Felizmente o cinema nacional tem nos apresentado cada dia novas produções que fogem do gênero comédia novelesca, e a cada dia que tentam trabalhar com longas de suspense e terror os diretores vão se aprimorando cada vez mais para o que certamente em breve teremos algo completo. Só não digo que "O Caseiro" chegou nesse nível principalmente por falhar um pouco no desenvolvimento da tensão e ter poucas cenas que causem realmente um terror na trama, porém toda a simbologia criada, e o fato marcante de usar coisas de nossa cultura já o colocam num patamar muito avançado dentro da escala de outros longas que tentaram ousar e não saíram da tentativa. E se os filmes anteriores de Julio Santi não decolaram, após esse feito, certamente seu nome será lembrado por alguns adoradores de cinema de suspense/terror mais para a frente, mas por enquanto o que posso adiantar é que o filme flui de maneira bem condizente, até o momento de seu fechamento, pois a construção foi feita de forma bacana, mas o desespero para concluir tudo acabou deixando falhas em cima de falhas, e por bem pouco não arruinou tudo de bom que fez.
O longa nos apresenta Davi, um cético professor de psicologia, que é famoso por escrever um livro que explica aparições sobrenaturais através da psicanálise. Após anos sem atender pacientes, ele viaja para o interior buscando investigar o caso de um homem que acredita que sua filha vem sendo assombrada pelo fantasma do antigo caseiro de sua propriedade, que se suicidou.
O trabalho feito pelo diretor e roteirista Julio Santi é algo interessante de pontuarmos, pois ele acabou criando uma história de certo modo diferenciada e que não usou dos artifícios de tentar ficar assustando o público, mas sim criar um ambiente satisfatório para que a ideia fluísse e acabasse contando de um modo simples toda a tensão real da família com o acontecimento em si. Além disso, ao revelar o mistério completo, ficamos com a indagação de até termos perdido algum elemento chave, pois o fechamento acaba sendo completamente desconexo com o restante, e conforme vamos montando todas as pistas, apontando os dedos todos para outro lado, o resultado acaba surpreendendo e mostrando-se melhor do que o esperado. Claro que talvez mais pistas sobre o fechamento, ou talvez algum flashback após mostrar tudo deixaria o público mais exclamado com tudo, mas também seria uma fórmula banal a ser usada, então vamos condizer e aceitar a ideia e ficar com a pulga atrás da orelha que é melhor, mostrando que a eficiência do jovem diretor em enganar o público foi satisfatória. Outra grande sacada é que diferente do que costumam fazer no estilo, aqui a câmera nem foi estática pegando uma amplitude de tensão e nem foi ao estilo de vamos correr junto com o protagonista, trabalhando na medida certa cada movimento para que o ambiente todo fosse explorado ao mesmo tempo pelo público e pelo protagonista, o que acaba agradando bastante.
Sobre as atuações, é interessante ver Bruno Garcia como um personagem mais amplo e menos novelesco, e certamente seu estilo sério acaba agradando bem dentro da personalidade cética de Davi, claro que o seu segredo é facilmente descoberto logo de cara, e nem precisaria ser falado no roteiro, mas isso não atrapalhou em nada sua desenvoltura e fico na expectativa dele fazer algum estilo de policial investigativo em algum suspense policial misterioso, pois mostrou ter qualidades para isso. Leopoldo Pacheco até chamou atenção de certa forma para o seu Rubens, e trabalhou a expressão segurando demais no texto que lhe foi entregue, sem ousar em nada, mas também não estragou nada, e sendo assim, acabou funcionando dentro da proposta, criando até uma certa dúvida no ar quanto suas verdades. Malu Rodrigues foi bem colocada para a personalidade de Renata, mas ficou travada demais em diversos momentos, não realçando quase nada do que poderia agradar ou chamar atenção, e isso em um suspense acaba sendo quase a extinção da personagem, que teoricamente é quem inicia todo o processo do filme. As garotinhas Annalara Prates e Bianca Batista como Lili e Julia respectivamente, tiveram bons momentos e se encaixaram bem dentro da situação toda, mas poderiam expressar mais medo, ou pelo menos desconfiança em cima do tema, que acabaria causando algo a mais para com o filme, de certo modo não atrapalharam. Agora em compensação Fabio Takeo como Padre e Denise Weinberg como Nora por bem pouco não arruinaram com tudo o que o filme fez, trabalhando sem expressividade alguma e ainda atuando com frases quase jogadas, ou seja, dispensáveis de certo modo para a história.
Visualmente, a locação escolhida é incrível para se fazer vários estilos de filmes de terror, e o escolhido acabou encaixando bem com todo o lance de fazenda aonde se tem um caseiro, com a nuance escolhida em manter um casebre bem antigo como casa do caseiro, e claro um lago bem sinistro ao lado para dar uma representatividade com toda a névoa que acabaram criando para dar um clima melhor, e nas cenas internas a boneca certamente foi o feito mais emblemático dentro dos elementos cênicos usados, ou seja, um trabalho coeso e bem encaixado. Outro grande fator a ser parabenizado na equipe é a direção de fotografia que mesmo com muitas cenas externas a noite não deixou a iluminação desaparecer de forma alguma, encontrando em postes estrategicamente colocados para dar o tom sombrio de contraste perfeito para criar a tensão e ainda mostrar para o público tudo o que ocorria. Agora os momentos que necessitaram de efeitos e maquiagem poderiam certamente ser melhorados, pois soaram deveras falsos, e isso num terror é algo imperdoável, então os tudo no filme vai bem, mas a nota que vou tirar se deve mais por isso.
Enfim, está longe de ser um filme memorável, mas certamente agrada bastante dentro da proposta e quem gosta de um suspense bem feitinho certamente vai gostar do que verá nesse exemplar nacional, ou seja, recomendo sim o longa para todos que gostam do gênero, e digo mais, vá assistir para ajudar na bilheteria, afinal só assim para que outros diretores criem coragem e façam mais filmes nesse estilo no Brasil. Bem é isso pessoal, encerro minha semana cinematográfica aqui, dessa vez foi bem curtinha, mas volto na próxima quinta para fechar o mês, então abraços e até lá meus amigos.
Leia Mais
O longa nos apresenta Davi, um cético professor de psicologia, que é famoso por escrever um livro que explica aparições sobrenaturais através da psicanálise. Após anos sem atender pacientes, ele viaja para o interior buscando investigar o caso de um homem que acredita que sua filha vem sendo assombrada pelo fantasma do antigo caseiro de sua propriedade, que se suicidou.
O trabalho feito pelo diretor e roteirista Julio Santi é algo interessante de pontuarmos, pois ele acabou criando uma história de certo modo diferenciada e que não usou dos artifícios de tentar ficar assustando o público, mas sim criar um ambiente satisfatório para que a ideia fluísse e acabasse contando de um modo simples toda a tensão real da família com o acontecimento em si. Além disso, ao revelar o mistério completo, ficamos com a indagação de até termos perdido algum elemento chave, pois o fechamento acaba sendo completamente desconexo com o restante, e conforme vamos montando todas as pistas, apontando os dedos todos para outro lado, o resultado acaba surpreendendo e mostrando-se melhor do que o esperado. Claro que talvez mais pistas sobre o fechamento, ou talvez algum flashback após mostrar tudo deixaria o público mais exclamado com tudo, mas também seria uma fórmula banal a ser usada, então vamos condizer e aceitar a ideia e ficar com a pulga atrás da orelha que é melhor, mostrando que a eficiência do jovem diretor em enganar o público foi satisfatória. Outra grande sacada é que diferente do que costumam fazer no estilo, aqui a câmera nem foi estática pegando uma amplitude de tensão e nem foi ao estilo de vamos correr junto com o protagonista, trabalhando na medida certa cada movimento para que o ambiente todo fosse explorado ao mesmo tempo pelo público e pelo protagonista, o que acaba agradando bastante.
Sobre as atuações, é interessante ver Bruno Garcia como um personagem mais amplo e menos novelesco, e certamente seu estilo sério acaba agradando bem dentro da personalidade cética de Davi, claro que o seu segredo é facilmente descoberto logo de cara, e nem precisaria ser falado no roteiro, mas isso não atrapalhou em nada sua desenvoltura e fico na expectativa dele fazer algum estilo de policial investigativo em algum suspense policial misterioso, pois mostrou ter qualidades para isso. Leopoldo Pacheco até chamou atenção de certa forma para o seu Rubens, e trabalhou a expressão segurando demais no texto que lhe foi entregue, sem ousar em nada, mas também não estragou nada, e sendo assim, acabou funcionando dentro da proposta, criando até uma certa dúvida no ar quanto suas verdades. Malu Rodrigues foi bem colocada para a personalidade de Renata, mas ficou travada demais em diversos momentos, não realçando quase nada do que poderia agradar ou chamar atenção, e isso em um suspense acaba sendo quase a extinção da personagem, que teoricamente é quem inicia todo o processo do filme. As garotinhas Annalara Prates e Bianca Batista como Lili e Julia respectivamente, tiveram bons momentos e se encaixaram bem dentro da situação toda, mas poderiam expressar mais medo, ou pelo menos desconfiança em cima do tema, que acabaria causando algo a mais para com o filme, de certo modo não atrapalharam. Agora em compensação Fabio Takeo como Padre e Denise Weinberg como Nora por bem pouco não arruinaram com tudo o que o filme fez, trabalhando sem expressividade alguma e ainda atuando com frases quase jogadas, ou seja, dispensáveis de certo modo para a história.
Visualmente, a locação escolhida é incrível para se fazer vários estilos de filmes de terror, e o escolhido acabou encaixando bem com todo o lance de fazenda aonde se tem um caseiro, com a nuance escolhida em manter um casebre bem antigo como casa do caseiro, e claro um lago bem sinistro ao lado para dar uma representatividade com toda a névoa que acabaram criando para dar um clima melhor, e nas cenas internas a boneca certamente foi o feito mais emblemático dentro dos elementos cênicos usados, ou seja, um trabalho coeso e bem encaixado. Outro grande fator a ser parabenizado na equipe é a direção de fotografia que mesmo com muitas cenas externas a noite não deixou a iluminação desaparecer de forma alguma, encontrando em postes estrategicamente colocados para dar o tom sombrio de contraste perfeito para criar a tensão e ainda mostrar para o público tudo o que ocorria. Agora os momentos que necessitaram de efeitos e maquiagem poderiam certamente ser melhorados, pois soaram deveras falsos, e isso num terror é algo imperdoável, então os tudo no filme vai bem, mas a nota que vou tirar se deve mais por isso.
Enfim, está longe de ser um filme memorável, mas certamente agrada bastante dentro da proposta e quem gosta de um suspense bem feitinho certamente vai gostar do que verá nesse exemplar nacional, ou seja, recomendo sim o longa para todos que gostam do gênero, e digo mais, vá assistir para ajudar na bilheteria, afinal só assim para que outros diretores criem coragem e façam mais filmes nesse estilo no Brasil. Bem é isso pessoal, encerro minha semana cinematográfica aqui, dessa vez foi bem curtinha, mas volto na próxima quinta para fechar o mês, então abraços e até lá meus amigos.