Muitas vezes reclamamos que alguns diretores faltam com a sensibilidade para tratar determinados temas, e que dessa forma acabamos vendo filmes secos, quase com solavancos demais, com gritarias demais, personagens tentando aparecer mais do que propriamente a história e por aí vai, mas e quando acontece o inverso, de ter sensibilidade demais para um tema que dava para se impor mais e quebrar tudo e mais um pouco? Devemos reclamar também? E começo dessa forma o texto do longa "Ainda Estou Aqui", nosso candidato ao Oscar de Melhor Filme Internacional (antigamente chamado de Estrangeiro ou Não Falado em Inglês), pelo simples motivo de que é um filme lindo, incrivelmente bem dirigido e atuado num nível fora de rumo pela protagonista, porém o diretor foi tão sutil e emocional com tudo, quase nos levando para morar junto com os Paiva no período, mas sem causar, sem impactar com o que ocorre na tela, de forma que emociona pela frase que é dita pela protagonista quando consegue o atestado de óbito como um símbolo, pois passar anos sem saber que a pessoa estava realmente morta, mesmo que soubesse por dentro é o pior que pode acontecer com uma família. Ou seja, vai depender muito da campanha da Sony para vender o filme como se deve para que vejamos mais prêmios na prateleira do longa, pois senão acabará sendo algo que nós sentimos a dor por vivermos num país que existem vários que desejam voltar ao tempo da ditadura, mas que lá fora não irão entender o motivo da sutileza na tela.
O longa narra a emocionante trajetória de sua mãe, Eunice Paiva, durante a ditadura militar no Brasil. Ambientada em 1970, a história retrata como a vida de uma mulher comum, casada com um importante político, muda drasticamente após o desaparecimento de seu marido, capturado pelo regime militar. Forçada a abandonar sua rotina de dona de casa, Eunice se transforma em uma ativista dos direitos humanos, lutando pela verdade sobre o paradeiro de seu marido e enfrentando as consequências brutais da repressão. O filme explora não apenas o drama pessoal de Eunice, mas também o impacto do regime militar na vida de milhares de famílias brasileiras, destacando o papel das mulheres na resistência.
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O longa narra a emocionante trajetória de sua mãe, Eunice Paiva, durante a ditadura militar no Brasil. Ambientada em 1970, a história retrata como a vida de uma mulher comum, casada com um importante político, muda drasticamente após o desaparecimento de seu marido, capturado pelo regime militar. Forçada a abandonar sua rotina de dona de casa, Eunice se transforma em uma ativista dos direitos humanos, lutando pela verdade sobre o paradeiro de seu marido e enfrentando as consequências brutais da repressão. O filme explora não apenas o drama pessoal de Eunice, mas também o impacto do regime militar na vida de milhares de famílias brasileiras, destacando o papel das mulheres na resistência.
Claro que toda essa sensibilidade e o transporte do público para o convívio com a família Paiva durante a ditadura não se deve 100% ao diretor Walter Salles, mas sim ao roteiro ser a adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva, que conta sob o seu olhar a vida da mãe com tudo o que aconteceu com o marido e com ela na época, e essa síntese brilha bem na tela com todo o desenrolar, tanto que vemos muitos atos que fazem muito sentido no olhar do garoto, de estar jogando bola com os amigos e se despedindo depois, as partidas de totó com o pai e até com os milicos, e até vemos aonde ele passou a achar que o pai estava realmente morto, ou seja, essa transparência do livro passa muito no filme. E qual então é o diferencial que chama a proposta para os rumos tão premiados e elogiados que anda acontecendo: a simplicidade! Pois qualquer outro diretor megalomaníaco pegaria o mesmo livro e transformaria ele em um ambiente hostil da ditadura, com pancadaria rolando solta, com pessoas sofrendo tensões na tela e tudo mais, enquanto Walter pegou, colocou a emoção na tela, e falou, sejam felizes com essa ideia. Porém entrando numa crítica pessoal, e bem opinativa, faltou um pouco mais do meio da sinopse, pois não vemos a Eunice ativista, não vemos ela indo além, e talvez colocar mais isso não aumentaria em nada o tamanho do longa, mas sim tiraria alguns atos vagos, sem perder a qualidade.
Quanto das atuações não tem nem o que falar, o filme é de Fernanda Torres, de tal forma que sempre a vi como uma comediante, nem lembrando de nenhum papel icônico que ela tenha entregue de forma dramática, e aqui esse seu jeitão meio descontraído acabou dando um vértice tão bom e tão denso para sua Eunice, que a atriz parece solta, não se esforçando para uma entrega, mas fazendo o que gosta, com personalidade e boas dinâmicas, fora quando o filme anda alguns anos, se o diretor resolver fazer "Central do Brasil 2", ela já pode fazer o papel que sua mãe fez no passado, pois está exatamente igual, além de que ficou muito semelhante a verdadeira Eunice. E falando na mãe da protagonista, foi bacana colocar Fernanda Montenegro para fechar o filme já com o Alzheimer avançado, mas se expressando muito bem sem dizer uma única palavra. Selton Mello faz um bom começo com seu Rubens, e vendo as fotos verdadeiras no final é praticamente uma reencarnação do verdadeiro, e atuou bem com seu jeitão descontraído sendo bem coeso na tela. Quanto das crianças todas entregaram atos bem marcantes e chamativos, valendo claro o destaque das duas maiores Vera e Eliana vividas por Valentina Herszage e Luíza Kosovsky, que tiveram as cenas mais densas da produção.
Visualmente a trama traz uma família classe média alta do Rio de Janeiro, mostrando a casa na beira da praia, com as crianças vivendo correndo entre a praia, a rua e a casa, sempre cheia de amigos para almoços e festas, com todos os cômodos bem detalhados, muitas imagens filmadas com uma câmera antiga que a equipe de edição depois deu um bom tratamento para ficar realmente como os filmes da época, e falando em época temos de dar muitos parabéns para os atos nas ruas, com muitos carros, prédios antigos, pessoas com figurinos, e muita decoração mesmo (até uma colcha que vi muito na casa de minha avó apareceu no filme!), depois vemos um pouco do exército andando pelas ruas da cidade, e claro todo o temor e atos fortes dentro de uma delegacia/quartel aonde a protagonista fica presa por alguns dias, ainda tivemos alguns atos em São Paulo, mas tudo muito rápido, ao ponto que a equipe não precisou decorar tanto o ambiente.
Enfim, é um filme com uma pegada bem trabalhada na tela, que não força o espectador a nada, mas que passa bem sua mensagem de época, de contexto e de simpatia pelos personagens, ao ponto que junto de uma trilha sonora muito bem escolhida acaba envolvendo e agradando a todos que forem conferir a trama nos cinemas, valendo a recomendação, e claro estaremos na torcida para que o longa chegue ainda mais longe nas principais premiações do ano. Então fica a dica, e eu fico por aqui hoje, voltando amanhã com mais textos, então abraços e até lá.