A Verdadeira Dor (A Real Pain)

1/31/2025 09:22:00 PM |

Costumo dizer que a duração de um filme não é determinada realmente como o tempo de tela, mas sim o quanto acaba fazendo o público sentir o que é mostrado na tela, de tal forma que muitos filmes sobre a memória judaica ou até outros dramas mais sentimentais acabam ficando alongados demais na tela, e esse é o caso de "A Verdadeira Dor", pois tendo apenas 90 minutos pareceu ter umas três horas ou mais, virando mais do que apenas uma excursão pelos ambientes de uma Polônia moderna, mas que ainda simboliza o Holocausto, virando uma grande DR entre primos bem diferentes entre si. Ou seja, é daqueles filmes que precisamos realmente sentir as sensações como os personagens para que o filme nos transporte para o ambiente, senão acaba sendo tão comum quanto bonito de ver, o que é uma pena, pois tem estilo e boa desenvoltura dos personagens.

A trama acompanha David, um pai reservado e pragmático, e Benji, seu primo excêntrico e boêmio. Apesar de suas diferenças, eles embarcam juntos em uma viagem à Polônia para homenagear a avó recentemente falecida, participando de uma excursão que revisita memórias do Holocausto e conecta o grupo às raízes familiares. Durante a jornada, antigas tensões entre os primos ressurgem, transformando a viagem em uma experiência emocionalmente intensa. À medida que exploram o passado da família e enfrentam as diferenças que os separam, David e Benji são forçados a confrontar suas próprias escolhas e perspectivas de vida.

Diria que o diretor e roteirista Jesse Eisenberg fez bem em segurar o longa como protagonista também, pois seria bem difícil passar a essência que desejava na tela para qualquer outro ator, de modo que a quebra de estilo por parte de seu parceiro cênico acaba funcionando bem demais, ao ponto que o roteiro pareceu ser escrito para Kieran, que com seu jeitão diferente e ousado acaba se soltando por completo e leva a leveza do personagem para uma complexidade até maior do que o texto em si sobre saber pensar sobre como o passado influenciou ou não as pessoas ali dispostas. Ou seja, ao mesmo tempo que a trama parece igual a vários outros filmes de pós-Holocausto, acaba sendo diferenciado e interessante pela proposta em si, tanto que vem sendo indicado à vários prêmios como Roteiro Original.

Agora para falar das atuações, precisamos pensar como falei no começo, entrando em cena como os personagens em si, de modo que Jesse Eisenberg trabalhou seu David de um modo até que bem singelo e simples, mas do tipo que foi para a viagem sem querer ir, e isso pesa bastante no resultado, de modo que ele já não é mais tão jovem para parecer um garotão na tela, e assim o personagem poderia ser mais denso e trabalhado ao invés de seco e monótono. Já Kieran Culkin está merecendo cada prêmio que tem ganho como Melhor Ator Coadjuvante com seu Benji totalmente solto e direto, ousado em chamar para si os diversos atos mais complexos, e com traquejos tão amplos acaba agradando demais com o que faz em seu surto solitário. Quanto aos demais vale um leve destaque para Will Sharpe com seu James e Kurt Egyiawan com seu Eloge, mas mais pela profundidade dos personagens do que pelos atores em si.

Visualmente não diria que o filme consegue impactar como imaginado no roteiro, pois vemos lugares densos que possivelmente já viram muita dor e sentimentos, mas que dentro da entrega acaba sendo simples demais, mesmo mostrando lugares antigos impressos dentro de uma modernidade atual e casual.

Enfim, é daqueles longas que poderiam ir para tanta rumos, mas que não consegue emocionar como deveria, ficando algo morno demais, que até é bonito de conferir, mas que amanhã já iremos esquecer dele. O longa está com duas indicações ao Oscar e muitos outros prêmios mundo agora, mas recomendaria ver apenas por esse motivo. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas vou conferir o principal concorrente do Brasil aos prêmios e volto mais tarde para falar dele, então abraços e até logo mais.


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Setembro 5 (September 5)

1/30/2025 10:26:00 PM |

São poucos os filmes que me impactam realmente, que fico vidrado sem conseguir respirar, que dou risadas sem serem forçadas por situações e aonde meus olhos acabam brilhando realmente com o que vejo na tela, e com apenas 30 dias desse ano posso dizer que "Setembro 5" fez isso comigo hoje, pois nem sabia direito do que era o filme até um pouco antes das anunciações dos prêmios do começo do ano, afinal nem trailer tinha passado nem nada, aí depois descobri que era sobre a cobertura do atentado terrorista na Olimpíada de Munique, mas ainda assim não tinha me conectado que era como tudo foi televisionado pela equipe de esportes do canal ABC, como foram os bastidores aonde um produtor estreante assumiu as rédeas e conseguiu incrivelmente cobrir cada detalhe com uma precisão cirúrgica, com o pequeno detalhe, lá não havia computações, celulares, e tudo mais de facilidades que temos hoje, aonde tudo cai no nosso colo em segundos depois de ocorrer. Ou seja, se você sonha em estudar jornalismo, se já trabalha com isso, ou se apenas acha que é moleza entregar uma entrevista bonitinha para você ver na TV e ainda reclamar, vá aos cinemas e confira esse que infelizmente foi esnobado pelo Oscar, concorrendo apenas a roteiro original, mas que é daquelas produções tão precisas que valem o tempo de tela, e que pareceu que fiquei nem meia hora na sala do cinema.

O longa reconta o trágico Massacre de Munique de 1972 sob a perspectiva única da equipe de transmissão da ABC Sports. Durante os Jogos Olímpicos de Verão na Alemanha, a tranquilidade da Vila Olímpica é interrompida quando o grupo terrorista Setembro Negro invade o local e faz 11 atletas israelenses reféns. O que deveria ser uma celebração esportiva se transforma no maior atentado terrorista da história dos eventos esportivos. A trama acompanha os jornalistas esportivos que, de forma inesperada, precisam abandonar a cobertura das competições para reportar ao vivo os desdobramentos de uma tragédia em tempo real. Em meio à tensão e à incerteza, eles enfrentam dilemas éticos e emocionais enquanto o mundo inteiro assiste. O filme explora a transição de uma cobertura esportiva leve para uma reportagem de crise, evidenciando a pressão, os perigos e o impacto humano por trás das câmeras. 

Diria que o diretor e roteirista suíço Tim Fehlbaum certamente já trabalhou na TV e ficou impactado ao conhecer um pouco da história de como tudo foi televisionado em plenos anos 70 que não se tinha muita tecnologia desse caos durante uma Olímpiada, afinal ele nasceu em 82, ou seja, não vivenciou todo o momento dramático que mais de 900 milhões de espectadores viram ao vivo pelas imagens da emissora ABC, um número maior do que pessoas que viram o primeiro pouso de um homem na Lua, ou seja, algo fora dos padrões, e a grande sacada do diretor foi trabalhar a trama quase que em um plano sequência, mas mostrando como foi um dia agitadíssimo na vida de um jovem produtor que assumiu os rumos de tudo comandando desde os primeiros tiros na vila olímpica até o encerramento final da tragédia. Ou seja, o diretor brilhou na condução técnica e fez um filme que muitos vão enxergar como algo ok apenas, mas quem for da área ou gostar de saber como são os bastidores de uma TV realmente vão surtar como tudo era feito na raça, e dessa forma o roteiro ficou brilhante, a direção impressionante, e as atuações incríveis, e assim sendo, o pacote completo!

Quanto das atuações, sem dúvida alguma o show de imposição que John Magaro entregou para seu Geoffrey Mason é de tirar o chapéu, pois o ator soube ser coerente nas expressões, pegar todas as devidas nuances dos momentos, saber como operar cada elo, mostrando que não era apenas um jovem aprendiz que estava ali, mas alguém que estava pronto para pegar o rumo e comandar tudo, e o resultado foi impecável. Ben Chaplin foi direto e objetivo com seu Marvin Bader, criando os elos da comunicação, buscando todas as dinâmicas e diretivas, e principalmente passando a sensação de controle de tudo. Mas quem brilhou muito foi Peter Sarsgaard com seu Roone Arledge pronto para negociar o satélite com as demais programações, encontrar a possibilidade de dividir o sinal com outra emissora concorrente, e encorajar os jornalistas de filmarem tudo o que fosse possível, ou seja, o ator foi direto, seco e preciso, o que agradou muito. Outra que trabalhou muito bem em cena foi Leonie Benesch que era apenas a tradutora de alemão contratada Marianne Gebhardt, mas que acabou sendo o elo importantíssimo da emissora, ouvindo o rádio da polícia, as demais entrevistas da emissora estatal alemã, e passando detalhes in loco para que o produtor montasse sua programação com nuances, olhares e muita dinâmica expressiva, ou seja, encaixou bem demais no papel. Entre muitos outros que valeria citar, como Benjamin Walker praticamente narrando direto da sacada vizinha tudo o que estava ocorrendo na vila olímpica, Daniel Adeosun que virou quase um maratonista levando os rolos de filmes de um lugar para o outro, e Georgina Rich que fez uma reveladora recordista para que as fotos e os filmes entrassem na programação em segundos, ou seja, todos foram muito bem no que precisavam entregar.

Por incrível que pareça, mesmo sendo uma reconstrução de época, a equipe de arte foi muito enxuta, tendo a base cênica de um estúdio de TV tradicional, com muitas câmeras, televisores, rolos e tudo mais da época, ou seja, coisas imensas, mas foram bem espertos de arrumar muito material da própria ABC e restaurar para que tudo ficasse o mais real possível, ou seja, o que o longa fez mesmo foram os bastidores precisos e bem entregues, enquanto o restante usou e abusou dos arquivos, fazendo com que a trama ficasse incrivelmente realista e muito bem dinâmica para vermos como era fazer jornalismo ao vivo nos anos 70.

Enfim, sei que não é um filme que todos vão se impactar tanto com o resultado na tela, mas no meu conceito já colocarei ele certamente entre os melhores desse ano, pois confesso que quando o longa acabou eu jurava que tinha se passado no máximo uns 45 minutos, e eis que já tinha rolado os 95 minutos contidos e muito bem feitos, sem precisar exagerar em nada, sendo funcional e direto. E como disse no começo, vá conferir, pois vai valer a pena demais. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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O Maravilhoso Mágico de Oz - Parte 1 (Волшебник Изумрудного города. Дорога из желтого кирпича) (The Wizard of the Emerald City)

1/29/2025 01:09:00 AM |

Ainda estou pasmo que não vou sentar a mão em um filme russo!!! Pois confesso que desde o dia que vi o trailer de "O Maravilhoso Mágico de Oz - Parte 1" nos cinemas, se não me engano na sessão de "Wicked - Parte 1", estava preparado para uma bomba tremenda, daqueles que iria ver algo muito semelhante as outras adaptações, mas que não levaria nada a lugar algum, ainda mais com a prerrogativa de ser a parte 1 de um todo, mas hoje ao conferir "A Estrada Dos Tijolos Amarelos", que é como foi lançado lá fora, e depois virá "Bruxa Má" e talvez uma terceira parte dependendo claro do sucesso, posso afirmar que conseguiram fazer uma versão completamente diferente e fora da ideia que conhecemos o livro, sendo algo mais fechado e denso, trabalhando pontos que muitas crianças precisam melhorar como mentiras, egocentrismo e outros itens que foram trabalhados, numa analogia diferenciada e interessante de ver na tela. Claro que não é perfeito, principalmente por ter um fechamento quebrado, mas a síntese do longa até funciona sozinha, faltando talvez algumas explicações melhores de algumas coisas (por exemplo, o motivo que a Bruxa Bastinda deseja tanto o sapatinho mágico), mas nada que chegue a ser um grande incômodo. Ou seja, é um filme que me despertou muito a curiosidade, que acabei gostando bem mais do que imaginava, e que irei esperar as continuações, que infelizmente ainda não tem data de lançamento, mas que certamente entregou algo diferenciado dos demais que vimos desse livro.

A sinopse nos conta que levada por um furacão a um mundo mágico e desconhecido, Ellie decide seguir a estrada de tijolos amarelos rumo à Cidade Esmeralda, onde acredita que o poderoso Mágico poderá ajudá-la a voltar para casa. No caminho, ela encontra grandes amigos: o Espantalho, que sonha em ter um cérebro; o Homem de Lata, que deseja um coração; e o Leão Covarde, que busca coragem. Juntos, eles enfrentam desafios em uma história encantadora que celebra a amizade, a coragem e a força dos sonhos.

O diretor Igor Voloshin foi muito esperto na dinâmica encontrada para desenvolver seu filme, pois num primeiro momento você fica se perguntando o motivo de dividir um livro em várias partes, mas mesmo tendo duas horas de duração, não se vê grandes espaços para cortes, ou seja, ele conseguiu contar bem todo o caminho que a jovem fez desde que chegou ao mundo de Oz pelo furacão (matando a feiticeira que invocou o efeito climático com seu trailer) até chegar na entrada da cidade das Esmeraldas, conhecendo seus improváveis amigos e fugindo das artimanhas criadas pela Bruxa Bastinda que deseja ter os sapatinhos que a garota está utilizando, passando com tudo bem montado, deixando lições pelo caminho e sem correrias funcionando na tela. Ou seja, vemos um filme contido que funciona, que apertando bem ficaria talvez com 100 minutos, mas que proporciona uma boa diversão e tensão, afinal o estilo russo de cinema não permite coisas muito bonitinhas, mas sim tons mais escuros, situações mais densas, e até mesmo os personagens mais bobinhos tem um quê meio aterrorizante de forma secundária (a história de como o homem de lata virou de humano para lata é bem forte, mas soou "fofa").

Para falar das atuações, já deixo a minha principal reclamação dos longas russos, que são as dublagens, pois muitas vezes são vozes que não combinam com os personagens, ou então destoam o tom na tela, mas dito isso, a jovem garotinha Ekaterina Chervova trabalhou bem sua Ellie, sabendo segurar a trama com olhares e dinâmicas bem expansivas, clássicas de uma criança realmente vivendo tudo e não sendo apenas um "robô" na tela. O trio Evgeniy Chumak como Espantalho, Artur Vakha como o Leão Covarde e Yuri Kolokolnikov como o Homem de Lata foram bem dinâmicos e entregaram muita personalidade nos papeis, contando suas histórias e desenvolturas de como ficaram assim, e junto com a garotinha tiveram uma boa química e entrega. A bruxa vivida por Svetlana Khodchenkova acabou ficando um pouco exagerada demais, mas acredito que seja do papel, então o resultado funcionou ao menos. Já os demais, é melhor deixar quieto, pois ficaram estranhos de ver na tela.

Visualmente a trama teve muita computação, mas também cenários belíssimos e uma mistura intensa e até estranha na tela, aonde vemos um ar mais sombrio do que estamos acostumados, aonde nem tudo é tão colorido e chamativo, mas os personagens acabam tendo boas dinâmicas com os vários objetos cênicos pelo caminho, e o resultado acaba tendo um estilo bem alocado para mostrar as várias partes do reino e todo o caminho que a jovem irá percorrer já no livro na tela, e assim tudo tem um bom encaixe e agrada.

Enfim, como falei no começo fui conferir o longa sem esperar nada, ou melhor esperando pelo pior, pois os filmes russos que andam aparecendo por aqui não andam sendo tão interessantes ou agradáveis, mas nesse caso a trama funcionou bem, o visual agradou, e a história convenceu na tela, então fica a recomendação dele para toda a família, embora não seja uma trama tão infantil quanto parece, mas acredito que os não tão pequeninos irão curtir, e agora é esperar as demais partes, pois a segunda aparentemente ainda nem começou a ser gravada, ou seja, vamos ter de aguardar. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da Sinny Assessoria e a Imagem Filmes pela cabine online, e volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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MUBI - A Garota Da Agulha (Pigen Med Nålen) (The Girl With The Needle)

1/28/2025 12:59:00 AM |

Eis que estava no final de semana montando minha planilha com as datas dos filmes que faltam ver entre os concorrentes do Oscar, e vejo que um dos "inimigos" do nosso longa brasileiro entrou diretamente em cartaz no MUBI, então já programei para conferir hoje e meus amigos... que filmão tenso é esse dinamarquês, "A Garota da Agulha", de modo que estou vendo que só vamos enfrentar pedreiras bem intensas que vai depender do gosto dos votantes para escolher, pois aqui temos mais uma obra baseada em fatos reais, aonde no pós-guerra uma jovem engravida de seu patrão, só que ao a família do moço não aceitar ela, acaba levando o bebê para adoção numa agência clandestina, que para pagar resolve trabalhar lá como ama de leite, vivenciando coisas densas e horrores que você acaba nem pensando em ser capaz de ver, mas que o longa entrega. Ou seja, é daqueles filmes tão marcantes com o ponto de virada, que junto de uma fotografia em preto e branco muito bem dosada (dava para fazer colorido, mas acabou tendo um charme de época) acabamos mergulhando na vida da protagonista, e o resultado que no começo achei que cansaria, acaba tendo um ritmo bem pontuado que agrada bastante até o fechamento, valendo com certeza o play.

O longa se passa em Copenhague após a Primeira Guerra Mundial, aonde vemos que a jovem e trabalhadora Karoline é uma operária que perde seu emprego por conta da sua gravidez, fruto de um caso amoroso com seu abastado chefe. Com o desaparecimento de seu marido em combate e o relacionamento fracassado entre ela e seu patrão, Karoline se vê abandonada e sozinha, caindo numa situação miserável cada vez maior. Um dia, a garota encontra consolo e uma forma diferente de sobreviver com Dagmar, uma carismática mulher mais velha, diretora de uma agência de adoção clandestina que vive sob o disfarce de uma loja de doces. Karoline e Dagmar criam uma conexão e um vínculo intensos, mas o mundo da jovem desaba quando ela percebe o peso do trabalho de Dagmar, no qual já estava envolvida involuntariamente. Uma descoberta chocante coloca Karoline de novo diante de um horror insuportável.

Diria que o diretor e roteirista Magnus von Horn foi bem incisivo no estilo que desejava para sua produção, pois o longa facilmente poderia ser um drama de época bem pautado, com as devidas nuances e desenvolturas, mas optou por colocar uma pitada de horror junto com as diretivas que até hoje ainda marcam a população, como mudanças faciais após cirurgias de guerra, adoções e abortos, aonde dentro do contexto dos anos aonde o longa se passa tudo se intensifica, e a grande sacada foi ele fazer o filme como algo que realmente fosse feito naquela época, ao ponto do clima noir e preto e branco não ter sido apenas uma escolha técnica, e assim sendo o resultado teve uma fluência intensa e bem chamativa que eu que vivo reclamando de pessoas usarem por usarem o preto e branco fiquei feliz, e nem um pouco cansado com a entrega na tela. Ou seja, o diretor soube usar o estilo e a história ao seu favor, e acabou funcionando com várias indicações a prêmios e claro ao Oscar de Filme Internacional.

Quanto das atuações, Vic Carmen Sonne num primeiro momento pareceu meio que insegura para sua Karoline, mas depois vai se desenvolvendo melhor e entrega olhares marcantes e sentimentos bem expressivos para que cada ato seu fosse intenso e bem colocado, e isso mostrou uma evolução do roteiro para se rodear melhor dela, ao ponto de no final estarmos totalmente conectados e até assustados com o que acontece. Trígono Dyrholm trabalhou sua Dagmar inicialmente como uma senhora bem encaixada, aparentemente boazinha e bem dinâmica, mas vai se vertendo completamente desde a entrada da protagonista no seu meio, que conforme vamos conhecendo mais dela vemos que a atriz soube brincar com seus atos de forma leve porém cruel e bem seca, ou seja, precisou de uma bela preparação e o acerto foi marcante. Besir Zeciri trouxe para seu Peter um estilo bem mais fechado e até estranho, pois ao não vermos suas expressões faciais, tudo acaba ficando meio seco, mas é algo tão assustador o que ocorre com ele que suas cenas acabam passando até do limite do aceitável, e isso é bom de ver, pois o ator soube se expressar sem precisar mostrar sua real face. Ainda tivemos alguns atos para mostrar um dono de fábrica completamente frouxo, mandado pela mãe, e que não conseguiu ser imponente na tela no papel que Joachim Fjelstrup trabalhou, e também a garotinha bem colocada que Ava Knox Martin trabalhou alguns atos simples, mas bem marcantes e intensos, aonde seu final acaba sendo bem bonito pelo sorriso que entrega.

Visualmente a fotografia em preto e branco acaba perdendo detalhes cênicos, de modo que os apartamentos da jovem acabam parecendo bem sujos, simples e abandonados, e acredito que tenha sido essa a intenção do diretor, pois assim economizou na cenografia, da mesma forma que o clube de banho também teve essa mesma perspectiva, com banheiras estranhas e tudo meio que bagunçado, mas que funciona para a proposta, a fábrica de uniformes e depois de tecidos também foi bem singela, com planos mais fechados para não precisar criar algo grandioso, mas na cena da celebração colocou uma grande quantidade de figurantes e o resultado funcionou, além claro dos vários atos de entrada e saída de lá e de outras empresas aonde a protagonista vai, isso sem falar é claro da loja de doces da senhora que no fundo é uma agência de adoção meio estranha, e tudo o que acaba ocorrendo nas ruas também. Ou seja, economizaram em detalhes, mas ampliaram o leque de ambientes, e o resultado ficou bem presente na tela.

Enfim, é um filme forte, com uma pegada marcante e cheia de nuances diferentes do padrão, aonde acaba não sendo uma trama que o público comum irá ver e entrar no clima, mas para festivais é a cara perfeita, e o resultado surpreende, ao ponto que vale a conferida e o envolvimento com os personagens. Sendo assim fica a dica para dar play nele, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até logo mais.


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Paddington: Aventura Na Floresta (Paddington In Peru)

1/26/2025 11:03:00 PM |

Dentro dos filmes mistos com animação e pessoas juntas sem dúvida alguma a franquia do urso é a melhor, e isso não tem nem como brigar, pois a interação com os personagens funciona, os atores mesmo que bobinhos encaixam bem com a proposta, e o resultado visual impressiona tanto que por vezes até achamos que realmente botaram ursos reais na produção, mesmo sabendo que seria loucura, e aqui no terceiro filme, "Paddington: Uma Aventura Na Floresta", que temos toneladas de ursos então, o resultado computacional acaba funcionando de uma maneira incrível. Ou seja, é um filme ultra-infantil, isso é fato com todas as dinâmicas e principalmente com a dublagem escolhida, mas é inegável que a garotada curte, fica atenta, e até aprende as devidas facetas e mensagens subliminares que tem para elas, e sendo assim acaba sendo algo que valha indicar para toda a família, desde que vá sabendo de ser algo infantil, pois alguns acham que será uma comédia juvenil e irão se revoltar ou dormir com o resultado, e não é isso o que a trama promete.

No longa vemos que o adorável urso Paddington retorna ao Peru para visitar sua querida Tia Lucy, acompanhado pela família Brown. A viagem, que promete ser uma reunião afetuosa, logo se transforma em uma jornada cheia de surpresas e mistérios a serem resolvidos. Enquanto explora a floresta amazônica, Paddington e seus amigos encontram uma variedade de desafios inesperados e se deparam com a deslumbrante biodiversidade do local.

Muitos vão achar que a principal mudança do longa é não termos Sally Hawkins como Mary Brown no longa, mas a maior mudança foi por trás das câmeras que trocaram desde roteiristas, editores e até mesmo a direção em relação aos demais longas, de forma que ficou bem notável isso na tela, porém o diretor estreante em longas Dougal Wilson fez o dever de casa e manteve a equipe gráfica dos anteriores, melhorando ainda mais toda a sensação de presença na tela, aonde vemos os personagens animais tão bem presentes na selva e nas dinâmicas, junto de tudo que quase fez parecer real na tela, mas sabemos que não, as mensagens de companheirismo e família também foram bem alocados pelo diretor na tela, porém o grupo de roteiristas poderiam ter melhorado um pouco os diálogos, pois não sei se foi pela dublagem ou pelo texto em si, mas a trama ficou com algumas falas tão bobas que até mesmo as crianças vão achar exagero da parte da equipe técnica.

Quanto das atuações ou melhor das dublagens, Bruno Gagliasso voltou a dar voz ao ursinho Paddington, que está ainda mais charmoso e envolvente, conseguindo conquistar tudo do começo ao fim, sabendo dosar entrega e personalidade, cativando o público a lhe seguir, e cheio de urros conseguiu ficar bem encaixado como o protagonista que é. Os demais da família voltaram no famoso estilo corrido, bem colocados como personagens secundários sem sumir, de forma que não chegam a ter algum destaque realmente, mas sabendo encaixar os detalhes acaba agradando bem. Agora quem ficou muito estranho em cena foi Antonio Banderas como o "vilão" da trama, pois acabaram transformando ele quase em uma caricatura, o que acaba sempre rolando nos filmes do urso, porém diferente de Hugh Grant que fez o vilão no último filme, e aqui aparece apenas no final, que tinha traquejos, mas era multifacetado, o ator espanhol acabou ficando forçado demais, claro também devido a dublagem que lhe deram, mas não chega a incomodar. E outra que forçou a amizade com um lado musical e coisa demais escondidas foi Olivia Colman como a Reverenda Madre.

Visualmente já disse e reforço, o longa está lindo de ver na tela, tendo a mudança para o meio da selva um grande ganho para o estilo que era britânico demais, de tal forma que vemos agora muito mais dinâmicas, toda uma sensação meio como nos filmes da antiga Sessão da Tarde, com uma computação de primeiro nível misturando os humanos com os animais, tendo um barco casa bem marcante, o asilo de ursos aposentados cuidado por freiras dançantes e até mesmo as ruínas incas foram bem trabalhadas para o fechamento com um El Dorado diferente de tudo o que era esperado, mas cheio de boas nuances alaranjadas. 

Enfim, é um filme totalmente infantil, que dá para curtir se não for esperando algo diferente disso, e assim sendo vale para levar os menorzinhos para verem o ursinho e todas suas dinâmicas na tela. Então fica a recomendação e eu fico por aqui hoje, voltando amanhã com mais dicas, então abraços e até lá.


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Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado (Soundtrack to a Coup d'Etat)

1/26/2025 01:58:00 AM |

Costumo dizer que todo documentarista tem um parentesco gigantesco com programadores de sistema, principalmente os que trabalham com temas históricos, pois não dormem mais, só pensam nos seus projetos e a cada novo material que consegue juntar entra em paranoia até conseguir encaixar de forma perfeita. E é inegável o tanto de palmas que o diretor Johan Grimonprez merece pelo tanto de material que conseguiu para construir seu longa, sendo daqueles que em momento algum ele precisou de uma narração extra, de fabricar algum video ou então desenvolver algo para que seu filme ficasse preciso de ideias, fosse completamente amarrado pelos shows das bandas, e que sem firulas contou exatamente como usaram Louis Armstrong e o jazz para ir modelando um golpe na República Democrática do Congo logo após sua independência da Bélgica. Ou seja, é daqueles filmes que você se assusta ao ver a duração, principalmente para um documentário, mas que não consegui enxergar pontos que o diretor poderia ter eliminado, afinal a história inteira foi muito bem usada com todo o material, e assim sendo o filme evolui fácil, mas tem de gostar do estilo musical e de História, senão a chance de dormir também é bem alta.

O longa reconstitui os últimos meses antes de Patrice Lumumba, primeiro presidente eleito democraticamente do Congo, ser assassinado em 1961. Em protesto, os músicos Abbey Lincoln e Max Roach invadem o Conselho de Segurança da ONU. Ao mesmo tempo, Louis Armstrong é enviado para o país como uma cortina de fumaça dos planos norte-americanos de depor Patrice. É a partir desse episódio, um bom representante das conexões entre imperialismo, capitalismo e jazz, que o diretor Johan Grimonprez traz o panorama das artimanhas políticas que incendiaram o contexto internacional da época. Marcado pela Guerra Fria, pelo movimento de independência pan-africanista, pelas mudanças no quadro de poder das Nações Unidas e pelas lutas por direitos civis nos EUA, o século XX e suas revoluções são o mote para um documentário ávido em entender os dilemas de uma história em disputa.

Diria que o trabalho do diretor, roteirista e editor Johan Grimonprez foi impecável, tanto que não bastando a indicação de seu trabalho ao Oscar, tem ganhado e sido indicado à várias outras premiações, inclusive no Critics voltado para documentários estará presente em 4 categorias, e se com 150 minutos ele conseguiu compor algo tão imponente, fiquei imaginando a quantidade de material que ele tinha em suas mãos, aonde foi buscar tudo e como isso veio em sua mente, pois não é um tema muito falado, e num momento tão bagunçado no mundo atual vir falar de golpe de estado, lembrar de uma época caótica no Congo, e ainda usando o jazz como pano de fundo, foi sem dúvida algo brilhante de se fazer. Claro o trabalho dele é notável demais na tela, porém friso que não é algo fácil de digerir, afinal ele nos entrega nessa duração muita informação, sendo daqueles filmes que você chega até se perder em detalhes, e o ritmo não é daqueles que te prendem, mas sim daqueles que faz viajar nas canções, e assim o resultado funciona, mas se a pessoa realmente se interessar pelo tema, senão a chance de sair de órbita com o jazz gostoso de fundo é bem alta.

Como é um documentário usando materiais de arquivos nem tenho como falar de atuações, entonações e do ambiente em si, mas sim apenas pontuar mesmo o quanto ele conseguiu criar uma narrativa precisa com momentos de shows, gravações das revoltas no país, da invasão e das reuniões da ONU e muitos depoimentos que cada um foi dando de acordo com a intensidade nos diversos momentos que foram ocorrendo, tudo isso claro com canções icônicas da época do jazz, e muitas que foram feitas em cima de tudo que rolou, num trabalho de encontros certeiros e bem colocados dentro da edição precisa e direta.

Enfim, ainda preciso ver os outros candidatos ao Oscar de Melhor Documentário, mas certamente no atual momento, esse é um grande candidato não só pelo trabalho de montagem, mas por tudo que vem ocorrendo mundo afora, então acredito que os votantes vão levar muito isso em consideração. Então fica a dica para conferir ele nos cinemas do país a partir do dia 30/01, e eu fico por aqui hoje agradecendo os amigos da Sinny Assessoria e da Pandora Filmes pela cabine de imprensa, então abraços e até amanhã com mais textos.


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Ameaça No Ar (Flight Risk)

1/25/2025 08:21:00 PM |

Existem alguns filmes que são feitos apenas para um bom passatempo ao público, aonde sabemos que ninguém da equipe tenta entregar um algo a mais na tela, e na maioria das vezes eles são os mais gostosos de conferir, pois você também já entra despreocupado na sessão sem esperar muito dele. E "Ameaça No Ar" é um claro exemplo disso, pois mesmo tendo lá em cima do pôster bem pequenino algo que remeta ao diretor Mel Gibson, nem ele nem seus agentes fizeram muita questão de divulgar ou explorar o longa em premiações ou até em alguns movimentos de premières, de tal forma que ele fez, entregou e pronto, e longe de ser uma bomba, como poderia esperar por ser algo que praticamente surgiu do nada, tendo acho que um mísero trailer (que entrega praticamente tudo o que vai rolar!), mas que passou em pouquíssimas sessões, o filme acaba sendo algo gostoso e interessante de ver, tendo alguns atos rápidos de tensão, mas nada que faça o público surtar na sessão, e assim vale a conferida como algo despretensioso, mas que funciona ao que propõe.

A sinopse nos conta que uma missão importante e confidencial é comprometida por um passageiro indesejado num avião a mais de 3000 mil metros de altura. Em Ameaça no Ar, um piloto é responsável por transportar Madolyn Harris uma profissional da Força Aérea que acompanha um depoente que estava foragido nas montanhas até seu julgamento. Ele é uma testemunha chave num caso contra uma família de mafiosos. À medida que atravessam o Alasca em pleno ar, a viagem se torna um pesadelo em altitude de cruzeiro e a tensão aumenta exponencialmente quando, aparentemente, nem todos a bordo realmente são quem dizem ser. Com os planos comprometidos e as coisas totalmente fora do controle, o avião fica no ar sem coordenadas, testando os limites dos três passageiros. Será que eles conseguirão sair vivos dessa armadilha? Será que as consequências de seus atos serão ainda mais graves quando a aeronave tocar o chão?

Diria que Mel Gibson apenas gostou do roteiro de estreia de Jared Rosenberg e resolveu dar uma chance para o garoto, pois colocando seu nome no projeto e bons atores, certamente fará com que seja bem visto no mundo do entretenimento cinematográfico, e o longa é básico, sem grandes chamarizes, de modo que o diretor apenas colocou os personagens numa cabine e fez os diálogos ali, e claro depois trabalhou todas as externas com pilotos reais, computação, drones e tudo mais, de forma que a base é o famoso desconhecido que acaba tendo problemas e cada vez vai piorando, sendo algo que não tem grandes sustos, mas que também não tem furos, e assim o resultado evolui com facilidade na tela, sendo divertido e interessante com as pegadas colocadas. Ou seja, é o famoso filme que você pega para conferir sem ligar se o roteiro vai chamar atenção em algo, e quando vê tudo rolou de forma bacana e acaba bem colocado.

Quanto das atuações, a grande sacada foi terem colocado Mark Wahlberg como um assassino completamente maluco na tela, pois seu Daryl entrega personalidade, interações bem marcantes e diálogos precisos para incomodar todos os demais em cena, ao ponto que você torce para a protagonista meter um tiro logo nele que o apague de vez, pois ele consegue incomodar geral. Michelle Dockery teve bons momentos expressivos com sua Madolyn Harris, fazendo uma agente linha dura bem encontrada nas nuances da trama, chamando atenção e agradando com o estilo, mas embora o roteiro dê essa brecha, agente nenhum colocaria tanta facilidade para o piloto assassino. Topher Grace trabalhou seu tagarela Winston com muita desenvoltura, e claro um exagero de comicidade, mas o papel pedia e assim acabou sendo bacana de ver na tela. Os demais foram apenas vozes e diálogos pelo rádio ou telefone via satélite da protagonista, com um aparecendo no final, mas nada que impressionasse demais.

Visualmente o longa é bem básico, começando com um hotel simples no Alasca, aonde ocorre a prisão do rapaz, e depois tudo ocorre dentro de um pequeno avião, sem grandes detalhes, com os aparelhos meio que estragados para dar um pouco mais de tensão, alguns tiros, facas, algemas e lacres, tudo para tentar prender alguém e a confusão rolar, abaixo do avião muitas montanhas e um pouso no final cheio de impacto, ou seja, a equipe de arte não gastou muito, e o resultado não foi comprometido.

Enfim, é um filme básico, que diverte e entrega bons atos na tela, não sendo nada que impacte muito, ou cause uma tensão daquelas claustrofóbicas características de filmes com aviões, mas o resultado agrada como um bom passatempo rápido e direto. Então fica a dica, e eu fico por aqui agora, voltando daqui a pouco com mais um texto, então abraços e até logo mais.


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Anora

1/25/2025 02:35:00 AM |

Outro dia em uma conversa com um amigo também da área de cinema ficamos refletindo sobre o quanto aumentou a quantidade de séries e filmes longos, e chegamos na conclusão que a maioria dos diretores e roteiristas perderam o poder de concisão, de saber cortar excessos de seus filmes para que eles fiquem redondinhos, sem sobrar nada e também claro não faltar nada, e comecei a falar do longa "Anora" dessa forma pelo simples e único motivo que ele tem 139 minutos, aonde os primeiros 70-80 são incríveis, divertidos, assanhados, sexy, imponentes e bem colocados, mas ai ficaram numa enrolação tão grande procurando o protagonista na cidade inteira, entrando em milhares de lugares até dar a hora dos pais do rapaz chegar que acaba ficando repetitivo e altamente cansativo. Ou seja, a trama que estava numa onda tão boa, acaba sufocando os personagens, e o resultado quase se perde ao fechar de forma ok, tanto que algumas pessoas na sala ao final soltaram um famoso "aff" ao aparecer a tela preta com os nomes, e isso é errar na base, pois o longa está ganhando muitos prêmios e indicações, mas olhando pelo lado de um filme para festivais, aonde o público gosta dessa "enrolação", mas no cinema comercial mesmo, o resultado se perde, e não precisaria cortar tudo, entre 19 e 29 minutos pra ficar perto das duas horas de projeção e as palmas seriam insanas, mas isso é uma opinião, e como sempre digo, tem quem goste, tanto que a cada dia brotam mais e mais séries e filmes ainda maiores, então vida que segue.

O longa nos conta que Anora é uma jovem profissional do sexo que trabalha nas noites do Brooklyn, e pode se tornar a Cinderela da sua própria história quando encontra e casa, por impulso, com o filho de um oligarca russo. Mas quando a notícia chega à Rússia, seu conto de fadas fica ameaçado com a chegada dos pais dele a Nova York para cancelar o casamento.

Diria que o diretor e roteirista Sean Baker é daqueles que fazem filmes prontos para as premiações, afinal já tendo duas Palmas de Ouro de Cannes com seus três últimos projetos cotadíssimos em tudo o que é festival e premiação, que apenas ficamos esperando aonde ele vai ousar agora, e aqui ele quase entregou algo perfeito, pois mesmo tendo o conteúdo sexual, a falta de maturidade de filhos de ricos, e claro os criminosos do leste europeu presentes na cultura americana, ele trabalhou seu filme de um modo lúdico e quase como a sinopse diz um conto de fadas para a garota, saindo dos seus ganhos curtos e vários programas e passando para algo único mas com muito lucro, aonde vemos posições ousadas de câmeras, muita dinâmica nos diversos atos, e ótimas sacadas com os personagens principais, de modo que o roteiro flui fácil e até ousa lembrar um pouco "Uma Linda Mulher", mas claro com outros vértices, e assim sendo o resultado inicial flui e agrada demais, porém ele se perdeu por completo ao querer visitar a cidade inteira em busca do garoto e depois andar com ele mais um bom tanto até a chegada dos pais, o que acaba não fluindo. Ou seja, meia dúzia de cortes ou câmeras aceleradas dariam ritmo e acabaria flertando com algo até mais ousado, mas como o estilo do diretor é assim também em outros filmes seus, não podemos esperar que mude.

Quanto das atuações, a jovem Mikey Madison trabalhou muito bem suas expressões faciais para convencer o público e claro desenvolver uma interação grande, porém teve Acei Martin como dublê de corpo já que muitas cenas suas eram bem "perigosas", mas com traquejos bem diretos e uma desenvoltura bem encaixada, a atriz conseguiu que sua Anora, ou Ani como prefere ser chamada, brilhasse e ficasse com os holofotes todos em si, ou seja, não a toa vem conquistando o público e está indicada a vários prêmios. O jovem Mark Eydelshteyn entregou seu Ivan meio que surtado demais, sendo daqueles filhos de ricos que vive bêbado ou drogado do começo ao fim do longa, fazendo com que seu personagem soasse divertido, porém num nível meio que exagerado demais. Karren Karagulian trabalhou seu Toros quase como um touro maluco mesmo, desesperado pela loucura de seu "afilhado" nos EUA, precisando resolver tudo antes que os pais do garoto aparecessem, e sendo dinâmico e cheio de bons traquejos divertiu demais em cena. Outros que foram muito bem encontrados foram Yura Borisov com seu Igor e Vache Tovmasyan com seu Garnik, ao ponto que trabalharam tanta personalidade em seus atos que acabamos nos afeiçoando a eles, e ao final até a protagonista que odiava o rapaz teve bons momentos com ele.

Visualmente a trama se desenrola em clubes, boates, cassinos, hotéis em Vegas, uma capela pela cidade também, e principalmente na mansão de três andares do protagonista, com elevador, terraço, piscina e fogos para virar o Ano Novo, claro também muito regado a várias cenas nas camas e nos quartos VIPs dos clubes de sexo, além de mostrar o vício dos jovens em drogas e videogames para tentar colocar uma imaturidade maior ainda no personagem, ou seja, a equipe de arte foi ousada com cores vibrantes e muitas dinâmicas na fotografia para que o filme tivesse uma expressividade ainda maior na tela.

Enfim, o longa está concorrendo a 6 Oscars (Filme, Direção, Atriz, Ator Coadjuvante, Roteiro Original e Edição) de modo que não acreditaria de ver ele ganhando nenhum dos prêmios pelos demais concorrentes, mas ainda assim é um filmão bem bacana de conferir, só pecando realmente na edição que está concorrendo que valeria ter cortado mais como falei no começo. E é isso meus amigos, fica a dica para a conferida, e volto amanhã com outros textos, então abraços e até logo mais.


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Conclave

1/24/2025 01:35:00 AM |

É muito interessante quando vou ao cinema esperando ver algo, o diretor me convence daquele mesmo algo durante todo o filme, e chega no final ele mostra que aquele algo era apenas o básico que entregou para surpreender e chocar, e duvido quem acertar o final completo do longa "Conclave" em qualquer uma das fases do projeto, pois fica muito claro quem vai ser o escolhido como papa, o desenrolar no fechamento anterior à votação que dá a maioria é algo imponentíssimo, mas é uma quebra tão grande que a surpresa acaba sendo marcante. Mas se engana que o filme só é feito do final impactante, ele tem uma fotografia primorosa, um ambiente denso com uma direção precisa, e atuações bem colocadas para fazer com que o público entre completamente nesse mundo secreto da Igreja Católica, que claro vai falar que não é nada do que é mostrado no longa, e principalmente vai querer incinerar ele após verem por completo. Ou seja, o diretor que dois anos atrás impressionou com técnica e intensidade, voltou ainda mais maduro com um estilo próprio para mostrar o famoso filme que muitos vão amar e muitos vão odiar, o que é ótimo para o modelo do Oscar, principalmente em um ano que são tantos filmes diferentes entre si, e que não vão ter a maioria absoluta dos votantes, sendo assim se hoje eu tivesse que apostar, colocaria ele como ganhador de Melhor Filme, mas tudo pode mudar até dia 02/03.

O longa acompanha um dos eventos mais secretos e antigos do mundo: a escolha de um novo Papa. Após a morte inesperada do atual pontífice, o Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes) é encarregado de conduzir esse processo confidencial. Os líderes mais poderosos da Igreja Católica de todo o mundo se reúnem nos corredores do Vaticano para participar da seleção, cada um com suas próprias ambições. Lawrence se vê no centro de uma conspiração, desvendando segredos que ameaçam não apenas sua fé, mas também as fundações da Igreja.

Quem assistiu "Nada de Novo no Front" lá em 2022 acabou ficando impressionado com o potencial do diretor maluco Edward Berger, mas mal sabíamos que ele pegaria outro livro imponente para trazer para a telona, e conseguiria fazer ficar brilhante uma das coisas mais confusas e obscuras que é a política por trás da escolha de um novo Papa, pois assim como outros líderes de nações, a Igreja Católica e o país Vaticano já mudou muito ao longo dos anos e alguns são contra e outros a favor de coisas que andam acontecendo por lá, então para alguém ganhar essa eleição precisa de aliados, e claro, uma maioria, e o diretor soube pegar detalhes do livro de Robert Harris para que seu filme tivesse uma cadência forte, mas sem incomodar o público com todo o andamento, colocando problemas para os principais concorrentes, e estruturando toda a tensão juntamente de uma trilha sonora fortíssima, ou seja, é daqueles filmes que mostra o trabalho do diretor, e que o diretor também não se esconde atrás da opinião dele, ao ponto que não sei se no livro o fechamento é exatamente da mesma forma, mas que foi muito bem sacado, isso foi.

Quanto das atuações, tivemos outro show na tela, com praticamente todos os atores, e naquele estilo que me deixa raivoso com quase todos usando o mesmo figurino, corte de cabelo, óculos para deixar o Coelho aqui ultra confuso em alguns atos, mas a grande base dos protagonistas encaixou como uma luva nos papeis, de modo que Ralph Fiennes vem merecendo cada indicação e mereceria muitos prêmios com o que faz com seu Cardeal Lawrence, imponentíssimo, falando de 4 a 5 línguas no longa, trabalhando olhares e traquejos, sabendo se posicionar bem para cada ato, e mais do que tudo, feliz com o seu papel, pois é notável na cena de fechamento não a felicidade do personagem, mas sim do ator de ter entregue tudo e muito mais na tela. Stanley Tucci também surpreendeu muito com a entrega de seu Bellini totalmente bem cotado para ser o novo Papa, mas não querendo de forma alguma, porém diferente dos seus demais papeis aonde se desenrola fácil, aqui dosou expressões e chamou muito para si. Ainda tivemos outros muito bons atores e personagens, com John Lithgow bem intenso com seu Tremblay, Jacek Koman bem personificado com seu Wozniak, e Lucian Msamati desesperado com o que acontece com seu Adeyemi, mas quem acabou sendo bem imponente nos atos de seu Tedesco foi Sergio Castellitto, que conseguiu chamar muita atenção e marcar a tela. Agora falando da outra indicação do longa para Isabella Rossellini com sua Irmã Agnes foi apenas com sua cena direta no refeitório, ou seja, com apenas um ato ganhou o nome e fez valer tudo na tela.

Visualmente a trama foi ao mesmo tempo simples, porém grandiosa, com as reuniões dentro da Igreja toda ornamentada com os desenhos no teto, todo um esquema de segurança gigantesco com todos os aparatos eletrônicos escondidos e lacrados, um refeitório único, os quartos todos com trancas e pouquíssimos ornamentos, figurinos na medida todos bem ricos de detalhes e claro as nuances das votações com orações, cédulas em pote, votos costurados e a famosa fumaça preta e branca para identificar o fim ou não da eleição, isso sem falar em todo o ritual de retirada do corpo do antigo Papa, ou seja, mostrando que a equipe pesquisou muito e conseguiu chamar atenção com o resultado, e claro com as explosões também de manifestantes. Isso tudo fora uma fotografia com cores fortes e cheias de impacto na tela, em ângulos acertados para segurar ainda mais toda a tensão do filme.

Outro ponto bem impactante e que também fez com que o longa levasse mais uma indicação aos prêmios do Oscar e de outras premiações importantes é a trilha sonora que acaba sendo até um grande incômodo, pois é muito forte e alta, então quem não curte vai acabar ficando um pouco irritado, mas é justificada para passar a sensação mesmo do protagonista angustiado com tudo o que está acontecendo, e funciona ao passar o mesmo para o público.

Enfim, o longa conseguiu 8 indicações ao Oscar e certamente garantirá alguns bons prêmios, pois é um tremendo filmaço que não tem como sair da sessão sem uma opinião formada sobre o assunto, sendo daqueles que impactam e chamam atenção e que ouviremos muito sobre tudo o que é mostrado, então fica a dica e volto amanhã com mais longas e textos por aqui, fiquem com meus abraços e até breve.

PS: Ele não me valeu a nota máxima pelo simples fator de que poderia ser levemente mais dinâmico para causar mais intensidade e menos tensão, pois não sei se era esse o desejo do diretor de seu filme quase recair para o suspense ao invés do drama, mas ainda assim se tivesse notas quebradas seria um 9,5 para cima.


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Amazon Prime Video - Imparável (Unstoppable)

1/23/2025 01:40:00 AM |

Sempre gostei muito de longas esportivos pelas mensagens de superação e determinação que a maioria tenta passar, e sendo biográfico costuma ficar ainda mais interessante de ver, e um que tinha colocado na lista pela intrigante história foi o lançamento da semana, "Imparável", que num primeiro olhar tinha tudo para ser extremamente forte e emocionante, que mesmo não entendendo as regras do wrestling, a base é dominar o adversário numa luta, e para um jovem sem uma perna enfrentar a base dos demais sem dúvida era algo para esperar um grande baque durante tudo, porém o diretor optou em mostrar a base de caráter do jovem representado com uma família problemática e complexa, colocando essa margem de superação à frente do esporte na tela, e mesmo sendo um filme emblemático, acabou pecando em não comover na tela como poderia. Claro que muito longe de ser uma experiência negativa, o longa poderia ser muito mais imponente, mas ainda assim é daqueles que você acaba se envolvendo com a história e acaba torcendo pelo jovem, mesmo imaginando que tudo daria certo ao final.

O longa é a inspiradora história real de Anthony Robles, que nasceu com uma perna, mas cujo espírito indomável e determinação inquebrável o capacitaram a desafiar as probabilidades e perseguir seus sonhos. Com o amor e apoio inabaláveis ​​de sua devotada mãe Judy e o incentivo de seus treinadores, Anthony luta contra a adversidade para ganhar uma vaga no time de luta livre do Arizona State. Mas isso exigirá tudo o que ele tem, física e mentalmente, para atingir sua busca final para se tornar um campeão da NCAA.

Certa vez disse que a maioria dos editores se acham diretores, afinal das suas mãos acabamos vendo o resultado final de horas e horas de materiais que o diretor captou a essência dos atores, mas conheço poucos editores que se arriscaram a dirigir realmente um filme e deram certo, e aqui a estreia do multipremiado editor William Goldenberg, que tem inclusive um Oscar na sua estante pela função, como diretor foi mais um desses insucessos, aonde você vê que faltou emoção para o longa, pois a história do personagem é algo que pedia uma dramaticidade muito mais crua na tela, campeonatos imponentes e até alguns atos bem colocados dentro do ambiente familiar, mas o jovem pareceu apenas bravo a todo momento, demorando demais para explodir, e como algo isso não vem, e sabemos que é um longa biográfico, já ficamos esperando o fechamento. Ou seja, talvez nas mãos de um diretor mesmo de profissão o mesmo roteiro ficaria incrível sendo editado por ele, mas o inverso infelizmente não ficou tão bom quanto poderia.

Quanto das atuações, um grande acerto para o longa foi usar o verdadeiro Anthony Robles como dublê de corpo do ator Jharrel Jerome, pois assim não precisaram usar computação gráfica para "tirar" a perna do ator, muito menos ficar com lutas falsas na tela, e assim o resultado ficou bem verossímil, e claro que o ator entregou muita personalidade nos trejeitos e expressões dos diversos atos para que emocionasse em sua trajetória, só faltando como disse acima um pouco menos de "braveza" e um pouco mais de envolvimento na tela. Jennifer Lopez entregou boas interações para que sua Judy tivesse um ar amoroso e vibrante pelo filho, e também tivesse seus problemas para desenvolver, mas soou correta e linear demais no que fez na tela, ao ponto que talvez um pouco mais de gás nos atos chamaria mais atenção. Don Cheadle e Michael Peña trabalharam bem seus técnicos Shawn Charles e Bobby Williams, dando as devidas mensagens para o garoto e criando as dinâmicas necessárias na tela de modo simples, mas bem colocadas, não sendo algo que chamasse tanta atenção, mas ao menos agradasse. Já Bobby Cannavale fez o tradicional padrasto escroto que muitos tem raiva, e o ator não economizou nos traquejos para que ficássemos com qualquer pena dele.

Visualmente a trama mostrou bons treinos, boas lutas em campeonatos, várias visitas a alguns ambientes universitários (mas nenhuma aula efetiva!), e também a casa simples da família de muitos filhos, além de alguns atos em bancos e festas, tudo de um modo simples, porém bem alocado na tela, mostrando que a equipe de arte não quis fazer nada que fosse muito chamativo, mas que fosse o correto de vermos no estilo.

Enfim, é um longa que acredito que fui conferir esperando algo demais dele, e o resultado foi bom apenas, mas que quem estiver disposto a curtir uma trama bacana esportiva sem esperar muito vai encontrar um resultado coerente na tela, e assim sendo fica a dica. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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MMA - Meu Melhor Amigo

1/22/2025 12:48:00 AM |

Vou ser bem direto, pois não é o estilo de filme que dá para ter opiniões quebradas, afinal "MMA - Meu Melhor Amigo" tem sim muitos problemas e nem é o caso de plágio que muito se anda discutindo nos bastidores do cinema nacional, mas sim um roteiro com diálogos fraquíssimos e lutas que nem nos shows de lutcha libre do México os golpes soaram tão falsos! Ah, mas vão falar se eu queria que o Mion apanhasse de verdade? E a resposta é não! Mas dava para colocar um dublê de corpo para lutar ou então treinar coreografias que soassem verdadeiras em cena, que nas lutas treinos ao menos ele tentasse brigar realmente e não ficar de soco na mão, afinal esse não é o estilo de luta colocado na tela, mas ok, vamos pular esse problema afinal era o sonho do apresentador voltar a atuar como fez mil anos atrás e passar a mensagem de que não devemos jamais olhar um autista como alguém doente, e sim alguém com uma comunicação diferente que tanto prega, então pegasse e desenvolvesse um roteiro com diálogos mais próximos disso, com mensagens mais diretas e bem trabalhadas, não apenas alguns ganchos emocionais meio que jogados na tela, e ainda por cima colocando um câncer no meio do caminho para conflitar ainda mais! Ou seja, é o famoso filme que quem é fraco acaba chorando fácil com as tentativas jogadas, afinal o longa tem um ar bonito se tirar esses dois grandes defeitos que citei acima, mas se a pessoa tiver assistido qualquer outro filme que tenha qualquer temática do estilo vai se decepcionar com o resultado, mesmo sendo o maior fã de Marcos Mion do mundo, pois o longa falhou na tela, e não convenceu o suficiente para dar movimento ao menos nas sessões!

No longa acompanhamos Max Machadada (Marcos Mion), um grande campeão de MMA que passa pelo fim de sua carreira, afastado dos ringues enquanto se recupera de uma lesão séria no ombro. Quando descobre ser pai de um menino autista de 8 anos, ele precisa enfrentar os dois maiores desafios de sua vida: o primeiro é compreender o seu filho e conquistar seu carinho, já o segundo é rever os seus valores e se preparar para a maior luta da carreira, a sua última chance de uma grande volta. Max precisa se preparar emocional e fisicamente para enfrentar os desafios de cuidar do seu filho e se transformar no pai que ele precisa, assim como de dar a volta por cima na sua carreira profissional. Não abandonar os pontos e seguir aprendendo serão os lemas de Max e sua nova família.

Vamos lá, se vocês olharem e lerem novamente o primeiro parágrafo do meu texto em momento algum falei que o diretor José Alvarenga Jr. errou em algo que fez no filme, e repito, ele não errou, pois quando o diretor não está no time de roteiristas, na maioria das vezes ele é apenas contratado para a função e desenvolve o roteiro na tela, e se olharmos outro longa seu com a mesma base de lutas, "10 Segundos Para Vencer", que ele roteirizou e dirigiu, fica claríssimo que ele teve de se virar para que o longa não fosse algo assustador na tela, pois o roteiro de Paulo Cursino em cima do argumento de Marcos Mion (não vamos novamente entrar na briga de plágio ou não) é algo tão raso que não valorizou o esporte, não valorizou lutar por algo maior como a família, e não valorizou o tema autismo, ficando naquele quase isso, quase aquilo, quase aquele outro, e assim nem nas mãos de um Steven Spielberg com um Silvester Stallone de protagonista o filme funcionaria por completo, ou seja, infelizmente o diretor fez o que deu, e ao menos fez como disse no começo algo bonito de acompanhar pelo menos sobre o tema.

Quanto das atuações, volto a frisar que Marcos Mion é um apresentador divertido e um pai que passa muitas lições pessoais em seus perfis com Romeo, e só, como ator no passado era o fanfarrão que divertia no seriado da Sandy e fez algumas participações de bonachão também em outros filmes, séries e novelas, nunca dando muito certo, então por mais incrível que fosse mostrar a causa artista na tela, entregasse para qualquer outro bom ator fazer o papel na tela, pois seu Max Machadada até está com o físico incrivelmente preparado que ele fez dietas e treinos bem regrados, mas não convence na tela lutando, e como pai do garotinho apenas ficou em segundo plano na tela, ou seja, não chamou o filme para si, e falhou no que tentou fazer em cena, o que é uma pena, pois volto a frisar que gosto da pessoa Marcos Mion, o artista, ainda quero vê-lo num reality grande apresentando que dará muito mais conteúdo. O garotinho Guilherme Tavares está em tudo quanto é filme do momento, e já mostrou ser muito bom até em filmes de comédias ruins, salvando com seu jeito inocente e leve de falar, e aqui mesmo não sendo autista conseguiu representar muito bem na tela o papel de Bruno sendo envolvente e bem personificado nos atos que colocou na tela. Andreia Horta foi muito esforçada para que sua Laís tivesse atos bacanas e chamativos na tela, afinal é uma grande atriz e sabe pegar roteiros bem elaborados para desenvolver sua personagem, e aqui ela foi a boa tradução para o público de como agir e se envolver com autistas, que mesmo não sendo a mãe do garotinho conseguiu dominar a presença e entregar boas emoções com o que faz. Ainda tivemos outros atores bons tentando salvar algumas cenas, mas nem um ator do gabarito de Antonio Fagundes dando seus traquejos tradicionais para Fred, e o angolano premiadíssimo Hoji Fortuna passando uma boa vibração de treinador boa pinta conseguiu chamar atenção na tela, que por incrível que pareça recaiu na tentativa cômica de colocar um Welder Rodrigues e Lucio Mauro Filho como comentaristas esportivos sem graça alguma.

No conceito visual a trama até que foi bem trabalhada, tendo uma mansão praticamente aonde mora o protagonista, com seu telão para ver lutas e vídeos, um quarto simples, porém bem arrumadinho para o garoto (cometendo dentro do roteiro como algo funcional a ideia de grandes barulhos com os balões para assustar o garoto), tivemos duas cenas bem intensas de casos que realmente acontecem na loja de jogos com outras crianças provocando o garoto por não conhecerem a síndrome, e o restaurante aonde todos ficam olhando o jovem com seu tablet e o tradicional video que lhe dá conforto, a casa simples da protagonista, o ferro-velho tradicional de um bom boxeador do pai, e claro uma academia simples, mas bem encaixada na proposta, além do tradicional octógono com a luta principal cheia de luzes e tudo mais, mas sem grandes chamarizes para algo além, agora a TVzinha dos anos sabe lá quando no hospital foi uma gafe meio forte demais da ideia da equipe, pois mesmo nos hospitais mais simples do país há TVs LCD e LED mesmo que pequenas.

Enfim, é um filme que quando foi anunciado eu botei muita fé por três simples motivos, Mion conhecer demais a causa autista, o roteirista já ter feito grandiosos filmes para o cinema, e o diretor já ter trabalhado com tramas esportivas, mas a junção infelizmente foi desastrosa ao ponto de eu chamar o longa apenas de bonitinho, e isso não é nada bom, então recomendo ver depois na Disney+ por ser uma produção da Star, mas dá para economizar tranquilamente o ingresso. 


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Lobisomem (Wolf Man)

1/21/2025 01:26:00 AM |

Já tivemos tantos filmes com lobisomens que perdi as contas dos realmente bons que vi, mas dos que foram muito ruins o de hoje certamente ficará na minha memória, pois é lastimável o que tentaram fazer com o longa que estreou na última quinta-feira, de modo que essa versão de "Lobisomem" acaba sendo daquelas que você fica se perguntando o que realmente o diretor desejava fazer com a trama, pois fica a dúvida se ele queria humanizar o personagem, se ele queria colocar alguma lenda indígena do território de Ontário em pauta, ou se simplesmente nem ele aguenta mais tantos filmes dos homens-lobos que resolveu avacalhar de vez com tudo para ver se não fazem mais nenhum (e detalhe, ainda teremos nesse ano o novo "Invocação do Mal" que utilizará o tema!!). Ou seja, só não vou falar que será o pior filme do ano, pois ainda estamos só no vigésimo dia dele, e também por algumas ceninhas de ação serem bem colocadas, mas é até difícil pensar no que vou escrever aqui.

No longa conhecemos Blake, um marido e pai de São Francisco, que herda sua remota casa de infância na zona rural de Oregon depois que seu próprio pai desaparece e é dado como morto. Com seu casamento com sua poderosa esposa, Charlotte em ruínas, Blake convence Charlotte a fazer uma pausa na cidade e visitar a propriedade com sua filha, Ginger. Mas quando a família se aproxima da casa da fazenda na calada da noite, eles são atacados por um animal invisível e, em uma fuga desesperada, se escondem dentro de casa enquanto a criatura ronda o perímetro. À medida que a noite avança, porém, Blake começa a se comportar de maneira estranha, transformando-se em algo irreconhecível, e Charlotte será forçada a decidir se o terror dentro de sua casa é mais letal do que o perigo lá fora.

O diretor e roteirista Leigh Whannell gosta tanto de fazer longas de terror quanto de atuar nos dele e em vários outros, mas ao mesmo tempo que ele é esforçado para que suas obras tenham algum conteúdo extra na tela, ele acaba se primando da base mínima para que um filme de terror funcione, que é assustar ou causar algo no público que está conferindo, principalmente gerando uma tensão durante toda a exibição para que o longa não vire apenas algo jogado ali na tela, e aqui ele se perdeu em tantas coisas, como por exemplo uma relação familiar quebrada, porém fraquíssima que não convence na tela de forma alguma, personagens sem vontade de atuar em cena, cenários simples que não causam impacto na tela, e uma maquiagem que é mais nojenta do que assustadora, ou seja, uma bagunça que o diretor, como falei no começo, queria realmente destruir esse estilo de filme, pois não tem outra explicação.

Quanto das atuações, Christopher Abbott até tentou fazer um Blake interessante com o carinho que tinha com a filha, trabalhou alguns trejeitos bem duvidosos e intrigantes, porém assim que começa sua transformação, dá vontade de falar para o ator voltar para casa que beira algo que nem dá para dizer aqui, de tão ruim e fora de sentido, ou seja, foi bizarro. Julia Garner deveria ter outras propostas melhores que acabou recusando para fazer sua Charlotte, mas quando viu que seu empresário assinou o contrato foi trabalhar a contragosto, pois só assim para uma vencedora de tantos prêmios fazer tantos trejeitos sem vontade (ou melhor, ser inexpressiva) em um único papel, ou seja, nem dá para falar que ela atuou aqui. A jovem Matilda Firth tentou chamar atenção para sua Ginger, sendo expressiva e apavorada em algumas situações, mas não conseguiu sobrepor os personagens principais, e assim ficou bem em segundo plano. Quanto aos demais, nem dá para dizer que tentaram aparecer, então Benedict Hardie com seu Derek e Sam Jaeger como Grady no começo apenas deram trejeitos mais durões e não foram além.

Visualmente a trama começa com o jovem Blake ainda com seu pai em uma das primeiras caçadas na floresta, mostrando uma habilidade até que bem ousada com a espingarda, mas sem grandes nuances de ambiente, apenas uma casinha de fuga de caça, logo depois já vamos para o casal em um apartamento até que bem requintado, uma carta, e logo lá vão eles para a mesma floresta, com um caminhão gigante, que não dura nem 10 minutos em cena, uma destruição e lá vão eles correndo a pé para a casa toda escura, pouquíssimos detalhes de ambiente, um velho rádio que ninguém responde, um celeiro e uma tenda de plástico que aguenta, pasmem 3 pessoas em cima, um carro com uns 20 anos desligado, e uma maquiagem horrorosa, ou seja, o básico bem mal feito, com o lobo enxergando tudo em visões brilhantes, que ninguém saberá de onde o diretor tirou essa ideia!

Enfim, um longa bizarro, muito ruim, fraquinho demais de sustos, com uma cena bem mais ou menos que nos pega desprevenidos, e que não vale a pena gastar o ingresso, então guarde que esse mês ainda temos outras boas estreias para ver. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje bem desapontado de ter saído de casa para ver isso, enquanto poderia ter dado play em outro longa, mas não dá para deixar de ajudar os amigos a fugirem de bombas assim, então abraços e até logo mais.


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12.12: O Dia (서울의 봄) (Seoul-ui bom) (12.12: The Day)

1/20/2025 04:49:00 PM |

Costumo dizer que filmes de tensão militar são daqueles que você não consegue nem piscar para tentar entender os objetivos e as dimensões que tudo aquilo geraram, e o longa que foi o indicado da Coréia do Sul ao Oscar de 2025, "12.12: O Dia", que estreia em breve nos cinemas, traz toda essa pegada bem densa e marcante entre os conflitos dos vários comandos do país naquele que foi um dos golpes militares marcantes e cheios de intensidade que mudaram o quarto para o quinto regime do país. Claro que é daqueles filmes que você até se perde nas conversas e dinâmicas, afinal todos são generais, comandantes e usam mesmo corte de cabelo, roupas e tudo mais, então tem de ficar bem atento a tudo para saber de qual lado cada um está, mas se a bagunça nas conversas foram desse estilo, com conflitos internos, imagino o caos que deva ser numa guerra com os seus vizinhos do Norte, pois o longa retratou sem economizar nas acusações e intensidades de cada personagem do golpe, e daqueles que tentaram defender o comando do país. Ou seja, é um tremendo filmaço biográfico de uma época tensa e marcante na Coréia do Sul, com imposições e traquejos mostrando bem a cadeia do alto comando que dominava o país na época em 1979.

O longa nos mostra que após o assassinato do Presidente Park, a lei marcial é decretada. Um golpe de Estado é liderado pelo Comandante de Segurança da Defesa, Chun Doo-gwang, junto a um grupo de oficiais. O obstinado Comandante da Defesa da Capital, Lee Tae-shin, acredita que o exército não deve agir politicamente e enfrenta Chun para detê-lo. No caos crescente, enquanto líderes militares hesitam e o Ministro da Defesa está desaparecido, o destino da primavera de Seul toma um rumo inesperado.

Diria que o diretor Sung Soo Kim foi bem intenso na escolha que fez para entregar sua trama, pois soube brincar com cada faceta da trama de uma forma simples e direta, colocando quebras de quadro na tela para dividir os momentos mais marcantes, e sabendo usar dos devidos elementos alegóricos acabou ousando em não economizar nos diálogos bem precisos e fortes, ou seja, ele criou os devidos ambientes diretos na tela, criando intensidade e dinâmicas bem colocadas tanto do lado da oposição quanto do governo atual, mostrando que nenhum dos lados estava bem pronto para tudo o que iria ocorrer, mas que os rebeldes foram mais espertos por ter ao menos uma pessoa dentro das diversas lideranças. Sendo assim o diretor criou atos rápidos, fortes e bem precisos para que a criação cênica funcionasse e não precisasse ser tão cheio de elementos, mas ainda assim a entrega foi bem alocada, e o resultado acabou impressionando.

Não vou entrar muito em detalhes das atuações, pois todos foram bem expressivos e marcantes, mas também como disse no começo, a maioria dos personagens são muito parecidos com cortes, roupas e tudo mais, de modo que vale destacar Hwang Jung-min como o articulador de tudo, sendo cheio de olhares e intenções bem marcantes e diretas, aonde seu fechamento no banheiro rindo como um lunático expressou bem tudo o que foi o golpe e o regime. E do lado oposto vale destacar Jung Woo-sung como o comandante de defesa da capital que tentou desarticular tudo, usando suas forças de comando e até mesmo suas próprias forças num ato desesperado, mas que não deu muito certo, mas que o ator soube dominar o estilo de uma forma séria e até impulsiva para que tudo ficasse bem chamativo nos seus atos.

Visualmente o longa foi imponente de diferentes formas, primeiro com muitos personagens e figurinos bem trabalhados tanto para os principais, quanto para diversos figurantes e secundários, sendo notável o não uso de computação gráfica para duplicação, usando muitos atores mesmo, tendo vários atos em salas com diversos atores discutindo, mapas na tela com alguns estilos computacionais de flechas simbolizando os caminhos, fora a quantidade de tanques e armas, aonde vemos muita interação na tela, sob um frio marcante e muita exposição dos ambientes, ou seja, a equipe de arte recriou os grandes atos com uma desenvoltura forte e bem representativa para mostrar tudo o que ocorreu naquela data.

Enfim, é um grande filme, que vale muito a conferida, pois assim como tivemos nosso período da ditadura no nosso país, sabendo bem alguns atos que ocorreram por aqui de formas diferentes na tomada do poder, no longa sul-coreano vemos como o conflito ocorreu com brigas entre os próprios comandos militares, ou seja, algo ainda mais complexo, e que como um amigo falou certa vez, ver a história é bom para que não deixemos que ocorra novamente, então fica a dica de conferida a partir do dia 20/03 quando entra em cartaz nos cinemas. Deixo vocês com meus abraços, mas volto em breve para falar de outros longas.


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Kasa Branca

1/19/2025 07:39:00 PM |

O que mais chama atenção no longa "Kasa Branca" foi ver a sensibilidade que o diretor soube trabalhar com a doença, com a pobreza, e principalmente com o abandono, afinal o jovem protagonista ficou com sua avó com Alzheimer sem que o próprio filho da velha mandasse um oi pelo menos para dar alguma esperança, um dinheiro ou qualquer coisa, e que trabalhando os amigos como a própria família, ajudando da forma que dá e não dá para cuidar da senhora, levar ela para ter seus últimos momentos marcantes e tudo mais, acabamos sentindo toda a essência das comunidades, aonde o crime impera, mas que também a colaboração e o envolvimento entre as pessoas acaba sendo bonito de se ver. Claro que o longa tem muitos detalhes que uns irão gostar e outros irão reclamar muito, e o principal erro do longa foi quase transformar ele numa mini-novela, aonde o trio de protagonistas acaba tendo suas histórias paralelas desenvolvidas longe do tema em si, e isso acaba pecando bastante, porém é daquelas tramas que são tão bem resolvidas, que mesmo tendo essas quebras, o resultado não desfoca, e assim funciona ao final.

O longa acompanha Dé (Big Jaum), morador da periferia de Chatuba, que passa a viver com sua avó Dona Almerinda (Teca Pereira), diagnosticada com Alzheimer e com pouco tempo de vida. Dé, ao lado de seus dois amigos inseparáveis Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco), tenta aproveitar a convivência com a avó da melhor forma.

Diria que em seu primeiro longa metragem, o diretor Luciano Vidigal precisava de um pouco mais de segurança, pois seu roteiro funcionaria muito bem em um curta ou média metragem, mas quando foi expandido para ter a duração maior acabou saindo um pouco demais nos trilhos, pois ao dar dinâmicas para os coadjuvantes também, muita coisa acaba parecendo não fazer tanta parte do filme, e isso pega demais, ao ponto que não precisaríamos saber tanto da vida dos demais jovens, apenas servindo para mostrar que o protagonista não está tão envolto de amores e nos rolês fora do que envolva sua avó. Ou seja, talvez a mesma história centrada com diríamos uns 40 minutos a menos ficaria perfeita, mas sem tirar esse "excesso" o resultado não é ruim, apenas ficaria mais encaixado como uma novela rápida em um único capítulo, que ainda mostra uma concisão funcional e interessante, tanto que levou muitos prêmios por onde passou.

Quanto das atuações posso afirmar que o diretor fez um excelente trabalho com os jovens, ao ponto que conhecemos bem os secundários que aparecem de outras produções, mas o trio de jovens protagonistas entregou uma química tão bem colocada que acaba surpreendendo em todos seus atos, que mesmo como reclamei acima do longa ter recaído para o estilo novelesco, eles fizeram seus atos funcionais e muito bem trabalhados. Ou seja, Big Jaum é o principal dentre todos, sendo a emoção e a razão, tendo o envolvimento e o cuidado com a avó algo como seu Dé fosse extremamente preparado para aquilo, sendo realmente grande em todos os sentidos da expressão e passando muita sintonia nos olhares que faz. Diego Francisco e Ramon Francisco brincaram e se expuseram bem com cenas mais rápidas com outras mulheres, mas em momento algum vemos seus Adrianim e Martins saírem da base familiar com o amigo, apoiando ele, ajudando com dinheiro, com remédios do jeito que conseguem, e até levando o jovem para algumas frias para realizar alguns sonhos, imaginados por eles, da senhorinha, ou seja, foram bem no que fizeram. Ainda é claro que vale o destaque para Teca Pereira que se arriscou ser carregada pelos jovens no colo, na cadeira em ladeiras, e claro fazendo trejeitos de dor de uma forma apática, mas incrivelmente perfeita para o que o papel pedia.

Visualmente a trama trabalhou alguns momentos dentro da casa simples do jovem e da avó, um pouco da comunidade aonde vivem, a laje da casa do amigo com seu ofurô/caixa d'água, o parque aonde a senhora tirou uma foto no passado, o morro com vista para a cidade inteira, uma farmácia simples, e claro o famoso baile com DJ e cantor, tendo claro momentos chaves com a cadeira da senhorinha sempre parando para ver o trem passar, e outros elementos cênicos simples, mas bem colocados aonde a equipe de arte não onerou o orçamento e agradou sendo tudo bem simbólico.

Enfim, é um longa bonito e interessante pela discussão de quem acaba cuidando dos mais velhos no final da vida, aonde a doença chega e não tem mais quem apoiar, que discute um pouco da doença, mas que pecou em alguns detalhes como já disse no quesito novelesco, que não chega a ser algo que incomode pela essência da trama aonde vemos as diferenças entre as vidas dos amigos do rapaz, mas que dava para limpar e ficar bem melhor, isso é inegável. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje agradecendo os amigos da Sinny Assessoria e da Vitrine Filmes pela cabine, e depois me falem o que acharam do longa quando ele entrar em cartaz no próximo dia 23/01, então abraços e até logo mais.


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