Ainda Estou Aqui

11/08/2024 12:18:00 AM |

Muitas vezes reclamamos que alguns diretores faltam com a sensibilidade para tratar determinados temas, e que dessa forma acabamos vendo filmes secos, quase com solavancos demais, com gritarias demais, personagens tentando aparecer mais do que propriamente a história e por aí vai, mas e quando acontece o inverso, de ter sensibilidade demais para um tema que dava para se impor mais e quebrar tudo e mais um pouco? Devemos reclamar também? E começo dessa forma o texto do longa "Ainda Estou Aqui", nosso candidato ao Oscar de Melhor Filme Internacional (antigamente chamado de Estrangeiro ou Não Falado em Inglês), pelo simples motivo de que é um filme lindo, incrivelmente bem dirigido e atuado num nível fora de rumo pela protagonista, porém o diretor foi tão sutil e emocional com tudo, quase nos levando para morar junto com os Paiva no período, mas sem causar, sem impactar com o que ocorre na tela, de forma que emociona pela frase que é dita pela protagonista quando consegue o atestado de óbito como um símbolo, pois passar anos sem saber que a pessoa estava realmente morta, mesmo que soubesse por dentro é o pior que pode acontecer com uma família. Ou seja, vai depender muito da campanha da Sony para vender o filme como se deve para que vejamos mais prêmios na prateleira do longa, pois senão acabará sendo algo que nós sentimos a dor por vivermos num país que existem vários que desejam voltar ao tempo da ditadura, mas que lá fora não irão entender o motivo da sutileza na tela.

O longa narra a emocionante trajetória de sua mãe, Eunice Paiva, durante a ditadura militar no Brasil. Ambientada em 1970, a história retrata como a vida de uma mulher comum, casada com um importante político, muda drasticamente após o desaparecimento de seu marido, capturado pelo regime militar. Forçada a abandonar sua rotina de dona de casa, Eunice se transforma em uma ativista dos direitos humanos, lutando pela verdade sobre o paradeiro de seu marido e enfrentando as consequências brutais da repressão. O filme explora não apenas o drama pessoal de Eunice, mas também o impacto do regime militar na vida de milhares de famílias brasileiras, destacando o papel das mulheres na resistência.

Claro que toda essa sensibilidade e o transporte do público para o convívio com a família Paiva durante a ditadura não se deve 100% ao diretor Walter Salles, mas sim ao roteiro ser a adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva, que conta sob o seu olhar a vida da mãe com tudo o que aconteceu com o marido e com ela na época, e essa síntese brilha bem na tela com todo o desenrolar, tanto que vemos muitos atos que fazem muito sentido no olhar do garoto, de estar jogando bola com os amigos e se despedindo depois, as partidas de totó com o pai e até com os milicos, e até vemos aonde ele passou a achar que o pai estava realmente morto, ou seja, essa transparência do livro passa muito no filme. E qual então é o diferencial que chama a proposta para os rumos tão premiados e elogiados que anda acontecendo: a simplicidade! Pois qualquer outro diretor megalomaníaco pegaria o mesmo livro e transformaria ele em um ambiente hostil da ditadura, com pancadaria rolando solta, com pessoas sofrendo tensões na tela e tudo mais, enquanto Walter pegou, colocou a emoção na tela, e falou, sejam felizes com essa ideia. Porém entrando numa crítica pessoal, e bem opinativa, faltou um pouco mais do meio da sinopse, pois não vemos a Eunice ativista, não vemos ela indo além, e talvez colocar mais isso não aumentaria em nada o tamanho do longa, mas sim tiraria alguns atos vagos, sem perder a qualidade.

Quanto das atuações não tem nem o que falar, o filme é de Fernanda Torres, de tal forma que sempre a vi como uma comediante, nem lembrando de nenhum papel icônico que ela tenha entregue de forma dramática, e aqui esse seu jeitão meio descontraído acabou dando um vértice tão bom e tão denso para sua Eunice, que a atriz parece solta, não se esforçando para uma entrega, mas fazendo o que gosta, com personalidade e boas dinâmicas, fora quando o filme anda alguns anos, se o diretor resolver fazer "Central do Brasil 2", ela já pode fazer o papel que sua mãe fez no passado, pois está exatamente igual, além de que ficou muito semelhante a verdadeira Eunice. E falando na mãe da protagonista, foi bacana colocar Fernanda Montenegro para fechar o filme já com o Alzheimer avançado, mas se expressando muito bem sem dizer uma única palavra. Selton Mello faz um bom começo com seu Rubens, e vendo as fotos verdadeiras no final é praticamente uma reencarnação do verdadeiro, e atuou bem com seu jeitão descontraído sendo bem coeso na tela. Quanto das crianças todas entregaram atos bem marcantes e chamativos, valendo claro o destaque das duas maiores Vera e Eliana vividas por Valentina Herszage e Luíza Kosovsky, que tiveram as cenas mais densas da produção.

Visualmente a trama traz uma família classe média alta do Rio de Janeiro, mostrando a casa na beira da praia, com as crianças vivendo correndo entre a praia, a rua e a casa, sempre cheia de amigos para almoços e festas, com todos os cômodos bem detalhados, muitas imagens filmadas com uma câmera antiga que a equipe de edição depois deu um bom tratamento para ficar realmente como os filmes da época, e falando em época temos de dar muitos parabéns para os atos nas ruas, com muitos carros, prédios antigos, pessoas com figurinos, e muita decoração mesmo (até uma colcha que vi muito na casa de minha avó apareceu no filme!), depois vemos um pouco do exército andando pelas ruas da cidade, e claro todo o temor e atos fortes dentro de uma delegacia/quartel aonde a protagonista fica presa por alguns dias, ainda tivemos alguns atos em São Paulo, mas tudo muito rápido, ao ponto que a equipe não precisou decorar tanto o ambiente.

Enfim, é um filme com uma pegada bem trabalhada na tela, que não força o espectador a nada, mas que passa bem sua mensagem de época, de contexto e de simpatia pelos personagens, ao ponto que junto de uma trilha sonora muito bem escolhida acaba envolvendo e agradando a todos que forem conferir a trama nos cinemas, valendo a recomendação, e claro estaremos na torcida para que o longa chegue ainda mais longe nas principais premiações do ano. Então fica a dica, e eu fico por aqui hoje, voltando amanhã com mais textos, então abraços e até lá.


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Mega Cena (Heureux Gagnants) (Lucky Winners)

11/07/2024 01:03:00 AM |

Desconheço quem nunca tenha jogado na loteria ou ao menos comprado uma raspadinha ou talvez uma rifa de um amigo para ajudar, mas claro torcendo para ter a sorte grande, e se aqui temos alguns prêmios milionários que já deixam muitos surtando, quando vemos as boladas que as loterias lá fora sorteiam é de cair o queixo e querer arriscar, aliás é algo bem engraçado que vemos nos filmes (afinal nunca viajei para fora para comprovar que é assim mesmo!) que o pessoal compra bilhetes dessas grandes loterias em bares, mercados e tudo mais, então é mais fácil do nada pegar e fazer uma fezinha. Dito isso, o longa escolhido para a abertura do Festival Varilux de Cinema Francês de 2024 foi "Mega Cena", e posso dizer que fazia tempo que um longa não me fazia rir e ao mesmo tempo surtar com as situações da trama, pois sei que existem pessoas azaradas, mas desconhecia quem fica milionário num dia e cai em umas maldições tão imponentes como foram as 4 histórias que o longa trabalha, de tal forma que estou até com medo de comprar um bilhete, que vai que ganho e acontece tudo o que rolou com os protagonistas do filme. De certa forma tudo é tão bem sacado que não vemos artificialidade, e por incrível que pareça, mesmo sendo quatro histórias isoladas, a fluidez é bem dinâmica, fácil e não fica jogado na tela, e claro que o humor francês é bem diferenciado, mas aqui brilha demais na tela.

Uma chance em 19 milhões. É mais provável ser atingido por um meteorito do que ganhar na loteria. Para os nossos sortudos ganhadores, o sonho rapidamente vira pesadelo, e suas vidas se despedaçam em um espetacular festival de humor ácido e fortes emoções.

Costumo dizer que acertar de cara em uma primeira direção também é algo com pouquíssimas chances, ainda mais com uma comédia, porém a dupla Romain Choay em seu primeiro trabalho e Maxime Govare que já veio em outro Varilux com uma comédia bem gostosa também, conseguiram esse feito, pois usaram o com muito cinismo e desarranjos típicos bem impossíveis algo que cada história tivesse uma peculiaridade ímpar para segurar o espectador e ver do que as pessoas são capazes para conseguir ficar muito ricas, e claro também os aproveitadores do momento, que unindo as duas facetas acabam explodindo tudo na tela, e fazendo rir do começo ao fim. Aí vem a famosa frase: "mas Coelho, é um filme que força o riso", e sim, é algo que costumo reclamar bastante também, mas a comédia do absurdo como costumo classificar muitas comédias francesas que se colocam para essa função, é dessa forma, e o acerto acontece sem que precise apelar na tela. Ou seja, é um filme com sacadas que você vai achar que o diretor surtou em criar aquilo, mas dentro de cada uma das quatro histórias (1ª - família que encontra um bilhete premiado antigo dentro do carro e precisa chegar no local para pegar o prêmio num tempo recorde por já estar no prazo final; 2ª - moça que ganha o prêmio e acaba arrumando um encontro com um galã no meio da rua, e a amiga fala para desconfiar de um golpe; 3ª - jovem homem bomba compra um bilhete para despistar a compra de chips e ao estar com o aparato pronto para explodir descobre que ficou rico; 4ª - o senhor de um asilo morre ao ganhar um prêmio e os cuidadores que ficam com o bilhete se veem entrar numa onda de azar gigante por pegarem o prêmio dele; e ao final voltam na primeira história para fechar ela melhor), o resultado acontece e faz valer o tempo de tela. 

Quanto das atuações, a trama nos coloca um elenco bem grande com vários personagens, tendo na primeira história os destaques de Fabrice Eboué com seu Paul surtado por completo, e a esposa interesseira Louise vivida pela sempre bem expressiva Audrey Lami. Na segunda história Pauline Clément fez uma Julie bem simples de traquejos, mas que entrega bastante no que faz, e Victor Meutelet com um Thomas bem galanteador e sedutor, com uma sacada incrível de reviravolta em seu personagem. Na terceira história o trio vivido por Sami Outalbali, Mathieu Lourdel e Illyès Salah trabalharam com uma conexão bem prática de situações que seus trejeitos se sustentam bem quando a situação aperta, e o fechamento é literalmente explosivo. E na quarta história, o grande destaque é Anouk Grinberg com sua Sandra inicialmente não querendo o prêmio e fazendo as situações mais irritantes com os amigos, mas depois que o dinheiro a muda, fica alguém tão rica e necessitada do dinheiro que faz coisas que qualquer um duvidaria e entrega demais na expressividade.

Visualmente por serem tramas curtas e bem fechadas, tivemos na primeira trama praticamente todas as cenas dentro do carro em uma corrida completamente insana pelas ruas de Marselha; no segundo filme tivemos um restaurante bem chique e uma mansão imponentíssima cheia de boas sacadas no final; na terceira história vemos um mercadinho pequeno, um apartamento simples, toda a preparação de um homem-bomba, e depois vamos para as cenas dentro do trem, numa estação e depois no banco, tudo bem representado; na quarta história vemos um asilo de idosos com seus médicos e cuidadores, o sorteio do grande prêmio na TV, e depois algumas festas seja de comemoração ou de velórios bem elaborados, cada um com seu detalhe; e voltando para a primeira história tivemos um presídio simples, mas bem representado pela cabine de conversa e a cela do protagonista, além de uma saída em grande estilo com muita comemoração.

Enfim, é o famoso filme de vários outros filmes, mas que se completa pelas situações em si, de tal forma que tudo funciona muito bem e acaba agradando, divertindo e surpreendendo em cada ato, fazendo com que o público ria, converse com os personagens, e claro, surte com todos os resultados finais. Ou seja, pode ir na sessão dele do Festival Varilux que vai valer demais o ingresso, então veja os horários na sua cidade e não perca. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas nos próximos 15 dias falarei de muitos filmes sejam do Festival ou das estreias dos cinemas também, então abraços e até logo mais.


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Mia

11/05/2024 12:42:00 AM |

Esse ano acredito que o curador do Festival de Cinema Italiano no Brasil estava com alguns probleminhas, pois o nível de discussão que ele montou na programação é pro pessoal sair ao final da programação direto para a terapia, só não pode ser com o médico do filme de ontem, senão não vai dar certo! Brincadeiras à parte, hoje conferi mais um filmão da programação, "Mia", que na base já vimos pelo menos uns 10 filmes do mesmo jeitinho, da garotinha do papai que acaba se envolvendo com algum marmanjo galanteador, depois temos o famoso abuso, o abandono, e o caos se instaura, alguns indo para uns vértices mais abertos, outros indo para algo mais denso e forte, e aqui já lhes adianto que vai para o lado mais denso. Claro que sempre são tramas muito parecidas, mas que cada diretor brinca com a ideia de uma forma para que o público não se incomode de ver novamente toda essa prática, e claro que se discuta muito isso, afinal já era algo muito comum no passado com pessoas "teoricamente" mais fortes, imagina hoje que se uma mosca pousa no braço de um já é motivo para explosão. E dessa forma o longa tem uma boa pegada, não é cansativo, não é daqueles que você fica irritado com os personagens, só sabendo mesmo o rumo do final que é quase sempre o mesmo, mas que funciona sempre também.

A história de uma família simples e feliz é violentamente interrompida pela chegada de um rapaz manipulador, que transforma a vida de uma maravilhosa adolescente de quinze anos em um verdadeiro pesadelo. Quando a garota, com a ajuda do pai, consegue se afastar e recomeçar a viver, o rapaz decide destruí-la. Ao pai resta apenas uma coisa: a vingança.

O diretor e roteirista Ivano de Matteo é daqueles que gosta de trabalhar temas polêmicos, e aqui ele soube dar uma boa nuance para não apenas um tema que já é batido, mas sim juntar quatro ao mesmo tempo que é: a destruição familiar, relacionamentos tóxicos, suicídio e vingança, ou seja, ele quis botar tudo em um único filme e o melhor é que conseguiu, pois o longa funciona bem, e mesmo parecendo que já vimos outras várias vezes, e sabendo o rumo que o final vai tomar, ainda conseguiu prender a atenção nossa na tela e dar um bom viés. Claro que por termos visto muitas vezes esse estilo de trama, ficamos já mais apreensivos, esperando tudo acontecer, mas a formatação escolhida pelo diretor foi bem sintética e direta, então o resultado vem, e claro alguns gatilhos também para quem já teve algum desses problemas, então balanceie antes de conferir.

Quanto das atuações, Edoardo Leo foi completamente perfeito como um pai apreensivo, direto e bem colocado, fazendo com seu Sergio tudo o que a maioria dos pais faria em situações do estilo, trabalhando olhares e tensões marcantes do começo ao fim, dando um show de performance. Não por menos Milena Mancini emocionou com seus atos de uma mãe presente nos momentos mais difíceis, tendo suas cenas no hospital marcantes e incríveis de ver. A jovem Greta Gasbarri teve uma estreia com muita personalidade, fazendo com que sua Mia tivesse momentos tão diferentes e precisos na tela, que chega a ser até uma grande surpresa expressiva, pois segurou atos duros e também felizes com classe e presença, ou seja, tem futuro se seguir essa linha de trabalho cênico. Riccardo Mandolini também segurou bem os trejeitos para que seu Oscar fosse bem manipulador com a garota e abusado para com o pai dela, em situações que muitos teriam dificuldade de enfrentar um ator premiado como Edoardo Leo, e não se diminuiu fazendo tudo o que tinha para que odiássemos ele. 

Visualmente a trama foi bem densa, pois o apartamento dos protagonistas é pequeno, então temos atos sufocantes acompanhando os momentos dos pais no quarto, na sala e na cozinha (aonde temos o jantar do climão bem quebrado por uma piada boba), além do quarto da garota, tudo bem representado com fotos e vídeos dela quando pequenina que o pai faz questão de ver no celular a todo momento, tivemos alguns atos na escola, na quadra de vôlei que a jovem joga, em alguns barzinhos e claro na casa do rapaz aonde acontece o ato, ou seja, tudo bem representativo, porém simples para que não onerasse tanto o orçamento da produção.

Enfim, é um filme simples, com situações que já vimos muitas outras vezes, mas que funciona e tem uma dinâmica que não cansa, de forma que vale então a conferida dentro do Festival Italiano de Cinema no Brasil, de 07/11 a 08/12 online e gratuitamente pelo site deles, então não perca essa chance de ver ótimos filmes lá. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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O Penitente (The Penitent)

11/04/2024 01:02:00 AM |

É interessante como alguns filmes entregam propostas de reflexão de formas bem diferentes, pois alguns gostam de serem mais sucintos e entregar tudo logo de cara para o espectador, enquanto outros ficam numa enrolação imersiva que por vezes até levam o público para o meio do diálogo dos personagens, e esse segundo estilo quando não é bem conduzido acaba cansando mais do que entregando algo para quem está vendo o filme. E comecei dessa forma o texto de "O Penitente" pelo simples fato de que a trama tenta trabalhar as motivações de um crime e uma alegação num jornal como talvez culpa do terapeuta que não orientou direito seu paciente, mas o terapeuta com remorso tenta jogar a culpa para as leis e a sua orientação para a religião, e tudo num ciclo vicioso tão armado entre terapeuta, esposa, advogado e promotor de justiça, que se me dissessem que o longa era a adaptação de alguma peça teatral sem mexer uma vírgula no roteiro, eu acreditaria. E isso é algo extremamente ruim de acontecer, pois o conflituoso texto de vai e vens de frases, cada hora dita numa pontuação e entonação acaba cansando e irritando o espectador, ao ponto de que em determinados momentos já estava até xingando a esposa do protagonista por repetir tanto a mesma coisa que o protagonista falava, mas aí ele vai se encontrar com o advogado, e lá acontece a mesma coisa, vai falar com o promotor e novamente tudo igual, aí chegamos a conclusão que essa era a intenção, e no final das contas quem você acusa, com a revelação final que poderia ser mostrada na primeira cena, tudo se resolve, mas aí não existiria o filme.

O longa nos situa em Nova York, aonde a carreira e a vida pessoal de um psiquiatra começam a desmoronar após ele se recusar a testemunhar a favor de um ex-paciente violento e instável, responsável pela morte de várias pessoas. A identidade LGBT do jovem paciente, a fé judaica do médico, a fome de notícias da imprensa e o julgamento severo da lei, agravados por um erro de impressão no editorial de um jornal, desencadeiam uma reação em cadeia explosiva. A perseguição midiática e a pressão do sistema judiciário se somam ao dilema moral do psiquiatra, que se apoia no juramento de Hipócrates para se defender das acusações, pressões e traições de todos os lados em busca da verdade. Quem é, afinal, o verdadeiro monstro? O rapaz? O médico? A imprensa? A justiça? Quem pode realmente ser considerado inocente?

Não consigo imaginar aonde o diretor Luca Barbareschi queria chegar com o roteiro de David Mamet, pois ele conseguiu amarrar tanto seu filme que ficou parecendo estarmos numa sessão de psicanálise gigantesca aonde você pergunta algo para o terapeuta, e ele te devolve com a mesma pergunta invertida, e para dar a resposta da pergunta dele você voltava com a mesma pergunta apenas adicionando algo, e assim sucessivamente como se o roteiro infelizmente tivesse sido escrito por uma inteligência artificial e as atuações entregues também fosse feitas da mesma forma, o que no meio jurídico diríamos como alguém se defendendo acusando o outro para que ninguém tivesse culpa. Ou seja, é daqueles filmes extremamente monótonos que o olho chega a piscar diversas vezes, mas que dá para tirar algumas reflexões, então acaba não sendo uma bomba gigante, mesmo que o diretor tentasse isso dirigindo ou atuando, já que também é o protagonista.

E já que comecei a falar das atuações, o diretor Luca Barbareschi até deu um tom clássico de estilo para seu Carlo, trabalhando suas dinâmicas com muita personalidade, bem trabalhado no estilo de médicos psiquiatras, aonde você não sabe quem é o maluco, se o médico ou o paciente, e dessa forma ele também acabou alongando um pouco demais o resultado para poder se dirigir, de tal maneira que daria fácil para cortar uns 30 minutos no mínimo do longa, e o resultado seria ainda mais expressivo de sua direção e de sua atuação também. Catherine McCormack até deu algumas boas nuances com sua Kath, mas para uma mulher de um psiquiatra aparentou ter mais problemas psicológicos do que qualquer um dos seus pacientes, estando em constante conflito na discussão, fazendo trejeitos meio que duplos, até termos uma revelação mais sucinta no ato final, mas aí já era tarde para reflexões. Se no filme que vi de tarde elogiei por completo a advogada, falando que era o estilo que procuraria se um dia precisasse, o perfil entregue aqui por Adam James como advogado do protagonista eu certamente passaria longe, pois ele entregou traquejos que deixaram o cliente mais confuso do que já era, e dando algumas opções controversas pareceu mais um poste sem expressões do que alguém que estava ali para ajudar, ou seja, falhou no que precisava entregar. Ainda tivemos Adrian Lester como um promotor ou procurador da justiça trabalhando da mesma forma que os demais, com trejeitos fortes, mas jogando seus diálogos para o protagonista e recebendo de volta perguntas e acusações, de tal forma que leva nada a lugar algum, ou seja, poderia ter sido mais incisivo para chamar mais atenção.

Visualmente como já disse o longa poderia ser uma peça teatral sem precisar de ajuste algum no roteiro, mas ainda assim a equipe de arte conseguiu um apartamento clássico bem requintado, mostrando um padrão de vida chique da família, alguns diálogos numa praia, outros num hotel/escritório/bar do advogado também com um requinte bem marcante, e uma sala de depoimento que parecia a de reunião de uma grande empresa, além de um hospital para fechar tudo, tendo ainda uma multidão cheia de placas e muitas TVs aparecendo o conflitivo discurso de quem é a culpa do médico ou do assassino, ou seja, tudo bem colocado na tela para dar mais representatividade cênica, mas sem grandes necessidades.

Enfim, é daqueles filmes que você acaba comprando pela sinopse, mas que quando vai conferir não entrega o que promete, não sendo algo ruim de ver, mas que facilmente dava para cortar uns 30-40 minutos, e ainda fizeram uma grande arte, pois o longa foi filmado em inglês e depois dublado para italiano, ou seja, ficou estranho pela movimentação das bocas. Para quem curte tramas de discussão advocatícia misturada com medicina psiquiátrica pode até dar o play durante o período do Festival de Cinema Italiano no Brasil de 07/11 a 08/12 que irá gostar do que verá, já os demais é melhor dar play em qualquer outro. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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Terrifier 3

11/03/2024 09:07:00 PM |

Quem leu a minha crítica do segundo filme sabe que gostei demais do que fizeram na tela, tirando apenas a matança gratuita e ridícula do primeiro, e criando muito mais história e desenvolvimento na tela, de modo que agora para o terceiro filme já fui com muitas expectativas do que iriam entregar, e como isso é algo que pesa, gostei do que vi, porém dava para ter ido mais além e fechado como uma trilogia, e não ir seguindo o resto da vida. Dito isso, para os fãs de matança, "Terrifier 3", nos mostra que o palhaço Art voltou ainda mais sanguinolento, e felizmente o diretor conseguiu conectar tudo muito bem, mostrando logo após os atos finais do segundo para que ninguém ficasse perdido, e depois montando toda a trama para que a loucura virasse palco de um Natal cheio de sangue e violência. Ou seja, o diretor manteve a essência imponente que a saga já tinha, colocou ainda mais história para um bom desenvolvimento, e fechou, mas deixando algumas gotas sinistras para resolver mais para frente, e assim colocaria esse bem semelhante ao anterior, só não fazendo cair o queixo como aconteceu lá.

A sinopse nos conta que o palhaço psicopata Art está de volta com ainda mais sede de sangue. Depois de sair em uma onda de assassinatos em dois Halloweens, sendo, inclusive, ressuscitado por uma entidade maligna só para aterrorizar o condado de Miles, Art decide trocar de feriado. Após os eventos de Terrifier 2, o palhaço provoca o caos durante a noite de Natal, entrando em uma desenfreada jornada de vingança, com muitas mortes ao longo do caminho. Enquanto Art persegue suas novas vítimas, um grupo de sobreviventes do Halloween anterior se une para tentar detê-lo, criando uma batalha intensa entre o bem e o mal. A atmosfera natalina se transforma em um pesadelo sangrento, à medida que Art revela sua verdadeira natureza implacável.

O mais bacana de tudo é que a franquia incorporou até o nome do diretor, ou seja, não se fala mais apenas Terrifier, mas sim Damien Leone's Terrifier, e assim sendo ele continua sendo o diretor e roteirista de uma saga só, que nasceu com um curtinha lá em 2011, saiu como um filme básico em 2013 que ninguém praticamente viu, até virar realmente o desenvolvimento completo de algo em 2016, e assim iremos muito, afinal nem ele quer parar com as histórias de Art nem David Howard Thornton quer abandonar o assassino. Claro que para não ser escrachado pela crítica, ele tem colocado cada vez mais história tanto para dar um crescimento na franquia de não ser apenas matanças, quanto para que não fique algo jogado na tela como foi o caso do primeiro filme, e assim sendo novamente tivemos bons acertos aqui, mas um erro crucial de edição (aliás o Sindicato dos Editores deve estar sendo muito mal pago, pois tão cortando violentamente cenas importantes) aonde um personagem está na porta do alojamento esperando o outro sair, atende uma ligação, na cena seguinte ele já virou decoração da árvore de Natal inteiro picado, ou seja, literalmente o editor quis ser conhecido como Art.

Quanto das atuações, já falei outras vezes que no gênero terror é raro alguém conseguir chamar atenção, mas aqui David Howard Thornton continua se divertindo ao máximo com seu Art, picotando as pessoas e rindo, fazendo trejeitos e traquejos mais diversos possíveis, e assim mesmo sem conhecermos ele sem a maquiagem oficialmente, o longa acaba sendo totalmente seu. Lauren LaVera voltou já bem mais crescida com sua Sienna, mas ainda mais transtornada mentalmente, vendo fantasmas e pilhando na loucura, porém seus atos finais acabaram não sendo tão imponentes, parecendo ter se desgastado um pouco com tudo. Quanto aos demais, vale rápidos destaques para Antonella Rose com sua Gabbie falante e curiosa demais, e também Elliott Fullam voltando com seu Jonathan bem mais crescido que no segundo filme, mas quem teve a melhor morte, mais divertida foi Mason Mecartea com seu Cole, que aliás deveria ganhar um prêmio pelo que fizeram com ele.

Visualmente quem tiver estômago fraco vai ficar meio enjoado com a quantidade de sangue e pessoas picadas que rolam na trama, além de ratos entrando em buracos não convencionais, de modo que a cada filme o diretor pensa em coisas mais bizarras possíveis para que o filme vá além na tela, ou seja, é um show de pedaços que a equipe de efeitos práticos e criação de bonecos gastou bastante do orçamento, e o resultado fica realmente estampado na tela.

Enfim, como disse no começo ainda é um bom longa dentro da franquia, tendo leves erros de percurso, mas que não atrapalham no resultado final, então quem curte o gênero slasher pode ir para a sessão tranquilamente que irá gostar do que verá, e ficaremos esperando o que o diretor vai aprontar no próximo capítulo, afinal agora a protagonista tem algo a mais. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas vou conferir mais um longa hoje, voltando com o texto dele pela manhã, então abraços e até logo mais.


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Nascida Para Você (Nata Per Te) (Born For You)

11/03/2024 04:29:00 PM |

Quando veio a lista de filmes para conferir as cabines de imprensa do Festival Italiano de Cinema no Brasil, fiquei na dúvida se colocava "Nascida Para Você" entre os que desejava ver, mas mesmo sabendo que ainda faltam ver outros 15 filmes da lista, posso dizer que esse estará entre os melhores que conferi, pois trabalha uma história real simples e muito bonita, de um jovem que sonhava em ter uma família, mas sendo fora dos padrões normais da sociedade não seria fácil, e com muita vontade e uma advogada também fora dos padrões conseguiu o que desejava não apenas para ele, mas sim para que uma bebê fora dos padrões não fosse jogada de um lado para o outro pelas leis normais! Não precisaria falar mais nada sobre o que vi na tela, e dizer apenas para que todos assistam pela beleza sensorial que o diretor conseguiu passar, mas vou colocar mais umas linhas aqui, afinal o filme merece demais!

O longa é a história de Luca e Alba: um homem e uma menina que precisam desesperadamente um do outro, mesmo que o mundo ao seu redor ainda não esteja pronto para aceitá-los juntos. O tribunal de Nápoles está à procura de uma família para Alba, uma recém-nascida com síndrome de Down, abandonada no hospital. Luca, solteiro, homossexual e católico, sempre teve um forte desejo de paternidade e luta para obter a guarda de Alba. Quantas famílias "tradicionais" devem recusar antes que Luca possa ser considerado? Pode uma menina rejeitada pelo mundo se tornar a recompensa de uma vida? 

Diria que o diretor e roteirista Fabio Mollo pegou a história real de Luca Trapanese, que obteve uma grande visibilidade tanto nas mídias tradicionais como nas mídias sociais na Itália, e abrilhantou tudo com muita simplicidade na tela, mas passando um carisma fora do comum, afinal o roteiro feito a 6 mãos com Furio Andreotti e Giulia Calenda (do grande sucesso "Ainda Temos o Amanhã") foi muito bem trabalhado com sínteses do passado do protagonista, todo o sentido de família que ele sempre teve, e mostrando que o mesmo tradicional que abandona é o que briga para que o não tradicional não possa adotar. Ou seja, o filme facilmente poderia ser pesado, duro, e cheio de brigas jurídicas fortes, mas a opção que tiveram de trabalhar a sensibilidade do amor verdadeiro de um pai por uma garotinha que seria sua filha, juntando as dificuldades emocionais e legislatórias, resultou em uma trama bela, leve e muito emocional, que quem não soltar algumas gotas de suor pelos olhos já morreu por dentro.

Quanto das atuações, não lembro de ter visto nenhum filme anterior de Pierluigi Gigante, mas facilmente irei procurar, pois a sensibilidade e o estilo emocional centrado que ele conseguiu passar para seu Luca Trapanese foi algo fora de todos os padrões pensados, de modo que no final vemos que escolheram um ator bem diferente visualmente do verdadeiro Luca, mas com toda certeza ele pegou muito da essência que devem ter trocado para compor o personagem e ficar incrível como ele fez, ao ponto que cada momento seu nos leva a refletir e ao mesmo tempo não querer tirar os olhos da tela, ou seja, foi perfeito demais. Agora se eu for precisar de uma advogada futuramente, certamente irei enviar o perfil que Teresa Saponangelo fez para que sua personagem Teresa fosse tão cheia de vontade de conquistar um caso, de viver a vida solta e ainda se portar frente aos seus maiores com sacadas bem colocadas e cheias de nuances, não sendo daquelas advogadas duronas e cheias de personalidade, mas sim alguém mais ampla, emocional e que acertou no que fez. Num primeiro momento temos vontade de socar Barbara Bobulova com sua Livia Gianfelici, mas como sabemos que juízes tem de ser rigorosos para não virar uma várzea e dar sim para tudo, vamos acabar relevando, mas a atriz foi imponente e bem segura da entrega na tela, e também teve o momento para passar emoção e chamar atenção. Quanto aos demais, tenho uma crítica pro pessoal que faz os créditos, coloquem todo os nomes lá quando sobe, pois esse pobre crítico aqui fica possesso quando não acha quem ele quer elogiar, e tenho que falar que os garotos Giuseppe Pirozzi e Silvio Minichiello que fizeram Luca e Rocco na infância tiveram uma presença tão marcante, emocional e bonita de ver, que se eu não ficasse pausando para achar os nomes deles iria ficar muito irritado.

No conceito visual, a equipe de arte foi muito precisa para representar tudo, mostrando os garotos sonhadores com viagem espacial, vivendo e brincando muito com uma parceria fora do normal, depois vemos um pouco do abrigo que o protagonista trabalha voluntariamente com pessoas e crianças especiais, sendo bem representativo e direto na bela vida que ele propõe a eles, tivemos também a belíssima casa de praia que o protagonista mora, e tudo que precisou para ser pai por alguns dias, alguns atos no hospital e também muitas cenas dentro do juizado de Nápoles, tudo bem colocado para não ficar forçado, mas dentro de uma realidade cinematográfica sem ficar menos bonita.

Enfim, é um filme que não imaginava ter essa sensibilidade bem colocada na tela, e que criando um envolvimento bem marcante em cima da história real de 2018, acabamos vendo algo que quem sabe já deu uma melhorada nas formas de adoções mundo afora, então vale a dica não apenas como um bom filme para ver no Festival Italiano a partir do dia 07/11, como também para a reflexão em cima desse mundo complexo e cheio de leis que é o sistema de adoção. E é isso meus amigos, eu fico por aqui agora, mas hoje ainda volto com mais dicas, então abraços e até daqui a pouco.

PS: Só não darei nota máxima para o longa, por talvez faltar um pouco de detalhamento no processo e também não fechar 100% o que aconteceu realmente com o amigo dele, mas é um tremendo filmaço que se tivesse notas quebradas seria um 9,5 com certeza.


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Megalópolis

11/03/2024 02:35:00 AM |

Ano que vem completo 15 anos de site, mas tenho muitos anos a mais conferindo filmes, e se me falassem que um dia eu daria a menor nota possível para um filme de Francis Ford Coppola, certamente eu cairia numa gargalhada gigantesca, pois bem, hoje aconteceu isso, e posso dizer que a menos de 60 dias do fim de 2024 já tenho definido o pior filme do ano com "Megalópolis", pois é inadmissível que o diretor e roteirista aclamado por "Apocalipse Now" e toda a saga "O Poderoso Chefão" entregar uma trama tão bagunçada, tão cheia de personagens sem nexo algum, em algo que segundo ele demorou 40 anos para escrever e desenvolver, e ainda assim chegarmos fim da sessão e dizer: "o que foi que assistimos?". Ao ponto que foi até muito engraçado, que hoje um amigo me acompanhou na sessão e ao final olhamos um para o outro e relembramos de outro filme aclamado que assistimos juntos sem nem pensarmos duas vezes, e renomeamos esse de "A Árvore da Vida 2.0". Ou seja, minha vontade é escrever aqui que é muito ruim e ir dormir, mas vou tentar melhorar um pouco o motivo de dar uma nota tão baixa para o que conferi.

O longa conta a história de um arquiteto que quer reconstruir a cidade de Nova York como uma utopia após um desastre devastador. Cesar Catilina é esse inventor megalomaníaco e egocêntrico que imagina uma metrópole autossustentável que cresce organicamente com seus habitantes. Para dar prosseguimento a seus planos, porém, Cesar precisa navegar pelos interesses de figuras ricas, ambiciosas e corruptas, além de precisar convencer o prefeito de Nova Roma – nome da cidade em evidência – Franklyn Cicero de suas ideias. 

Sei que o Francis Ford Coppola que todos amaram um dia já inexiste, pois não trabalha mais com a mesma vitalidade, nem tem mais o brilhantismo em seus textos, porém segundo ele mesmo disse, começou rascunhar o roteiro logo após as filmagens de "O Poderoso Chefão II", ou seja, estava com a cabeça fervendo de boas ideias, então o mínimo que esperávamos era uma história interessante que claro precisava de muita lapidação e ele sabendo que seu filme necessitava de muita tecnologia, esperou até poder ter tudo para fazer. Porém a ideia em si é absurda e maluca demais, de tal forma que em certos momentos do longa cheguei a pensar que o diretor estava querendo brincar com o cinema abstrato, algo que anda bem presente na mente de alguns diretores mais novos, mas não, a essência é tentar mostrar uma Nova Roma, cheia de imperadores malucos querendo o trono e/ou chamar mais atenção, mas que nada leva a lugar algum numa bagunça completa e estranha de ver.

Quanto das atuações, Adam Driver se esforçou para que seu Cesar fosse imponente e bem maluco, cheio de ideias e ideais, mas sem entregar muito na tela, ao ponto que poderia ser mais surtado para chamar ainda mais atenção. Giancarlo Esposito trabalhou seu Cicero como um político corrupto deve ser, sendo xingado pela maioria dos eleitores da cidade, reclamando de tudo e todos, e tendo claro seu adversário rondando por todas as formas possíveis. Shia Labeouf está irreconhecível com seu Clodio, e ainda deve estar procurando no roteiro o que era seu personagem. Jon Voight mostrou o famoso ricaço que todas as mulheres querem se casar por "amor". E falando nas mulheres Aubrey Plaza foi bem sedutora com sua Wow, mas sem mostrar a que veio. E assim sendo só vale dar o destaque para Nathalie Emmanuel que fez sua Julia ter conexões com todos os personagens da trama, dispondo de uma simpatia bem colocada e uma curiosidade que funciona, mas sem ir também muito além.

Visualmente o longa tenta parecer imponente, com um estilo de material criado e controlado pelo protagonista, que serviria para todo tipo de construção, inclusive sendo usado para refazer seu rosto após um incidente, vemos uma cidade meio que jogada às traças, suja, e conflituosa, meio como a Gothan do último filme do Batman, e muitas festas e ambientes políticos, de forma que a equipe de arte gastou bastante, porém sem ter efeitos chamativos que valesse a pena, ou seja, foi apenas gasto de orçamento mesmo.

Enfim, fico triste por ser uma obra jogada fora de um diretor renomado, que ainda por cima vendeu sua vinícola para investir o dinheiro na gravação, já que ninguém queria produzir essa loucura completa, e só ele não enxergou assim, ou seja, é melhor quem estiver afim de conferir o longa procurar algo melhor, pois vai ser apenas gasto de tempo e dinheiro. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.

PS: como já disse outras vezes nem fiz a imagem de 0 coelhos, e dar 0 seria só para algo que não funcionasse nada na tela, e aqui a grandiosidade até tem um pouco de valia, então vamos de 1 e só.


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Palazzina Laf (LAF)

11/02/2024 08:50:00 PM |

Costumo dizer que o gosto do cinema italiano é completamente diferente de qualquer outro país, pois eles tentam usar alguns artifícios cômicos dentro do arco dramático não para dar quebras como acontece em muitos outros países, mas sim para dar mais impulso para o fator representativo, e isso por vezes chega a ser até difícil de entender dentro da proposta completa do longa. E o motivo de começar meu texto de "Palazzina Laf" dessa forma é simplesmente para que eu vá tentar entender como o longa ganhou vários prêmios no David di Donatello (o Oscar italiano) e no Nastri d'Argento (o Globo de Ouro deles), pois é uma história meio amarrada, sem grandes desenvolturas, que claro funciona como filme denúncia ao mostrar algo baseado na história real de uma fábrica que mandava funcionários para um prédio abandonado para não terem como trabalhar na esperança de se demitirem ou aceitarem rebaixamentos, e isso é algo que algumas fábricas fazem, então essa sacada foi bem usada no longa, porém ao tentarem colocar o protagonista meio como um Judas para com Jesus, fazendo até algumas conexões com sonhos e tudo mais, o resultado até ficou interessante, mas alongado demais dentro de um filme digamos curto. Ou seja, não é um filme ruim, mas é um estilo de direção tão diferente do que costumamos ver, que ao final pareceu que vi uma trama de pelo menos 3 horas ao invés de algo de apenas 99 minutos.

A sinopse nos conta que Caterino, um operário simples e rude da Ilva de Taranto, na Puglia, é recrutado pelos executivos da empresa para espionar seus colegas e denunciar trabalhadores problemáticos. Na busca por motivos para suas denúncias, ele acaba sendo transferido para o prédio LAF, onde descobre que o aparente paraíso é uma estratégia perversa para quebrar psicologicamente os trabalhadores, empurrando-os para a demissão ou rebaixamento. Sem saída, Caterino percebe que também está preso nesse inferno.

Consegui a explicação da minha dúvida mais rápido do que imaginava, pois o problema do filme é bem fácil, afinal é a estreia do diretor e roteirista Michele Riondino em longas, e não apenas feliz com isso, ele também é o protagonista do filme, ou seja, acertar a mão em um drama com pitadas cômicas logo na estreia já é algo difícil de acontecer, e ainda dividir a função aparecendo na frente de tudo é pedir para que sua trama se alongue ao máximo, e assim ficou parecendo que o diretor precisava a todo momento chamar a atenção para si e não para a história, o que acabou pesando bastante no resultado. Claro que a brincadeira lúdica de fazer as devidas comparações de seu Caterino com Judas ficou bem trabalhado na tela, porém faltou atitude para ir mais além, e com isso o filme ficou preso demais.

Agora falando das atuações propriamente, Michele Riondino já foi muito galã do cinema italiano, já ganhou muitos prêmios, porém aqui ele quis "ficar feio" com seu Caterino, de modo que é daqueles personagens que não conseguem puxar o carisma para si, muito pelo contrário, agindo quase como um vilão "burro" por estar jogando contra os próprios colegas de trabalho em favor do patrão que ele acha que é um amigo, vemos ele trabalhar trejeitos meio como cacoetes, e sem ir muito a fundo, mas ao menos não jogou a trama no lixo com o que fez, sabendo se impor nos atos que mais precisou fazer. Elio Germano trabalhou bem a ladainha cativante de seu Basile, fazendo um patrão aparentemente bonachão, cheio de personalidade, mas também bom de palavra, aonde acaba convencendo fácil o protagonista, de modo que apareceu pouco no filme, mas acertando em cheio nas cenas principais. Ainda tivemos outros bons personagens, mas sem quase nenhum grande chamariz para poder dar destaque no quesito atuações, então vou manter apenas os dois aqui no texto.

Visualmente a trama tem uma boa pegada, mostrando alguns ambientes de uma fábrica siderúrgica, trabalhando um pouco as conversas sindicais isoladas nos pátios e bares, mostrando o apartamento simples aonde o protagonista vive, e também contando com o principal prédio meio que abandonado aonde os funcionários ficavam sem ter o que fazer, surtando, pulando em caixas de leite, rezando, jogando algum vício para passar o tempo, enquanto tentavam descobrir como sair sem perder seus direitos. Ou seja, tudo simples, mas bem representativo na tela.

Enfim, a sinopse me ganhou fácil, e acreditava que veria uma trama bem diferente, mas faltou algo mais marcante para que o longa fluísse realmente e chamasse mais a atenção para a história do filme do que para a história real, e assim sendo não conseguiu ir além na tela, de forma que diria valer mais procurar outro dos filmes do Festival Italiano de Cinema, que estará disponível para conferir gratuitamente online de 07/11 a 08/12, pois aqui foi algo apenas bem mediano. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas hoje ainda vejo mais um longa, então abraços e até logo mais.


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Todo Tempo Que Temos (We Live In Time)

11/02/2024 06:01:00 PM |

Sou daqueles adeptos que comédias românticas envolvendo doenças tem de ter uma pegada mais forte para fazer o público desabar, mesmo que seja algo que já vimos muito acontecer, e no longa "Todo Tempo Que Temos" o diretor optou por ser menos sensível nesse sentido, mas sabendo brincar bem com a proposta do tempo em si, de tal forma que contando com uma edição bem picotada entre o tempo que os protagonistas se conhecem, todo o processo da doença e do nascimento da filha, e a explosão da doença coincidindo com momentos importantes na vida da protagonista, de tal forma que só conseguimos diferenciar as épocas pelos cortes de cabelo da protagonista, numa bagunça de idas e vindas que alguns vão até se perder (geralmente a turminha do celular), e que tendo uma química emotiva bem boa entre os protagonistas, acabamos embarcando junto com eles na trama toda. Ou seja, é um filme que se sustenta bem, que tem um carisma gostoso e bem trabalhado entre os personagens, algumas discussões bem ponderadas e com boas nuances, porém para quem gosta de uma puxada mais marcante seja pelo drama ou pela emoção acabará saindo da sessão sentindo que faltou algo, mas ainda assim é algo gostoso e fácil de conferir.

A história acompanha Almut e Tobias, um casal que se conhece de uma forma inusitada e cujas vidas se entrelaçam para sempre, os levando a formar uma família e viver uma vida juntos. Conforme o casal navega pelas alegrias e tristezas de suas trajetórias, o longa nos convida a refletir sobre a importância de aproveitar cada momento e valorizar intensamente as conexões genuínas que construímos ao longo da vida.

Muitas vezes diretores aceitam fazer dramas românticos sem ter isso no seu DNA artístico, e também muitas vezes acabam pegando roteiros de escritores não muito fluentes nesse sentido, que acaba resultando em algo meio que aberto demais na tela, mas isso não é algo que acontece aqui, pois tanto John Crowley quanto Nick Payne já fizeram diversas tramas que conquistaram vários corações e prêmios, de tal forma que aqui você sente o texto um pouco mais pesado e a leveza da mão do diretor, aonde a composição deu uma química bem funcional de oposição, pois facilmente se o diretor seguisse a linha do roteiro que Payne desejava, o filme teria um impacto direto daqueles que o queixo das pessoas cairiam, outros atos seriam mais secos e fortes, mas com a leveza de Crowley e uma edição mais picotada que carta de desculpas de muitos filmes envolvendo brigas românticas, o resultado acabou fluindo fácil e cheio de atos fofos e bem encaixados. Ou seja, é daqueles filmes que poderiam trocar completamente o elenco inteiro que veríamos algo bem trabalhado na tela e gostoso de ver, mas que ainda por cima escolheram dois ótimos atores com uma química perfeita também entre eles, e assim o sucesso está vindo com salas bem movimentadas, e que talvez chame até mais atenção do que imaginavam.

E já que comecei a falar dos atores, outro ponto muito bem escolhido foi o de não ter dezenas de personagens coadjuvantes, que se conectariam e dariam uma pegada novelesca cansativa para o resultado, de modo que vemos quase que em tempo integral apenas os dois protagonistas, a médica dela, uma funcionária que vira assistente na competição, e a filhinha do casal, enquanto os demais que tiveram muitos desaparecem e quase são figurantes com no máximo uma a duas falas. Dito isso, Florence Pugh enganou muitas pessoas nos bailes e festas do ano passado dizendo que tinha raspado o cabelo para controlar a vaidade, mas na verdade foi durante as gravações do longa aqui para fazer sua Almut, de modo que caiu muito bem o penteado e deu um tom mais sério para ela, enquanto as madeixas estranhas (perucas ou não) da faze mais jovem dela ficaram mais descontraídas, ao ponto que a artista soube dosar trejeitos bem densos sem fazer floreios demais como realmente a maioria dos chefs de cozinha são, e assim funcionou bem com a personalidade da personagem e dela também. Da mesma forma Andrew Garfield entrega para seu Tobias um carisma fofo e até meio bobinho e apaixonado demais, de modo que não tira os olhos da sua parceira cênica, se emociona e se expressa bem com todas as intensidades de momentos mais difíceis, e conseguindo dividir bem seus atos, acaba entregando algo familiar e cheio de vontade de estar ali. Quanto aos demais, como disse vale a pena destacar apenas Lee Braithwaite com sua Jade bem disposta a ajudar a protagonista numa competição, e Lucy Briers com sua Dra. Kerri bem cheia de emoções colocadas na tela, que aliás ser oncologista tem de ter muito jeito para falar com os pacientes, e claro a bela garotinha Grace Delaney que sempre sorridente e bem simpática conseguiu chamar a atenção para si em momentos de diálogos bem duros, mas que funcionaram bem sem muito o que explodir.

Visualmente a trama trabalhou alguns atos no apartamento do pai do rapaz, alguns atos no apartamento da moça, um restaurante simples, uma competição gastronômica e muitos atos de treinamentos para a competição, além da casa deles bem decorada em alguns atos com velas e outros mais amplos e normais, além de uma casa de campo também bem elaborada e chamativa, e nos atos finais um ringue de patinação também bem simples. Ou seja, a equipe de arte não quis chamar a atenção, deixando que o roteiro fosse fechado nos personagens, e assim sendo tudo é bem dosado na tela.

Enfim, é um filme simples, bonito, com boas nuances e emoções, que funciona bem dentro da proposta, que como disse no começo até gostaria que fosse mais forte emocionalmente ou dramaticamente, para dar um pouco mais de intensidade para o longa, mas aí desapontaria outros que gostaram dessa forma sem tanta força ou açúcar na tela, e sendo assim é algo que agrada a todos também. Fica então a dica de conferida sem esperar muito dele, e eu fico por aqui agora, afinal hoje ainda vejo muitos outros longas, então abraços e até logo mais.


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Madame Durocher

11/02/2024 02:03:00 AM |

O Festival Varilux só começa na próxima quinta 07/11, mas hoje já pude ter o gostinho do estilo francês começando a brincar com a minha cabeça, pois pude conferir "Madame Durocher" que diria que quando anunciaram no festival foi de uma grande surpresa, pois mesmo contando a história de uma garota francesa que teve grandes feitos quando adulta, é um filme brasileiro, ou seja, fiquei meio com uma leve pulga na orelha do que iria ver, porém ao conferir tudo fez muito sentido, afinal a personagem real foi a primeira mulher a ser aceita na Academia Brasileira de Medicina, a muito contragosto dos demais médicos ultra-conservadores da época, e também foi quem pariu a Princesa Leopoldina no meio dos seus mais de 4000 partos que fez durante toda a vida, não tendo preconceitos com negros ou brancos, ricos ou pobres, mas sim com muita disposição em salvar vidas e botar muitas outras no mundo. Como costumo falar que o mais bacana de algumas biografias é conhecermos pessoas e personalidades que sequer um dia ouvimos falar, pois quando é de alguém muito famoso, já ficamos esperando acontecer determinado momento ou reclamamos depois de não parecer em nada com o conhecido, então diria que o acerto na tela foi bem colocado e o resultado vai agradar bem quem curte o estilo, pois a história é boa e bem representada na tela.

A cinebiografia de uma mulher à frente de seu tempo. Madame Durocher conta a história da primeira mulher a receber o título de parteira no Brasil e a ser reconhecida como membro da Academia Imperial de Medicina no século XIX. Essa foi Marie Josephine Mathilde Durocher, cuja trajetória começa em 1816, quando a jovem francesa, aos 7 anos, chega com sua mãe modista no Brasil. Após a morte de sua mãe e a perda de seu marido, Marie Durocher resolve se dedicar e aprender a função de parteira. É a partir daí que entra no curso de Medicina do Rio de Janeiro e torna-se a primeira mulher a se diplomar nessa área. Sua jornada não apenas desafia as normas sociais da época, mas também inspira futuras gerações de mulheres a lutarem por seus sonhos, enfrentando preconceitos e superando adversidades em um mundo predominantemente masculino.

Diria que os diretores Dida Andrade e Andradina Azevedo viram os pontos positivos e negativos de seu último filme biográfico "Eike: Tudo ou Nada", e aperfeiçoaram com uma protagonista que só mesmo as mulheres que estudaram Medicina, se aprofundando em Obstetrícia, conheciam, afinal é algo que nunca sequer vi em qualquer livro de História. E dessa forma puderam brincar bem com o tema, trabalhar claro muito do preconceito, do machismo e até mesmo das imposições da época, criando um ambiente bem encaixado na tela, retratando bem os tempos do Império com figurinos e objetos, e claro contextualizando tudo com escravos, nobres franceses que fugiram de Napoleão e tudo mais com as boas sacadas dentro dos diálogos, tendo apenas um leve defeito que é quase ser uma obra com um estilo novelesco, tendo duas fases, duas protagonistas, e até encaixando passado e presente na tela, que dava para talvez dinamizar mais e entregar ainda o mesmo resultado, mas isso é um gosto pessoal meu.

Quanto das atuações, inicialmente tivemos Jeanne Boudier bem graciosa com sua Marie graciosa e cheia de nuances, vivendo com a mãe bem interpretada também por Marie-Josée Croze, falando até que alguns atos em português bem colocado, mas mantendo bem o francês com os demais, mostrando quase um Brasil que falava mais francês do que português, tudo com muita classe e boas dinâmicas, e com a jovem fazendo suas aulas de partos, no meio de um mundo bem machista e tradicionalista da época, mas aí vamos para o segundo ato, e aí entra Sandra Corveloni com toda sua imposição forte, cheia de personalidade, mudando de uma Marie doce para uma mulher com presença e sem segurar os traquejos da vida, conseguindo agradar em cheio com trejeitos e dinâmicas bem encaixadas, o que acaba sendo perfeito na tela. Nas duas fases tivemos os médicos e professores vividos por Mateus Solano e André Ramiro, com o primeiro sendo daqueles professores irônicos, com toda a pegada que vemos em médicos que se acham deuses e tudo mais, enquanto o segundo teve de trabalhar com todo o preconceito por ser um dos primeiros médicos negros a integrar a Academia Imperial, mas ambos sabendo jogar bem com a protagonista e desenvolver tudo muito bem na tela. Ainda tivemos Isabel Fillardis bem colocada como a escrava, porém muito amiga da protagonista, que preferiu não ser livre para continuar vivendo com ela.

Visualmente o longa teve muitas cenas a base de velas, dando um charme a mais para a fotografia de época e claro não precisando gastar tanto na composição dos ambientes, mas ainda assim foi bem representativa ao mostrar as crises de saúde da época, mostrando alguns partos complicados, e até algumas aulas cheias de atos machistas por parte tanto dos alunos quanto do professor, além de figurinos bem representativos e a simplicidade da protagonista em não viver com tanto luxo, ou seja, a equipe de arte foi econômica, mas não errou em nada do que entregou.

Enfim, é um filme muito bem feito, que tem estilo e chama bastante atenção pela entrega dos personagens, e claro pela história em si, que foi totalmente uma novidade para mim e acredito que será para muitos também, então só por isso já faz valer a conferida, mas para pontuar algo que dava para melhorar bem facilmente seria não depender tanto de quebras, pois o filme se passa em muitos anos, mas não representa isso na tela, o que acaba ficando um pouco estranho de ver, mas nada que atrapalhe o resultado final. E é isso meus amigos deixo a recomendação de conferir ele no Festival Varilux de Cinema Francês a partir da próxima quinta, e também em algumas cidades que entrará dentro da programação normal, e eu fico por aqui hoje agradecendo os amigos da Elo Studios e da AtomicaLab pela cabine de imprensa, então abraços e até amanhã com mais dicas.


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Som Da Esperança - A História de Possum Trot (Sound of Hope: The Story of Possum Trot)

11/01/2024 01:16:00 AM |

É engraçado que hoje tinha me preparado para ver um outro filme que estreou, enviando o material dele na pauta dos programas que iria falar amanhã e tudo mais, porém perdi o horário da sessão e com isso por ser o dia de estreia de vários acabei optando pelo longa religioso da Angel Studios, "Som da Esperança - A História de Possum Trot", que felizmente tinha um horário legendado próximo do que cheguei no cinema, e olha, posso afirmar com todas as letras que é o menor filme de Igreja da companhia, trabalhando mais o drama das adoções, de várias crianças que acabam tendo de ser separadas de pais abusivos e/ou órfãs que caem no sistema de adoção do governo americano, porém como já não são bebezinhos e já terem até características psicológicas formadas acabam sendo sempre deixadas para trás, e ouvindo a voz de Deus após uma tragédia familiar, a esposa de um pastor de uma pequena cidade do Texas resolve incentivar as demais famílias da igreja a adotarem essas crianças. Ou seja, acabei vendo uma história bonita, com uma pegada forte, afinal a garotinha que cai para o pastor e sua esposa é bem complexa, e a densidade dramática acaba funcionando bastante na tela tanto para aqueles que querem ver apenas um bom filme, quanto para os religiosos que andam lotando as sessões da produtora.

Inspirado em uma história real, o longa retrata a emocionante jornada de uma comunidade no leste do Texas que transformou a vida de dezenas de crianças. O filme acompanha Donna e o Reverendo WC Martin, que, movidos por uma profunda fé e compaixão, convencem os membros de sua pequena igreja a adotar 77 crianças do sistema de adoção, muitas delas rejeitadas por outras famílias. Ao unir 22 famílias em um ato de amor e generosidade, essa comunidade rural não apenas acolhe as crianças, mas também inicia um movimento global em defesa dos mais vulneráveis, destacando como o amor e a união podem transformar vidas, inspirando o público a acreditar no poder da ação coletiva para mudar o destino de crianças esquecidas.

Por incrível que pareça, o diretor e roteirista estreante em longas Joshua Weigel acertou muito no estilo que desenvolveu para seu primeiro trabalho nas telonas (claro que já ganhou muitos prêmios com curtas, mas agora resolveu arriscar em algo bem maior), pois seu filme facilmente poderia ser daqueles dramalhões extremamente cansativos, que ficaria enrolando falando de fé disso, fé daquilo, orações e tudo mais, mas que ousou mostrar algo importante que são as adoções de crianças que muitas vezes não conseguem sair do sistema de adoção pelos mais diversos motivos, e mais do que isso, ele mostrou que nesse mundo nem tudo são flores, pois as crianças já crescidas tem seus estilos de vida, suas birras, suas marcas e até instintos diferentes, ao ponto que a adaptação nem sempre é fácil na nova família. Sendo uma história real, também nos foi mostrado os verdadeiros personagens ao final, e toda a sintonia de família gigante que essa comunidade tem, ao ponto que a igreja acabou unindo tanto os adotados, quanto os adotantes, para que um ajudasse o outro na criação e no desenvolvimento, e assim o resultado na tela acabou funcionando bastante também.

Nesse estilo de filme geralmente as atuações não são o grande chamariz, porém Nika King conseguiu entregar uma Donna bem imponente na tela, cheia de trejeitos fortes e marcantes, com muita personalidade e disposição tanto para as cenas mais emotivas quanto para os atos mais nervosos, passando muita sinceridade com o estilo escolhido, e principalmente representando alguém real que com muita certeza passou um pouco de si para a atriz. Demetrius Grosse também entregou atos fortes e marcantes para que o seu Reverendo WC Martin tivesse nuances interessantes, chamasse a responsabilidade para si nos devidos atos, e não ficasse artificial na tela, pois o personagem dava facilmente para ficar mais falastrão e o ator raspou a trave de brincar com isso. Agora quanto das crianças o grande destaque ficou para Diaana Babnicova com sua Terri imponente, atrevida e cheia de personalidade, ao ponto que só faltou aprender a chorar um pouco melhor que a cena final acabou ficando um pouco artificial, mas no restante foi forte e cheia de nuances na tela. Ainda tivemos outros bons personagens, mas apenas complementando as conexões com os protagonistas, valendo destacar apenas alguns momentos mais simples de Elizabeth Mitchell como a assistente social Susan, mas também sem ir muito além.

Visualmente a trama desenhou bem a pequena cidade, mostrando a casa de alguns membros da igreja, mas focando muito mais na casa simples, porém bem organizada do pastor, tendo muitos atos numa floresta ao redor da cidade, uma lagoa e claro alguns atos dentro da igreja, fora alguns atos fortes em outras casas aonde as crianças viviam antes de cair para o sistema, ou seja, a equipe de arte foi bem representativa e conseguiu mostrar um pouco dos anos 90 na tela.

Enfim, é um filme que não tinha dado a devida atenção quando saiu o trailer, achando que seria mais um desses religiosos da Angel Studios que já estão lançando quase que um por mês, mas que ao final me surpreendeu e acabei gostando ao ponto de estar indicando ele para todos sem exceção. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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