A Semente do Fruto Sagrado (Dâne-ye anjîr-e ma'âbed) (The Seed of the Sacred Fig)

1/08/2025 01:34:00 AM |

Simplesmente chocado com o que vi na tela hoje! Não existe outra expressão para descrever o impacto do longa franco-alemão, "A Semente do Fruto Sagrado", que tem sido a indicação da Alemanha nas diversas premiações, pois é daqueles filmes tão crus, com um tema tão em voga, mas que entregue de maneira sincera brinca com o lado fictício ao mesmo tempo que mostra a realidade no Oriente Médio aonde os conflitos entre religião, rituais e a modernidade se chocam de uma forma que nem mesmo dentro da própria casa as pessoas conseguem se entender. Ou seja, é daqueles filmes que você vai assistir, começará achar tudo meio estranho, com um estilo não muito convencional, mas que vai se abrindo e entregando cada coisa mais imponente que a outra, que quando você vê está envolvidíssimo já esperando por um final também fora dos padrões, mas que aconteceria em qualquer língua ou país que o longa fosse feito, porém que amarra tão bem os 167 minutos que você não conseguirá parar de assistir se for ver em casa quando chegar aos streamings/locações, ou desesperado para acabar no cinema para ir ao banheiro, pois não tem como fugir de tudo. E por incrível que pareça, fiquei pensando se achava algum defeito para colocar, mas não consegui, no máximo uma leve reclamação para as cenas reais em formato pequeno de gravações de celulares, mas funciona para a ideia da trama, então vou falar mais dele abaixo, mas a nota todos já sabem de antemão.

A sinopse nos conta que recém-promovido a juiz de instrução, Iman luta contra a paranoia e o esgotamento mental em meio à agitação política em Teerã causada pela morte de uma jovem. Quando sua arma desaparece, ele suspeita de sua esposa e suas filhas, impondo medidas severas que desgastam os laços familiares.

Diria que o diretor e roteirista Mohammad Rasoulof foi tão ousado com sua proposta que nem sei se conseguirá voltar para o Irã com toda a crítica social que colocou em seu filme, pois a proposta é daquelas que vai contra não apenas a tradição religiosa do país, mas sim a posição política e até policial de lá, ousando dizer coisas que já pelo trailer impactam, e que no filme se desenvolve de uma forma ainda maior, mas que para quem conferir verá algo gigantesco e importante a ser discutido, afinal o mundo mudou, e hoje tradições culturais foram renovadas, de forma que claro não vamos virar tudo de ponta cabeça, mas certas mentalidades devem ser discutidas, e a proposta do diretor foi bem essa, só que apontando o dedo na cara. Ou seja, vemos na trama algo que fascina pela essência, que mesmo sendo longuíssimo não cansa, e principalmente, que funciona na tela, pois não ficou aquele marasmo arrastado que vemos em muitos longas do país, sendo um grande diferencial que tem feito o longa e o diretor a levar vários prêmios mundo afora, claro não como sendo de seu país o Irã, o qual já está sentenciado de prisão, mas sim pela Alemanha. 

Quanto das atuações, é algo que chega a ser difícil imaginar como alguém de fora do país conseguiria passar toda a síntese que vemos no longa, e certamente os atores correram e correrão grandes riscos após terem feito o longa, mas é inegável que o protagonista Missagh Zareh entregou tanta personalidade para seu Iman que sustentou sua paranoia de maneira incrível na tela, ao ponto de que nós também ficássemos paranoicos junto com ele, e isso é uma qualidade de atuação tão precisa que o diretor nem precisou pirar nas cenas, fazendo com que o protagonista chamasse tudo para si e agradasse demais nas suas cenas. Outra que foi muito ousada na entrega foi Soheila Golestani com sua Najmeh no melhor estilo de mãe preocupada com as filhas, mas também cedendo muito ao marido, trabalhando seus trejeitos de uma forma tão suave que mesmo os atos mais explosivos conseguiu dosar a intensidade na tela e agradou com leveza, ou seja, foi precisa e agradou muito. As jovens Setareh Maleki e Mahsa Rostami foram também bem expressivas com sua Sana e Rezvan, tendo a primeira se destacado mais nos atos finais e a segunda segurando todo o miolo da trama, mas sendo diretas e passando muita verdade e realidade nas suas entregas, o que acabou agradando bastante. Quanto aos demais, a maioria deu boas conexões para os personagens em atos mais simples, tirando claro o destaque para a jovem Niousha Akhshi com a cena fortíssima visualmente de sua Sadaf.

Visualmente a trama é interessante por brincar com o tribunal de justiça do país com vários bonecos de papelão parecendo pessoas nas portas, mas passando por trás vários acusados vendados e acorrentados, o refeitório no meio de tudo acontecendo, vemos o apartamento simples da família que acaba sendo revirado para procurar a arma, os detalhes das comidas e da submissão da esposa em fazer tudo para o marido, a roupa como presente, o feitio da barba e do cabelo, e claro toda a discussão do hijab, fora toda a perseguição dos carros nas ruas e na estrada, e o fechamento numa casa isolada nas montanhas quase como uma prisão literalmente e também com o labirinto cênico das ruínas sendo incrível para a cena final. E um detalhe que brinca com a modernidade é a presença do famoso refrigerante em quase todas as refeições.

Enfim, é um filme que estava muito curioso já pelo pôster e pela sinopse, mas estava com muito medo de ser algo lento e cansativo, principalmente pela duração gigante para um filme dramático, mas podem conferir sem medo algum, que vai passar voando na tela, e quando você menos esperar já estará grudado esperando o final que fica evidente do miolo para frente. Então fica a dica para conferida nos cinemas a partir de quinta dia 09/01 quando ele estreia, afinal é um possível longa que se tirar a premiação nossa no Oscar ou no Critics não ficaria desapontado, e eu fico por aqui hoje agradecendo demais o pessoal da Mares Filmes pela oportunidade de conferir a cabine de imprensa, então abraços e até amanhã com mais textos.




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Amazon Prime Video - Meu Eu Do Futuro (My Old Ass)

1/07/2025 12:40:00 AM |

Muitas vezes quando saio caçando um longa para ver nos streamings me pego pensando o que esse que dei play me chamou mais atenção do que o outro que acabei deixando por lá, e que muitas vezes acabarei nem vendo ele com outros que vão chegando, tanto que o longa "Meu Eu Do Futuro" entrou em cartaz na Amazon Prime Video no dia 07 de novembro do ano passado, e desde então marquei para ficar na lista e nem pensava em dar play nele, até hoje ver que está indicado a dois prêmios no Critics Choice (Melhor Comédia e Melhor Ator Jovem) que irá acontecer no próximo domingo, e o resultado foi uma trama gostosa, leve, cheia de boas sacadas e lições, além de ter uma pegada emocionante pela essência em si, ou seja valeu muito o play. Então fica a dica, não é por ser um nome estranho que o longa vai ser estranho também, e que muitas vezes um filme perdido na lista pode salvar a noite de filmes, mas ainda assim vamos continuar aleatoriamente escolhendo sabe-se lá por quais motivos os filmes para dar play.

O longa nos conta que Elliott Labrant, uma jovem de espírito livre, está celebrando seu 18º aniversário quando uma viagem de cogumelos a coloca em uma situação surreal: ela se encontra com seu eu de 39 anos. A versão mais velha de Elliott a aconselha a não se apaixonar, alertando sobre as consequências desse sentimento no futuro. Inicialmente, Elliott acredita que pode ignorar o conselho e continuar sua vida normalmente. No entanto, ao conhecer o rapaz que sua versão mais velha mencionou, ela começa a questionar suas escolhas e o futuro que imaginava. As advertências de sua versão mais madura fazem com que ela repense tudo o que acreditava saber sobre amor, família e sua própria identidade. Em meio a um verão que se revela transformador, Elliott é forçada a reconsiderar seu caminho e as decisões que moldarão seu destino.

Se quase 3 anos atrás falei que a diretora e roteirista Megan Park iria melhorar ainda mais seu estilo, hoje vi que não estava errado e posso continuar acreditando que vai sempre escolher bons estilos para imprimir suas opiniões na tela, de modo que aqui ela foi bem ousada com um roteiro politicamente incorreto, cheio de traquejos que muitos irão julgar e reclamar, mas que no desenvolvimento geral acaba fluindo tão bem com as reviravoltas, que até acabam não incomodando, de modo que algo que parecia ir para algo mais explosivo se verte para situações romantizadas e brinca com ambas as facetas para que o longa jogue para o público a forma que deseja enxergar. Ou seja, o ar cômico não fica preso o tempo inteiro para algo cheio de esquetes como aparenta ser logo no começo, mas ao fluir de forma mais aberta, o resultado acaba divertindo com sutilezas bem encaixadas para algo a mais de se pensar, afinal se o seu eu do futuro viesse lhe dar alguns conselhos, você seguiria ou deixaria tudo rolar? E é bem isso que a diretora deixa claro na sua escolha técnica para seu filme.

Quanto das atuações, a jovem Maisy Stella fez uma brilhante estreia com sua Elliott, de modo que se jogou por completo, brincou com todas as facetas possíveis, beijou muito, se pegou e tudo mais com olhares e trejeitos tão convincentes que parecia estar ultra feliz com o que tinha de fazer em cena, tanto que está concorrendo ao Critics como Melhor Atriz Jovem, e mesmo que não ganhe, é um nome para ficarmos de olho futuramente, pois é bonita, tem talento e estilo, e isso se for bem aproveitado acaba melhorando ainda mais. Até achei que a diretora fosse utilizar mais Aubrey Plaza como a versão de 39 anos da protagonista, mas acabou aparecendo apenas em dois ou três momentos e depois utilizaram apenas sua voz ao telefone, de forma que até trabalhou alguns olhares e dinâmicas bem densas ao final que mostrou o motivo da atriz ser um dos grandes nomes da atuação atual. O jovem Percy Hynes White até foi bem gracioso com seu Chad, tendo uma conexão bem bacana com a protagonista, mas pareceu meio duro, como se tivesse tímido para a câmera, de tal forma que dá vontade de falar prele atacar, mas acredito que isso foi um ponto do personagem, senão teriam mudado o ator com toda certeza. Ainda tivemos outros personagens para dar conexão na história, porém sem grandes chamarizes, valendo apenas alguns envolvimentos de Maria Dizzia como a mãe da garota e Seth Isaac Johnson como o irmão dela, mas não tendo nada que impactasse realmente.

Visualmente a trama teve boas locações em uma cidade na beira de um rio/lago aonde as garotas ficam andando de barcos e parando em deques, indo acampar em uma ilha, usando algumas drogas e viajando com toda a loucura, tivemos atos bem encaixados, porém bem rápidos na plantação de cranberry do pai da garota, e mostrando também uma casa bem decorada, mas simples dentro do estilo, com destaque pela afixação do irmão menor por Saoirse Ronan.

Enfim, é uma trama que realmente não dei nada pelo pôster e pela sinopse, mas que ao dar uma chance de conferida acabei gostando até mais do que pensava, sendo um filme interessante, com uma proposta bem colocada e lições para refletirmos com toda a loucura do roteiro. Então fica a dica para conferirem, e eu fico por aqui hoje, mas amanhã venho com mais um longa que tem aparecido bastante nas premiações, então abraços e até logo mais.


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Mubi - A Besta (La Bête) (The Beast)

1/05/2025 09:21:00 PM |

Demorei um certo tempo para começar a escrever do filme "A Besta", que pode ser conferido dentro da plataforma MUBI, pois diria que fui enganado com muito sucesso pela sinopse interessante do longa, afinal parecia ser algo meio revolucionário, cheio de nuances e dinâmicas, misturando passado, presente e futuro, mas é algo tão lento e confuso que ao acabar a trama fiquei pensando realmente qual era a essência que deveria ter enxergado durante os 146 minutos de exibição. Claro tem toda uma certa crítica social em cima das inteligências artificiais, em cima das gravações falsas com os famosos fundos em chromakey, sobre a falta de sensibilidade nas interações das pessoas com esse modo mais seco, mas ao final fiquei pensando se era necessário algo tão alongado, tão cheio de diálogos sintéticos e tudo mais, para um filme morno e sem explosões ou explicações maiores, e a resposta que me vem é que provavelmente na mente do diretor tinha um algo a mais, só que ao desenvolver acabou se perdendo por completo resultando na coisa morna que vemos na tela.

O longa nos mostra que em um futuro próximo onde as emoções se tornaram uma ameaça, Gabrielle finalmente consegue "purificar" seu DNA em uma máquina que a conecta a vidas passadas, eliminando quaisquer sentimentos fortes. O ano é 2044 e a espécie humana foi substituída por inteligências artificiais que assumiram a maior parte das tarefas e empregos. Durante o processo de purificação, Gabrielle encontra Louis e sente uma conexão poderosa, como se o conhecesse desde sempre. Um melodrama que se desenrola em três períodos distintos, 1910, 2014 e 2044.

O diretor e roteirista Bertrand Bonello até trabalhou seu longa de um modo efetivo interessante de ver, conseguiu criar uma produção mista de época e "futurística" sem precisar ousar, mas como disse acima se perdeu por completo ao desenvolver a história, de modo que ao final você acaba ficando sem saber exatamente o que ele queria mostrar a mais com toda essa loucura. Claro que um ponto também negativo da produção é a lentidão de tudo na tela, pois a trama de quase duas horas e meia parece ser muito maior pelo ritmo quase sem cadência, ao ponto que ficou faltando dar uma densidade mais intensa e chamativa, apresentar mais quais foram os problemas que a garota viveu em 2025 no mundo (para pensarmos no que veremos nesse ano), e tudo mais. Ou seja, é daqueles filmes arrastados que falta mais explicação na tela do que realmente aconteceu, que talvez no roteiro até fique melhor de entender, mas que não sendo mostrado o resultado acaba ficando falso demais para conectar o público, e assim frouxo demais para empolgar.

Quanto das atuações, gosto muito do estilo de Léa Seydoux, e aqui sua Gabrielle foi cheia de estilo e desenvoltura tanto falando em inglês quanto em francês, sendo bem clássica em 1910 e tensa demais em 2044, ao ponto de parecer até duas mulheres completamente diferentes, o que acaba sendo interessante de ver, de tal forma que no que dependesse dela, o longa iria bem longe. Da mesma forma George MacKay trabalhou seu Louis com muita entrega, sendo meio até maníaco de estilo, mas que tendo uma boa personalidade acaba chamando muita atenção na tela, ao ponto que talvez pudessem ter dado para ele melhores diálogos, mas não incomodou com o que fez. Por incrível que pareça, o longa até tem mais personagens, mas ficaram tão em segundo plano que nem se dão ao trabalho de querer aparecer, e assim o resultado foca mesmo só nos dois protagonistas.

Visualmente a equipe de arte gastou bastante, pois trabalhar três épocas bem diferentes fez o orçamento ir lá para a estratosfera, de modo que vemos a classe das festas do passado, com roupas luxuosas e toda uma dinâmica imponente dos ambientes, exposições e tudo mais, no presente vemos o medo de terremotos, casas cheias de câmeras e festas das antigas, e no futuro tudo sendo gravado com paredes verdes de chromakey, banhos de gosma preta e situações bem irreais através claro de realidades virtuais, ou seja, a equipe de arte brincou bastante com tudo, mas ainda que seja uma praga, não consegui enxergar uma besta em um pombo, então ficou meio falso nesse sentido, mesmo tendo a história da morte quando aparece.

Enfim, é um filme que ficou mediano demais, que talvez alguns enxergue algo além nas suas reflexões, mas que não consegui captar isso, e dessa forma acabo nem recomendando muito ele para outras pessoas, pois o resultado é mais estranho do que inteligente, e isso peca na entrega final. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, afinal tem Globo de Ouro mais tarde na TV, então abraços e até logo mais.


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Nosferatu

1/04/2025 02:43:00 AM |

Um dos poucos longas clássicos que lembro de ser estranho, mas ter se interessado é "Nosferatu" (1922), de modo que fiquei curioso quando falaram que teria uma refilmagem mais moderna, pois é algo de época que não funcionaria se tirassem o ar estranho da trama, mas quando vi que o diretor seria Robert Eggers, que desconheço um longa normal seu, já fiquei mais tranquilo, pois certamente viria toda a estranheza na essência e que facilmente causaria muito impacto visual. Dito e feito! Hoje ao conferir o longa vi toda a densidade gótica da produção nos ambientes, nas tonalidades da fotografia, e até mesmo no contexto de época brincando com pragas (que o diretor completamente maluco não quis computação!) e fazendo assim uma trama que impactasse no público atual, que para meu espanto lotou uma sessão das 22hs para conferir o longa legendado, ou seja, é só fazer filme bom que o povo vai conferir. Claro que poderia ser muito melhor colocando mais cenas com sangue, pois relevaram bem para uma trama com vampiros, tendo apenas uma cena forte realmente com o pombo, poderia ser uns 20 a 30 minutos menor que ainda teria a mesma densidade, e talvez causar mais com as expressões dos protagonistas, pois pareciam felizes em morrer, mas tudo isso é opinião crítica, pois de modo geral o longa não decepciona o original e certamente fará com que muitos procurem por ele para conferir (que vou ser bonzinho e deixar o link) e comparar. 

A história se passa nos anos de 1800 na Alemanha e acompanha o rico e misterioso Conde Orlok na busca por um novo lar. O vendedor de imóveis Thomas Hutter fica responsável por conduzir os negócios de Orlok e, então, viaja para as montanhas da Transilvânia para prosseguir com as burocracias da nova propriedade do nobre. O que Thomas não esperava era encontrar o mal encarnado. Todos ao seu redor lhe indicam abandonar suas viagens, enquanto, longe dali, Ellen é continuamente perturbada por sonhos assustadores que se conectam com o suposto homem que Thomas encontrará e que vive sozinho num castelo em ruínas nos Cárpatos. A estranha relação entre Ellen e a criatura a fará sucumbir a algo sombrio e tenebroso.

Posso dizer sem sombra de dúvidas que não sou nenhum fã do diretor Robert Eggers, tanto que tirando "O Homem do Norte" que pra mim é sua melhor obra, os demais filmes tirando a tensão e o contexto visual acho todos superestimados, mas justamente por esses motivos que ele é muito bom, e pela temática do filme precisar ser superestimada, com toda certeza ele era a melhor opção para adaptar o roteiro tanto da versão de 1922 quanto do livro de Bram Stoker para algo seu realmente, aonde não víssemos nenhuma das duas obras na tela, muito menos as outras trágicas tentativas de fazer homenagens que tivemos nesses 103 anos. Ou seja, a estranheza do diretor combinava com o que a produção pedia, e ele honrou isso, pois é daqueles filmes que ou você vai amar ou odiar o que verá na tela, mas ainda assim vai se lembrar daqui muitos anos se alguém perguntar uma trama clássica de vampiro, irá falar aquele com um estilo meio acinzentado, com um bichão estranho com voz estranha numa cidade estranha, aonde a mulher está surtada pelo bichão, e assim já faz valer o nome.

Quanto das atuações, já sendo direto tenho pena do Bill Skarsgård, pois praticamente não arrumam um papel legal para ele fazer sem colocar cinco toneladas de maquiagem, e mesmo nos filmes que trabalhou de cara limpa, tem lá cortes, ou alguma coisa para que ele não seja normal, mas inegavelmente o cara é fera no que faz, pois encontrou um tom de voz perfeito para o papel e seus movimentos mesmo que aparecendo pouco na tela conseguem causar tensão, ou seja, fez um Conde Orlok com primor na tela. Nicholas Hoult trabalhou seu Thomas com uma personalidade meio que espantada demais, tudo com um ar muito excessivo, de modo que quando possuído pelo vampiro pareceu um bebê chorão se borrando, e quando vai enfrentar na cidade é todo valentão explosivo, ou seja, poderia ter encontrado um meio termo para convencer melhor, mas é seu estilo, então fez o que sabe. Nos primeiros atos me senti incomodado com a atuação de Lily-Rose Depp para sua Ellen, ao ponto que já estava quase me convencendo que Kristen Stewart fez uma boa atuação nos filmes vampirescos que é melhor nem citar, mas quando põe pra valer tudo no miolo, a atriz se jogou e mostrou atitude e chamou atenção, ou seja, conseguiu melhorar durante o longa e agradou. Ainda tivemos outros bons atores, com claro destaque para Willem Dafoe com seu expansivo e cheio de ideias malucas Prof. Von Franz, Ralph Ineson bem colocado como Dr. Siever, e até Aaron Taylor-Johnson irreconhecível com seu Friederich Harding, mas sem dúvida quem se jogou no personagem sem medo do estranho e valeria até mais cenas foi Simon McBurney com seu Knock completamente surtado e devoto ao bichão.

Visualmente venho aqui aplaudir o que vi na tela, pois está lindo, ao ponto que em diversos atos que foram feitos para a tela Imax (é notável ficar meio quadrado na tela), o cenário fica do chão até o teto para que você deslumbre olhando tudo aquilo, mostrando que o diretor não quis enfiar seu elenco numa tela verde e seja feliz, mas foi para castelos gigantes no meio do nada, para vilas que ainda se mantiveram com ambientações góticas, pegou e alugou uma tonelada de ratos para que ficassem correndo no meio dos protagonistas e figurantes (e aí de quem saísse gritando, tinha de atuar de forma plena), caprichou nos figurinos e falou para o diretor de fotografia: "se vira com a iluminação, mas quero o mínimo de luz em tudo, e tudo tem de aparecer!", ou seja, é daquelas obras que quem gosta de uma boa produção vai se apaixonar e é capaz até de esquecer a história que está vendo ali, mas que se comprassem alguns litros a mais de sangue artificial ficaria perfeito, faltando apenas isso para assinar maravilhoso.

Enfim, gostei mais do que imaginava que gostaria, mas também reclamei mais do que achei que reclamaria da obra, sendo algo que como disse acima lembrarei bastante do que vi na tela, mas que faltou detalhes para a perfeição, e isso pesa numa produção desse tamanho, então digo que vale a conferida pela essência inteira, se você for fã de clássicos do terror, e que não vai esperando se assustar ou se impressionar com o que verá na tela, pois não é esse o estilo aqui, mas que recomendo por todo o demais que falei acima. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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Netflix - Wallace & Gromit: Avengança (Wallace & Gromit: Vengeance Most Fowl)

1/03/2025 10:04:00 PM |

Se eu falar que lembro do último filme de Wallace & Gromit vou estar mentindo na cara dura, pois não lembro de absolutamente nada, e para piorar até misturei as histórias achando que fosse o filme das ovelhinhas (que depois de pesquisar vi que era "Shaun, o Carneiro" que concorreu ao Oscar em 2021), mas também queria forçar demais minha cabeça, já que o último longa do inventor e seu cachorro foi em 2005, ou seja, nem em sonho lembraria de algo, mas o que importa é que todos são da Aardman que não falha nunca com a entrega de seus personagens em massinhas, como conhecemos o famoso stop-motion clássico. Dito tudo isso, a Netflix conseguiu fazer um grande lobby para "Wallace & Gromit: Avengança", e assim sendo já está cotada para praticamente todas as premiações mundiais, e não apenas pela promoção em si, mas sim por o longa ser bem divertido, cheio de sacadas, e principalmente pela qualidade técnica das animações, colocando em cheque se realmente fizeram tudo com a técnica ou se usaram computação gráfica para nos enganar, pois está perfeito demais as movimentações, os ambientes e tudo mais na tela, ou seja, é daqueles longas aonde você quase esquece que a história é bobinha e acaba se divertindo e impressionando com cada detalhe, e claro com cada boa sacada do roteiro, então se não fosse um ano tão concorrido nas categorias animadas, a briga iria ficar bem boa, pois é daqueles longas que realmente vale o play para toda a família.

A sinopse nos conta que Gromit está preocupado com a dependência excessiva de Wallace de suas invenções, e suas preocupações se justificam quando Wallace cria um "gnomo inteligente" que parece ter vida própria. No entanto, as coisas tomam um rumo sinistro quando uma figura vingativa do passado surge, ameaçando a segurança de Wallace e sua capacidade de inventar. Gromit precisa usar sua inteligência e coragem para lutar contra as forças malignas e salvar seu mestre.

Diria que os diretores Nick Park (criador dos personagens) e Merlin Crossingham (que foi responsável pelos vários jogos de videogame da franquia do inventor e seu cachorro) foram muito inteligentes com a criação da trama, pois o filme poderia ficar excessivamente bobo ao ponto de ninguém entrar no clima e até mesmo entender quem são os personagens, afinal volto a frisar que 17 anos é tempo a beça para se lembrar de detalhes, mas passados alguns minutos e a breve abertura, esquecemos disso e já nos familiarizamos com tudo o que vai ser entregue, ao ponto de claro torcer para o cãozinho e se inconformar com algumas loucuras de seu dono, e claro, do gnomo insano. Ou seja, é daqueles filmes que você enxerga o trabalho da direção, e que contando com uma desenvoltura sólida acaba funcionando e empolgando com toda a entrega de personalidade e aventura disposta pelos bonequinhos, sejam eles principais ou não.

E já que comecei a falar dos personagens, é inegável a qualidade de tudo o que nos é proporcionado por cada um na tela, tanto que hoje optei pela versão legendada e ri muito dos nomes e dos sotaques criados, ao ponto que o inventor Wallace mesmo sendo um sem noção total acaba soando agradável na tela, brincando muito com seu jeitão e com seus sonhos e invenções. O cachorrinho Gromit acaba sendo um lorde de carisma e paciência com tudo que ocorre ao seu redor, brincando com as facetas e claro com sua desenvoltura. O pinguim mesmo sendo um criminoso e mudo, entrega grandes sacadas e com uma inteligência fora do normal acaba sendo intenso e bem trabalhado nos seus atos. Ainda tivemos outros bons personagens secundários, mãe vale claro o destaque para o gnomo Norbot completamente ligado no 220V e com um traquejo na voz que acaba divertindo mesmo no modo "malvado", e ainda pontuaria a repórter Nasua Porta cheia de piadas duplas.

Visualmente fiquei com muita dúvida se o longa foi inteiro feito em stop-motion, pois tudo é tão realista e bem desenvolvido com movimentos e ambientes tão bem coloridos e com ótimas texturas que acabei achando que usaram uma boa quantidade de computação gráfica. Ou seja, vemos invenções e traquitanas das mais malucas possíveis, toda uma jardinagem insana e bem quadrada, e muitos bons personagens desenhados e formatados na tela.

Enfim, é daquelas animações que entretém desde os menorzinhos com os personagens bobinhos e muitas cores, quanto os maiores pelas sacadas e piadas duplas, valendo então para a conferida em família dentro da plataforma, e que se ganhar alguma premiação não será mera coincidência, pois funciona demais. Então fica a dica, e eu fico por aqui agora, voltando mais tarde com mais um texto, então abraços e até logo mais.


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Netflix - The Caine Mutiny Court-Martial

1/03/2025 12:42:00 AM |

Já disse algumas vezes aqui, e se você quer me agradar me indique filmes com a temática de julgamento, pois se bem feito acaba virando discussões tão bem trabalhadas entre defesa e acusação que acabo virando um torcedor praticamente! E um filme que estava meio que escondido dentro da plataforma da Netflix é "The Caine Mutiny Court-Martial", que nem foi traduzido o título, mas que traz uma adaptação da peça teatral de 1954 com uma pegada atualizada e ótimas atuações do elenco preciso, aonde vemos um advogado designado para a defesa de um rapaz, que está ali meio que a contragosto, mas que sendo um bom defensor irá fazer até coisas que vão contra seus princípios para que o jovem seja absolvido. O longa tem uma pegada direta bem trabalhada, sem enfeites ou cenas montadas, tendo apenas o tribunal e os personagens ali em cena, sem plateias e tudo bem simples, aonde os diálogos fazem o papel de tudo, aonde muitos termos não vamos entender (afinal não sou nenhum especialista em coisas da Marinha, e acredito que a maioria que me lê também!), mas que impacta e agrada bastante quem gosta do estilo.

A sinopse também é bem simples e nos conta que a história de um oficial da Marinha que é julgado por motim após assumir o comando de um capitão de navio que, segundo ele, estava agindo de forma instável, colocando o navio e sua tripulação em perigo.

A maioria conheceu o diretor William Friedkin pelo longa "O Exorcista" de 1973, e claro seus diversos outros longas de terror bem imponentes e também algumas outras boas obras de ação, de tal forma que me surpreendi ao ver nos créditos que esse filme mais fechado era dele, e mais ainda que foi seu último longa filmado antes de sua morte em Outubro/2023, ou seja, ele soube trabalhar toda a densidade dos personagens nessa que foi sua adaptação no roteiro da peça de Herman Wouk, aonde já não tendo mais toda sua mobilidade conseguiu desenvolver bem o estilo de julgamento e preparar cada ator para que ampliasse aquele pequeno espaço com todas as histórias e questionamentos, mostrando que advogados atuam muito e sabendo como se portar para as testemunhas e para o júri, o resultado tende a mudar.

Quanto das atuações, Kiefer Sutherland deu seu nome para a produção, pois mesmo não sendo o protagonista do longa, conseguiu se sobressair de uma maneira tão primorosa, com trejeitos, traquejos e até TOCs para que seu Queeg fosse intenso e controverso, que num primeiro momento você até chega a acreditar nele, mas quando retorna como testemunha da defesa e o advogado o pressiona, o ator joga todas as câmeras para si, e explode. Jason Clarke também soube entregar um advogado de defesa primoroso para seu Greenwald, sabendo exatamente aonde desejava chegar e sem forçar as dinâmicas, sendo preciso e direto seja nas cenas dentro do tribunal, quanto na única cena fora do ambiente, aonde executa uma manobra muito melhor do que certamente qualquer piloto de sua patente. Monica Raymund trabalhou sua promotora Challee com muita direção e explosão, mas sentiu a tacada do advogado com muita força ao ponto de perder o controle, e isso é algo que não se deve demonstrar e a maioria desse ramo engana bem, então faltou um pouco de traquejo nesse sentido. Ainda tivemos muitos outros bons personagens em cena, mas o destaque fica claro para Lewis Pullman com seu Keefer pela desenvoltura da entrega nos atos finais, e claro pelo também Lance Reddick, que nos deixou em 2023, mas que aqui entregou um juiz de imponência e muita postura para receber tudo o que jogaram para ele.

Visualmente é um filme bem básico, afinal a trama se passa em um tribunal da corte marcial da Marinha, aonde só temos a bancada aonde estão os juízes e assistentes, de um lado o réu com seu advogado, do outro lado a promotoria, e no centro um tablado com uma poltrona aonde as testemunhas vão para falar, tendo até um fundo bonito e chamativo, todos com os devidos uniformes de patentes e tudo mais, e apenas no final uma festa simples com um bolo e vários soldados junto, ou seja, mais básico que isso só uma peça sem nada apenas com os personagens.

Enfim, não sei precisar a data de lançamento do longa, e por incrível que pareça vi a indicação em algum grupo que sigo (não vou lembrar o nome infelizmente para agradecer, já que sigo vários!) aonde mostraram vários filmes escondidos nas plataformas, e esse era um dos que não tinha visto e acabou sendo uma grata surpresa com a entrega, então não esperem muitas firulas na tela, mas que sendo bem básico funciona e agrada bastante quem curte o estilo de longas de julgamentos. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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Netflix - Número 24 (Nr. 24) (No. 24)

1/01/2025 09:51:00 PM |

Diz a lenda que o que faz no primeiro dia do ano se repete ao longo dele, então é claro que já fui dar play num filme que parecia bem interessante e felizmente não errei o faro, de modo que ainda seguimos com a onda de filmes da ocupação nazista mundo afora, aonde agora nos é mostrado como foi o processo da Resistência na Noruega, com uma entrega bem forte e cheia de nuances, aonde o protagonista já bem velho está dando uma de suas muitas palestras sobre a época que virou líder dos processos de sabotagem no país. Ou seja, o filme da Netflix, "Número 24", traz com muita personalidade a vida de Gunnar Sønsteby que seguindo princípios bem determinados por ele na época conseguiu sobreviver e ajudar que a Noruega não fosse mais ocupada do que foi pelos alemães, tendo impacto com seus amigos, parentes e conhecidos. Claro que talvez com cenas mais impactantes o resultado chamaria mais atenção, mas ainda assim o que acaba sendo mostrado funciona bem, principalmente pelo conteúdo de época em toda a cenografia dramática.

A sinopse nos conta que o jovem aprendiz Gunnar Sønsteby de Rjukan decide resistir à Alemanha nazista no dia da invasão para mais tarde se tornar o líder da "gangue de Oslo", realizando inúmeros atos ousados de sabotagem, tornando-se o maior herói de guerra da Noruega.

Por incrível que pareça já conferi outros filmes do diretor norueguês John Andreas Andersen, ao ponto que posso dizer que conheço seu estilo de grandiosas produções aonde consiga fazer com que o público se conecte bem com o personagem principal e a história se desenvolva bem ao redor dele, e dessa forma aqui ele começou o longa com uma forma ousada de palestra com a tela menor que a princípio até imaginei que fosse o verdadeiro Gunnar contando sua história ali, mas ao final nos é contado que morreu em 2012, ou seja, o ator que fez o velho palestrando fez uma entrega tão precisa da história que convence como se aquilo que fala fosse algo que realmente vivenciou, e que claro o diretor nos mostra com as imagens acontecendo. Ou seja, é um filme forte e com um ar sentimental próprio para mostrar princípios, mesmo dentro de um grupo que alguns talvez até chamem de terroristas, mas que fizeram pelo país muito mais que outros que aceitaram a ocupação nazista e até apoiavam o regime.

E já que comecei falando do velho Gunnar que foi muito bem nos seus atos, vamos dar o mérito para Erik Hivju, que palestrando foi imponente, desenvolvendo trejeitos marcantes enquanto contava a  história do seu personagem, fora toda as dinâmicas com olhares nos momentos das perguntas mais capciosas, aonde com muita desenvoltura foi direto, mas com um fechamento perfeito também. Sjur Vatne Brean trabalhou o protagonista com classe e porte de alguém não tão comum como uma jovem fala em determinado momento, tendo quase um perfil de espião mesmo e articulador, com boas sacadas e desenvolturas que acabam agradando bastante com a entrega na tela. Tivemos outros bons atores e personagens com destaques para Magnus Dugdale com seu Andreas e Philip Helgar com seu Tallaksen.

Visualmente a trama tem uma pegada de época perfeita, muita intensidade nos atos na neve, nos diversos apartamentos e claro com atentados com bombas bem trabalhados e desenvolvidos na tela, de modo que a produção acabou ficando grandiosa tanto pelos figurinos, quanto pelos ambientes e reuniões, aonde cada detalhe foi bem pensado para amplificar a trama e dar a devida desenvoltura na tela, ou seja, a equipe de arte trabalhou bastante e fez com que o longa ficasse bem chamativo.

Enfim, é um filme interessante e com um bom estilo, aonde o protagonista se destaca bem e consegue entregar na tela tudo o que o público precisava saber e ver sobre o homem mais condecorado da Noruega, não sendo um filme de apenas qualidades, mas que bem formatado acabou entregando bem isso para o público sem desmerecer o personagem principal. Então fica a dica, e posso dizer que comecei bem meu ano de 2025, e volto amanhã com mais textos, então abraços e até lá.


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