não traduziu os cartazes, nem legendou as músicas de modo que quem não entende inglês apenas verá como um elemento jogado dentro da ótima cenografia, mas quem entender vai ver inúmeras referências e se divertirá mais ainda. Destaque dentre as referências para quem curte longas de terror, será a cena de Red abrindo uma das portas do navio dos porcos e encontrando personagens característicos do filme "O Iluminado".

Com muitas cores vibrantes na cenografia e nos personagens, o longa acaba sendo bem dinâmico, mas também por ser ágil demais em alguns momentos acabou assustando algumas crianças na sala e deixando vários agitados durante a exibição, ou seja, como costumo falar alguns estilos de animações acabam agradando mais os adultos que os pequenos, e acredito fielmente que esse vai ser um deles, mas certamente muitos pequenos que jogaram o joguinho ficarão bem entretidos durante toda a exibição. O longa conta com diversas cenas aonde o 3D de profundidade funciona para dar boas camadas e também muitas cenas com personagens sendo jogados em direção ao público, mas de certo modo ficou um pouco fraco o recorte do direcionamento, e diferente do que costuma acontecer quando isso ocorre de o público desviar, aqui a imersão acaba segurando um pouco o personagem ainda dentro do retângulo da tela. Mas ainda assim vale ver o filme na tecnologia.

Agora se tem algo que sempre reclamo de diversas animações é a falta de boas canções tanto para dar ritmo quanto para criar dinâmica junto da história, e aqui de forma alguma farei qualquer reclamação, pois as escolhas foram de um nível incrível, com todas muito bem encaixadas com os diversos momentos da trama, algumas servindo de boas referências (como disse acima não legendaram, mas dá para pegar bem a essência) e até mesmo colocaram no original Blake Shelton (jurado country do "The Voice" americano) para fazer um porquinho cantor, colocando sua música como uma das principais do filme. Claro que deixo aqui o link do Spotify com todas as músicas do longa.

Enfim, é um longa envolvente que gostei até mais do que imaginava, acabei rindo demais e recomendo o filme com toda a certeza para todas as idades e gostos, pois a trama consegue prender e trabalhar bem diversas perspectivas. Fico por aqui agora, mas hoje à noite confiro a outra estreia da semana no interior, então abraços e até breve.

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Prova de Coragem

5/10/2016 01:55:00 AM |

Assim como o mote do filme que é a indecisão, ou falta de coragem do protagonista, o diretor/roteirista e até mesmo o elenco de "Prova de Coragem" ficaram bem indecisos frente ao que desejavam fazer com o longa, pois num misto de filme com pegada comercial e filme artístico sem muito envolvimento, o filme parte do nada para lugar algum, segurando apenas algumas reflexões e simbologias, mas que necessitou mais do flashback para tentar explicar toda a situação que o envolvimento dos protagonistas para desenvolver seus momentos. Ou seja, é um filme interessante, mas bem longe de chamar atenção para qualquer coisa, ou principalmente, envolver alguém para adentrar ao que a história propunha.

O filme nos mostra basicamente que Hermano é um médico bem-sucedido que está planejando uma escalada de alto risco em uma montanha na Terra do Fogo. Neste período, sua mulher Adri, com quem vive há sete anos, descobre que está grávida. Mesmo na iminência de se tornar pai, ele dá prosseguimento a seus planos. Esta é a prova de coragem que Hermano deve a si mesmo após ter testemunhado seu melhor amigo ser agredido até a morte e não ter feito nada para ajudá-lo.

A ideia da trama até pode ser considerada original e foge bastante dos longas novelescos que costumam nos entregar nos filmes nacionais, mas o diretor e roteirista Roberto Gervitz, que tem feito um filme a cada 10 anos ou mais, ficou na dúvida entre ousar e agradar em seu estilo, deixando uma história com potencial perdida frente a tudo o que poderia acontecer. Não digo que sua história é ruim, muito pelo contrário ela consegue mostrar algo que acontece muito nos relacionamentos atualmente que é cada um querer ser o dono de sua verdade sem trabalhar bem o meio termo, mas ao deixar muitas indecisões e dúvidas na falta de coragem do protagonista em tudo, o diretor também não teve coragem para nada, trabalhando as cenas de um modo bem morno e rodando o flashback muito vagarosamente para entregar o que na sinopse já estava dito, além de a conclusão do filme não ser em nada reveladora, já que no miolo deixam claro tudo o que pode rolar. Agora é fato que muitos podem abstrair outras ideologias presentes na trama, como a falta de ousadia e a meta do inalcançável ser um objetivo que acaba estragando muitas vezes a vida de uma pessoa, mas faltou ser determinante quanto à isso, e assim sendo a visão que temos é mais de falha do que algo que possa envolver realmente, mesmo que tenha bons ângulos das locações da trama.

No quesito atuação, um fato claro e marcante ficou por conta da regionalização do filme, pois é inevitável o tanto de gírias gaúchas incorporadas na trama, juntamente de claro um sotaque bem arrastado para com os protagonistas, que até fica bacana de ouvir, mas senti um leve exagero que poderia ser evitado. Dito isso, Mariana Ximenes até trabalhou bem sua Adri, mas com o mesmo desespero que demonstra sua paixão nas cenas mais ardentes, retribui com força suas patadas expressivas quando quer brigar ou cortar sua árvore, e isso soa meio dúbio dentro da personalidade da atriz, claro que é impossível entender as mulheres, mas aqui ficou parecendo literalmente dupla personalidade incorporada tanto na personagem, quanto na forma de atuar da atriz, e isso só é bom de ver em filmes sobre loucura. Armando Babaioff nos entrega um Hermano com tantas dúvidas que tenho certeza absoluta que o ator precisou ler muitas vezes seus textos para tentar imaginar como deveria dar vida ao personagem, e se o objetivo era mostrar sua falta de ousadia para com as cenas mais impactantes, o ator fez em cheio, mas para quem gosta de ver um ator mais dinâmico e ousado, vai sentir falta de muita pegada dele. O personagem Renan interpretado por Daniel Volpi é totalmente aquele personagem que tenta segurar as pontas e desfazer os nós da vida do protagonista, mas como ele não age, o personagem secundário também fica amarrado, e sendo assim, não tivemos uma cena que o ator pode se soltar, o que acaba sendo até irônico frente às cenas que está envolvido. Áurea Maranhão saiu-se um pouco melhor com sua Naiara, mas vamos concordar que a atriz que a fez adolescente era bem mais bonita e simpática, de modo que aparentemente sua personalidade mudou demais, não digo que para pior no jeito de atuar, mas seu estilo até chega a ser duro demais nas cenas que poderia se soltar mais, e isso não ocorre. Os demais jovens até foram bem soltinhos, e até fariam um filme bem mais focado caso o longa ficasse apenas neles, mas como não era esse o desejo do diretor, vamos deixar eles para lá.

Sobre o visual da trama, a equipe artística tentou trabalhar bem as simbologias que o diretor desejava mostrar, como a escalada da cachoeira, a figueira em pedaços sendo reconstruída, uma escola infantil sendo administrada pela ex-namorada de juventude, um ateliê completamente desconexo com uma casa de requinte, e isso só mostra o grande trabalho de uma direção de arte bem eficiente que se dispôs a tentar contar sua história embasada em elementos, deixando que a atuação e o roteiro acabasse ficando mais em segundo plano (provavelmente viram que o tema iria se enroscar), e assim sendo, o trabalho de produção podemos dizer que foi muito bem feito. A fotografia trabalhou exageradamente alguns planos corridos, que tentassem ditar um ritmo diferente do que o filme até pedia, e esses contrapontos também podem ser vistos de forma simbólica para contrastar com o protagonista e junto de tons mais pasteis e em diversos momentos até puxando para o inverso total de quase escuridão, mostrando a desorganização pessoal do personagem principal, ou seja, voltamos ao ponto de que a técnica funcionou mais do que a história em si.

Enfim, é um filme que certamente possuía um potencial bem grandioso, e que ao juntar diversos detalhes acabou falhando ao não se decidir qual rumo tomar, pois talvez como um longa mais artístico tivéssemos um longa bem filosófico e interessante, ou se partisse para o comercial total teríamos uma novelona bem dramatizada, mas como ficou no meio termo não agradou em quase nada sem ser nas questões artísticas como disse acima. Ou seja, recomendo o filme somente se não tiver mais nada para ver e desejar interpretar muita coisa que fica aberta na trama, senão poderá passar totalmente que não vai fazer falta em sua vida. Bem é isso pessoal, fico por aqui encerrando essa semana que foi até que bem recheada, mas já estou preparado para uma semana bem light que iniciará na próxima quinta, então abraços e até lá.

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Nise - O Coração da Loucura

5/08/2016 01:30:00 AM |

Já ouvi algumas vezes a expressão que dentro de todo artista existe um louco presente e dentro de todo louco existe a alma de artista, e não posso afirmar que foi usando essa ideologia que Nise da Silveira trabalhou nos anos 40 para mudar o estilo de terapia ocupacional que deu muito resultado com pacientes de um instituto de psiquiatria, mas que certamente a expressão funcionou bem para os artistas que interpretaram os pacientes do longa "Nise - O Coração da Loucura" disso eu não tenho dúvida nenhuma. O filme além de tocante, conseguiu trabalhar bem com a história de forma que o filme nos envolvesse sem precisar apelar, mostrando que na maioria das vezes o uso da força deve ser a última coisa a ser pensada para curar alguém, pois ao tratar seres humanos (mesmo que em condições totalmente debilitadas) como seres humanos também, o resultado pode ir muito além do que se pode esperar, e aqui o uso das artes foi algo extremamente bem interpretado e lindo de se ver na tela do cinema.

O longa nos mostra que após passar 15 meses presa por causa de seu envolvimento com o marxismo, e mais cinco anos de reclusão, a doutora Nise da Silveira, volta ao trabalho no Hospital Psiquiátrico Pedro II, no subúrbio do Rio de Janeiro e se recusa a empregar o eletrochoque e a lobotomia no tratamento dos esquizofrênicos. Isolada pelos médicos, resta a ela assumir o abandonado Setor de Terapia Ocupacional, onde dá início a uma revolução regida por amor, arte e loucura, implementando um novo tipo de terapia, focada em pintura e no convívio com animais domésticos.

Ao mesmo tempo que o filme pode ser assistido como um longa doce e poético, ele também pode atingir o patamar de duro e impactante com toda a realidade mostrada na tela pelo diretor Roberto Berliner, que é um grande especialista em documentários, e aqui em seu segundo longa de ficção acabou saindo bem melhor do que no longa de estreia, afinal com algo mais biográfico, ele pode utilizar seus dons documentais para retratar o texto feito por um grupo enorme de roteiristas. A grande sacada do diretor foi conduzir a história com a dualidade da loucura, mostrando que até mesmo a loucura da doutora em tentar uma coisa completamente louca junto dos pacientes, evitando os tradicionais métodos de lobotomia e eletrochoque, e partindo para algo mais belo e incluindo as pessoas como elas devem ser num cotidiano comum. Claro que para mostrar esse ótimo trabalho da doutora, ele optou por uma câmera mais agitada, na mão, com poucas cenas estáticas e trabalhando o público até mesmo como um outro paciente/cliente da doutora, inserindo um ponto de vista quase que in loco, e isso em exagero costuma cansar o espectador, porém felizmente isso acaba não acontecendo, pois os movimentos são bem sutis e trabalhados de uma forma mais crua impossível, o que vai fazer muita gente chorar na penúltima cena do filme ao mexer com os animais de uma maneira tão incrível, realmente muitos vão sentir o mesmo que os pacientes do hospital (raiva, desespero, tristeza e dor). Ou seja, um trabalho bem feito e que acertou em minúcias para colocar o público dentro quase da tela.

Sobre as atuações tenho de falar logo de cara duas coisas Glória Pires vai cair bem em qualquer personagem que seja colocada, e mais do que isso tenho de parabenizar todos os atores que fizeram os pacientes, mas o texto ficaria imenso então vou preferir dizer no geral que foi um trabalho incrível, pois inicialmente fiquei pensando nossa, será que botaram a Glória mesmo dentro de um hospício para trabalhar com algumas pessoas, mas daí reconheci Fabrício Boliveira, e vi que alguns passaram a atuar mais do que apenas fazer simbologias, e assim vi que todos eram atores, e por sinal ótimos, pois se doaram de corpo e alma para os personagens fazendo movimentos por vezes difíceis e expressões bem condizentes com cada momento num trabalho visceral e artístico que comumente vemos em diversos cursos de teatro, e que alguns alunos até costumam dizer que é apenas expressividade corporal e nunca será usada à fundo, mas aqui quem for assistir, verá o quanto foi altamente necessário, pois voltando ao começo do meu texto, a loucura impregnou na alma dos artistas do longa, então parabéns à todos: Simone Mazzer, Fabricio Boliveira, Julio Adrião, Claudio Jaborandy, Roney Villela, Flávio Bauraqui, Bernardo Marinho, entre outros. Dito isso, não posso afirmar que Nise da Silveira foi uma mulher com tanta classe e elegância como a mulher que Glória Pires nos entregou, pois ao final com a bem velhinha Nise dando sua entrevista, só vimos que ela era uma pessoa bem dedicada e disposta a enfrentar tudo e todos, mas nada além disso, e a atriz soube demonstrar bem cada imponência de cada ato de maneira incrível e característica que tanto conhecemos bem e sem erros agrada até mais do que deveria.

Outra coisa que posso dizer estar incrível no filme é o trabalho da equipe de arte, pois ao criar de forma dura, e até podemos dizer feia visualmente, o hospital psiquiátrico, a equipe acabou mostrando a dura realidade que são esses lugares, aonde diversas pessoas acabam sendo jogadas e muitas vezes nem recebem visitas de ninguém, o que acaba só agravando o seu quadro psicológico. Então ao retratar o hospital como algo quase abandonado, sujo, cheio de coisas mal acabadas, com diversos elementos cênicos para representar tudo isso, o acerto foi eminente, e depois ao trabalhar a parte artística com a pintura e escultura junto aos pacientes, o filme entrou numa vibe tão linda e bela, que o mundo quase sai do chão com todos os elementos que colocaram em cena. Junto da grande arte, a equipe de fotografia teve um trabalho até que de certa forma ingrato para iluminar tudo sem soar falso, pois como disse, o diretor optou por muita câmera em movimento e isso dentro de locações pode estragar um filme completamente, o que felizmente não acabou ocorrendo aqui, e usando de muitos tons marrons com filtros e técnicas, o longa ganhou um ar mais sujo e poetizado.

Enfim, um excelente filme que envolve e agrada na medida certa, de tal maneira que até se fosse mais longo, colocando mais elementos e trabalhando mais a vida de cada paciente, pois só ficamos sabendo como dois foram parar no hospital, e certamente a história de cada um é incrível de ser contada, e provavelmente foi filmada para depois eliminar na edição final, então quem sabe mais para frente não decidam fazer uma série ou algo do tipo, pois seria algo bem válido. E sendo assim, mais do que recomendo a trama, mesmo que você não seja muito adepto ao estilo contextual que alguns longas nacionais acabam incorporando, e isso é o que posso dizer que é o único defeito da trama, pois mesmo sendo algo que agradaria ver como uma novela ou série, o filme não se prende tanto a isso. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto na segunda com a última estreia que veio para o interior, então abraços e até breve.

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Martyrs

5/07/2016 01:57:00 AM |

Dentro do gênero terror, possuímos diversos vértices para serem explorados, e o torture porn ou torture horror como alguns costumam chamar teve um grande momento na época de "O Albergue" e até um pouco com a série "Jogos Mortais", mas depois de diversos filmes apelativos sem muito conteúdo acabou meio que deixado de lado. E embora "Martyrs" seja um remake de um filme francês de 2008, o conteúdo foi bem trabalhado, e mesmo quem já viu o longa original em nada vai se remeter a ele com o que fizeram aqui. Claro que a ideologia é a mesma, mas o filme conseguiu trabalhar esse gênero que no original acaba soando forte demais e com pontas soltas demais também, para algo mais simples, direto ao ponto e deixando o lado gore mais de lado para não causar tanto. A censura embora seja de 18 anos, não vai chocar quem tiver menos e assistir ao filme, pois em videogames os jovens veem e fazem coisas bem piores do que o que é mostrado aqui. Ou seja, não posso dizer que é um dos melhores filmes do estilo, mas que foi bem trabalhado para condizer com o que queriam mostrar tanto dentro da "religiosidade" como da dramaticidade frente ao desespero que muitos torturados acabam sentindo.

A sinopse nos conta que uma mulher e sua amiga de infância procuram por vingança por aqueles que a torturaram quando criança. Sem lembrar ao certo quem foram seus agressores, elas procuram pela verdade obscura de seus desaparecimentos, por trás dos traumas causados.

Sei que muita gente é contra refilmagens, mas é inegável que os diretores americanos adoram refilmar longas estrangeiros que eles gostem, e prefiram não ver nem dublado, nem legendado, e isso acaba sendo algo quase como uma meta a ser atingida. E claro que em longas de terror costumam, os europeus não economizam em torturas e sangue, de modo que isso chega até incomodar alguns diretores americanos. Então unindo as duas partes, esse novo filme até que não ficou ruim, mas de uma maneira mais leve mostrou algo que "dizem" ter acontecido em diversos lugares de algumas seitas/organizações buscarem encontrar verdades/misticismos ao observar mulheres sendo torturadas, e até poderiam deixar mais de lado a ideia de monstros que colocaram em duas cenas para tentar assustar o público e trabalhar mais o lado psicológico mesmo, que só ele já chega a causar um pouco. Um erro comum da direção do longa foi tentar trabalhar a ideologia do susto segurando um pouco o suspense em algumas cenas, com angulação mais fechada e tudo mais que é característica de alguns longas mais inferiores, porém além de desnecessário, isso acabou deixando o filme até bobo em alguns momentos, mas por ser apenas o segundo longa dos diretores Kevin e Michael Goetz, sendo o primeiro desse gênero, é possível de melhorarem com uma experiência futura.

De certo modo, posso dizer que mesmo sabendo de tudo ser falso, a atriz Bailey Noble ou teve ou terá futuros problemas com a impressão que ficou de tudo o que teve de fazer na trama com sua Anna, pois sua expressividade beirava a realidade de como uma pessoa reagiria após ver tudo o que viu, e isso mostra o que é uma excelente atriz para longas de terror, claro que sua saída do túnel não podia ser mais fake, porém no contexto geral da maioria de suas cenas acaba agradando bastante. Troian Bellisario também saiu-se bem com sua Lucie, e de certo modo mostrou bem a ideia de uma pessoa perturbada após tudo o que aconteceu com ela, claro que em alguns momentos extremos passamos a julgar ela assim como a amiga, como uma louca total, mas ao entender um pouco mais da história vemos que tanto a personagem tem duros motivos para tudo, quanto a atriz por estar interpretando dessa forma. Acredito que faltou um pouco mais de história para ligarmos a personagem de Kate Burton, Eleanor, com a trama completa, pois apenas sua aparição e coisas que faz não dizem muito de onde veio, e qual a real intenção do que está fazendo, mas no geral sua expressividade mais dura agrada e chama atenção. Dos demais personagens, nem somos muito bem apresentados, e a garotinha Sam de Caitlin Carmichael (que com apenas 12 anos já é considerada veterana em longas e séries de terror) até pode ser que caso inventem um segundo longa chame mais atenção, mas aqui apenas expressa seu pavor na sua cena mais marcante.

Sobre o contexto visual da trama, por ser um misto de suspense com um terror mais sujo, o filme trabalhou bem com elementos clássicos da tortura e até exagerou na brincadeira com a representatividade da família bucólica do campo, que sempre desconfiamos de ser algo bonito e honrado demais, mas ao colocar tudo quase que com pontos e vírgulas para mostrar tudo em minúcias (do tipo bem infantil, ó temos uma furadeira, ó a escada é toda cromada, ó as chaves estão brilhando e todas juntas), o filme acaba cansando um pouco pela repetição de algumas cenas, mas tirando essa fadiga, o resultado até passa de maneira bem feita até o momento em que a seita é apresentada, aí me desculpe a equipe de produção, mas duas a três fileirinhas simples em algo que parece bem administrado, é algo ridículo de ver, além de que parece ter 10 pessoas ou mais na casa, e um único carro estacionado da chefona, de modo que isso é coisa de amador demais. Por outro lado, a fotografia evitou ser tradicionalista de querer ocultar coisas para pegar o público desprevenido e assustar, trabalhando mais nas sombras e na subjetividade das cores para que o filme se envolva por si só.

Enfim, não é um filme memorável, mas também não é de todo ruim, tendo coisas bem interessantes de se ver, e principalmente contando uma história bem trabalhadinha, porém poderiam ter desenvolvido mais ao invés de ficar repetindo muita coisa que todo mundo já tinha visto, e assim o longa agradaria bem mais. Dessa forma não diria que seria um longa que recomendaria 100%, mas que de certa maneira até que é válido para o estilo que desejavam mostrar, e sendo assim, quem gostar de longas com torturas e seitas, talvez goste do que verá. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda faltam dois longas para conferir nessa semana, então abraços e até breve.

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