Águas Rasas (The Shallows)

8/28/2016 10:57:00 PM |

Não existe outra palavra para definir "Águas Rasas" senão tensão, pois o filme tem as bordas tão bem amarradas que se você não sentir a pressão que o tubarão cria na protagonista, certamente pode desistir de assistir qualquer filme do gênero que nada mais lhe impressionará. O longa tem um misto de "Tubarão" com "127 Horas", aonde o instinto de sobrevivência parte por ambos os lados da luta, mas claro que uma mera mulher de 1,78m não seria párea para um tubarão quase dez vezes o seu tamanho, porém numa luta tudo pode ocorrer, e como diria o velho provérbio unido com outra frase de sabedoria: "quem viver verá" que "a luta só termina quando acaba". E sendo assim corra para o cinema mais próximo e confira esse excelente filme que trabalhará muitas sensações aflitivas com quem tiver estômago, pois algumas cenas são bem fortes, mas ainda que tenha esse estilo mais cru e também trabalhe com algumas cenas não críveis, o resultado acaba sendo incrível.

O longa nos mostra que Nancy é uma jovem médica que está tendo de lidar com a recente perda da mãe. Seguindo uma dica sua, ela vai surfar em uma paradisíaca praia isolada, onde acaba sendo atacada por um enorme tubarão. Desesperada e ferida, ela consegue se proteger temporariamente em um recife de corais, mas precisa encontrar logo uma maneira de sair da água.

Acho interessante quando um roteirista escreve um filme impactante, e ele fica na black list por algum tempo sem nenhum estúdio se interessar, pois o que Anthony Jaswinski fez com seu texto foi algo certamente básico, mas com uma profundidade cênica tão incrível que acabamos tão envolvidos com a protagonista (e até mesmo com a gaivota que a acompanha na pedra) que ficamos nos perguntando o que faríamos na situação, começamos a suar de tanta tensão e o resultado final vai ficando cada vez mais impactante com a ótima direção de Jaume Collet-Serra, que já fez outros longas do estilo e cada vez se aprimora mais. Claro que sabemos que a jovem está completamente salva, que o tubarão é digital, que as rochas não vão lhe machucar realmente, mas o estilo aflitivo de câmera proximal que acabaram escolhendo para a produção foi tão fechada e densa, que por alguns minutos esquecemos desses detalhes e embarcamos junto com a protagonista, olhando para todo tipo de possibilidade de se salvar, e com toda certeza muitos vão falar: "se joga logo que é mais fácil", mas aí é que entra o sangue de sobrevivência, e souberam arrumar uma jovem com raça para tal feito, que junto com um diretor primoroso do gênero de terror/ação souberam dosar os bons momentos para que cada ato fosse visto como único, e certamente teríamos diversas formas de fechamento, que até de certa forma ficou um pouco absurda, mas no contexto geral aceitável e bem feita.

Já que elogiei tanto a protagonista, vamos falar um pouco do feitio da aniversariante da semana, Blake Lively, pois por não ser uma atriz que apareça em tantos filmes, muitos acabam nem dando o valor que ela merece, e nos últimos 4 anos teve 3 grandes filmes "Selvagens", "A Incrível História de Adaline" e agora com sua Nancy tendo o filme praticamente inteiro seu, já que o tubarão sendo digital, e os demais homens aparecem só para compôr cena, a atriz teve de trabalhar tão bem para que a responsabilidade completa de manter um filme no eixo não se desconectasse, e principalmente empolgasse, e lá foi ela com unhas, dentes, hematomas e muitos olhares desesperadores para mostrar que conseguiria envolver e criar novas perspectivas cênicas. Ou seja, a atriz trabalhou quase que sozinha, e agradou bem, diferente do que já havia feito em outros longas, aonde teve ajuda de outros personagens, ou seja, perfeita. Temos de dar crédito também para as poucas cenas de Óscar Jaenada com seu Carlos, mas seu início foi tão divertido e gostoso de ver no carro, que vale a pena parabenizar o ator espanhol.

Outro grande fator do longa se concentrou na escolha da ótima praia da Austrália (que no filme se passa como México) e claro das boas cenas filmadas também em uma piscina cênica gigante, afinal nem tudo se pode fazer no mar real, mas como costumo frisar nesse caso foram tão boas as tomadas do diretor, que a computação apenas teve o trabalho de montar tudo e dar a criatividade final, pois os elementos cênicos estão ali, como a própria roupa de surfe, os ornamentos de qualquer garota como brincos e correntinhas, e claro pranchas e câmeras de aventura, que aliado de uma boia de sinalização, uma gaivota, uma baleia morta e um tubarão digital nada mais foi necessário para que o filme tivesse o grande efeito que teve. Claro que os recifes também foram bem precisos, e também outros elementos que foram usados, mas de certa maneira é um filme bem simples que acaba agradando com todo o conteúdo e a boa expressividade interpretativa. A fotografia foi bem ousada com giros e tudo mais que pudesse ser usado, colocando boas iluminações misturando real com falso, mas que soasse limpo e agradável, ou seja, criando a tensão nos momentos corretos sem praticamente usar efeitos, e isso foi um charme a mais.

Enfim, um ótimo filme, que ainda por cima tem uma trilha que pega pesado do começo ao fim, e finaliza com os créditos subindo ao som de uma canção ótima da Sia, "Bird Set Free", ou seja, mesmo com situações falsas que alguns até irão se incomodar, o filme acaba sendo incrível e vale muito ser visto numa sala de cinema completamente escura, talvez num dia com poucas pessoas seja até mais impactante, mas como todo mundo entra na mesma tensão, é difícil ouvir sequer um pio na sala, então vá correndo conferir e depois diga o que achou, pois tenho certeza de todos amarem. Só não vou dar nota máxima devido à última cena da luta, pois ficou muito falso e estranho, mas que vale um 9,5, com certeza vale, mas como não tenho notas quebradas, vai ser 9. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana cinematográfica que foi bem produtiva, mas volto na próxima quinta, então abraços e até lá.

Leia Mais

Star Trek: Sem Fronteiras em Imax 3D (Star Trek: Beyond)

8/28/2016 02:42:00 AM |

Existem franquias que podem mudar diretores, mudar ideologias, mudar até mesmo os protagonistas que quando bem desenvolvidas as histórias dentro do mote principal acabamos viajando junto com elas e saindo felizes com o resultado que nos é entregue. E se existe uma série que está completando 50 anos esse ano sem perder o vigor original é "Star Trek" (alguns episódios convenhamos que são meio chatinhos, mas dão pro gasto) que agora nos entregou um novo e excelente episódio denominado "Sem Fronteiras", e já estão preparando um próximo para estrear em breve. Ou seja, o foco continua a toda na série. Não posso me afirmar como um fã da saga completa, mas aprendi a gostar do estilo, e principalmente gostei bastante do que foi apresentado aqui, pois diferente dos dois últimos longas que o teor trabalhado ficou mais sério e revolucionário, aqui a ação e a comicidade predominaram, mantendo claro a sobriedade original, mas tendo novas sacadas para que o longa fluísse e empolgasse na medida certa, de tal maneira que certamente iremos esperar muito do que virá pela frente, pois a ideia central sim foi bem amarrada e fechada, mas sempre há espaços no universo imenso aonde o longa está inserido.

A sinopse nos conta que perdidos em um planeta desconhecido, o capitão Kirk e a sua equipe estão sob ameaça de Krall, um inimigo misterioso que colocará à prova tudo o que a Federação representa. Eles precisam encontrar uma forma de driblar o vilão, contando apenas com a união da equipe e com Jaylah, única aliada que encontram pelo caminho.

Se tinha um filme que o pessoal estava curioso para ver o que aconteceria é esse, pois após dois ótimos longas, o diretor fugiu ficando apenas com a produção do longa para se dedicar à outro Star, no caso o Wars, mas deixou um nome que vem despontando muito no meio de longas de ação, e assim essa transição de J.J. Abrams para Justin Lin foi bem segura e felizmente Lin não detonou tudo o que de bom já havia acontecido, e principalmente trabalhou bem a ideologia colocando suas características mais dinâmicas que tanto agradaram quem curtiu seus episódios de "Velozes e Furiosos". A grande sacada de Lin nem foi tanto a precisão cênica que deu para a história muito bem escrita por Simon Pegg (o engenheiro Scotty do filme, que além de ator vem trabalhando essa outra vertente, sempre com longas ou curtas bem cômicos) e Doug Jung, mas sim o estilo que escolheu para que suas cenas rodadas em 2D fossem tão bem convertidas para 3D e funcionassem quase como se tivesse usado a tecnologia para filmar, pois isso além de "baratear" o custo de produção, acabou tendo resultado na velocidade dinâmica que pode trabalhar, já que com câmeras menores é muito mais fácil trabalhar a criatividade em locais complexos de filmagem, e mais do que isso, escolher planos mais ousados do que com as grandes câmeras Imax ou 3Ds em geral. Sendo assim, quem for conferir a trama vai ver cenas inspiradoras com grande profundidade cênica e falar: "como ele fez isso?", simples convertendo um plano bem feito de modo comum, aonde pode trabalhar com os atores correndo, pulando, se matando e tudo mais e depois deixou que os computadores e artistas gráficos se virassem para que o efeito ficasse bem trabalhado.

Outra grande sacada do diretor, que já vimos em outros longas que dirigiu, é o estilo de trabalho que tem com grandes equipes de atores, pois dirigir um protagonista só e ir encaixando outros coadjuvantes é um trabalho teoricamente fácil, mas quando temos vários outros grandes nomes que precisam ter a participação correta dentro da história, o fluxo de trabalho certamente é outro, o que aqui acabou sendo muito bem feito. Chris Pine já vem entregando para seu Kirk uma personalidade marcante e que sempre bem encaixada toma rumos certeiros dentro do que podemos dizer ousadia cênica, pois o carisma não é o seu forte, e para um capitão de uma nave geralmente se exige isso, mas para suprir o jovem tem incorporado suas cenas com boas dinâmicas e entretendo dentro de um limite bem aceitável de ver, o que acaba agradando bastante, e mostra que ele sabe bem o que está fazendo, veremos o que vai rolar no próximo filme, afinal o seu grande dilema acabará sendo explorado pelo que já vem falando. Diferente do sério e concentrado Zachary Quinto dos outros dois filmes, aqui o ator teve a possibilidade de brincar mais com seu Spock, mas claro que de uma maneira bem interessante e colocada sem que atrapalhasse o estilo clássico que o ator soube dosar desde que assumiu o papel, e assim sendo as situações ficaram bem divertidas de ver com a grandeza de olhares e dinâmicas perspicazes que o experiente ator soube fazer. Como escreveu o roteiro da trama era factível que Simon Pegg colocasse algumas cenas a mais para que pudesse aparecer bem, afinal nos demais longas sempre como um coadjuvante de luxo, até aparecia bem, mas nunca com cenas importantes, o que aqui não faltou de forma alguma com ele pulando em close, tendo boas conexões com todos os personagens e claro agradando bem com sua comicidade, ou seja, não ficou forçado e funcionou bem. Agora personalidade mesmo é algo que não falta para Karl Urban, que procura sempre tirar um novo olhar, ou uma nova boa frase para marcar cada cena sua, e aqui não foi diferente no estilo que acabou usando para seu Doutor Bones, criando momentos específicos em todas as suas cenas, e agradando por deixá-las vivas, já que sempre acompanhado do sério Spock seria quase momentos calmos demais para empolgar, e pelo contrário todas acabaram como bons alívios cômicos. Zoe Saldana é uma atriz que sempre se encaixa bem nos papeis que faz, e tem crescido muito em suas interpretações, porém aqui sua Uhura é quase uma coadjuvante de luxo, com poucas falas, mas estando presente em quase todos os momentos, e claro que não decepcionou fazendo boas expressões e quando foi necessário botou a interpretação como algo a fazer com uma dignidade ímpar, agradando bem. Agora uma grande inserção na equipe foi Sofia Boutella que criou uma Jaylah interessante, perspicaz e completamente pronta para diversas aventuras, de tal modo que essa foi apenas sua boa apresentação (com muita luta e garra) para que seja encaixada nos demais longas da franquia e com certeza chamará ainda muito mais atenção do que já teve aqui, pois a atriz mandou muito bem na interpretação e mostrou desenvoltura nas cenas que precisou de ir além. Que Idris Elba é um excelente ator, todos já sabemos, mas ainda está uma grande incógnita o motivo de colocarem ele como um vilão completamente maquiado, que sequer aparece suas expressões clássicas, claro que o ator deu bons tons para seus diálogos, foi dinâmico quando precisou e agradou bastante na personalidade forte que o personagem necessitava, mas certamente um ator mais barato faria o mesmo com a alta quantidade de efeitos que o personagem Krall possuía visualmente e sendo assim acabaram o utilizando até pouco. Apenas para dar citação, Anton Yelchin fez um bom Chekov, assim como fez nas demais vezes, e imortalizou seu personagem em sua última participação aqui, pois morreu dia 19/06, porém ainda veremos outros quatro filmes que deixou gravado. Os demais atores no geral agradaram também bastante, mas já falei muito e daqui a pouco vira uma monografia isso, então vamos falar do resto do filme.

Visualmente o longa está impecável, com destruições incríveis de se ver, naves bem trabalhadas e diversos elementos importantes aparecendo para serem usados. Ou seja, um trabalho minucioso da equipe artística para que o filme ficasse condizente com o grande orçamento que foi utilizado, porém um detalhe me incomodou demais no quesito maquiagem, pois alguns personagens de raças diferentes ficaram artificiais demais, parecendo estar usando máscaras mal-feitas, exemplo da alienígena que pede socorro, e até mesmo Syl, que tem um efeito bacana na metade final, mas quando olhamos de frente para elas, pareceu que esqueceram de aplicar algum trabalho melhor para enganar o público e convencer mais. Não que isso atrapalhe todo o conteúdo da história, pois são personagens bem secundários, mas ficou esquisito. Como bem sabemos, a maior parte da produção é digital, pois dificilmente iriam gravar um longa no espaço, com tudo explodindo e pessoas sendo ejetadas em naves (quem sabe num futuro!!), e sendo assim, o trabalho da equipe saiu bem convincente e em diversos momentos até podemos dizer que ficou "quase" realista demais, porém outro pequeno defeito é mostrarem o planeta que caem quase como uma Terra com atmosfera idêntica, água e florestas similares demais, o que mostrou de certa forma uma preguiça na criatividade. Sobre a fotografia, foram bem ousados nas sombras e na iluminação, pois fazer longas aonde quase tudo é digital, errar em ângulos e criar luzes falsas é algo que é facílimo de se ver, e por vezes até ignoramos, mas aqui não foi necessário, pois tiveram o capricho em equilibrar tudo. Como disse no começo do texto, o longa não foi filmado com tecnologia 3D e nem Imax (diferente do anterior) , porém passou por uma conversão para as duas plataformas e com uma qualidade impressionante, com muita coisa voando pela tela, e uma profundidade de campo incrível de ser vista em diversos momentos, é claro que em muitas cenas o óculos até é desnecessário, mas de uma maneira generalizada o longa vale realmente ser assistido em uma tela imensa como a Imax e com o recurso 3D para o espaço ficar ainda mais infinito de ser visto.

Mais do que boas trilhas sonoras, sem dar spoiler, aqui a música acabou sendo parte importantíssima da trama, e o momento em que isso foi utilizado ficou incrível de ser visto com boa sincronia entre atores e tudo mais, mas sem falar muito deixo apenas a recomendação para que prestem muita atenção em tudo, afinal são raros os longas em que até a música passa a ter envolvimento com a trama, sem ser apenas para ditar ritmo, e aqui Michael Giacchino precisou ousar bastante nas composições e claro que também ajudou bastante nas escolhas musicais para agradar.

Enfim, um filme que surpreendeu, divertiu e cumpriu bem dentro do que a franquia deseja, agradando tanto aos fãs da saga quanto quem for conferir apenas um bom filme de ação com muita ficção científica, valendo completamente o ingresso pago. Ou seja, recomendo o filme mesmo com as pequenas falhas que citei acima, e vamos aguardar a definição oficial da data de lançamento continuação, pois promete ser interessante. Fico por aqui hoje, mas volto amanhã com a crítica da última estreia da semana, então abraços e até mais pessoal.

Leia Mais

Nerve - Um Jogo Sem Regras

8/27/2016 02:50:00 AM |

Atualmente temos visto alguns filmes com estilos diferentes dos usuais, e por isso chega a ser até complicado para as distribuidoras classificarem eles para o público, mas aí é que entra a grande chance de você acreditar/empolgar no estilo vendido pelo trailer, e possivelmente sair vibrando após um grande filme lhe ser entregue. Com "Nerve - Um Jogo Sem Regras", ou apenas "Nerve" no original, mas que brasileiro gosta de sempre incluir um subtítulo, de cara o vemos classificado como suspense, porém o longa viaja por tantas categorias, misturando ação com momentos de terror psicológico e colocando pra jogo literalmente um jogo, acabamos de certo modo até envolvidos com o que nos é entregue. Ou seja, ao comprarmos o ingresso para o filme estamos clicando também no ícone "observador" do jogo, pois iremos acompanhar praticamente todas as façanhas dos protagonistas pagando uma taxa que irá chegar até eles de certa maneira (já receberam seus cachês, mas os produtores irão receber o lucro), e assim sendo somos também cúmplices das loucuras mostradas na trama. E se você ficou empolgado com tudo isso, não é nem metade da empolgação (para não falar temor por tudo dar errado) que o longa nos proporciona, pois a cada novo desafio a adrenalina dos personagens sobe na mesma proporção que ele acaba interagindo com o público e criando tensão também nos espectadores, ou seja, um filme tecnológico mais interativo do que possamos ter pensado que veríamos algum dia, e com tudo muito bem feito, a única coisa que teria de falar logo de cara é que você vá para o cinema conferir o longa e se divertir com tudo o que é mostrado na trama.

O longa nos mostra que a tímida Vee DeMarco é uma garota comum, prestes a sair do ensino médio e sonhando em ir para a faculdade. Após uma discussão com sua até então amiga Sydney, ela resolve provar que tem atitude e decide se inscrever no Nerve, um jogo online onde as pessoas precisam executar tarefas ordenadas pelos próprios participantes. O Nerve é dividido entre observadores e jogadores, sendo que os primeiros decidem as tarefas a serem realizadas e os demais as executam (ou não). Logo em seu primeiro desafio Vee conhece Ian, um jogador de passado obscuro. Juntos, eles logo caem nas graças dos observadores, que passam a enviar cada vez mais tarefas para o casal em potencial.

Acho bem interessante quando diretores que fizeram bons filmes de outros gêneros se arriscam mudando para algo com um vértice até que poderia se apoiar, mas que saem do calmo e tranquilo terror de sustos básicos (como é o caso de "Atividade Paranormal 3" e "Atividade Paranormal 4") e vão para a tensão completa em algo 100% interativo e cheio de ação como é o caso desse filme, e dessa maneira Henry Joost e Ariel Schulman conseguiram mostrar potencial para dirigir bem o estilo, e principalmente agradar quem deseja se conectar com a ideia, pois diferente do que costuma acontecer em filmes mais teens de a garotada fazer bagunça, ou ficar saindo para ir ao banheiro ou comprar algo, aqui sequer o pessoal consegue piscar sem perder toda a ação que é proporcionada. Claro que isso também se deve à duração do longa que é de apenas 96 minutos, mas que certamente se fosse maior não atrapalharia em nada, porém dessa maneira mais enxuta, o resultado foi impecável e com a dinâmica no timing certo para agradar quem gosta e até mesmo quem não gosta do estilo. Se tenho de criticar algo e apontar um problema, talvez seja a falta de uma origem para o jogo, de onde veio, qual o significado do nome, pois definir ele apenas como um jogo sem regras é algo muito aberto, e mesmo no mundo atual de caça à Pokémon e big brothers da vida, uma origem plausível para tudo é necessária para que a moda siga e todos caiam nela, então talvez pudessem ter trabalhado um pouco mais isso logo que a jovem é apresentada ao jogo, de maneira simples e rápida que sequer perderia 5 a 10 minutinhos e o longa ficaria perfeito. Não que isso seja algo que vá atrapalhar toda a curtição que o longa nos entrega, mas falta esse detalhe, que quem sabe mais para frente fazem algum longa de prequel, pois embora bem fechado e finalizado, se houver grande retorno financeiro, acredito em uma possível continuação, pois dá para seguir um caminho bem interessante com o fechamento que nos é entregue. Ou seja, um filme com uma proposta bem moldada, baseado num livro que nem teve tanto sucesso assim, que foi entregue para jovens diretores que conseguiram captar a mente dos jovens atuais e nos dar um jogo perfeito, aonde a distribuidora não economizou nos custos para pôr textos em português na dinâmica criando algo muito bacana de ser visto por diversos ângulos.

Sobre as atuações temos de falar com toda sinceridade que souberam escolher bem dois jovens que já tiveram grandes momentos sem ser protagonistas e aqui lhe entregaram uma grande missão de virarem famosos por suas peripécias, e felizmente, mesmo com leves gafes expressivas, conseguiram cumprir a missão dada com êxito, agradando e chamando a atenção para si nos momentos corretos. Dave Franco já havia mostrado boas perspectivas em "Truque de Mestre 1 e 2", mas sempre como o mais fraquinho do grupo, e aqui com seu Ian ao mostrar força, dinâmica expressiva, e até mesmo botar o corpo malhado pra jogo para levar garotas para as salas de cinema, ele conseguiu de tal maneira que acaba soando interessante, tendo seu romance de forma convincente, e mostrando que seu estilo é bem apurado com até mais potencial do que poderíamos esperar dele, ou seja, é aguardar para colher melhores frutos em breve. Emma Roberts tem cara de artista que só faz um estilo na vida, que é comédia romântica bobinha ou filme de terror com pretensão para morrer, mas deu uma personalidade bem marcante para sua Vee, e com isso acabou chamando atenção nas cenas que precisou ser expressiva, demonstrando habilidades suficientes para conduzir uma trama maior, claro que seria exigir demais da jovem atriz, mas soube dosar os trejeitos para não ser simples demais e nem sair desesperada atrapalhando todo o restante do filme, e assim sendo tudo acabou encaixando bem para ela. De certa forma a participação de Miles Heizer até poderia ser melhor incorporada para que seu Tommy não ficasse tão jogado de lado em alguns momentos, depois voltasse a ser importante, pois suas cenas até foram bem colocadas e o jovem até saiu-se dentro do esperado, mas o filme teria de ter um fluxo dramático maior e isso não coube na ideia final, ou seja, veremos se houver continuação, quem sabe ele mostra seus dons nerds de uma forma mais imponente. Emily Meade colocou sua Sidney num ponto que ou ame ou a odeie, trabalhando bem as perspectivas que a personagem exigia e tirando o fôlego do público num momento aonde qualquer coadjuvante não teria uma participação tão efetiva em longa algum, e só esse enorme potencial que lhe foi entregue mostrou que os diretores entraram na mesma onda do filme, dando participação para todos que pudessem fazer algo bom pelo longa, o que é muito bom de se ver, e acabou agradando tanto pela atriz que não errou nos seus momentos, quanto pelo resultado final. Dos demais, a maioria acaba tendo até boas participações usando da mesma ideia que falei de Sidney, mas quase sem muito destaque, valendo apenas realçar o fechamento de cena com Machine Gun Kelly com seu Ty, pois foi incrível tanto a cena, como sua dinâmica forte impulsiva.

Agora se temos de dar os parabéns máximos para alguma equipe do longa, certamente vão para todos os responsáveis pelo conteúdo visual da trama, que capricharam em detalhes interativos, usaram, ousaram e abusaram de locações com elementos bem cheios de representatividade, trabalharam bem com a equipe de fotografia para que a iluminação muitas vezes composta de luzes neon encaixassem dentro de uma boa perspectiva, e junto de diversos elementos cênicos bem encaixados para cada momento, fizeram um filme simples, tecnicamente barato, e que acabou tendo uma força maior do que a expectativa criada, ou seja, um âmbito técnico perfeito. Como disse, a equipe de fotografia trabalhou bem em sintonia com a equipe artística para compôr cada momento, que por se passar praticamente todo a noite, tiveram de abusar de iluminações falsas que dessem preenchimento para a trama, mas ainda assim soando leve e criando tensão na medida certa, ou seja, um trabalho bem elaborado.

Além disso tudo que já disse acima, um bom longa dinâmico não pode falhar no conceito musical, e assim sendo, acabaram escolhendo ótimas canções para dar ritmo e ainda encaixar dentro da perspectiva do que os personagens estão ouvindo nas suas festas e durante seus desafios, ou seja, algo bem bacana de ouvir, e claro que deixo o link para todos ouvirem tranquilamente após ver o longa.

Enfim, um filmaço que vale a pena ser conferido nos cinemas, para criar a tensão correta que a trama foi desenhada, e depois várias vezes na TV, pois certamente veremos mais detalhes nos vídeos dos observadores, nas coisas que aparecem em cena e até mesmo outros furos, afinal filmes agitados assim sempre acabam tendo erros que passam despercebidos por quem acaba entrando no mesmo ritmo passado, ou seja, um filme feito para quem gosta de dinâmica. E sendo assim recomendo demais o filme, que mesmo falhando em certos momentos, acabamos esquecendo e saindo bem contentes com o resultado final. Bem fico por aqui nessa madrugada, mas volto em breve com mais estreias, então abraços e até mais galera.

Leia Mais

Pets - A Vida Secreta dos Bichos (The Secret Life of Pets)

8/26/2016 01:27:00 AM |

A Illumination cresceu muito nos últimos anos com a força dos bichinhos amarelos que tanto amamos (aliás antes do filme tem um curtinha deles), e com isso as mentes criativas por lá cada vez procuram estabelecer novas conexões para que o público se divirta com animações bem feitas, e claro, um pouco malucas. O trailer de "Pets - A Vida Secreta dos Bichos" já havia nos entregue o que seria visto nos cinemas, e de certa maneira acabou criando até uma expectativa alta por trás das boas cenas mostradas, que por sinal é a abertura quase que inteira do filme que foi mostrada no primeiro trailer, mas como sempre digo, criar expectativa é algo perigoso, pois acaba que nem sempre somos correspondidos. Ou seja, o filme é divertido? Sim! Agrada bem os adultos que gostam de animais e cria boas conexões entre os personagens? Sim! Porém faltou empolgar mais e criar vértices para os pequenos também e com isso temos alguns momentos até sérios demais para um filme teoricamente infantil, e quem for querendo sair pulando da sessão no máximo vai sair com um bom sorriso. Mas vale o ingresso, 2D de preferência, pois mesmo sendo "filmado"' usando a tecnologia, o filme cria pouquíssimas profundidades e elementos mais interativos.

A sinopse do filme nos conta que Max é um cachorro que mora em um apartamento de Manhattan. Quando sua querida dona traz para casa um novo cão chamado Duke, Max não gosta nada, já que seus privilégios parecem ter acabado. Mas logo eles vão ter que pôr as divergências de lado quando um incidente coloca os dois na mira da carrocinha. Enquanto tentam fugir, os animais da vizinhança se reúnem para o resgate e uma gangue de bichos que moram nos esgotos se mete no caminho da dupla.

De certa forma podemos dizer que o trabalho do diretor Chris Renaud ("Meu Malvado Favorito", "O Lorax") foi bem esperto, pois trabalhou bem o roteiro que lhe foi entregue colocando boas pitadas cômicas e desenvolvendo o filme com energia suficiente para que os personagens fossem apresentados sem muitas firulas e com isso ganhou gás no tempo da história, pois em apenas 87 minutos conseguiu trabalhar apresentação, clímax e desfechos bem coerentes, mas claro que largou uma pequena perninha aberta para que fizessem continuações, e assim sendo já está previsto um segundo longa para 2018! Não posso afirmar que é a melhor animação que já vi, mas também não posso ser crítico ao extremo de falar que é um filme memorável, pois inicialmente a trama estava com ares até fracos visualmente, somente ao ser colocado toda a turma na correria que o longa criou grandes perspectivas, tendo claro que várias cenas boas para destacar, mas precisamos ter paciência para não desistir logo de cara. Ou seja, é um filme bacana, mas que poderia ter rumos impressionantes caso quisessem mostrar algo a mais. Fora que assim como não é a praia da Illumination, que acaba diferenciando bastante para Pixar e Dreamworks, aqui não temos grandes lições morais, e assim sendo não espere nada construtivista por parte dos personagens, mesmo que a mensagem final de amizade seja bem pautada.

Um ponto claro que fica é o carisma de todos os personagens, e principalmente da boa dublagem nacional, pois o medo de ficar ouvindo claramente a voz de Danton Mello, Tiago Abravanel, Luis Miranda e Tatá Werneck era algo que causava certos pesadelos, mas podem ver tranquilamente dublado que as piadas agradaram e todos deram vozes bem condizentes para cada animalzinho. O destaque ficou a cargo do coelho maluco Bola de Neve (que por uma ironia bem estranha tanto na versão nacional quanto na original é dublado por humoristas negros, não que isso seja um ponto ruim no filme, mas ficou curioso) e claro de todos seus amigos do esgoto, pois cada elemento ali é uma diversão a parte. Outros bons destaques ficaram a cargo do cão paralítico e toda a dinâmica que criou no resgate aos cãezinhos, passando por uma festa muito da boa na sua casa (após os primeiros créditos tem uma segunda festa, agora em outro apartamento, então fiquem na sala para conferir). A cachorrinha Gigi também ficou bem interessante por mostrar que as mulheres pequenas não medem esforços quando querem algo, e divertiu bem em todas suas cenas. Agora você deve estar se perguntando, e quanto aos protagonistas? Pois bem, eles acabaram mais sendo encaixados nas cenas com os demais do que tiveram cenas suas para mostrar e empolgar, e por incrível que pareça isso não é ruim, pois eles acabaram tendo grandes aventuras e se encaixando bem com todos os demais, tendo como grande destaque a cena que é só deles dentro da fábrica de salsichas.

Visualmente o longa trabalhou bem as cores para segurar a criançada, colocou diversos elementos interessantes para representar bem os ambientes, destaque novamente para o esgoto que ficou ao mesmo tempo mais denso, porém ainda contendo uma forma divertida de ver as coisas, e claro para a loucura imaginativa completa da fábrica de salsichas, que só uma mente completamente criativa conseguiria viajar tanto para mostrar algo tão incrível que foi essa cena. Portanto não diria que é um trabalho perfeito da equipe artística, mas que foi ao menos correta para passar as dosagens tênues que queriam colocar. Volto a frisar sobre o 3D o que disse no começo, que é completamente dispensável, contendo uma ou outra cena com uma profundidade em camadas (bem feitas, mas nada que se deslumbre), e principalmente por estarmos falando de um longa infantil, deveriam ter abusado de coisas saindo da tela, exemplificando bem o trailer de "As Aventuras de Robinson Crusoé" que passa antes do filme e a cada cena é algo que o público fica espantado. Portanto economize uns trocados vendo o filme nas salas comuns.

Enfim, é um filme bacana, mas que poderia agradar muito mais, possui boas canções inseridas na trama, mas nada que acabe dando um encaixe mágico que outras boas produções acabam fazendo. Volto a frisar que é divertido e vale o ingresso, mas quem for com expectativas demais pelo ótimo trailer, vai sair bem decepcionado com o resultado final, portanto elimine as expectativas, vá numa sala comum, compre um bichinho na rede de fastfood, um pacote de pipoca e se divirta. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma estreia dessa semana que veio bem recheada, então abraços e até breve.

Leia Mais

Amores Urbanos

8/22/2016 12:58:00 AM |

Alguns filmes trabalham o cotidiano de maneira a dar novas vertentes de possibilidades, e no mundo atual temos de assumir que existem diversas formas de encarar dramas amorosos e também de "maquiar" a realidade pela qual cada pessoa está passando, ou seja, inibir uma dor que você sabe que tem, mas que não deseja demonstrar por ser forte o suficiente. Dessa forma, o longa "Amores Urbanos" até possui uma certa eloquência e consegue passar através de boas dinâmicas uma vivência interessante por trás dos três protagonistas, mas o âmbito geral da história acaba sendo fechado demais e a diversão/curtição do momento pelos três acaba sendo mais importante do que realmente os seus problemas, e não que isso atrapalhe o fluxo do longa, mas que poderia ter ido por outros rumos e chegar facilmente para uma conexão maior com quem não esteja 100% disposto à ver um mundo de festas e bebedeiras como a possibilidade para esquecer de seus problemas. Ou seja, um filme bacana, mas que poderia ser ainda maior se desejassem alcançar algo a mais.

O longa nos mostra que três amigos, Diego, Júlia e Micaela estão no auge de suas vidas, revelando suas personalidades, experimentando desilusões amorosas e procurando a carreira ideal. Eles moram no mesmo prédio de São Paulo e compartilham diariamente suas experiências, fracassos e conquistas. Rindo ou chorando, eles estarão juntos.

De certa forma o trabalho da diretora e roteirista Vera Egito é bem coerente em todas as cenas, pois não temos nenhuma cena aonde a dramaticidade chega a chocar o público e em outra a comicidade rolando solta, e isso é algo que certamente fez com que o longa fluísse bem com a proposta. A história em si, é bem fechada e trabalhada para que cada momento seja resolvido, claro que dentro das perspectivas moldadas pelos protagonistas, e isso acabou soando bem interessante de ver. Felizmente mesmo classificado como uma comédia dramática, o longa fugiu dos estereótipos novelescos que o gênero costuma ter, e assim sendo o resultado acaba agradável de ver, bem simbólico e com nuances interessantes. Claro que como ainda temos muitos preconceituosos que não gostam de filmes que envolvam questões de gêneros, o longa acabou sendo evitado por muitos, mas tirando o exagero do protagonista gay, o filme acaba não sendo tão cheio de efervescências. Ou seja, em seu primeiro longa metragem como diretora, Vera conseguiu ser simples e efetiva no que desejava mostrar, mas ainda está longe dos bons roteiros que já fez e dos demais filmes que trabalhou.

Sobre as atuações, é factível falarmos que todos são iniciantes no cinema, e mesmo que tenham atuado em peças, cantado em shows e tudo mais, o estilo frente às câmeras precisam ser menos exagerados e mais do que isso, precisam passar um carisma expressivo maior nos seus próximos trabalhos, pois não digo que foram ruins no contexto completo, mas em algumas cenas pareciam perdidos quanto ao que fazer sem estar curtindo a festa entre amigos que o longa mais parece ter sido para os protagonistas. Maria Laura Nogueira foi a principal perdida em alguns momentos com sua Julia, pois de certa forma ela é a que mais deu a cara para bater chamando a responsabilidade para si em diversas cenas, e em vários momentos sua expressão não condizia com o momento, parecendo estar confusa (o que claro tem a ver com a personalidade da personagem, mas que deveria ser menos forçada), ou seja, até saiu-se bem, mas longe de ser algo memorável. Thiago Pethit é músico e possui um perfil completamente marcante para com a ideologia de Diego, o que é algo difícil de encontrar, e certamente a diretora acabou escrevendo o personagem para ele, mas acabou usando tantos clichês em sua expressividade e alguns até exagerados demais, que ao mesmo tempo que rimos com suas cenas, acabamos incomodados pelo escândalo completo que acaba fazendo, ou seja, poderia ter sido mais sútil que ainda chamaria a mesma atenção. Do trio principal, Renata Gaspar é a que mais se deu bem na forma expressiva de sua Micaela, pois demonstrou temores, foi coerente na forma de agir e subverteu bem as suas cenas para que não ficassem jogadas ao vento, de tal maneira que sentimos tudo o que a atriz quis passar em cada ato e talvez a virada de protagonismo para cima de sua história seria um fato incrível de acompanhar. Embora tenha atuado pouco, a cantora Ana Cañas foi icônica no papel de Duda, mais pela simbologia de muitas pessoas que não assumem seus romances do que pela forma que deu para a personagens, mas ainda assim se mostrou completamente do alicerce interessante que o tipo pedia.

Sobre o contexto visual é digno que assim como o título do filme mostra todo o estilo urbano que vivem hoje muitos jovens, que entre desilusões amorosas, sem saber muito o rumo que tomar nos empregos e por aí vai, a equipe foi consciente ao trabalhar com espaços mais compactos mas que demonstrassem bem todo o conteúdo urbano e fechado de uma São Paulo que muitos sabem existir, mas desconhecem, e isso trabalhado com bons elementos cênicos simples até de serem vistos, mas que deram charmes especiais para os apartamentos dos protagonistas acabou dando um tom diferenciado e carismático para se envolver nas histórias deles (de certo modo embora o filme não trabalhe na mesma perspectiva acaba lembrando um pouco "Confissões de Adolescente", porém com uma pegada mais forte). A fotografia também foi bem correta ao trabalhar com diversos tons, usando iluminações artificiais bem encaixadas para cada momento, mas sempre segurando a linha tênue para que o longa não fugisse da proposta.

Enfim, é um filme correto, bem feito e que mostra uma perspectiva de futuro para o estilo que a diretora pretende seguir, claro que ainda não é um filme perfeito por ter muitos clichês artísticos que com o tempo ela irá acabar limpando e agradando mais quando usar, mas é algo que vale um tempo assistindo. E assim fica minha recomendação para quem quiser ver, afinal já está nos meios digitais para ser conferido. Fico por aqui hoje, mas volto na quinta com mais estreias, então abraços e até lá pessoal.

Leia Mais

Quando As Luzes Se Apagam (Lights Out)

8/19/2016 01:31:00 AM |

Acho engraçado quando vou conferir um longa de terror e logo de cara na primeira cena já nos mostram como iremos assustar ou com o que devemos ficar temerosos, pois já meio que estraga o conteúdo completo, afinal o público nem mais pula da cadeira ou se arrepia com as cenas seguintes, e esse sim é o barato do gênero. Dessa forma "Quando As Luzes Se Apagam" até possui um clima bem tenso, todo trabalhado com a pouca iluminação cênica e um desenvolvimento equilibrado na medida, mas acaba faltando um quê a mais para que o público fique o tempo todo preso na ideia dos personagens e aonde desejavam chegar. Claro que isso é de praxe uma exigência em filmes de terror, mas o longa nos preparou tanto para os sustos em todas as cenas que são raros os momentos que nos pegam desprevenidos. Ou seja, está longe de ser um filme ruim, mas também ficou longe do pavor que o curta (quem quiser ver clique aqui) acabou causando na maioria do público, e assim sendo até vale o ingresso para quem gosta do estilo, porém nem todos sairão com medo do escuro, como o filme poderia deixar.

O longa nos mostra que desde que era pequena, Rebecca tinha uma porção de medos, especialmente quando as luzes se apagavam. Ela acreditava ser perseguida pela figura de uma mulher e anos mais tarde seu irmão mais novo começa a sofrer do mesmo problema. Juntos eles descobrem que a aparição está ligada à mãe deles, Rebecca começa a investigar o caso e chega perto de conhecer a terrível verdade.

É interessante observarmos que o diretor David Sandberg fez vários outros curtas desde que lançou seu curta em 2013 e o filme cair na graça de James Wan (que ao meu ver é o atual mestre do terror), que não é nem um pouco bobo e comprou os direitos da história para criar o longa, e assim como fez com os seus primeiros longas de terror, com um orçamento mínimo de US$4,9 milhões, logo no primeiro dia de exibições nos EUA, já se pagou com sobras. O trabalho principal que o diretor fez questão de mostrar, nem se deve tanto ao seu estilo de direção, mas sim ao ótimo trabalho do diretor de fotografia Marc Spicer que praticamente utilizou todo tipo possível de iluminação para que com a mínima luz imaginária conseguisse um resultado expressivo, e assim sendo acabou salvando o longa de ser negativado, pois a apresentação da entidade é tão fajuta e mal-feita que ficamos na dúvida se o final acabou sendo feito com um furo ou é alguma abstração criativa para darem um jeito de fechar a trama, pois a todo momento sim é falado a forma que o elemento sobrevive, mas não bastaria apenas o que é feito para se fechar com dignidade, ou seja, faltou amarrar um pouco mais para a história ser contada com minúcias (mas conhecendo Wan, é capaz que faça a origem do filme como sendo uma continuação, afinal já deu "Annabelle 2" para o diretor comandar, garantindo mais direitos para si).

Já disse isso inúmeras vezes aqui no site, e volto a frisar o que passa na cabeça das crianças que fazem longas de terror após assistirem suas interpretações, ou melhor, dependendo das cenas, nas filmagens também, pois em alguns filmes não são colocados tantos efeitos especiais, mas sim coisas em cena, como é o caso aqui. Portanto ver o temor do garotinho Gabriel Bateman com seu Martin é algo muito interessante, pois ele faz bem suas expressões de medo, e acaba agradando no que faz, afinal já é experiente no estilo pois trabalhou em "Annabelle". Teresa Palmer é uma jovem atriz que sempre consegue cativar nos filmes que faz, mais por sua beleza do que pelo estilo de atuação, porém aqui sua Becca possui um estilo investigativo interessante, o que sempre cabe em bons filmes de terror, mas faltou um pouco para que ela realmente convencesse o medo que estava sentindo. Maria Bello mostrou bem as características da loucura unindo expressão e desespero para que sua Sophie fosse um personagem marcante, pois seria mais prático terem colocado ela como uma coadjuvante completa e a atriz por bem pouco não virou protagonista com suas cenas sempre bem encaixadas nos momentos corretos. Podemos dizer facilmente que Alexander DiPersia foi um figurante de luxo, pois seu Bret aparentou estar completamente perdido em suas cenas, fazendo expressões completamente incoerentes com as cenas e não agradando nem nas cenas mais carismáticas, talvez tendo seu melhor momento na sua fuga. Não chegamos a ver realmente a expressividade mais impactante de Alicia Vela-Bailey com sua Diana, mas a jovem atriz teve bons momentos corporais e acabou agradando. Um leve destaque nem tanto pelo seu papel no longa fica para Lotta Losten que aqui teve uma rápida participação na cena de abertura como Esther, mas sim por ter sido a protagonista do curta que fez tanto sucesso.

O visual do longa foi simples, mas muito coerente com a ideia do longa, somente estranho demais uma pessoa ter um arquivo completo dentro de casa, aonde mostra todos os problemas da pessoa (claro que sem isso teriam de ir para uma outra locação, tipo um hospital antigo para pesquisar mais, e assim o filme ficaria mais caro, mas que seria mais condizente, seria), portanto até foram além nos objetos cênicos do longa, mas principalmente o acerto de luzes de manivela, faroletes, lanternas, velas e tudo mais que pudesse quebrar a escuridão e ainda ajudasse a equipe de fotografia. Como disse no início, o grande trunfo do longa ficou a cargo do mágico que podemos chamar de diretor de fotografia, pois trabalhar bem a escuridão em um longa de terror é algo que poucos conseguem, pois sempre colocam artifícios falsos, e aqui ele trabalhou somente com os elementos cênicos e o resultado foi incrível, aonde os tons mais escuros predominaram junto com os tons alaranjados da vela e o azulado das luzes negras, que deram um charme a mais para o filme.

Enfim, um filme bem feito, mas que acabou falhando por não ter uma determinação maior na formação da entidade que assombra a família, e principalmente por não encaixar os sustos em momentos menos inesperados, deixando que o público apenas assistisse sem ter o real medo de escuro que seria o grande mote do filme (e foi do curta). Portanto até recomendo o longa para quem gosta de um terror mais simples, mas quem for realmente fã do gênero é bem capaz de sair decepcionado com o resultado final, agora é esperar que Wan anuncie o prelúdio do longa, pois lucro com certeza o longa dará. Fico por aqui hoje, mas ainda verei mais um longa nessa semana, então abraços e até breve pessoal.

Leia Mais

Ben-Hur em 3D

8/18/2016 02:51:00 AM |

É interessante ver como a falta de criatividade assombra Hollywood, pois a cada dia que passa ouvimos a palavra refilmagem ou continuação com mais frequência do que gostaríamos de ouvir. Mas nem por isso vou condenar alguns diretores que podem nos trazer algumas releituras de clássicos com uma nova pegada, e claro colocando mais tecnologia para que a trama envolva o público mais jovem, pois conheço muita gente que ao ver longas antigos acabam vendo mais defeitos do que qualidades, e mesmo alguns dos grandes clássicos em sua época original foram completamente rechaçados por crítica e depois de anos viraram grandes marcos, ou seja, todos possuem o direito de errar, então que venham novos filmes (e refilmagens novas também). Pois bem, dito isso, temos de colocar mais um parênteses antes de falar do novo "Ben-Hur", pois mesmo se baseando na história de 1880, e colocando novas ideologias que nem foram escritas pelo escritor Lew Wallace, o filme passa completamente longe do que vimos no clássico de 1959 que angariou 11 Oscars, sendo algo totalmente diferente do que conhecíamos, mas de maneira alguma posso dizer que a nova versão é ruim, pois trabalha bem uma outra perspectiva e agrada de uma forma bem bonita com a mensagem final e com bons recursos tecnológicos acaba envolvendo bastante a parte mais dinâmica do filme, porém assim como aconteceu em todas outras versões, temos muita história para contar e diálogos para serem ditos, e sendo assim alguns momentos acabam cansando demais com toda a falação.

O longa nos conta que a família do nobre Judah Ben-Hur acolheu e criou o romano Messala como se fosse um filho, entretanto, a vida leva os dois a diferentes caminhos. Depois de um mal entendido, Judah é acusado injustamente de traição pelo próprio irmão e condenado à ser um escravo. Anos depois, ele consegue escapar de seu cárcere e promete vingar-se de Messala e do império romano, que oprime o povo de Jerusalém.

O trabalho feito pelos roteiristas John Ridley e Keith Clarke foi bem interessante de ver, pois acabou criando bons momentos dinâmicos, mas ao mesmo tempo acabou contendo muitas cenas dialogadas para dar um certo ar histórico (a história é 100% ficcional sem nenhuma comprovação, mas da forma que foi contada até parece estar na Bíblia) e com isso acabou cansando um pouco, porém ainda assim o resultado final não teve tantos furos como costumam ter filmes épicos, o que já é um grade feito. O estilo de direção do russo Timur Bekmambetov, sempre procura trabalhar com ângulos mais diferenciados para dar um certo contraste e com isso acabou agradando quem gosta de ver o filme de uma forma diferente, embora ainda seja completamente a visão do protagonista e não de um narrador, como costumeiramente aconteceria um épico, ele acabou criando boas perspectivas e principalmente trabalhou bem de forma realista ao optar gravar a maioria das cenas, ao invés de colocar tudo digital como anda acontecendo ultimamente. E para quem quiser ver, aqui tem um link dos atores falando como foi filmar a ótima cena da corrida de bigas, que tanto cenograficamente quanto no quesito de impacto visceral, souberam dosar criatividade e dinâmica sem que fosse jogado apenas na história.

Quanto das atuações, de certo modo tentaram arrumar atores mais famosos que acabaram batendo agenda e não aceitaram o projeto, então com um time menos conhecido, tirando os protagonistas, o resultado foi de bons momentos, mas quase sem muitos destaques secundários. Jack Huston interpretou bem Judah Ben-Hur, mas em alguns momentos aparentou estar viajando demais no eixo técnico do personagem e ficávamos pensando no que ele também estaria pensando, deixando um ar filosófico demais para alguém que não aparentava ser, ou seja, poderia ter escolhido alguns rumos mais impactantes para agradar mais. Toby Kebbell acabou impactando com uma expressão bem séria de modo que conseguiu mostrar um Messala forte e impactante, mas também temos que pontuar que o jovem ator ficou focado demais nos diálogos e esqueceu de trabalhar mais os olhares, fazendo com que algumas cenas suas aparentassem perdidas demais. Rodrigo Santoro conseguiu ter bons momentos, pois deram bem mais cenas para seu Jesus do que as demais adaptações do livro acabaram tendo, e assim sendo ele trabalhou bem seus olhares para que o carisma de Jesus que muitos admiram ficasse coerente no longa também. Mais uma vez Morgan Freeman arrasou na interpretação de um personagem, fazendo de seu Ilderim mais um nome icônico na sua lista de bons personagens, pois acabou trabalhando tanto expressivamente como com o tom correto na entonação de suas falas, quase como um Deus novamente. O longa não focou tanto em Poncio Pilatos, mas Pilou Asbæk até fez bons semblantes para o personagem e nos momentos que precisou acabou até mostrando um bom serviço. As mulheres do filme até tiveram cenas simbólicas e emblemáticas para suas personagens, mas falharam bastante ao criar uma personalidade mais marcante, e mesmo Nazanin Boniadi acabou deixando sua Esther meio que omissa das cenas que precisaria chamar a responsabilidade, e assim sendo não agradou o tanto que deveria.

No quesito artístico podemos dizer que o filme foi excelente, pois construíram uma cenografia incrível, com ótimos elementos cênicos, figurinos perfeitos para a época, contextualizando tudo de uma maneira bem clássica e mesmo nas cenas aonde vimos a computação presente, o longa ainda acabou funcionando bem, ou seja, um trabalho primoroso da equipe que optou por segurar bem a dinâmica para que o filme fosse singelo e bem representado nas cenas pequenas, e nas mais impactantes não economizaram em nada para que o tamanho da cenografia se encaixasse no tamanho da obra. No conceito fotográfico o longa trabalhou muito os tons de marrom, para manter o tradicional épico, mas nas cenas mais densas e noturnas a equipe soube dosar bem as luzes para que o filme envolvesse uma carga dramática maior, além disso ficou claro nos momentos de ação que botaram a luz no máximo para que correndo pra tudo quanto é lado não houvesse erros, mas também o filme acabou ficando sem dar muita profundidade nas sombras. Quanto do 3D, temos alguns bons momentos que trabalharam a perspectiva já que o longa foi convertido para a tecnologia e não filmado com câmeras próprias para o uso do recurso, mas nada que seja impressionante, porém de certa forma, nos momentos mais dinâmicos o exagero do recurso (exemplo da cena da corrida das bigas) o longa treme demais e chega até a atrapalhar ver tanto movimento em primeiro plano. Portanto até vai valer ver o longa numa tela imensa que possua a tecnologia 3D para impactar, mas quem ver no modo comum não irá perder nada.

Enfim, um filme que está longe de ser perfeito, mas que agradará bastante quem for ver como um novo longa e não ficar procurando pelo em ovo para comparar com um clássico das antigas. Ou seja, vá para se divertir, curta como se fosse uma nova história, e a chance de sair bem feliz da sessão, emocionado com a boa mensagem final e vibrando pela ótima corrida, é garantia completa. Agradeço mais uma vez o pessoal da Difusora FM 91,3Mhz pelo convite para a ótima pré-estreia que sempre lotada acaba agradando a todos os convidados e sempre que precisar estamos juntos. Bem é isso, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com a última estreia que apareceu pelo interior, então abraços e até mais pessoal.


Leia Mais

Cantando de Galo (Un Gallo con Muchos Huevos)

8/17/2016 08:01:00 PM |

Fico feliz quando mais um país bota as asas no circuito comercial de animações, pois esse é um dos gêneros mais trabalhosos de se fazer e poucos estúdios acabam arriscando suas fichas com o alto gasto em computação gráfica. Claro que o primeiro trabalho de grande escala do México não seria algo tão impactante ainda pelo conteúdo visual e de história, mas conseguiram ser ao menos polêmicos no conceito, pois quem imaginaria ver uma animação (que teoricamente é algo infantil) com a temática de rinha de galos!!! Quem ler a sinopse e pensar na temática com toda certeza não levará os filhos para conferir "Cantando de Galo", mas embora tenha a ideia seja algo impactante, o longa consegue ser bem trabalhado na superação no melhor estilo "Karate Kid". Aliás, a animação brinca com referências à diversos filmes de luta e de maneira bem bacana pelos personagens secundários da trama, que por hora parecem até bobos demais, mas acabam divertindo de maneira bem leve e agradável. Não diria ser a melhor animação que já vi, mas acaba sendo interessante e bem feita dentro da proposta que desejavam.

O longa nos mostra que Toto é um jovem galo que tem que assumir a responsabilidade de ser a figura principal de sua granja. Ele admira o galo mais velho do local, um ex-lutador que tenta fazer Toto assumir suas novas funções, como acordar todas as pessoas e animais logo pela manhã. No entanto, o pequeno local onde moram está ameaçado de falência, uma vez que a senhora que comanda a propriedade não tem conseguido mantê-la. Tentando evitar que a granja seja vendida, os animais tomam uma providência: irão a uma rinha de galo tentar fazer uma aposta que salve o local. Toto acaba escolhido e terá que enfrentar um poderoso galo, cujo dono é conhecido por tomar as propriedades de pequenos fazendeiros através de apostas e ameaças.

Além da perspectiva interessante, porém estranha de mostrar para crianças, os personagens secundários do filme nos são apresentados rapidamente no início, e parecem bem esquisitos se pararmos para pensar, mas ao pesquisar um pouco mais sobre os diretores veremos que seu filme de estreia foi sim sobre os ovos em 2009, ou seja, eles já possuíam uma história pronta que provavelmente quase ninguém fora do México viu, e que quem sabe poderia até ajudar mais no carisma absurdo que os personagens aparentavam ter. Claro que isso não atrapalha em nada, pois esses personagens apenas fazem piadas e tentam divertir com as conexões junto aos protagonistas, mas foi uma boa sacada dos diretores Gabriel e Rodolfo Riva-Palacio Alatriste de inserirem eles na trama (como quase uma continuação) para que o público depois pudesse ver sua outra obra. Além dessa perspectiva interessante, os diretores tiveram grandes sacadas ao trabalhar referências de vários longas de lutas, além de "Poderoso Chefão", e só isso já credencia o longa como uma boa diversão para fãs de cinema.

O carisma dos personagens ficou bem simples e até infantilizado pelos dubladores, mas de certa maneira os personagens também aparentam fazer as mesmas ações que são ditas. O franguinho Toto é bem chamativo e consegue segurar um pouco sua trama, mas o destaque mesmo fica por conta do ovo de pato maluco que acaba chamando bastante atenção e diverte bem com suas dicas para o protagonista. Existem dois personagens que talvez sejam também provenientes do longa anterior que são os ratinhos que acabaram meio que deslocados na trama, e isso não é legal de ver, mas também não atrapalha em nada.

O visual foi simples, simpático e até bem modelado para que o filme tivesse um formato quase que tridimensional, e nas cenas de flashback/sonhos usassem do 2D tradicional sem ficar piegas. Claro que por ser algo mais infantil o excesso de cores se torna bem apelativo, e o filme chega mesmo sem óculos a incomodar um pouco, e a cenografia em diversos momentos parece faltar elementos para compor a cena o que é um problema que poderia ser facilmente resolvido com tomadas mais fechadas nos personagens. Outro defeito técnico, que não chega a ser um erro, mas sim algo que acabamos acostumando de outras animações, é a falta de texturas nos personagens e nos cenários, o que acaba deixando o filme mais simples ainda, o que não é ruim, mas também não eleva o nível.

Enfim, é um filme bacana para conferir, que trabalhou bem e ainda contou com boas canções nos momentos certos, mas que está longe de ser um primor para que todos corram para ver, tanto que mesmo sendo distribuído por uma grande distribuidora do nível da Paris Filmes, acabou ficando em cartaz apenas uma semana no interior, ou seja, quem quiser ver e não for hoje, (ao menos em Ribeirão Preto) acabará tendo de esperar sair em DVD para conferir. Bem fico por aqui agora, mas volto amanhã com uma das poucas estreias dessa semana, então abraços e até breve.

Leia Mais

Mãe Só Há Uma (Don't Call Me Son)

8/16/2016 01:59:00 AM |

Existe um subgênero misturado no meio dos dramas que é o de estudo da personalidade do jovem/adolescente que sofre algum distúrbio na sua vida, e posso dizer sem sombra de dúvidas que são os filmes mais difíceis de assistir, pois se a equipe não for bem preparada para dizer o que quer mostrar logo de cara, o longa acaba arrastado e por vezes até soa bonito de se ver pela mensagem final, mas dificilmente vai se conectar com um público que não teve uma adolescência/juventude problemática da mesma forma. Havia uma grande expectativa em cima do longa "Mãe Só Há Uma" por parte do público devido o longa anterior da diretora Anna Muylaerte ter sido algo fora do comum no estilo, mas ela sequer passou perto com o resultado final, e principalmente deixou de lado a característica mais marcante que é a de comover o público com a história do protagonista, usando esse recurso somente na última cena do filme, quando já é tarde demais para recuperar todo o prejuízo. Não posso dizer que é um longa ruim, mas de longe não empolga como poderia empolgar e comover.

Após denúncia anônima, o adolescente Pierre é obrigado a fazer um teste de DNA. Ele descobre que foi roubado da maternidade e que a mulher que o criou não é sua mãe biológica. Após a revelação o garoto é obrigado a trocar de família, de nome, de casa, de escola, tudo isso em meio às descobertas da juventude.

O maior problema do filme não é nem tanto sua história, pois ela poderia ser desenvolvida de uma maneira criativa e interessante, pois o enredo é incrível, mas a diretora optou por trabalhar mais a personalidade distópica do garoto que por vezes não aceita o corpo que tem e por vezes acaba meio perdido em sua mente, que o filme acaba amarrado e até chato para quem esperava ver um drama mais complexo. Claro que isso é uma das formas de ver o filme, pois é possível enxergar até umas duas ou três óticas diferentes, que com certeza trarão resultados diferenciados para cada um, e isso é algo que alguns diretores gostam de trabalhar e muitas vezes preferem do que mostrar realmente o que desejavam. De certo modo o trabalho da diretora foi bem feito, mas que poderia alcançar rumos iguais ou até melhores do que seu longa anterior, por ser uma história até mais forte, isso certamente ela poderia, mas como costumo dizer, as vezes o caminho mais fácil não é o correto, e aqui o filme ficou faltando o clímax que todos esperavam, o da última cena, pelo menos uns 15 a 20 minutos antes, ou até algo mais forte do que o que foi mostrado.

No conceito das atuações, podemos dizer que o jovem Naomi Nero mostrou a ótima herança familiar no estilo de atuar e dosou todo o temperamento do personagem Pierre/Felipe nos trejeitos corporais e na desenvoltura expressiva de seus momentos, mas assim como disse acima, o excesso em querer mostrar os problemas da juventude, a qual muitos sequer passam por isso, seu real potencial acabou ficando de lado. Daniela Nefussi teve trabalho em dobro ao fazer as duas mães do garoto, Araci e Glória, e embora muitos não achem isso um problema, pois a atriz soube trabalhar bem duas personalidade completamente diferentes, o filme acaba tendo uma dúvida grande no ar, de algo até inexistente, mas que poderia ser pensado, de o jovem ter até mais problemas em relação ao imaginário também, o que com certeza não era algo previsto no roteiro. Matheus Nachtergaele sempre faz bons papeis, mas seu Matheus é tão irritante na cena da loja e do boliche que acabamos mais irritados com o que faz do que gostando de sua interpretação, claro que esse era o objetivo, mas um tom abaixo e ainda seria bem feito. Outro que merecia mais destaque no longa e acabou meio deixado de lado foi Daniel Botelho, que teve boas cenas com seu Joca, mas sempre nada revelado para o público, seus problemas e dificuldades foram ficando apagadas e sempre se via na expressão do ator que ele poderia dar mais para o filme, o que foi uma pena. E se reclamo de Daniel Botelho, de Lais Dias então, simplesmente participou do filme com sua Jaqueline e adeus. Os demais adultos aparentavam um certo desespero em acabar suas cenas, que por vezes foram semelhantes e não agradaram.

Sobre o visual do longa, tivemos bons momentos em quase todas as locações, fosse nas festas, na banda da garagem, na demonstração de diferenças de classes e desejos com a cena dos pais biológicos da garota, da boa elaboração cênica das duas casas com claro pichações no melhor estilo que conhecemos bem, e claro dos figurinos que o jovem usou para representar suas dúvidas, mas de certa forma foram singelos em tudo sem almejar um resultado mais expressivo por conta do conteúdo artístico, e isso em alguns momentos até chegou a soar falso, o que não é legal, principalmente na cena do boliche, aonde qualquer pessoa chegaria perto de uma briga desse estilo, e assim sendo nem parecia que estavam realmente ali. As nuances da fotografia foram bem dosadas com diversos tons, para oscilar bem os momentos "felizes" com os momentos de dúvida do personagem, e esse trabalho mostrou que a dramaticidade por cores vem crescendo e muito no Brasil, e quem sabe em breve vamos ter um filme daqueles de nos apaixonarmos pelas ótimas simbologias, sem ficar somente no tom de drama e tom de comédia como muito ocorre por aí.

Enfim, volto a frisar que não é um filme ruim, mas ficou muito aquém do que poderia alcançar, e principalmente é um longa feito ou para jovens que passaram/passam por problemas de dúvidas na sua juventude, e podem ou não passar por um trauma grande, ou para pessoas que possuem conhecidos nesse estilo, pois os demais vão acabar achando tudo falso e fora de uma conotação possível de existir. Portanto essa fica sendo a minha recomendação para se pensar antes de ir conferir o longa. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais estreias e com o filme que acabou faltando dessa semana, então abraços e até breve.

Leia Mais

Um Espião e Meio (Central Intelligence)

8/13/2016 02:48:00 AM |

É interessante observar como as comédias acabam sendo o gênero que mais consegue surpreender positiva ou negativamente, pois algumas acabam entregando todas as boas piadas no trailer de tal maneira que chegamos no filme e sequer rimos das situações que são incluídas. Em "Um Espião e Meio" até conseguimos rir em alguns momentos pelas boas referências que acabaram inserindo de outros filmes com os atores e até mesmo alguns clássicos de segundo escalão, mas é tão difícil se divertir a valer com a trama de tal maneira que nem fazer jus à classificação de comédia com espiões que era um gênero muito bem trabalhado antigamente o longa se pode classificar. Claro que vai ter aqueles que vai rir bastante com algumas sacadas da trama, mas o roteiro acaba se perdendo de tal maneira que chega a dar pena a tentativa frustrada de encaixar dois atores esforçados para conseguir tirar algum riso em algumas cenas constrangedoras.

A história acompanha um nerd que sofreu muito bullying no passado, mas que ao crescer se tornou um agente letal da CIA. Dizendo estar em um caso ultrassecreto, ele recruta a ajuda do antigo “cara forte da sala”, que agora é um contador que sente falta de seus dias de glória. Mas, antes do sério contador perceber no que ele está se metendo, é tarde demais para sair, enquanto seu imprevisível novo amigo o arrasta para um mundo de tiroteios, traição e espionagem que pode mata-los de maneiras incontáveis.

Alguns diretores costumam ser apelativos em seus filmes, outros acabam trabalhando bem as referências e se perdem completamente na dinâmica rumando para lados confusos e sem muito resultado para com o que desejava atingir e em alguns casos a mistura de gêneros nem sempre nos entrega bons momentos. Aqui o problema principal de Rawson Marshall Thurber é que seu estilo de direção é desorganizado, e acaba trabalhando a comicidade em momentos que não soam engraçados e com isso vai se perdendo com o filme todo. Claro que ele não se atrapalhou sozinho, pois a história foi escrita a cinco mãos, e com toda certeza a bagunça no desenvolvimento completo do texto final é notável por cenas que começam de uma maneira se desenvolvem de outra completamente diferente e termina sem ter um fluxo coerente nem com o começo, muito menos com o miolo, e assim sendo mesmo com boas piadas, as quais a maioria já estavam nos dois trailers lançados, o filme acaba patinando e falhando no ponto principal que é divertir. Porém felizmente os erros de filmagem mostrados após o fim do filme foram bem divertidos e fizeram valer a noite.

O mais engraçado é saber que ambos os protagonistas já fizeram boas comédias e Dwayne Johnson já fez diversos filmes desse estilo aonde trabalha comicidade com âmbito policial, mas seu Bob pareceu meio perdido nas filmagens soando apenas simpático para com seus momentos, o que não é algo que venhamos a esperar dele, porém quando bota a pancadaria para funcionar no filme, ele se sobressai e entrega boas cenas, o que faz valer assistir ao filme, além disso sua versão jovem interpretada por Sione Kelepi fez boas caras e bocas mesmo que tenha sido uma cena totalmente apelativa. Kevin Hart é outro que gosta de trabalhar em longas policiais, e sempre jogando firme com seu estilo de comicidade fez do ator alguém bem credenciado para o papel de Calvin, mas o ator até tentou chamar a responsabilidade para si em alguns momentos, mas oscilou demais nos momentos mais sérios e acabou atrapalhando um pouco, claro que dá para rir bem em suas cenas, mas poderia ter sido bem melhor. Os demais atores funcionaram mais como elos para as cenas, e quase raramente deram o tom correto para a trama, de tal maneira que Amy Ryan destoa completamente como uma agente da CIA (tirando sua cena tomando café e explicando tudo), Danielle Nicolet é quase um enfeite com sua Maggie e Aaron Paul ainda deve estar se perguntando de onde veio o cachê pelas três cenas que fez (sendo que uma praticamente foi feita só por seu dublê).

Visualmente o longa até possui bons momentos, trabalhando duas épocas, colocando os personagens em boas cenas de perseguição e trabalhando as locações com determinação e coerência para que nada saísse jogado demais, mas de certa forma esqueceram que em filmes cômicos se necessita trabalhar mais a perspectiva cênica, mesmo que de forma exagerada e escatológica, e aqui deixaram que o filme fluísse totalmente dependente das piadas dos protagonistas em cena, o que não acabou rolando, ou seja, fizeram a ambientação, mas nada em cena foi quase usado, vide a cena no local secreto que sequer trabalharam ali dentro e poderia ter diversas cenas engraçadas. Nesse quesito o destaque fica por conta das cenas com o avião tanto no chão quanto no ar. A equipe de fotografia certamente teve muito trabalho já que o diretor fez diversas cenas noturnas e em locais fechados com muito espaço, pois a iluminação não teve erros, mas também não pode ser ousada.

Enfim, a ideia do longa foi boa e até bem usada, mas acabou falhando em tantos pontos e principalmente no ponto mais forte que é a falta de um ótimo humor que acabamos saindo da sessão mais incomodados do que felizes com o que nos é mostrado, e sendo assim não dá para recomendar o longa para quase ninguém, só se você já viu tudo o que está passando nos cinemas e ainda deseja ir ao cinema ver algo novo, senão com certeza haverá comédias melhores para conferir nos cinemas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais posts, então abraços e até breve.

Leia Mais

Perfeita é a Mãe! (Bad Moms)

8/12/2016 01:35:00 AM |

Sei que tem muita gente que foge de comédias mais escancaradas e alguns críticos até já queimam alguns filmes desse estilo (alguns até sem assistir) por não fazer uma linha mais cult e cheia de detalhes em roteiros, mas com toda certeza temos de deixar de lado alguns preconceitos e ir assistir alguns filmes por diversão somente, e geralmente indo sem esperar muito do filme acabamos gostando e nos divertindo bastante com alguns longas. Digo isso sem nenhum pesar, pois "Perfeita é a Mãe!", que foi um título ruim para "Bad Moms", é cômico na medida certa para agradar quem for disposto à curtir toda zoação no estilo "Se Beber, Não Case!", mas agora com mães revoltadas por todo o perfeccionismo imposto em algumas instituições de ensino no mundo para com as mães de seus alunos. E com ótimas músicas, atrizes dispostas a fazer de tudo, e claro mensagens fofas em alguns momentos rebatendo o excesso de palavrões em outros, o longa é uma grande dica para diversão escrachada nos cinemas.

A sinopse nos mostra que uma mulher, com vida aparentemente perfeita - bom casamento, filhos exemplares, ótimo emprego, etc - acaba ficando estressada além do ponto com as obrigações domésticas. Cansada da situação, ela se une a duas outras mulheres que passam pelos mesmos problemas e juntas iniciam uma intensa jornada de libertação.

Não bastassem terem roteirizado bem toda a franquia "Se Beber, Não Case!", os diretores/roteiristas Jon Lucas e Scott Moore voltam agora com seu segundo longa, após irem muito bem em "Finalmente 18", e aqui mostram que seu estilo é justamente esse: o escracho colocado na medida certa para não colidir com a boa pegada, e ainda souberam administrar bem os momentos mais emotivos de lições familiares para mostrar que embora seja um ser mitológico (afinal mães fazem tantas coisas que nem conseguimos explicar) elas também erram e desejam sim ter um tempo para poderem viver suas vidas. E com uma dinâmica bem cheia de nuances, os dois pegaram o que as atrizes possuíam de bons recursos e trabalharam ora colocando exageros cômicos (e até forçados), ora trabalhando com o ritmo bem acelerado para funcionar o estilo que desejavam. E se em alguns filmes essa fórmula batida incomoda e até irrita, aqui soou na medida certa para divertir, pois acaba dando certo tanto a forma de homenagem para as mães que por muitas vezes abandonam tudo para fazer os gostos dos filhos, mas sem apelação emocional ou dramatização barata, deixando que as piadas e as gags funcionassem sozinhas dentro da proposta exata.

Sobre o elenco é interessante ver como Mila Kunis conseguiu ficar perfeita para o papel de Amy, principalmente por sempre oscilar entre comédias e dramas familiares na carreira e com isso ela acabou dosando bem o papel nos dois vértices, claro que pareceu bem desgastada ao final por principalmente muitas cenas rápidas, mas de certo modo a atriz se mostra disposta a encarar tudo o que lhe for proposto e ainda fazer bem. Do elenco completo, certamente quem extrapolou todos os exageros possíveis dentro de uma única personagem foi Kathryn Hahn com sua Carla, mas mesmo com cenas forçadas, a atriz soube ter a pegada certa para alguns dos momentos em que a protagonista mereceu alguns socos de realidade, e isso é algo que temos de levar para a vida, tendo aquele amigo que quando estamos viajando muito vem e fala com certeza o devemos fazer, mas poderiam ter amenizado muitas cenas desnecessárias suas (por exemplo o mercado completo de todas as personagens). Kristen Bell fez bem sua Kiki de modo inicial abobada demais, mas foi se encaixando e agradando com sua simplicidade, além de funcionar para uma das ótimas piadas com sua personagem mais icônica (a Elsa de "Frozen"). Agora se existe uma pessoa com personalidade marcante é Christina Applegate, pois sua Gwendolyn é daquelas mulheres que você fica com medo de mexer e a atriz mostra em cena como apenas um olhar pode dizer muitas palavras, trazendo até o final uma característica própria e agradando muito. Tivemos outras mulheres bem encaixadas na trama, mas para não alongar muito, vou preferir falar um pouco dos dois homens do filme, pois David Walton apareceu em poucas cenas com seu Mike e fez papel de bobo com uma personalidade fraca, enquanto Jay Hernandez já foi por outro rumo servindo de apreço para os olhos das mães do filme e claro da mulherada presente na sessão, ou seja, aquele contrato maroto para aparecer sem camisa. As crianças até tentaram fazer boas cenas, mas nitidamente se mostraram sem preparo ou cuidado por parte dos diretores, pois ficaram bem artificiais em todas. Destaque altamente positivo para as mães reais das atrizes dando depoimentos nos créditos das suas "maldades" com as filhas.

Comédias desse estilo não costumam ser muito primorosas em relação ao visual, pois acabam deixando de lado bons cenários e elementos cênicos para que as piadas fluam somente com as personagens, mas aqui os diretores brincaram bastante com outros filmes, trabalharam bem algumas festas e colocaram carros para correr a todo vapor gastando até bons momentos com alguns objetos luxuosos, mas sempre usando à favor do filme e não apenas para ostentar, o que é muito bacana de se ver. No conceito fotográfico é claro que usaram muitas cenas bem iluminadas para manter o tom divertido, e baixaram o tom nas cenas mais envolventes para dar uma leve dramatizada, mas sem que destoasse de todo o restante, ou seja, um trabalho simples, mas muito bem feito.

Agora sem dúvida alguma um grande acerto ficou por conta da ótima trilha sonora escolhida para dar o tom certeiro na trama, de tal maneira que é uma ótima dica para escutar em qualquer momento todas as canções que se encaixam dando a dinâmica mais coerente para cada cena, e em algumas cenas até chamando mais atenção do que todo o conteúdo ao lado. Claro que o Coelho não ia deixar seus leitores procurando, e aqui já fica o link completo do filme.

Enfim, fui conferir o longa até com um pé atrás pelo trailer já esperando muito mais bobeira do que o que me foi apresentado, e dessa maneira acabei me divertindo demais com tudo o que vi no cinema, e sendo assim recomendo o longa com toda certeza para quem quiser ver uma boa comédia, apelativa mas sem exageros e que vai divertir quem estiver disposto a rir das situações que as protagonistas acabam fazendo. Fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais algum post das estreias que vieram para o interior, então abraços e até logo pessoal.

Leia Mais

Vidas Partidas

8/09/2016 01:32:00 AM |

Acho interessante quando um filme nacional consegue fugir dos entremeios novelescos para criar um drama que funcione bem no cinema, e "Vidas Partidas" embora pareça monótono pelo trailer e trabalhe com um tema que muitos até evitam por achar jornalístico demais, acaba destoando bem do fraquejo tradicional e acaba até agradando de certa forma. É claro que o longa não forçou nem metade do que sabemos que muitas mulheres sofrem nas mãos de "homens" que as agridem e por muitas vezes acabam com suas vidas, e também fica claro que a trama não desejou criar um vértice policial mais envolvente que criasse perspectivas mais elaboradas, porém o resultado da forma dramática que optaram por mostrar acaba fluindo bem, e o público que for conferir (digo isso na teoria que imagino, pois na minha sessão só havia eu novamente, não tendo como analisar outras reações) certamente irá torcer por algo mais justo ali e sairá da sessão também torcendo para que outros casos do estilo tenham sucesso, pois como sabemos bem, são poucas as mulheres que possuem coragem para denunciar atos violentos em suas residências, e no filme vemos que por bem pouco a protagonista não foi a fundo também.

Na história, Graça e Raul são um casal apaixonado que vive cenas românticas capazes de acabar com quaisquer dúvidas sobre seu amor. Porém, como na maioria dos casos de violência, o problema está escondido atrás dessa falsa felicidade. Graça é uma biomédica bem-sucedida, mãe de duas filhas, vítima de um crime de violência doméstica no Brasil dos anos 80. Raul, seu marido, é um homem sedutor que, por ciúme, transforma-se em algoz. A relação ardente e passional entre o casal começa a desmoronar quando ele fica desempregado enquanto ela avança em sua carreira. Preocupada com a situação, ela pede ajuda ao ex-marido, que, secretamente, indica Raul a uma vaga de professor na Universidade. Quando Raul começa a se reerguer financeiramente e se igualar à mulher, ele descobre de onde veio o emprego, o que o torna gradativamente agressivo. As cenas de ciúmes são frequentes e começam as agressões físicas e psicológicas.

O diretor Marcos Schechtman é mais conhecido pelas grandes novelas que fez, e esse sem dúvida alguma era o meu maior medo, de que ele transformasse a história em uma novela arrastada e chata de acompanhar em seu primeiro longa-metragem, mas diferente disso, ele acabou trabalhando bem a forma interpretativa dos atores, deixando que a história em si fosse contada mais pelo roteiro (que possui um grande arco para ser desenvolvido) do que por suas próprias mãos, e assim sendo o resultado se forma de maneira crível e bem dinamizada, ainda que o filme pudesse ter veios mais impactantes e chocantes para que o filme se voltasse mais para o lado policial que está inserido bem levemente dentro da trama. Ou seja, o filme flui bem pelas forma que optaram em fazê-lo, mas ficou um pouco travado no meio da discussão sobre quais rumos seguir, pois facilmente poderia ir por três rumos completamente diferentes que ainda agradaria (um lado mais romantizado, mesmo que de maneira violenta, afinal temos muitas mulheres que mesmo sofrendo diversas agressões ainda amam seus parceiros mais do que suas próprias vidas, outro indo para um rumo policial mais dramatizado aonde teríamos investigações rumando para todos os lados, o qual particularmente me agradaria bem mais, e o terceiro aonde veríamos os veios psicológicos de motivos para o cara ser assim, que alguns até gostariam, mas seria o mais fraco dos três). Ou seja, já falei isso diversas vezes aqui, e se você que me lê algum dia for dirigir um longa, não fique na dúvida de que rumo seguir caso tenha mais do que uma opção, siga uma e seja feliz, pois a dúvida vai estragar pelo menos parcialmente seu filme.

Sobre as atuações, basicamente temos de dar valor para a performance de Domingos Montagner, pois seu Raul realmente precisou de muita coragem expressiva por parte do ator, já que necessitou bater na mulher, humilhar a filha e ainda ser agressivo em outras cenas, virando quase um cordeirinho quando o julgavam culpado, ou seja, diversas nuances para que ele não errasse na dosagem certa para chamar atenção e ainda ter credibilidade, ou seja, um trabalho incrível de ver, que beirou o limite para acabar errando. Não conhecia a atriz Naura Schneider, mas posso dizer que sua Graça demonstrou bem as expressões que muitas mulheres que sofrem abusos acabam fazendo, porém poderia ter trabalhado alguns momentos de forma mais impactante, claro que se o diretor lhe pedisse também, mas aí é que entra também a economia, pois a atriz já era a produtora do longa e poderia facilmente ter contratado ou indicado alguma outra atriz melhor para o papel, mas como bem sabemos no Brasil a economia as vezes ajuda e em outras atrapalha, e aqui senti falta de um rosto mais forte. Dos demais atores, grandes atores fizeram pequenas participações e não chamaram tanta atenção para suas cenas, como aconteceu com Milhem Cortaz, Augusto Madeira, Nelson Freitas e até Jonas Bloch, e com isso vale a pena destacar apenas as expressões de medo de Georgina Castro com sua Nice, que claro acabou falando bem pouco, mas com seus olhares disse muito e saiu positiva com o que fez.

O trabalho da equipe de arte foi bem elaborado para situar o longa nos anos 80 com figurinos, carros, e até mesmo na decoração da casa, pois quem viveu nessa época irá reconhecer bem os detalhes cênicos e com certeza não irá reclamar de nada nesse quesito, porém ao remontar as duas versões do crime, abusaram para algo errôneo nem tanto pela direção de arte, mas por abusar que alguém (no caso a mulher) veria tudo bonitinho como é mostrado no depoimento dela no tribunal, e isso acaba sendo uma falha até grave demais de ser mostrada com tantos detalhes, porém como a linhagem do diretor é de novelas, seria impossível que ele deixasse a ideia aberta para que o público criasse a perspectiva total, e sendo assim, a arte foi precisa, mas desnecessária no conteúdo de detalhes. Sobre a fotografia, souberam dosar em tons mais escuros para dar claro a dramaticidade e ousaram bastante na iluminação de preenchimento, afinal gostaram de fazer diversos planos vistos de cima, e nesse ângulo, o trabalho da fotografia sempre é algo bacana de ver, pois qualquer erro aparece demais, ou seja, poderiam facilitar, mas não daria a ótima nuance que conseguiram criar.

Enfim, é um filme bem feito, que poderia ser muito melhor se fosse por um outro rumo como falei acima, mas longe dos erros a trama agrada e trabalha bem com um tema de difícil aceitação pela sociedade. Portanto veja sem preconceitos e analise mais o longa trabalhando ele com um viés mais politizado dentro da nossa cultura, pois como filme é capaz que quem quiser uma diversão menos rigorosa vai acabar reclamando, e sendo assim fica minha indicação e recomendação para quem for assistir. Fico por aqui encerrando essa semana cinematográfica, mas volto na próxima quinta com mais estreias, então abraços e até lá pessoal.

Leia Mais