Confesso que fiquei bem interessado na proposta do longa "Destinos à Deriva" da Netflix logo que vi o pôster quando começaram a divulgação, porém acreditava que fariam ele de uma forma mais curta, pois mostrar quase um mês da moça num container gigante, apenas sobrevivendo ali com um bebê foi meio que exagerado com quase duas horas de exibição. Não digo que sejam duas horas ruins, pois foram bem criativos com tudo o que colocaram para ela fazer com um container tendo apenas ela grávida (parindo no meio de uma tempestade), alguns milhares de potes plásticos, outros milhares de fones de ouvido, TVs e bebidas, aliás ainda bem que colocaram uma grávida no filme, pois se fosse um homem sozinho, a trama duraria uns 10 minutos com o cara ficando ultra bêbado com tudo e morrendo de coma alcoólico. Ou seja, é um filme de certo modo tenso, com alguns atos fortes, outros um pouco cansativos, mas que funciona bem dentro da proposta, e quem curte dramas de sobrevivência vai curtir bastante.
O longa nos conta que Mia é uma mulher grávida que se esconde em um contêiner para fugir de um país totalitário com o marido. Separada dele à força, ela precisa lutar pela sobrevivência quando uma violenta tempestade a atira ao mar. Sozinha e à deriva no meio do oceano, Mia fará o impossível para salvar a vida da filha e reencontrar o companheiro.
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Uma sacada que o diretor espanhol Albert Pintó teve foi um começo tenso mostrando um regime totalitário na Espanha aonde o exército mata mulheres e crianças, e mesmo que pouco usado deu um tom já bem colocado para uma possível história paralela ainda mais interessante, mas isso fica apenas para a ideia dos roteiristas, pois falando do que ele fez aqui foi algo bem marcado, cheio de grandes nuances, e acredito que não foram gravar claro no meio do mar, mas usaram um container bem colocado dentro de alguma piscina e conseguiram passar muita sensibilidade para cada momento da trama, além de que a equipe de arte soube utilizar bem os elementos alegóricos da trama para que a protagonista encarnasse o MacGyver e fizesse de tudo com o pouco que tinha ali. Ou seja, souberam escolher bons ângulos para as filmagens, todos os momentos da trama são marcantes e tensos, só exageraram um pouco na duração, pois se tirasse uns 15-20 minutos ficaria incrível e ainda mais intenso, resultando em algo que chamaria ainda mais atenção, mas mostrou uma grandiosa evolução na carreira do diretor, pois seu longa anterior "O 3° Andar - Terror na Rua Malasaña" foi bem ruim.
Quanto das atuações, Anna Castillo fez o filme ser totalmente de sua Mia, pois até temos alguns personagens que aparecem no começo e no final, temos o marido vivido por Tamar Novas que aparece em um sonho e nas cenas iniciais, mas não entregaram muito mais do que olhares e envolvimentos, deixando que a jovem pulasse, se cortasse, parisse, sentisse fome, fizesse tudo e mais um pouco dentro daquele ambiente praticamente vazio que poderia afundar a qualquer momento, ou seja, souberam escolher bem uma atriz que dominasse muitas coisas, que tivesse imposição, força e ainda soubesse fazer todo tipo de trejeito possível e imaginário, e o acerto certamente mostra que Castillo dominou tudo e muito mais, ao ponto que mesmo o filme sendo simples, a jovem mereceria umas citações em algumas premiações, pois se doou no melhor estilo de náufrago possível.
Visualmente já falei praticamente tudo o que a equipe de arte colocou nos caixotes que foram dentro do container com a protagonista, potes plásticos, bebidas, fones de ouvido, alguns abrigos bem úteis, e claro um container gigante como único ambiente, tendo claro um trabalho bem imponente nas cenas iniciais mostrando as crianças e as mães sendo enjauladas e mortas, todo o desespero rolando nas ruas das cidades, e depois um rápido tiroteio a queima roupa bem marcante. Ou seja, tivemos duas equipes para dois filmes quase que isolados, que volto a frisar que ainda deveriam fazer outro filme só com a ideia do regime matador, e a equipe que fez vários apetrechos usando apenas esses elementos para que a jovem sobrevivesse e usasse tudo ali de mil maneiras, o que certamente foram bem criativos e deram ideias para caso alguém fique nessa situação em alguma vez na vida (viu, filmes também são ensinamentos!).
Enfim, o longa entrega bastante o que promete tanto o pôster quanto o trailer, consegue prender do começo ao fim, e mesmo cansando um pouco pela duração nem tão grandiosa, mas que para o que o filme pedia deveria ser menor, acabamos nos envolvendo bastante com tudo o que acontece, valendo a recomendação com certeza. E é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto mais tarde com outras dicas, então abraços e até logo mais.